CAPÍTULO II
Robin teve dificuldade para se concentrar na sessão de fotografias do sr. Norgard, um homem grande, loiro e musculoso que posou de viking. Seria um presente de aniversário para a namorada, ele explicou, um pouco tímido. Felizmente, a sessão não foi muito demorada. Robin olhou para o relógio, imaginando se Adam Farwalker de fato ainda estaria esperando por ela. Deveria ir encontrá-lo? Afinal, ele era um estranho. Talvez não fosse quem afirmava ser...
Ericka, porém, tranquilizou-a depressa.
Ah, eu sei qual é a família do sr. Farwalker. Eles têm uma grande fazenda ao sul daqui. São uma família tradicional na região. Não os conheço pessoalmente, mas todos dizem que são boa gente.
Então acho que não há problema em ir encontrá-lo.
Claro que não.
Você fecha a loja às seis?
Fique tranquila. Até amanhã.
Durma até mais tarde. Espero você ao meio-dia.
A patroa manda, eu obedeço respondeu Ericka, brincalhona.
Robin pegou sua bolsa e câmera, passou a mão pelos cabelos, ajeitou a saia e saiu da loja, sob o sol forte da tarde. Embora a praça ficasse a alguns metros de distância, ouvia o barulho da multidão na feira indígena, e a calçada encontrava-se apinhada de gente.
E se não conseguisse encontrar Adam Farwalker em meio àquela massa humana? De repente, uma constatação a surpreendeu: ela queria vê-lo outra vez. Havia alguma coisa naquele homem, algo muito especial, embora ela não conseguisse precisar o quê. Ele, sem dúvida, era do tipo intelectual, mas não parecia presunçoso. Robin atravessou a rua, abrindo caminho entre as pessoas e esticando o pescoço para ver melhor. E se ele tivesse cansado de esperar e resolvido ir embora?
Mas ela o avistou assim que chegou à sombra do portal do Palácio Real. Ele sobressaía-se na multidão por causa da altura, no entanto foi sua aura de imperturbável calma que chamou a atenção de Robin. Ela parou por um instante, observando aquele estranho que surgira tão de repente em sua vida.
Ele estava conversando com alguém e, entre o movimento das pessoas, Robin conseguiu ver que se tratava de Julien Cordova. Não era de surpreender que se conhecessem. Julien havia nascido e crescido em Santa Fé e era o curador do museu do Palácio Real. Adam sorria de algo que Julien havia dito. Como ele era bonito, com os dentes brancos destacando-se em contraste com a pele morena! Ela adoraria tirar uma série de fotografias de Adam Farwalker para descobrir se era suficientemente hábil para captar no filme aquela atmosfera de calma que parecia rodeá-lo. Adam tinha um rosto cheio de orgulho e energia, o rosto de um guerreiro, com uma beleza dura e uma bagagem de segredos, como a terra em que nascera.
Robin forçou-se a despertar do devaneio. Afinal, ele era apenas um homem, e estava a sua espera. Aproximou-se de onde os dois se encontravam, comparando mentalmente Adam e Julien. Eram tão diferentes. Adam, grande, moreno e tranquilo; Julien, pequeno, elegante, animado, com a pele clara e os olhos tristes de seus ancestrais, os nobres e espanhóis que se haviam estabelecido em Santa Fé havia quase quatrocentos anos.
Conhecia Julien muito bem. Ele era presidente da recém-fundada Associação Comercial de Santa Fé, da qual Robin era um dos membros. Julien fora eleito por unanimidade, devido a seu conhecimento, espírito de liderança e habilidade política.
Oi, Julien ela o cumprimentou, um pouco mais entusiasmada do que gostaria. Vejo que conhece o sr. Farwalker. Robin virou-se para Adam. Desculpe a demora.
Julien levou a mão de Robin aos lábios para um beijo de cortesia, mas durante todo o tempo ela sentia sobre si o olhar perturbador de Adam.
Minha cara Robin dizia Julien, sorrindo ‒, espero que você esteja tendo mais movimento neste fim de semana.
— Ah, sim. A loja vai indo bem.
