Capítulo III

2926 Words
8 anos mais tarde. O salão de festas estava lotado de nobres e suas famílias, havia até membros da nobreza de outros países, a música tocava ao som do violino, arpa e violoncelo. Em algum canto do enorme salão, Ávelyn argumentava com Máine enquanto tentava não chamar muita atenção para si. - Eu falei que não queria vir, sabe que odeio festas. - Falou. - O rei sempre realiza um baile e te convida, todos comentam que ele só faz essas festas na esperança de que você apareça em pelo menos uma delas. - Comentou Máine. - Quer que o começem a falar mau do rei? Ele sempre ia a nossa humilde casa para te visitar, dava pra ver que você ficava melhor com as visitas dele. - Disse. - Ouvi dizer que ele está doente, o rei fez muito por nós e o maior desejo dele é ver você. Vai fazer o que se ele morrer sem te ver uma última vez? A garota era apenas alguns meses mais nova que Ávelyn, entretanto era mais alta, seu corpo esguiu delataria o intenso treinamento se não estivesse coberto pelo vestido, seu cabelo era Ruivo como sua mãe e caia de forma ondulada até o meio das costas, bem como seus olhos eram verdes e um arco de leve sardas era traçado sobre a ponte do nariz e suavemente ia até parte das maçãs de seu rosto. - Não seja exagerado, ele viverá muito. - Falou. - É mais fácil nós morrermos primeiro do que aquele velho. - Shiiii!? - Máine olhava para os lados para ter a certeza de que ninguém ouviu. - Não seja tão desrespeitosa, mesmo que ele não ligue, as pessoas a nossa volta se importam. - É por isso que odeio bailes e eventos sociais. - Se já está aqui ao menos vá cumprimentar o rei. - Disse Máine. - Se eu subir lá em cima chamarei atenção demais. - Rebateu a garota. - O que vai fazer se ele resolver descer aqui pra falar com você? - Perguntou. - Ele não faria isso, a regra é que ele fique sentado esperando todos irem falar com ele. - Respondeu. - Ávelyn, estamos falando do rei Alfred. - Disse. - "A regra é que ele fique sentado esperando". - Destacou. - O rei Alfred. - Repetiu. - Nem ele faria isso. - A garota não acreditava em suas próprios palavras. - Né? - Então me diga porque ele tá se levantando depois de olhar para cá por tododo esse tempo? - Perguntou. Ávelyn esteve evitando o contato visual até aquele momento, mas ao ouvir o que sua amiga falou não conteve a vontade de ver com seus próprios olhos e sim, o rei estava levantando. Ninguém tinha percebido ainda com exceção do Príncipe de pé ao lado do rei e isso deu algum tempo para que a garota rapidamente atravessasse o caminho que levava ao trono, subisse os degrais e parasse diante do rei curvando-se em uma delicada reverência, ela ficou assim por mais de um minuto, não queria encará-lo. Máine fazia o melhor para para encobrir o riso frente a ação desesperada de sua amiga, ela estava parada ainda no ponto de partida de Ávelyn. - O diabos está fazendo, tio All? - Perguntou aos sussurros, de modo que mais ninguém além do rei e o príncipe fossem capazes de ouvir. - Você não estava vindo, então eu ia até você? - Disse sentando no trono outra vez. - Me esforcei tanto pra fazer um baile em que você viesse e após muita luta você veio. - As pessoas vão falar m*l de você se não parar com isso. - Ela ainda fitava o chão. - Deixe-os falar. - Falou o rei de forma relaxada. - Como estavam os bolinhos que você devorou na mesa dos doces? - Estava me observando? - Suas orelhas ficaram vermelhas. - Descaradamente. - Ele nem se deu o travalho de negar. - Como estavam? - Do jeito que eu gosto. - São os seus favoritos desde de sempre, eu mesmo que fiz. - Comentou. - Então estavam ruins. - Não estavam não, o que vale é o que você falou primeiro. - Ele sorria. - O rei não deve cozinhar. E as suas obrigações? - Eu terminei tudo mais cedo antes de fazê-los e o resto eu joguei nas costas do meu príncipe herdeiro. - O príncipe suspirou exausto - Devia ver a cara do pessoal da cozinha. - Ele ria. - Não