Alicia (Quatorze anos de idade)
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Meu peito dói e minha barriga está pesada.
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Sozinha. Ela me deixou sozinha nesta casa enorme. Tudo para que ela possa sair em lua de mel com um homem que ela exige que eu chame de papai.
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Eu não vou fazer isso. Eu só tenho um pai e ele está morto, deixando-me aqui nesta casa grande demais com este buraco grande demais em meu coração.
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Meus pés se arrastam na direção da biblioteca. A única vantagem pela qual sou grata desde que me mudei para cá. Em questão de meses, deixamos de morar em um quarto apertado para viver nesta monstruosidade de casa.
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A mudança de endereço também significa que deixei meu único amigo para trás e vou começar em uma escola preparatória onde não conheço absolutamente ninguém.
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Ugh. Como essa é a minha vida? Precisando fugir da realidade, ando mais rápido em direção à minha próxima leitura.
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Viro à direita minha respiração fica presa quando abro as portas duplas de madeira que me levam à nossa biblioteca particular. Prateleiras e mais prateleiras de obras-primas literárias revestem as paredes e vários sofás de couro estão estrategicamente posicionados em toda a grande sala. Perfeito para se aconchegar e ler.
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Impressionado com as opções, não sei por onde começar. Dirigindo-me para o lado mais distante, percorro com os dedos as lombadas desgastadas, chegando a Tu, eu e todo o tempo do mundo - um dos meus favoritos.
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— Ah. Uma fã de Taylor Jenkins Reid. — Uma voz grave soa atrás de mim e dou um pulo.
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— Heitor. Você me deu a p***a de um susto. — Pressiono as palmas das mãos em minhas bochechas, sentindo-as esquentar.
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— Que boca suja em uma menina tão bonita.— Meu meio-irmão solta um som de diversão.
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Minhas bochechas esquentam ainda mais. Ele me acha bonita?
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— Hum... precisa de alguma coisa? — Eu pisco para ele, imaginando o que ele ainda está fazendo aqui. Aposto que ele tem muitos amigos.
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Seus olhos se estreitam, mas seu rosto não perde o calor, com um pequeno sorriso nos lábios.
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— Pensei em usar o resto do fim de semana para sair com minha nova irmã. Eles meio que deixaram você nessa casa enorme e eu pensei comigo mesmo: 'Eu, aposto que ela prefere sair daqui do que com a babá que cheira a mofo'. — Ele pisca para mim enquanto eu dou uma risadinha.
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— Não diga a ela que eu disse isso.— Eu enxugo uma lágrima, balançando a cabeça.
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— Seu segredo está seguro comigo.— Eu passo os dedos na boca como se estivesse fechando com zíper.
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— Venha. Vou lhe mostrar meu lugar favorito para ler aqui. — Ele estende uma mão, gesticulando para o lado oposto da sala com a outra.
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Ao colocar minha mão na dele, todo o meu corpo formigou. É como se eu fosse feita de explosivos. Mas que merda?
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Heitor, alheio aos meus pensamentos, ele puxa um lustre na parede e uma seção da estante aparece.
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Uau. Ok, se os formigamentos me deixaram chocada, essa passagem secreta deixou minha mente explodida.
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— Isso é incrível. — sussurro enquanto entramos no pequeno corredor que leva a uma escada em espiral.
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É apertado, mas adoro o fato de que isso me faz ficar mais perto dele, meu corpo seguindo a sensação de efervescência que ele provoca.
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Depois de subir uma escada estreita, chegamos ao topo do que parece ser uma pequena torre com janelas que oferecem uma vista de trezentos e sessenta graus.
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— Isso é lindo! Obrigada.— Eu exclamo e me levanto na ponta dos pés, lançando- me ao meu novo irmão.
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Agora é a vez do Heitor ficar vermelho. Ele está claramente desconfortável com meu afeto. Verdade seja dita, eu não sou uma pessoa afetuosa, mas eu não poderia deixar de abraçá-lo depois que ele me mostrou este lugar.
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— De nada. A iluminação natural o torna o recanto perfeito para leitura. Eu até trouxe alguns pufes para nós. — Ele me entrega o exemplar de Taylor que eu estava de olho e abre um livro grande antes de se sentar em um dos pufes.
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Minhas sobrancelhas se franzem ao perceber que ele realmente planeja estar com sua meia-irmã i****a em vez de voltar correndo para sua vida, sem dúvida glamourosa.
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Continuo a estudá-lo enquanto me sento, sentindo meu nariz enrugar.
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— O quê? — Heitor olha para cima de sua cópia de Talvez em outra vida.
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— Nada. Só queria saber por que você prefere estar aqui do que em uma festa ou com seus amigos. — Eu ouço seu pai falar sobre ele. A maneira como ele ama as mulheres e ama a vida noturna. Este pequeno espaço com livros está muito longe disso.
Ele olha para mim e balança a cabeça, soltando um profundo suspiro.
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— Digamos que eu sei como é estar em uma casa grande sozinho, sem ninguém além das babás frias. Posso não estar aqui permanentemente, mas o mínimo que posso fazer é dar a você um conforto para o confinamento das babás.— Ele sorri enquanto acena com a mão para mim.
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— Agora comece a ler antes que eu mude de ideia e a deixe aqui com aquela babá horrenda.— Heitor pisca para mim, seu sorriso brilhante me atrai e me faz desmaiar.