— Ótimo. — Ele passou os olhos pela multidão de compradores que brigavam por tapetes, pratarias, cerâmicas e pinturas nas barracas e até puxavam artigos que não haviam sido descarregados dos caminhões trazidos pelos índios de centenas de quilômetros de distância. Bem, vou precisar deixá-los. Tenho vários problemas para resolver hoje. Adam, foi bom tornar a vê-lo. Estou ansioso pela festa de sua mãe esta noite.
Ela não poderia realizá-la sem você, Julien.
Obrigado. E boa sorte na procura do homem que falsificou o pote.
Você contou a ele? Robin indagou, depois que Julien foi embora.
Ele ia acabar sabendo de uma forma ou de outra. E Julien tem condições de alertar as pessoas quanto a esse tipo de coisa.
Então você acha mesmo que é importante assim?
Ouça, srta. ... Ele hesitou.
Hayle. Robin.
Srta. Hayle. A economia desta área depende muito dos dólares dos colecionadores de arte, especialmente dos colecionadores de arte indígena. Além de ser ilegal, a prática da falsificação poderia arruinar a reputação de todos os comerciantes de arte honestos do Estado.
Ah, agora estou entendendo.
Então vamos sair desta confusão. Adam a segurou pelo braço. Você trouxe a fotografia?
Sim, está na minha bolsa.
Era impressionante a facilidade com que Adam abria caminho entre a multidão. Parecia o mar Vermelho abrindo-se para Moisés. Seria o tamanho dele ou apenas a determinação em seus olhos? Robin sentiu-se bem sendo escoltada por ele ao longo de três quarteirões, até onde Adam estacionara seu carro sujo de barro.
Você disse San Lucas? indagou ele, abrindo a porta para Robin.
Sim. Ela notou, satisfeita, que ele, como um cavalheiro, a esperou acomodar-se para, então, fechar-lhe a porta.
E você não sabe o nome do ceramista?
Não, nem perguntei. Foi tudo por acaso. Vi algumas pessoas fazendo objetos de cerâmica e comecei a conversar.
Adam enfrentou o trânsito pesado das ruas centrais e logo tomou a estrada para o norte. Robin o fitou, desejando iniciar uma conversa, mas o silêncio e a testa franzida dele a contiveram. Estremeceu, sentindo um misto de atração e receio por aquele homem. Isso não era comum nela. Costumava rir e brincar com facilidade. Sabia que tinha uma tendência a falar demais, mas não com Adam.
O pote é extremamente valioso. É considerado o arquétipo do artesanato anasazi disse ele, por fim. Existe apenas um no mundo e há colecionadores dispostos a pagar qualquer coisa por ele.
Por um pote?
Ele tem quase mil anos. Se um colecionador acreditasse ter encontrado o original, não há dúvida de que desembolsaria o dinheiro.
Mas ele não poderia expor o objeto, não é? Ele saberia que a compra tinha sido ilegal.
É, talvez. Mas alguns colecionadores ficam satisfeitos simplesmente em possuir a peça e nunca mostrá-la a ninguém. E existem peças valiosas legítimas à venda. A proibição restringe-se ao artesanato encontrado em terras do governo. Se uma peça for achada em terras particulares, não há nada que impeça sua comercialização.
Robin tirou a fotografia da bolsa e examinou-a uma vez mais. Seu cliente estava vestido de conquistador, com armadura, elmo e botas altas de couro e postava-se diante do povoado com suas casinhas de barro. No chão havia um arranjo cuidadoso de abóboras, espigas de milho, pimentas vermelhas e o gracioso pote redondo com seu gargalo estreito e formas geométricas negras sobre o fundo branco.
É uma bela peça. E parece mesmo antiga. Eu poderia jurar que vi uma rachadura.
Foi muito bem-feita admitiu Adam.
Tem certeza de que n******e haver outro pote verdadeiro como o original? Talvez alguém tenha encontrado...
Tenho certeza ele respondeu, e voltou a atenção para a estrada.
A terra ressecada passava veloz pela janela do carro. O céu era de um azul tão intenso que quase exigia o uso de óculos escuros. Havia montanhas a leste, uma massa verde escura que parecia envolta nas brumas do calor. Era uma região inquietante, cheia de enigmas, de lugares ocultos de impressionante beleza e trechos áridos perigosos como o que se chamava Jornada de la Muerte. Era uma terra que podia abrigar homens como Adam Farwalker, professor de arqueologia, todo homem, todo índio. Algo primitivo agitou-se dentro de Robin.
