Ava
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O ônibus está bem cheio na primeira metade do trajeto e fico hipervigilante em relação a todos ao meu redor. Sei que o alfa não vai me procurar em um ônibus com humanos, mas fico
em estado de alerta mesmo assim.
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É bom ficar. Porque há um lobo no ônibus, posso sentir o cheiro dele. O problema é que não tenho ideia de quem é. Não vou andar para cima e para baixo no corredor para saber de onde o cheiro está vindo. Seria óbvio demais e eu seria um outdoor ambulante.
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A essa altura, é mais do que provável que meu pai esteja me procurando. Ele já deve ter avisado todas as matilhas locais e pedido a elas que espalhassem a notícia. Será que a notícia já chegou tão longe?
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Sentada em meu assento, analiso cada pessoa no ônibus. Para a maioria, vejo apenas a parte de trás de suas cabeças, e isso é bom. Isso significa que elas não estão procurando por uma loba fugitiva.
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No entanto, algumas pessoas, como eu, viraram de lado em seus assentos, O que Ihes dáuma visão de todo o ônibus.
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Uma mulher me encara abertamente, olhos apertados.
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— Será que devemos descer na próxima parada? — pergunto à Carly.
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— Não. Não temos para onde ir.— Olho pela janela. Ela tem razão. Estamos passando por campos abertos e a próxima cidade que encontrarmos deve ser pequena.
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Não tem onde nos escondermos.
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A mulher se levanta, sai de seu assento e caminha pelo corredor em minha direção, balancando como movimento do ônibus. Não tem ninguém ao meu lado, então ela se senta.
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— Precisamos conversar — diz ela. Meu coração está quase pulando para fora do meu peito.
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Fecho os olhos e inspiro lentamente, tentando me acalmar.
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E aí que percebo que ela não é um lobo. Só esteve perto de um. Momentaneamente atordoada, abro os olhos e olho para ela.
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— Em que posso ajudá-la? — Pergunto.
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— Meu amigo ali e eu fizemos uma aposta.— Ela inclina a cabeça para um rapaz que deve ter uns vinte e poucos anos.
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— Ele diz que você é loira natural, mas eu nunca Vi uma pessoa com o cabelo da cor do seu. Qual de nós dois está certo? — Volto meu olhar para o amigo dela, que já se virou em seu assento.
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Ele levanta a mão para coçar nuca exibindo seu cabelo avermelhado e depois acena. O cheiro inconfundível de lobo vem em minha direção. É ele.
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Estamos perto de uma parada e estou refletindo se devo descer nesse ponto ou não. Sei que posso pegar outro ônibus depois. A mulher se levanta.
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— Ela não vai dizer.— diz para o amigo, que também se levanta.
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— Mulheres. Sempre tão misteriosas. Nunca se sabe o que elas estão escondendo. — Ele olha fixamente em meus olhos por um momento e um arrepio percorre minha espinha. Então, ele olha para a mulher.
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— Vamos esta é a nossa parada.
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— Fique com seus segredos.— ela murmura enquanto caminha de volta para o corredor.
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O ônibus diminui a velocidade, para e os dois descem junto com várias outras pessoas.
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Relaxo contra o encosto do banco e solto um suspiro. Mas quando o ônibus se afasta, vejo o lobo com cabelo avermelhado olhando para a minha janela. Ele sorri e acena para mim. Merda.
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O ônibus vai ficando cada vez mais vazio à medida que avançamos para o leste. Ainda restam cerca de dez pessoas e quando a noite chega, todos os que restaram se acomodam para dormir. De vez em quando, eu cochilo, mas cada barulho e freada do ônibus me fazem acordar, assustada. É uma noite longa.
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Chegamos ao meio dia do terceiro dia. Estou cansada e esgotada.
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Saio da rodoviária carregando minhas coisas e caminho em direção às ruas sujas. A cidade é enorme e barulhenta, diferente de tudo a que estou acostumada, os cheiros de água, peixe, carros, humanos e comida me deixam atordoada. A energia caótica da cidade me intimida e meus ouvidos e nariz se sentem agredidos.
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Como vou me acostumar com isso? Como a Carly vai se acostumar?
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Encontro um belo parque com árvores, flores e uma fonte de água. As crianças riem enquanto correm umas atrás das outras e eu encontro um banco, me sento e relaxo. Aqui, os ruídos e os cheiros não são tão fortes e sinto a tensão dos meus ombros se desfazer.
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O clima está quente e o sol está começando a se pôr. Já está ficando tarde, então pego minhas coisas e começo a caminhar novamente. Preciso comer e encontrar um hotel ou um airbnb barato em algum lugar.