sabiam o que fazer tendo o rei cozinhando. - Por favor, não cause problemas aos servos. - Disse cansada. - Por quanto tempo vai ficar olhando para o chão? - Perguntou o rei. - Faz muito tempo que não vou até a casa do barão para te ver, deixe-me contemplar o quanto mudou desde da última vez que te vi. - Fala isso mais baixo, quer que todos escutem? - Questionou aprumando o corpo para encarar o rei. - Ainda que eu tenha saído escondido todos sabem que eu ia lá mesmo, tanto faz se ouvem ou não. - respondeu. Tanto o príncipe e quanto Ávelyn suspiraram ao mesmo tempo, e devido a isso um olhou para o outro, foi a primeira vez que seus olhos se cruzaram em muito tempo. A última vez que a garota o viu ele não tinha mais que quatorze anos. Ávelyn era esbelta, seus cabelos eram preto azulado e contratavam em sua pele alva, seus olhos eram de um tom avelã jamais visto, seus s***s fartos estavam muito bem comportados no decote de seu vestido azul turquesa, não era alta, m*l alacançava 1,63 de altura. A beleza do príncipe Yohan não deixava a desejar em nada, tinha cerca de 1,90 de altura, cabelos castanho avermelhado e olhos de um azul tão escuro que na pouca luz poderiam ser confundido com preto, seus cílios eram longos ao ponto de fazer as mulheres sentirem inveja, sua pele branca estava levemente queimada pelo sol,seu corpo era não tinha excessos, mas era claramente o físico de um soldado, mesmo sob o tecido de seu traje real era possível contenpla-lo facilmente. O olhar de Ávelyn se demorou sobre o corpo do príncipe Yohan e ela só percebeu quando seu olhar subiu para o belo rosto dele, ele arqueou a sombrancelha de forma inquisidora e a garota lhe mostrou uma careta. Apesar de fazer alguns anos que não se viam, os dois se conheciam desde criança e por várias razões acabavam por brigar, as vezes compartilhavam tapas e beliscões, mas no fim tudo era resolvido com uma partida de xadrez na qual Ávelyn sempre vencia para o desgosto do pobre Yohan. - Você cresceu um pouco? - Debochou o príncipe. - Ha ha, muito engraçado. - Devolveu o deboche. - Sem o menor respeito como sempre. - Comentou Yohan em desaprovação. - Sem graça como sempre. - Revidou a provocação. - Estava olhando demais para o sem graça aqui. - Rebateu o príncipe. - Não começem uma guerra. - Acudiu o rei. - Ávelyn, fique até o final do baile, não fuja. - É uma ordem do rei? - questionou. - Desta vez é, precisamos conversar sobre algo importante. - falou. - Vai ser uma d***a, mas eu não posso fugir se o rei é tão direto. - Respondeu. - Tomara que seja importante. - Disse se retirando e seguindo na direção de Máine, ignorando o olhar de desaprovação do príncipe. - Você o provocou não foi? - Perguntou Máine. - Ele que começou. - Vocês não mudam nunca. - De que lado você está? - Do meu lado, obviamente. - Respondeu Máine e Ávelyn bufou. - Terei que aturar esse baile até o fim, o rei quer falar comigo. - Sobre o que? - Ele não disse. - Respondeu. - Relaxa, não deve ser nada demais. ❇❇❇ - O que está dizendo? - Ávelyn estava completamente chocada, Máine tentava achar um jeito de fugir da sala e Yohan não sabia nem o que pensar. - Eu vou explicar melhor. - Disse o rei. - No dia em que você nasceu seu pai me chamou até a casa dele, eu fui porque ele nunca tinha me pedido algo assim desde que assumi a coroa e por que eramos amigos de infância, eu não sabia que a minha presença não era a única coisa que ele me pediria aquela noite. - Falou. - Ele parecia preocupado e isso me deixou preocupado também. - Ainda assim... - começou Ávelyn. - Ele queria que nossos filhos se casassem e eu também fiquei feliz ao ouvi-lo propor algo como aquilo, segundo ele a idéia foi da sua mãe. - Disse o rei. - Eles me contaram algumas coisas naquela noite, segredos que devem continuar secretos, e ao ouvi-los aceitei este acordo matrimonial, não me arrependo, a medida que te vi crescer me afeiçoei a você de forma pessoal. - Conhecendo