Então você leciona? ela arriscou.
Ele fez um sinal afirmativo com a cabeça, os olhos fixos na estrada. Seu perfil era vigoroso, o contorno dos lábios perfeitos. Era um homem muito atraente.
Robin tentou outra vez, determinada a fazê-lo falar.
Você está de licença? Isto é, se está participando de uma escavação em Chaco Canyon...
Sim foi tudo o que ele disse.
A universidade está financiando a escavação? ela insistiu.
Em parte. A universidade e o Instituto Geográfico Nacional. É uma continuação de um projeto iniciado na década de 70.
Bem, pelo menos conseguira tirar alguma coisa dele.
Você fica lá o ano todo?
Não. Normalmente apenas durante o verão, mas este ano ficarei até o início do segundo semestre.
É um belo lugar.
Por fim, Adam teve uma reação.
Já esteve em Chaco Canyon, srta. Hayle? indagou, cético.
Não, mas...
É uma terra árida. Um local seco no Estado mais seco do país. O sol evapora a água do corpo das pessoas mais depressa do que nossa capacidade de repô-la. A beleza, srta. Hayle, como dizem, está nos olhos de quem vê.
Por favor, pode me chamar de Robin. Ele a fitou por um breve instante.
Certo. Robin.
Vinte e cinco quilômetros ao norte de Santa Fé havia um conjunto de povoados nas colinas avermelhadas. Adam entrou na estrada secundária que, quase dois quilômetros de curvas depois, desembocava em San Lucas. O ponto central era a praça ensolarada, cercada de árvores; ao fundo, as casinhas de barro amontoadas uma sobre as outras, construídas da própria terra, como os anasazis haviam aprendido a fazer naquela região árida, desprovida de florestas. Crianças índias brincavam sob as árvores, cães latiam, mulheres de xales e saias coloridas movimentavam-se em seus afazeres diários. A cena era intemporal, exceto pelos caminhões estacionados nas proximidades.
Adam parou o carro e virou-se para Robin.
Para onde vamos?
Bem, eu lhe disse que encontrei o homem puramente por acidente, atrás das casas.
Então vamos começar por lá.
Mas a área estava deserta e apenas um cachorro esquálido marcava presença na calçada.
E agora? Robin indagou.
Vamos perguntar por aí, mostrar a fotografia. Esta comunidade é pequena. Ouça, eu sinto muito por tê-la tirado de seu trabalho, srta. Robin. Mas isto é muito importante.
Não se preocupe Robin tranquilizou-o, satisfeita pela súbita consideração que ele demonstrava. Aquele homem, afinal, talvez não fosse tão frio como parecia.
Adam aproximou-se de um velho índio que estava sentado em uma cadeira diante de uma das casas.
Sabe quem fez este pote? perguntou em inglês, fazendo um sinal a Robin para que mostrasse a fotografia.
O homem olhou para ele sem dizer nada. Adam tentou a mesma pergunta em espanhol, mas o homem continuou a fitá-lo impassível, enquanto fumava seu cigarro. Finalmente, moveu a cabeça de um lado para outro, soltando a fumaça pelo nariz.
Adam perguntou se havia um chefe no povoado com quem ele pudesse conversar. Robin percebeu-lhe o tom de impaciência na voz e imaginou se ele não estaria tornando as coisas mais difíceis. Afinal, encontravam-se praticamente em território estranho, já que os povoados indígenas, assim como as reservas, eram entidades autônomas governadas pelos próprios conselhos tribais.
Vamos Adam disse a Robin. O chefe fala inglês. Este camarada não sabe nada.
Mas Robin tinha suas dúvidas.
Ela seguiu Adam por uma escada e ao longo de um corredor, até uma porta pintada de azul vibrante. Adam bateu. Uma mulher corpulenta atendeu e chamou o marido.
Sou Reynaldo Sanchez. Em que posso ajudá-los? o chefe indagou, em inglês.