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Prefiro não ficar ao ar livre, exposta a qualquer pessoa que possa revelar minha localização ao meu pai.
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Isso já aconteceu no ônibus, e não estou pronta para um confronto. Ainda não.
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Depois de devorar um sanduíche de carne e batatas, descubro que há um airbnb não muito longe da faculdade que recebe estudantes que estão esperando vagas nos dormitórios da faculdade.
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O local é uma enorme casa com uma varanda aconchegante. É adorável, apesar das paredes com cores chamativas. Há persianas verdes brilhantes e caixilhos de janelas amarelos, e a casa em si é rosa choque!
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Parece que a paleta de cores foi escolhida por uma criança.
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Uma pequena senhora de cabelos grisalhos e baixinha, sai dos fundos com um pano de prato na mão quando toco a campainha que fica em uma pequena mesa na recepção. Seus olhos zuis brilham com um sorriso e ela parece ser uma daquelas pessoas que nunca têm um dia r**m.
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— Olá querida.— ela me cumprimenta.
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— Você deve estar aqui porque precisa de um quarto.— Sorrio para ela e coloco minhas coisas no chão ao meu lado.
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— Sim. Por duas semanas, pelo menos. Vou começar meus estudos na faculdade, mas cheguei antes para encontrar um emprego e me instalar.
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— Isso acontece todo ano. Você é uma das ambiciosas. E faz bem! Deixe-me ver.— Ela abre um livro e começa a folhear.
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— Posso lhe dar o quarto no ultimo andar. Costumava ser a caixa d'água, mas nós o ampliamos e colocamos um banheiro privativo. Também tem um ar condicionado lá em cima, então você não vai ficar com muito calor. É um cômodo grande, mas o teto é um pouco inclinado em alguns pontos.
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— Que incrível! Você deveria ter visto o quarto que eu tinha em casa. E um banheiro só para mim? Sinto que no paraíso. — O preço é verdadeiro achado. Não só tenho direito ao quarto, mas também tenho café da manhã e jantar de graça.
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Pago pelas duas semanas agora, para não ter que me preocupar em depois e a mulher me entrega um recibo impresso.
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Ela caminha em direção às escadas.
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— Pegue suas coisas e me siga. Meu nome é Camilly, mas todos me chamam de Milly.— diz ela, subindo as escadas com um passo surpreendentemente leve.
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— Me chamo Ava. Só sou conhecida assim.— Digo e ela dá uma risadinha.
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— E um nome bonito, combina com você, um nome bonito para uma garota bonita. — Fico corada.
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— Obrigada.— Ainda não estou
Acostumada com elogios, mas é muito bom ouvi-los.
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Milly me mostra um cômodo no topo da escada. E o lugar é enorme e embora o telhado seja inclinado, há grandes janelas que iluminam o espaço. Em um lado do quarto, há uma cama de casal com mesas de cabeceira e luminárias. Além disso, há uma TV pendurada na parede.
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Uma pequena poltrona ocupa o canto do outro lado do quarto, com uma mesa de centro em frente, perfeita para estudar ou jogar conversa fora com alguém. O banheiro tem um chuveiro grande e uma bela penteadeira e cômoda. Há também uma banheira. Que sorte a minha!
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Milly me entrega duas chaves, uma para o meu quarto e outra para a porta da frente.
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— Há sempre alguém na recepção se você tiver alguma dúvida.— Ela sorri.
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— Prazer em conhecê-la, Ava.— ela diz, antes de fechar a porta e me deixar à vontade.
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Ligo para o Sr. Malic para avisá-lo que cheguei bem, é bom ouvir sua voz familiar. Aparentemente, não houve nenhuma novidade desde que enviei minha queixa ao alto conselho, mas o Sr. Malic diz que eles devem começar a investigar em breve. Só que isso leva tempo.
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Eu lhe conto sobre o lobo no ônibus, mas ele não parece muito preocupado.
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— É uma longa distância entre a matilha e onde você está.— diz Ele. Falando de forma vaga de propósito, para caso alguém o ouça.
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— Fique tranquila e estude. Permita-se ser você mesma, Ava. Você nunca teve a chance de fazer isso.— Eu me afundo na cama.
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— Eu sei, mas é difícil. Meu pai não é do tipo que fica sentado e só faz algumas perguntas sobre onde estou. Ele está planejando algo. Eu só queria saber o que é.— Desligamos o telefone com a promessa de nos mantermos informados, caso surjam atualizações.
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Carly me garante que estamos seguras por enquanto, mas algo está prestes a acontecer. Eu sinto isso e Carly também.