meu pai ele deixou por escrito. - Considerou a garota. - Escute, tio All, não tenho nenhuma vontade de me casar com o seu filho. Não me entenda m*l, ele será um excelente rei, talvez melhor do que você, mas não ficarei atada a um rei. Meu pai lhe escolheu como seu rei, não porque era seu amigo, nem por causa de seu sangue real, e como ele aceitarei apenas o rei que eu escolher. - Declarou. - E mesmo escolhendo-o o senhor bem sabe que não tinha a lealdade absoluta dele, a lealdade absoluta de meu pai pertencia ao povo. Povo esse que ele arriscou a vida em diversas batalhas para proteger, minha mãe e ele adoravam esta nação e eu herdei a vontade deles. Farei qualquer coisa para ajudar, mas não desejo me sentar em um trono. - Eu entendo, percebi isso enquanto você crescia, mas já era tarde demais. - Falou Alfred. - Só me restou aceitar. - Como assim? O senhor é o rei, pode desfazer o acordo quando quiser. - Disse com confiança. - Não posso. - Disse resoluto. - Pode sim, acordos políticos são feitos e desfeitos o tempo todo desde que não seja um... - Ávelyn parou de falar e olhou nos olhos do rei, mas ele desviou o olhar. - Tio All? - Chamou com um sorriso nada natural. - Lyn? - Respondeu sem olhá-la nos olhos. - Por favor me diga que não estamos falando de um acordo de sangue. - Ela praticamente cantarolou. O rei desviou ainda mais o olhar e não respondeu. - Tio All? - Chamou docemente. - Vamos lá, não é difícil dizer isso. - Um rei não pode metir. A sala se tornou silenciosa, Máine olhava tudo aquilo sem nenhum pingo de vontade de participar da conversa. O príncipe fitava o chão como um criminoso após receber sentença de morte e Ávelyn desaprendeu como falar. O rei suava frio com a tensão, ele sabia que a garota não o machucaria, mas sabia que ela poderia colocar o Palácio abaixo em um acesso de ira. - Vou tomar um ar lá fora, está tarde e espero que tenham preparado nossos quartos pois passaremos a noite aqui. - Ela se referia a ela e Máine. Ávelyn saiu sem dar ao rei tempo de responder, outra pessoa poderia perder a cabeça por tal desacato, mas ele sempre aliviou para a garota e sempre foi duramente criticado por isso. Com o tempo acabou por se acostumar. Yohan seguiu Ávelyn que andava apressadamente pelos corredores, até que a alcançou e segurou-a pelo braço fazendo-a parar, uma vez que ele soltou seu braço a garota se encostou na parede. - Você não pode concordar com esse casamento. - Disse o príncipe. - Se você insistir talvez meu pai te escute, ele tem muita consideração por você. - Escute, sem ofenças, mas eu não tenho nenhuma vontade de me casar com você. - Falou Ávelyn. - Porém não há nada que eu possa fazer quando tem um acordo de sangue envolvido. Você é o príncipe herdeiro, tem mais poder que eu, pode tentar inutilmente se quiser. Fique a vontade. - Não posso ir contra o rei, principalmente por que ele é meu pai, aproveitadores podem se valer de qualquer instabilidade para fazer algo r**m. - Você ainda não entendeu, mesmo que você fosse o rei e o tio All tivesse falecido ainda assim não poderia fugir disto. - Argumentou a garota. - E por isso vai desistir facilmente? - Questionou aproximando o rosto do dela fazendo-a aprumar ainda mais o corpo contra a parede para encará-lo. Sua voz suava baixa e rouca, quase o ronronar de um gato. Eles ficaram assim por longos segundos, até que Ávelyn soprou os olhos do príncipe, o rapaz afastou-se um pouco com um dos olhos fechados. -Comeu doce de menta de novo? Quem diabos come aquilo? - Reclamou. - Não tenho culpa se você tem o paladar de uma criança. - Rebateu. O príncipe passou a mão pelo rosto exasperado. - Eu já tenho uma pessoa, nós não nos amamos, mas estamos confortáveis. - Disse o príncipe. - Eu planejava falar ao meu pai sobre minha intensão de me casar com ela hoje após nossa reunião com você. - Eu te conheço, quando você diz "não nos amamos" significa que ela está afeiçoada a