Adam explicou o problema, mostrando a fotografia.
Gostaria de localizar o ceramista que fez este pote. O homem pareceu acautelar-se.
Quer comprar o pote?
Não, só queria falar com o homem que o fabricou. Oh, não, Robin pensou. Agora nunca iremos descobrir. Ela estava certa. Reynaldo ficou sério e disse algo em dialeto indígena para sua mulher. Virou-se outra vez para Adam e sorriu.
Sinto muito. Nunca vi esse pote e não sei a quem pertence. Talvez a fotografia tenha sido tirada em outro povoado.
Oh, não Robin respondeu depressa. Foi ali na praça, embaixo daquela grande árvore. Tenho certeza.
Um menino, provavelmente filho do chefe, saiu correndo da sala, roçando a saia de Robin. Estava apressado para cumprir alguma tarefa. Robin não deu muita atenção ao fato... até mais tarde.
Não posso ajudá-los repetiu Reynaldo, fechando a porta azul diante deles.
Voltaram à praça e Adam mostrou a fotografia a algumas mulheres. Elas o fitaram com uma expressão vazia e levantaram os ombros.
Vamos perguntar naquela loja Robin sugeriu, apontando para uma pequena quitanda. Comprei um refrigerante lá. Tenho certeza de que o homem vai se lembrar de mim.
Mas ele não se lembrou e Robin sabia que era o mesmo homem que a havia atendido.
Não, nunca vi esse pote. Ninguém em San Lucas faz potes assim. Vocês podiam tentar Cochiti ou Acoma.
A moça disse que tirou a foto aqui Adam repetiu, irritado. Ouça, nós só queremos falar com o artesão.
Ninguém aqui fez esse pote o homem insistiu, com a paciência e irredutibilidade dos índios pueblos.
Por que eles não falam conosco? Robin indagou, depois que saíram da loja.
Adam murmurou alguma coisa, talvez um palavrão, em uma língua estranha. Apache?
Porque eles têm medo e são teimosos e reservados. Não confiam em ninguém estranho à comunidade.
Mas você é...
Sim, sou índio. Adam parou e virou-se para ela. Mas do tipo errado. Apaches e pueblos são inimigos hereditários desde antes da chegada dos espanhóis. Infelizmente, eles não confiam em mim mais do que em você.
Ah, não.
Receio que não iremos descobrir nada por aqui. Eles parecem estar prevenidos.
Mas como todos puderam saber tão depressa? Ah, aquele menino...
Provavelmente. Eu devia ter imaginado. Se tivéssemos falado em comprar o pote, talvez conseguíssemos alguma coisa.
Bem, e agora? Robin perguntou, imaginando se deveria voltar a San Lucas sem Adam e fazer mais algumas investigações, de maneira mais sutil. Mas não adiantaria, agora eles a conheciam também.
Vou levar você de volta para Santa Fé. Está ficando tarde.
O sol estava baixo no horizonte, seus raios longos e dourados atravessando a praça e iluminando os pequenos cubículos onde os índios viviam. O povoado parecia uma pirâmide iluminada contra o fundo de montanhas escuras. Um menino conduzia cabras para casa através de nuvens de ** que refletiam o brilho do sol.
Você se importa? indagou Robin, pegando a câmera. A luz é irresistível.
Não, vá em frente.
Robin sorriu para ele e começou a tirar fotos das cabras, do povoado, de algumas mulheres vestidas com roupas tradicionais, de uma árvore com o sol reluzindo entre os galhos. Várias crianças reuniram-se em torno dela, curiosas. Ela captou o conjunto de expressões infantis também: rostinhos redondos e morenos cheios de sensibilidade.
Adam a esperava recostado a uma parede, com as mãos nos bolsos da calça bem talhada. Ela queria perguntar se podia fotografá-lo, mas não teve coragem. Talvez em alguma outra ocasião, se tornasse a vê-lo.
Robin despertou do devaneio e desviou o olhar, percebendo que Adam a observava. Então, ele afastou-se da parede e agachou para falar com duas das crianças. O que teria dito a elas para fazê-las rir? Adam sorriu também, tranquilo e aberto como quando estivera conversando com Julien. Por que com ela mostrava-se tão reservado? Por que não ria e brincava daquela maneira quando estava em sua companhia? O que havia naquele homem que o tornava tão misterioso?
