• Primeira briga

1691 Words
— Oi! Ele chegou, como tinha dito, às três horas daquela tarde. Ficando na porta, me encarando, acho que ele esperava eu chamá-lo para entrar. — Oi? — Expresso naturalidade, mas aquele momento em que vovô disse que namorávamos, não saía da minha cabeça. — Você já é de casa, pode entrar. — Digo, como se fosse óbvio..., na verdade, era óbvio. Algumas vezes eu entendia a mente do Íago, a minha mãe trata ele como um filho, ele entra aqui a hora que quer, não entendo porquê toda aquela cerimônia na entrada. — Obrigado pelas suas doces saudações, Glenna. — Sorriu, ao trancar a porta. — Sempre um amor de pessoa. — Ironizou. — Você fica aí... Parado. Você conhece mais essa casa, do que a sua própria casa. — Me sento no sofá, enquanto o vejo fazer o mesmo. — Você quer que eu vá embora? — Ele colocou as mãos na cintura, o que me fez abrir um sorriso. — Não, meu nobre amigo. Fique comigo, estaria sozinha sem a sua especial presença. — Fui um pouco debochada, tentei fazê-lo rir, e consegui. — Pois bem! Eu fico. — Se acomodou no sofá, deitando a sua cabeça no travesseiro. Neste exato momento, vi vovô entrar com uma bengala na sala... Esse é o problema, vovô não usa bengala! Qual é... ele tem quarenta e seis anos, um senhor com uma saúde melhor mesmo do que a minha, alguém poderia-me explicar o porquê da bengala? Os olhos de Íago ficaram surpresos ao ver o meu avô, ele ficou de pé no mesmo instante e eu não entendi para quê isso. O engraçado era vovô tentando se manter com uma expressão fechada, enquanto os seus olhos estavam fixos em Íago. Se eu pudesse, já teria rindo horas, só que vovô é uma pessoa que não tem limites. — Então, você é o Íago? — Vovô examinou o menino, dos pés a cabeça. Parecia que ele estava vendo os defeitos de quadro de pintura de carros, pois ele passou minutos observando o menino. — Pensei que séria mais forte. — Vovô ergueu as sobrancelhas. Eu sabia que era mentira, era seu senso de humor. Íago poderia ser magro, porém os seus músculos eram sim, fortes. Pela primeira vez, vi ele sem graça. — Relaxa garoto. — Santino bateu nos seus ombros. — Você ainda não me conhece, Santino Sug. — Apertou a sua mão. Íago abriu um sorriso, deve estar tentando ser simpático. — Íago, Íago Reynolds. — Sente, jovem. — Vovô foi exatamente para o meio, o meio do sofá. E lá se sentou, olhando para mim e para Íago. Estava constrangedor! — Vovô, pode me explicar, por que está com uma bengala? Você anda muito bem pelo que eu saiba. — Oras, temos que estar preparado. Qualquer momento, podemos ensinar uma lição para alguém... — Olhou em direção ao Íago, e fez com que o rapaz arregalasse os olhos, espantado. — VOVÔ! — Tentei o impedi-lo, e logo ele começou a rir. — Relaxe, meu jovem. — Apoiou uma das mãos no ombro de Íago. — Glen sabe escolher as pessoas certas. — Piscou para o menino que continuava com o seu rosto um pouco assustado. — Sei disso, senhor. — Falou, devagar. — Bem, Íago. conte-me de você. Porém, acho que conheço você. Reynolds é um nome popular, pelo seu nome, conheço os seus pais, Agatha a sua mãe é uma advogada incrível, mês passado precisei dela para organizar algumas coisas da minha nova empresa, seu pai, é um empresário de sucesso, porém, só vive metido em problemas. Já ouvi falar de você, você é poliglota, fala francês, espanhol e italiano. Na revista disse que os seus pais estão investigando em você para entrar na Universidade da Pádua, na Itália. É ótimo. — Só foram cinco segundos, APENAS CINCO SEGUNDOS e vovô tinha contado a vida toda do garoto pelo seu sobrenome...? Isso me surpreendeu, e muito. Íago nunca me contou sobre a sua mãe, nem o que ela era. Apenas disse que os seus pais viviam ocupados, e nunca mencionou o fato de falar três línguas distintas do inglês, parece que eu nem o conheço. Inclusive sobre isto, faculdade da Itália, ele não poderia ir para alguma faculdade, um pouco mais próxima? — Hum. — fez o som com a boca, parando, olhando para mim. Revirei os olhos no mesmo instante. — Essas matérias de sites e jornais, nem sempre são reais. — Você vai para Pádua? — Cruzei os braços. Eu estava curiosa, muito curiosa. — Qual é, Glen. — Fez careta. — São os meus pais que querem, não eu. — Normal. Os pais sempre querem os melhores para os seus filhos, digo isso por experiência própria. — Vovô trocou de assunto. — Rally mesmo desde pequena coloquei-a num curso ótimo em inglês, hoje ela fala inglês fluentemente, como uma americana. Íago parecia não entender nada. — Calma, Rally não é americana? E nem canadense? — Sei que ele queria uma resposta... Pelo qual motivo ele se importava com a