Giovanni Mancini
Um mês antes
Não pedi para estar aqui, respirando, sendo o empresário, sentado atrás de uma mesa bonita com funcionários ao meu redor. A verdade era que eu queria estar a sete metros do chão, enterrado com Polina e nosso filho, mas infelizmente fui salvo pelo meu padrinho.
Fiquei três meses em cima de uma cama, desejando realmente morrer, mas algo me puxou de volta, uma coisa maior e mais forte, a raiva.
Demorou para aceitar que eu não morreria, esse era o meu desejo e como não podia tirar a minha própria vida, tive que me contentar com o que tinha.
Os últimos anos me ensinaram muito, algo que eu deveria ter descoberto antes de perder tudo o que mais amava. Quando o seu destino é traçado, nada do que faça levará você para longe dele.
Os Mancini têm o dever de carregar o ódio, a raiva e o desejo de vingança no sangue, assim como os Giordano. Me esforcei para ser maior, o melhor e o mais inteligente, enquanto o i****a miserável do Luca Giordano se escondia na Polônia, pensando que se esconderia para sempre de mim.
Me padrinho não queria isso para mim, ele desejava que magicamente eu superasse, que deixasse que a vida ou a lei o punisse, mas se eu tinha que herdar seu império, ele teria que aceitar que eu nunca pararia de procurar.
Admito que não tive tanta atenção quanto achei que tinha, pois estava na minha cara todo esse tempo, a fonte de informação que me levaria até o meu alvo, mas só agora pude ter a satisfação de ver com os meus próprios olhos o crápula que eu tanto procurava.
Henry, infelizmente, morreu a dois anos, me deixando com a responsabilidade de cuidar dos seus negócios, das suas muitas propriedades e do seu nome. Assim que me recuperei, mudei de sobrenome, mas me recusei a mudar o nome.
Com a fortuna que ganhei, contratei os melhores e mais habilidosos no ramo de investigação, porém, não pareceu valer tanto a penas, já que só agora eu pude descobrir que Alice Giordano havia requerido uma bolsa de estudos em Londres.
Nunca vi a garota, nem tinha interesse em conhece-la, mas tinha que a agradecer por me mostrar onde estavam o homem que me tirou tudo e que agora, receberia a vingança que tanto quis.
Primeiro, achei que mata-lo seria o suficiente, depois, pensei em fazer o mesmo que ele, matando a sua filha e depois a ele, mas agora, vendo o homem a distância, praticamente batendo na própria filha notei que esse plano não era o mais adequado.
Eu esperava que a sua fuga, levando o seu único bem, era porque nutria um amor pela menina, mas não, ele só amava a si mesmo e lá no fundo, eu não seria como ele de tirar a vida de quem não era merecedor.
Pensei em outra forma para que finalmente eu tivesse o que vim buscar, e a única coisa que me veio em mente foi o que já era óbvio.
Lembro-me quando o meu pai dizia as meias histórias sobre o começo de tudo isso. Também me recordo do orgulho em pronunciar o sobrenome, e penso que Luca sente o mesmo por ele, e talvez, fosse por isso que ele a trouxe consigo. Tudo era questão de orgulho. Nenhum dos dois se importavam com o motivo e sim quem restaria. Qual ficaria, ou melhor, qual sobrenome restaria dessa briga toda.
No momento, Luca achava que havia vencido. Lembro como pronunciou Mancini aquele dia. O último Mancini. Não precisava de muito para saber que era disso que se tratava e vendo a garota, acuada e com medo, pensava que ela desejava fugir dessa vida e ao ajuda-la estaria me ajudando.
Se eu a tiver serei eu o vencedor.
O que Luca mais odiaria em saber antes da sua morte?
Eu poderia dizer que o maior medo de um homem, que tivesse tanto orgulho de seu sobrenome, era ver seu sangue se misturar com aquele que tanto odeia.
Seria divertido brincar com a mente dele, deixa-lo maluco com a possibilidade de ter a própria filha, uma Giordano, casada com um Mancini.
Eu não tinha interesse na menina, muito menos em me apaixonar. Polina foi e era, a única que poderia ter o meu amor. Desde a sua morte, eu vinha tendo atitudes não muito orgulhosas de se falar, mas nunca misturei prazer com sentimento e nem sabia agora, com aquela menina, filha do meu inimigo, que mudaria de ideia.
Seria difícil ir embora desse país sem ter o matado, ter que assistir a distância o homem que mais odiava vivendo como se nada tivesse acontecido, ou pior, ter que seduzir uma pobre menina que sonha em se livrar o pai.
Eu nunca quis ser o cara mau ou o cafajeste, mas faria o que fosse para vê-lo sofrer, antes de colocar uma bala na cabeça dele.
- O que deseja fazer? – Perguntou o meu motorista, que também era meu segurança e amigo, Adam.
- Vamos voltar para casa. – Respondi ainda olhando os dois entrarem na casa pequena que ficava em uma rua sem movimento. – Ainda não é hora de mata-lo.
- Qual o seu plano? – Antes de entrar pela porta, a garota, que agora tinha vinte anos, virou-se me permitindo ver seu rosto pálido. Ela estava triste, mas tinha um rosto bonito.
- Meu plano é consegui a garota, faze-lo assistir ela se tornando a minha esposa, ganhando o sobrenome que tanto odeia, misturando o nosso sangue e depois podem mata-lo.
***
Meu plano já estava sendo muito bem executado e um mês depois que a vi, estava novamente a observando a distância.
Assim que voltei da Polônia, aquele dia, entrei em contado com a universidade e me ofereci como um padrinho para custear os ensinos de Alice Giordano. Me surpreendendo, ela era inteligente e muito disposta a crescer, e foi fácil traze-la para essa cidade, com a esperança de que não precisaria voltar.
Desde que pôs os pés no país, eu a observava. Claro que não presencialmente, e sim com homens a seguindo para todos os cantos. Eu não a perderia de vista, faria tudo de caso pensado, meticulosamente, e qualquer anomalia, seria excluído da sua frente.
Já no seu terceiro dia em Londres, a garota já tinha um trabalho, que foi arranjado por sua nova colega de quarto, Julia Rodrigues.
A loja de doces brasileiros do irmão de Julia, Daniel, ficava do outro lado da rua. Não era muito grande, no entanto, já de longe se via a vitrine de vidro, onde os doces eram expostos e me permitindo ver quem estava dentro.
A um mês, não notei a beleza natural de Alice. Talvez fosse porque estávamos mais distantes que agora, ou pelo fato da menina estar perto do pai, mas agora, a olhando e vendo suas fotos, que foram trazidas pelos meus detetives, se notava a beleza que herdou da mãe.
Cabelos castanhos, olhos cor de mel e uma pele clara, juntamente com lábios carnudos e sobrancelhas desenhadas. Não pude deixar de olhar seu belo corpo, que vestido com o jeans apertado e a blusa de mangas lisa, deixavam um homem louco. Assim como Daniel ficou quando a viu.
Ele não era perigoso para mim, apesar de ser bem apresentável, não tinha a minha determinação. Claro que eu não podia chegar na garota, três dias depois de chegar no país, dando em cima dela. Meu plano era fazer com que tudo fosse uma mera coincidência, ocasionalidade perfeita para que me apresentasse.
Por enquanto, eu a observaria de longe, estudaria seus movimentos, suas ações, mesmo que uma ansiedade crescesse dentro de mim.