Aproveitando o fato de ele estar distraído com as crianças, Robin tirou uma fotografia dele. Não pôde resistir. Fora tão rápida que nem tinha certeza se focalizara direito. Queria apenas a imagem dele; quando fotografava alguma coisa, era como se a possuísse um pouco. Era uma ideia estranha, mas sempre tivera essa sensação.
O crepúsculo escurecia as colinas, suavizando-as, enquanto Adam dirigia o jipe em direção a Santa Fé.
Obrigada por me esperar Robin disse, tentando quebrar o gelo. Não consigo desperdiçar nenhuma cena.
Vai usar todas essas fotos?
Ah, não, algumas não sairão boas. Outras eu guardarei no arquivo. Talvez escolha umas três ou quatro para ampliar, emoldurar e colocar na loja. Os turistas adoram comprar fotografias desta região.
Interessante.
Bem, é um meio de vida. Não, eu não deveria dizer isso. Adoro fotografar. Fui modelo na época da faculdade, mas sempre estive mais interessada no outro lado da câmera. Fotografias podem captar estados de humor, personalidades. E eu gosto de satisfazer as fantasias das pessoas.
Fantasias?
Robin explicou sobre seu estúdio e o tipo de trabalho que executava. Adam sorria enquanto ouvia algumas das histórias que ela contava.
Bem, esses são os casos engraçados Robin comentou. Uma vez eu tive de preparar o cenário para um homem ser fotografado vestido de gorila, no zoológico, com os gorilas!
Você fez isso?
Claro! Foi complicado e quase morri de medo, mas é o meu trabalho.
O meu parece tão monótono em comparação ao seu.
Não! É fascinante. Sempre me interessei por artesanato e ruínas antigas, e por saber como as pessoas viviam milhares de anos atrás.
É mesmo?
Ah, sim. Adoraria ver sua escavação. Isto é... Será que é possível eu... ir ver o que vocês estão fazendo lá? Oh, não, lá estava ela se convidando outra vez!
Você queria ver Chaco Canyon?
Aposto que poderia tirar ótimas fotos lá.
Bem, talvez eu possa dar um jeito Adam disse, mas Robin não poderia afirmar se ele falava sério ou não. Achou melhor mudar de assunto.
Puxa, estou com fome. Aliás, parece que sempre estou faminta. Será que a gente poderia dar uma parada? Ela notou que Adam olhou para o relógio. d***a! Ela estava forçando a situação de novo. Era provável que sua mulher, ou namorada, estivesse esperando na festa que Julien mencionara. Desculpe. Você já deve ter outro compromisso. Talvez alguém o esteja esperando para jantar em casa.
Ele a fitou por um momento, como se estivesse pensando.
Não há ninguém me esperando em casa. Vamos parar. Robin sentiu uma onda de alívio. Então ele não era casado.
No momento, nem cogitou sequer em explorar as razões de sua súbita alegria.
Sentaram-se em mesinhas ao ar livre em um restaurante próximo a Santa Fé, observando as últimas luzes rosadas do pôr-do-sol colorirem o céu.
Sobre o cardápio, Robin observou o rosto de Adam. Por força do hábito, sua imaginação começou a funcionar e ela o viu agachado junto a uma fogueira, vestido com roupas de couro, seus cabelos negros presos em uma trança grossa, os olhos fitando a terra escura. Sim, ele pertencia àquele lugar, e a forte ligação com o mundo natural, que os índios mantinham intacta, a fascinava.
Gostaria muito de conhecer Adam melhor. Queria romper as barreiras impenetráveis e fazê-lo rir. Decidida, juntou toda sua coragem e respirou fundo.
Talvez amanhã, no fim da tarde, nós possamos voltar ao povoado e procurar o artesão outra vez.
Ele levantou os olhos escuros, refletindo nas pupilas a luz das velas que luziam sobre a mesa. Uma vez mais, pareceu pesar as palavras dela.
Está bem respondeu por fim, e Robin percebeu que ele não havia reparado no tom de convite em sua voz.