Em vinte minutos já seria tarde demais, pensou Robin Hayle, enquanto abria a porta de sua loja. Eram seis e cinco da manhã e logo o céu mudaria seu tom cinza perolado para rosa, depois dourado, e as sombras na praça ficariam todas erradas para o efeito que ela desejava. Acendeu as luzes nos fundos de seu estúdio fotográfico e colocou depressa o filme na câmera, antes de separar as lentes especiais que levaria consigo, para o caso de precisar delas.
Bom dia! veio uma voz da frente da loja. Srta. Hayle Está aí dentro?
Nos fundos Robin respondeu. Já estou indo. Ela pegou um rolo extra de filme e foi cumprimentar sua vendedora, Ericka. O que você está fazendo acordada a esta hora?
Ericka já se encontrava atrás do balcão, com seu bonito rosto redondo alegre como sempre.
Hoje começa a feira indígena, não é? Imaginei que você estaria ocupada e achei melhor chegar mais cedo.
Bem, obrigada! Vou tentar tirar algumas fotos da praça antes que a multidão a invada.
Vá em frente. Aprontarei tudo por aqui.
Robin sorriu para a funcionária. Ericka tinha apenas dezenove anos e já era tão eficiente. Ela própria não se lembrava mais com precisão de sua adolescência, mas certamente nunca fora tão responsável quanto Ericka Dalton. Sem dúvida, nunca se levantara antes das seis da manhã, para iniciar um dia de trabalho.
A loja e estúdio fotográfico de Robin localizava-se na Sena Plaza, bem no centro da parte antiga de Santa Fé. A poucos metros da loja, ficava a Santa Fé Plaza, construída há quase quatrocentos anos. Cercada por árvores, ostentava em um dos seus lados o Palácio Real, sede do governo.
O palácio fora erguido em 1610, lembrou-se Robin, enquanto caminhava para lá sob as árvores centenárias. Os índios pueblos ainda vendiam seus tapetes e cerâmicas, suas joias e bugigangas, sob a sombra do portal do antigo prédio.
Robin parou em uma das extremidades da praça e verificou o fotômetro da câmera. À luz diáfana do amanhecer, ela era a imagem da elegância informal, alta e graciosa, vestida com uma saia azul de cambraia que descia abaixo dos joelhos e uma blusa branca de seda amarrada com um nó na cintura. Um colar de contas turquesa brilhava em seu pescoço, balançando conforme ela se movimentava.
A praça costumava estar silenciosa às seis e quinze da manhã. Apenas o ocasional bater de asas de uma pomba elevando-se do campanário da igreja perturbava a imensa calma. Mas não naquele dia. Era o último fim de semana de agosto, data da feira dos índios de Santa Fé, um evento que atraía visitantes de toda parte do mundo. Já havia caminhões e jipes descarregando os artigos e índios com xales multicoloridos aprontando suas barracas.