nacionalidade da minha mãe? Resolvi não ligar para forma que ele tentava expressar que não entendia absolutamente nada. — Somos espanhóis, as únicas canadenses são Myra e Glen. Na verdade, elas têm duas nacionalidades, tanto espanhol como Canadense. Glen mesmo, fala espanhol perfeitamente. — Não sabia que falava espanhol. — Baixou a cabeça — Não sabia que falava Italiano, Francês e também espanhol. — Balancei os ombros, como se não me importasse. — Não achei que fosse ligar. — Esfregou as mãos, parecia tentar encontrar a resposta perfeita para perguntas sem respostas. — Então irá para Pádua? — Me levantei, não queria me sentar mais, eu iria perdê-lo. Esse ano é o último para finalmente se formar, ele deve ir para faculdade, ano que vem e quando pretendia me contar? — Glen, falamos disso outra hora. — Me cortou. Ele não queria falar, isso me enfureceu. — É impressão minha, ou você não conhecia a família Reynolds minha neta? — Vovô mexeu nos meus fios de cabelo. — Você namora um rapaz que nem conhece? — VÔ! Não existe nada entre mim e o Íago... — o meu sorriso desapareceu, e ele pareceu-me intacto. — Nada! — Enfatizei. Eu não aguentava aquela situação, sentia a atenção que tinha chamado dele, parecia que ele não iria tirar os olhos de mim. Aquela situação ficou tão chata, que queria sair dali. Eu não tinha ficado brava por ele ser um "filhinho de papai" e não ter me contado, fiquei chateada por não me contar que iria para uma faculdade que fica do outro lado do mundo. — Eu vou buscar os biscoitos, vô. — Me retirei da sala, indo para cozinha. Não queria surtar na frente do meu avô e do menino que sou apaixonada, seria estranho. Quando cheguei lá, não consegui me controlar, queria chutar qualquer coisa que tivesse na minha frente, poderia até quebrar os biscoitos se eu não soubesse que vovô é um ótimo cozinheiro e isso deve estar uma maravilha. Fiquei na ponta dos pés, ao tentar pegar os pratos que estavam numa prateleira lá trás, vejo duas mãos, pegarem os pratos, quando me viro... — Tá! Vendo? Não é r**m ser alto. — Riu. Colocando os pratos em cima do balcão. — Obrigada. — Fui rápida e não o encarei. Não sei se ele tenta se fazer de louco, ou se ele é mesmo um. Qual é o problema deste garoto? Não é possível que não percebeu o quanto fiquei chateada? Ou será que releva tudo? Como o seu sorriso pode ainda continuar lá? — Olha... sobre a Universidade, eu não sei se vou. Certo, eu passei mas… — Você o quê? — Cada palavra que ele dizia, me surpreendia mais. — Glen, por favor. — Disse baixinho. — Está tudo bem ok? — Será mesmo? — Mordi os lábios. — Talvez você nunca me conta nada? Por que não me disse da faculdade? — Não queria te atrapalhar com os meus problemas. — ISSO NÃO É UM PROBLEMA, ÍAGO! — Aumentei a voz, acho que vovô ouviu. — Fico feliz por meu avô conhecer mais o meu amigo do que eu. — a nossa, até parece que você está brava. — Deu uma risada baixinha e quando percebeu que não teve ao menos um pingo de graça, o seu sorrisinho sumiu. — Eu estou. — Falei pausadamente. — Você vai embora, e não me disse nada. Quem eu sou para você, Íago? Irmãos escondem tudo um do outro? — Glen, você quer mesmo discutir sobre isso? Nunca discutimos na vida, e você quer do nada, discutir sobre a minha faculdade? — Bateu os cílios. — Glen, é minha vida, meus estudos, minhas responsabilidades e você não precisa se envolver com isso. Os meus olhos estavam prontos para ficar vermelhos, e lágrimas ao ponto de caírem. As suas palavras machucaram, machucaram muito. Era como se eu não importasse, como se eu não existisse. Era como se ele dissesse" a minha vida não interessa para você", e não me interessava, mas de alguma forma, eu queria fazer parte dela. — Íago, você está aqui. — Ouvi a vozinha de Myra, ela correu em direção ao garoto e o abraçou. — Isso é cookies? — Ela pegou alguns e colocou na boca. — Myra, você pode dar uma licença? A sua irmã e eu, estamos conversando. — DR? — Ela olhou para nós dois no mesmo momento. — Dá para sair, MYRA! — Gritei. Eu estava irritada, muito irritada. Myra ficou surpresa, mas os meus gritos fizeram com que ela saísse da cozinha. — Não precisava falar assim com ela, Glen. — Ele passou as mãos pelos meus ombros. — Eu falo com a minha irmã como eu quero, Íago. " A minha vida, minha irmã, minhas responsabilidades". — Digo a sua frase, para ele sentir o que eu senti. Íago ficou desnorteado, e até um pouco decepcionado. — Glen. — Mexeu na minha bochecha, as suas mãos estavam quentes, porém, o afastei. — Você está certo, Íago. Desculpa, meter-me na sua vidinha maravilhosa.
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