Heitor
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— Apenas faça isso, Heitor, — meu pai rosna, sua voz tingida com raiva.
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Algumas coisas nunca mudam.
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— Eu não sou babá, pai. Da última vez que verifiquei, o sul da cidade oferece alojamento. Inferno, eles ainda têm um tipo de “irmandade” onde a pirralha pode escolher entre os dormitórios sociais ou até mesmo privados. E sejamos realistas, não é como se você não pudesse pagar a conta.— Eu realmente não quero ninguém na minha casa.
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— Heitor Mattew Gonçalves, eu criei você melhor do que isso. Não é pelo dinheiro. É cuidar da família. Você a acolherá e cuidará dela. Se você se sente diferente, podemos revisitar meu testamento.— Filho da p**a. O bastardo acha que me importo com o maldito dinheiro dele.
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— Primeiro: você não me criou, as babás sim. Segundo: eu tenho meu próprio dinheiro, então que tal você parar de balançar seu maldito testamento na minha cabeça como uma p***a de uma cenoura?— Eu reviro os olhos e bufo em descontentamento.
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— Hei... — Meu pai começa, mas eu interrompo. Eu ainda não terminei.
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— E terceiro, eu concordo que a família deve cuidar uns dos outros.— mesmo que ele nunca tenha me mostrado um pingo de preocupação enquanto crescia, mas eu não digo isso.
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— Então a resposta à sua fala é sim. Vou acolher sua enteada e abrigá-la em meu apartamento.— Meu pai solta um suspiro exasperado.
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— Bom. Ela chega esta noite. Eu dei a ela seu endereço, então, por favor, certifique-se de estar em casa para acolher a garota. Eu sei que você gosta de perambular a qualquer hora da noite, mas tente ficar em casa por pelo menos alguns dias até que ela se acomode e se acostume.— Fecho os olhos e respiro fundo. Este homem não vai me fazer surtar.
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— Claro, pai.
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— Excelente. — E a linha cai. Sem “eu te amo”. Nenhum “adeus”. Inferno, nem mesmo um “conversamos depois”.
Esse não é o jeito dele.
Eu gemo, jogando o telefone no banco do passageiro. Por que é que eu cedi, p***a? Eu não devo nada a esse homem. Tudo o que sou hoje é por causa da minha mãe e das mulheres que me criaram depois que ela faleceu.
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Eu deveria ter dito a ele onde ele poderia enfiar suas ameaças.
Família. A única palavra ecoa em minha mente quando ligo meu Mustang conversível 1967, um dos muitos clássicos da minha coleção.
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Família é um sonho indescritível. Algo de uma memória distante.
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Todo mundo que agora chamo de família não é meu sangue, mas é de fato escolhido.
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Talvez seja por isso que concordei em deixar Alicia ficar comigo. Um anseio por algo mais. Algo mais profundo do que a existência superficial com meu pai.
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Claro, os homens da S5 são minha família. Não construímos apenas uma empresa de segurança nacional, mas uma rede de suporte profundamente enraizada.
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Ainda assim, seria bom ter uma família de verdade... mesmo que seja apenas com uma meia-irmã.
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Uma garotinha com tranças e suspensórios passa diante da minha mente e eu não posso deixar de sorrir.
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Se ela ainda se parece com aquela aos quatorze anos, então ela definitivamente vai precisar da minha ajuda para se encaixar na faculdade. Só a vi uma vez, quando meu pai fugiu com sua assistente pessoal. E sim, você adivinhou, ele deixou a garota e eu em casa.
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Felizmente, eu já tinha passado da fase de babá e só estava de visita, mas a pobre não teve tanta sorte.
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Ela teve seu primeiro gosto real de como é crescer como um Mathew. A vida no confinamento da babá.
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Meu celular vibra no assento de couro, o nome Tony piscando na tela antes de eu atender e trazê-lo ao meu ouvido.
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— E aí, qual é?
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— Eu preciso de um favor. — A voz fria de Tony corta a linha sem sequer uma saudação.
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Meu melhor amigo não é uma de muitas palavras, então não estou ofendido. Em vez disso, estou intrigado. Ele nunca pede nada.
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— Diga. — Não há quase nada que eu não faria por nossa equipe. Especialmente Tony. Ele é como o irmão que eu nunca tive.
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— Então, eu tenho ficado com Ayla.— Eu quase engasgo com minha saliva e quase não desvio do tráfego em sentido contrário.
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— Repete novamente? Você acabou de dizer que está ficando com a irmã de Wesley? A própria irmã que está fora dos limites desde o ensino médio?
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— Sim. — É isso. Isso é tudo que ele me responde.
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— Certo. Então, qual é o favor.
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— Há um contrato que Wesley quer que eu assuma. Eu preciso que você troque comigo para que eu possa ficar aqui na cidade. Com Ayla, ele não acrescenta.
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— Entendi. Desde que não seja muito no interior.— Eu estremeço ao lembrar do meu último contrato em uma de suas pequenas cidades. População de mulheres gostosas, zero.
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Quero dizer, a cidade inteira tinha cerca de cinquenta pessoas, então não foi culpa dele. Mas caramba, você teria que me chantagear para me fazer outro contrato lá.
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— Vou falar com Wesley sobre isso, mas vai ter que esperar um dia ou dois. Minha irmã mais nova está vindo e eu tenho que lhe dar boas-vindas. E me certificar de que ela não seja atacada por meninos ou dê festas selvagens em minha casa.— Eu me encolho, lembrando-me das merdas selvagens eu fiz quando eu tinha dezessete.
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Deus, isso parece ter sido há séculos. Trinta e dois não é velho, mas está muito longe dos dezessete.
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— O quê? Seu velho te enrolou para ser babá?— Tony bufa no telefone.
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— Engracadinho. Ria o quanto quiser. Pelo menos Alicia é nerd pelo que ouvi. Ela não se mete em problemas e não tem muitos amigos. Ela é a princesinha perfeita do papai. Na verdade, eu vou ter que me preocupar com ela querendo me acompanhar.— Eu balanço minha cabeça e suspiro. Família. Isso é tudo para a família.
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— Tudo bem, irmão. Se você diz. Ela é sempre bem-vinda em nossa casa. Tenho certeza de que Ayla adoraria tê-la em uma de suas noites de garotas com Manu e Cassia.— Eu engasgo com o ar,
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— Você acabou de chamar o novo apartamento de Ayla de “nosso casa”?
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— E daí se eu falei?
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— Nada. Nada mesmo. Tenho certeza que vai dar muito certo com Wesley quando ele descobrir.
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— Recebi uma ligação. Falo com você mais tarde. — E a linha cai pela segunda vez hoje.
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Eu balanço minha cabeça e rio. Aquele i****a pensa que pode namorar uma das princesas da S5 e se safar. Cara, ele tem outra coisa vindo.
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Regra nº 1, irmãs estão fora dos limites.