você, mas você não sente o mesmo e por gostar dela não quer magoá-la. - Falou. - Você é o tipo de pessoa que se casaria com uma mulher que gosta, mesmo que não ame, para não deixá-la infeliz. - Não posso abandoná-la, ela não tem mais ninguém. - Confessou. - Eu vou procurar alguma coisa para ajudá-los. - Disse. - Sei muito bem os motivos de meu pai e o rei quererem esse casamento e não joguei as responsabilidades de me tornar uma duquesa nas costas de meu primo para acabar com uma coroa de rainha em minha cabeça. Definitivamente vou me livrar disso, seria problemático pra mim se você quisesse este casamento, mas facilita as coisas visto que você não quer. - Suspirou. - Como eu queria fugir para uma montanha e passar o resto de meus dias morando em uma cabana, lendo livros e praticando botânica. - Já entendi que você quer morar em uma montanha e praticar botânica. - Disse o príncipe. - Como vamos fazer para realizar esse sonho? - Não dá para impedir o casamento. - Falou. - Por favor não desista. - Implorou Yohan. - Não estou desistindo, disse que não podemos impedir o casamento, mas não disse que não podemos acabar com ele. - Como esperado de você. - Considerou orgulhoso. - O que tem em mente? - Vou ter que te aturar mais um tempo e terei que usar a mulher com quem você quer se casar. - Falou. - Tudo bem pra vocês? - Não tenho nada melhor então não posso reclamar. Contarei a ela amanhã sobre o plano. - É o seguinte: Vamos nos casar e trazer de volta um dos artigos da lei que lhe permite ter uma concubina. - Considerou. - Infelizmente a lei diz que você só pode ter uma concubina seis meses após o casamento com sua consorte. Isso é para que a consorte tenha tempo para se acostumar com sua posição, conceber um herdeiro e decidir se quer ou não que seu marido tenha uma concubina. Não vai rolar comigo. - É bem antiga, mas eu lembro vagamente dela. Nem vou perguntar se você por acaso memorizou todo a nossa constituição e suas leis. - comentou o príncipe. - Continuando, para o plano ser um sucesso essa mulher terá que concordar em ficar grávida. - O que está dizendo? - O príncipe recuou. - É isso ou aceitar esse casamento até que a morte nos separe. - Vou falar a ela, mas não vou obriga-la a nada. - Quando ela se tornar sua concubina terá direito a morar neste Palácio no pavilhão do príncipe herdeiro, estar grávida do primeiro filho real dará a ela alguma autoridade e regalias. - Continuou Ávelyn. - Mais tarde eu posso alegar que sou estéril e encontrar um meio de abdicar da minha posição de consorte após algumas ações irresponsáveis, você terá que me ajudar também, toda essa situação me dará apoio do concelho para essa decisão. - É um plano bem elaborado. - Falou. - Mas o que vai fazer caso se apaixone por mim nesse meio tempo? - Como se isso fosse acontecer. - Debochou. - O casamento ocorrerá muito em breve, talvez dentro de uma semana, tenho certeza de que tio All planejou tudo antecipadamente, ele não subestimaria nodsa inteligência. Este plano tem muitos furos, mas vai dar tudo certo, tudo que precisamos fazer é ter paciência. Mais um pouco e estarei livre de todos vocês, só servem para me dar dor de cabeça. - Brincou. - Obrigada por ser um gênio. - O príncipe se aproximou e beijou testa da garota. - Descanse bem essa noite, terá de ir embora amanhã para se preparar para o casamento, me encontrarei com Celicite e contarei a ela sobre o nosso plano, enviarei um carta rapidamente falando sobre a opinião dela para considerarmos antes do casamento. Nos corresponderemos por cartas. - Tudo certo, então. - Confirmou a garota e o príncipe saiu tão rápido quanto chegou. Apesar de todas as intrigas, os dois eram amigos próximos desde a infância, eram mais íntimos do que eles desejariam confessar. Mais tarde Máine foi ao quarto de Ávelyn falando sobre o quão surpreendentemente divertido foi conversar com o rei.
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