Quando cheguei em casa, parei em frente à porta, observando as luzes acesas que brilhavam na escuridão da noite. Um misto de raiva e tristeza me invadiu, eu não queria encarar o Daniel. Mas a casa também era dele, uma lembrança constante do que um dia fomos. Bufei, sentindo a tensão se acumular no meu peito, enquanto caminhava até a porta.
Ao abrir, fui surpreendida pela visão de Daniel sentado no sofá da sala. Seus cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos cobrindo o rosto. Ao lado dele, uma mala.
Assim que notou minha presença, ele se levantou apressado, os olhos carregados de uma falsa preocupação.
— Karina! Já é tarde. Eu estava preocupado com você. Onde você estava?
Afastei-me um passo, sentindo a raiva ferver dentro de mim.
— Você perdeu o direito de ter explicações quando decidiu com3r a minha amiga. — respondi friamente.
— Karina, não fale assim...
— E como você quer que eu fale, Daniel? Me diz! Como você espera que eu reaja ao fato de ter pego você trep4ndo com a minha melhor amiga na nossa cama?
Ele ficou em silêncio, as palavras parecendo falhar em seus lábios.
— Eu... só eu não estou te reconhecendo. Eu nunca vi você falando assim. — ele murmurou, sua voz falhando.
— Então se acostume porque eu cansei de bancar a certinha! Pagar de boa moça só fez eu me f***r e ser traída por gente filho da p**a como você e a v*******a da Clara! Então não me venha com limitações a essa hora, Daniel!
Ele me olhou, os olhos arregalados, como se não acreditasse no que ouvia. O que ele esperava? Que eu sorrisse e fingisse que estava tudo bem? A expressão dele oscilava entre arrependimento e negação.
— Eu vou deixar você esfriar a cabeça — ele disse finalmente, com aquela calma forçada que só me irritava mais. — Vou pra casa da minha mãe.
Eu não podia deixar essa passar. Soltei uma risada curta, carregada de ironia.
— Que bom que você teve a decência de sair. — rebati, cada palavra escorrendo veneno.
— Você quer mesmo que eu vá embora? — perguntou, a voz quase falhando.
Dei um passo à frente, encarando-o. Meu peito ardia, mas não era hora de recuar.
— O que você acha, Daniel? — retruquei, desafiando-o a responder. — Você quer conversar? Falar sobre como destruiu o que tínhamos? Sobre como foi tr3par com a minha melhor amiga? Quantas vezes foram, hein? Me diz!
Eu vi o rosto dele mudar, ficar pálido, como se a minha pergunta fosse uma lâmina afiada. Ele abriu a boca, mas nada saiu. E quando finalmente conseguiu falar, era mais uma desculpa esfarrapada.
— Karina, eu... eu não queria...
— Não queria? — o interrompi, dando uma risada amarga. — Ela que te obrigou, foi? Enfiou uma arma na sua cabeça e disse: "Transa comigo, Daniel"? É isso?
Minha voz subiu, ecoando na sala. Ele desviou o olhar, incapaz de me encarar. Fraco. Patético.
— Me perdoa... Eu... eu faço qualquer coisa, o que você quiser — implorou, a voz trêmula.
— Daniel! — gritei. — Eu não quero ouvir seu pedido de perdão! Eu quero saber quantas vezes! Quantas vezes vocês tr3param na minha cama? Quantas vezes vocês me fizeram de i****a? Desde quando vocês estão fazendo isso pelas minhas costas?
A pergunta pairou no ar como um veneno, e ele hesitou.
— Isso não importa... — começou a dizer, mas eu não deixaria isso passar.
— Ah, importa sim! Me conta! — exigi, meus olhos ardendo com uma fúria incontrolável.
Ele abaixou a cabeça, a voz saindo como um sussurro.
— Um ano...
As palavras dele foram como um golpe no meu estômago.
— Você é um desgraçado! — exclamei, sentindo a raiva pulsar nas veias.
Ele ergueu o olhar, a expressão desesperada.
— Eu não tive culpa! Karina, foi ela! Foi a Clara que me seduziu!
Dei uma risada amarga, cheia de incredulidade.
— Conta outra, Daniel. Assuma o seu erro, pelo menos isso.
Ele baixou a cabeça.
— Sim, eu errei. Mas eu tô arrependido, Karina. Eu não quero te perder. — sua voz era um misto de desespero e súplica.
Tentou se aproximar novamente, mas eu levantei a mão, parando-o.
— Não se atreva a chegar mais perto de mim! — avisei, minha voz firme. — Você não tem ideia do estrago que fez.
Ele parou, parecia derrotado, mas ainda tentava.
— Eu estava perdido... — começou, mas eu não deixei que terminasse.
— Perdido? — gritei. — Você sabe o que é estar perdida, Daniel? É confiar em alguém, amar essa pessoa com tudo o que você tem, e descobrir que ela te apunhalou pelas costas. É isso que é estar perdida!
Houve um silêncio. Ele me olhou de novo, os olhos marejados.
— Eu faria qualquer coisa para consertar isso. — disse, a voz quebrada. — Me dá uma chance, por favor?
— Consertar? Como? Com promessas vazias? Você destruiu tudo o que tivemos. Não posso mais confiar em você! Vai embora.
— Por favor… não faz isso… — implorou ele.
— Você vai sair daqui agora? Ou eu vou ter que fazer isso? — minha voz saiu firme, sem hesitar.
Daniel hesitou, os olhos percorrendo meu rosto em busca de algum traço de compaixão. Quando percebeu que não encontraria, pegou a mala e caminhou até a porta. Com a mão na maçaneta, virou-se pela última vez.
— Por favor, Karina... Me perdoa?
Algo dentro de mim estalou. Sem pensar, agarrei o arranjo de flores que estava sobre a mesinha de centro e o arremessei em sua direção com toda a força que consegui reunir.
— SAÍ DAQUI! SOME DA MINHA VIDA!
O vaso acertou a porta, estilhaçando-se em mil pedaços. Daniel ficou parado, olhos arregalados, como se não acreditasse no que acabara de acontecer. Então, sem dizer mais nada, abriu a porta e saiu, fechando-a atrás de si.
Assim que a porta se fechou, minhas pernas cederam, e eu caí ao lado do sofá. As lágrimas vieram como uma enxurrada, trazendo consigo todo o peso da traição, da raiva, da dor.