Capítulo II

2982 Words
Pouco mais de 1 ano depois. A menina brincava com Máine e outras doze crianças em um parque que ficava a quinze minutos da casa do barão Nathan, a baronesa Isely havia autorizado sob a condição de que voltassem antes do por do sol. A guarda de Àvelyn havia ficado com o barão Nathan, apesar de sua tia Ilurianle ser contra visto que a mesma queria ter controle sobre o ducado usando a desculpa de ser a guardiã legal da menina, ela nada pôde fazer quando o rei interviu em favor do Barão. As crianças se divertiam e apesar de Ávelyn ter sido praticamente arrastada, ela não estava odiando. Estavam tão entrertidas brincando que não notaram a aproximação estranha, até que em dado momento a garota parou para beber água e sentiu que estava sendo observada, agindo naturalmente ela se aproximou das outras crianças e discretamente alertou a todos que corressem ao seu sinal, seguindo sua liderança, eles ocorreriam até determinado ponto e lá Ávelyn planejava fazer algo para se livrar dos perseguidores e salvar as outras crianças. - Não procurem por eles com os olhos, é perigoso. - Disse a garota enquanto fingia planejar a próxima brincadeira com o grupo. - Likin é o mais novo e mais lento, vamos esperar ele chegar até aquela árvore. - A árvore ficava no topo de pequeno relevo, o garoto não conseguiria subir correndo. Ávelyn apanhou uma pedra no chão e entregou a Likin. - Vá rapidamente e leve isso com você, quando chegar lá em cima solte a pedra no instante em que estiver preparado para correr de novo, quando soltar a pedra começe a correr para a casa do barão. Não se preocupe eu vou proteger vocês. - Disse ao menino. - Escutem, quando ele soltar a pedra todos devem correr para a casa do barão. - Ninguém tinha objeção, desde que se uniu ao grupo ao chegar a mansão do barão, a garota se tornou a líder antes que percebesse, suas palavras exerciam grande poder, um poder adquirido através da confiança. Likin correu a toda velocidade, quando estava perto do local em que deveria largar a pedra ele olhou para trás e acidentalmente seu olhar cruzou com o dos perseguidores, a criança de oito anos começou a chorar de medo, seus olhos embaçaram e ele tropeçou. Obviamente os homens responsáveis pela captura perceberam que haviam sido notados e começaram a agir, Ávelyn ordenou que todos corressem e ao som de sua voz as pernas trêmulas das crianças ganharam forças e começaram a correr. Ávelyn ultrapassou as demais crianças na corrida sem esforço, o plano era alcançar Likin e carregá-lo em suas costas para ajudá-lo a fugir, mas no instante em que agarrou o braço do menino ouviu um grito desesperado. Ao olhar para trás viu que Kinur tinha sido apanhado e se debatia desesperadamente, com horror ela viu seu agressor pegar a faca de caça em sua cintura e erguê-la para golpear o menino. Ela sabia de alguma forma quem eles queriam e não poderia se perdoar se alguém morresse por ela ter fugido covardemente, em um grito a plenos pulmões ela se rendeu. - Eu estou aqui. - Ela gritou e isso fez com que o homem se detivesse. - Deixe-os ir, é a mim que vocês querem. - Ávelyn tinha consciência de sua situação, não haviam meios de fugir sem sacrificar das peças no tabuleiro e ela não queria ser aquela a decidir a peça de sacrifício. O homem com a faca arqueou a sobrancelha, os outros haviam parado, tanto os homens quanto as crianças, ninguém saía do lugar. - Venha e eles serão poupados. - Disse o homem. Ávelyn estava com medo, mas ainda assim caminhou até o homem. Ele atirou, literalmente atirou o menino, para um dos outros homens e agarrou a menina. - Você disse que ia deixá-los ir. - Protestou a menina. - Eles são a garantia de que você vai se comportar. - Falou o homem. - Se você for uma boa garota vou liberá-los, mas antes temos que fazer alguns testes para ter certeza de que você é quem viemos buscar. Nosso rei não ficará feliz se levarmos a pessoa errada. Ninguém se mexe, sem resistência e ninguém se machuca. - Disse para as crianças. - Por enquanto. - Murmurou para que que apenas Ávelyn ouvisse. Os outros homens rederam e amarraram as crianças, não haviam outras pessoas naquele parque aquela hora do dia, após reunir todas eles partiram. As crianças foram colocadas amarradas, amordaçadas e vendadas em uma carroça e levadas para um lugar subterrâneo. Lá Ávelyn viveu os piores dias de sua vida. Os testes envolviam todos os tipos de coisa, desde banhos em água estupidamente quentes, testes de resistência a venenos, provas de resistência a dor e pressão psicológica. O objetivo era não apenas testar o corpo Neankanaua como também "adestrar" a menina de modo que ela se tornasse completamente obediente e não trouxesse riscos aos sequestradores na hira de cruzar a fronteira. O complexo subterrâneo era composto por salas e corredores, a sala em que os testes eram realizados ficava mais ao fundo, Ávelyn se questinou a princípio como infernos eles tinham construído algo como aquilo em território inimigo. No começo ela tinha esperanças de que alguém viria salvá-los, mas quando as seções de tortura começaram ela a perdeu por completo. Haviam cerca de duzentas e dezessete pessoas no complexo subterrâneo, a maioria eram mercenários e pesquisadores preparados para análise, Ávelyn passou dias indo de sua cela até a sala de testes para as seções e todas as vezes ela analisava o máximo que podia tentando encontrar o jeito que pudessem escapar, apesar de toda a dor a qual era exposta ela sentia que podia aguentar. Ela achava que podia. Após sete dias de sumisso das crianças e o barão já estava ficando desesperado, em seu íntimo ele sabia o motivo de terem as sequestrado, mesmo após o rei enviar membros de sua guarda pessoal para ajudar nas buscas não tiveram resultados, a cada dia que passava a esperança de encontrar as crianças com vida se esvaía. Com excessão de Máine e Ávelyn, as crianças não tinham pais e viviam com outros trinta órfãs em uma casa financiada por Nathan. As buscas continuaram durante todos os dias e iam até tarde da noite, o rei colocou uma recompensa para quem trouxesse as crianças e se dispôs a dar qualquer coisa com excessão de seu trono como resgate, ele estava preoculpado com Ávelyn. No oitavo dia de cárcere a garota perceberia que as coisas pelas quais tinha passado eram brincadeiras de criança. Aparentemente ela deveria ser capaz de tolerar a dor sem chorar ou gritar, o ideal era que ela não demonstrasse nenhum sinal de desconforto sequer, mas como isso seria possível? É isso que os "pesquisadores" queriam saber. Como em qualquer outro dia a garota foi levada para a sala de testes e ao chegar lá ela se deparou com algo incomum aos outros dias, Pirenan estava sentado em uma cadeira e um mercenário desconhecido o guardava. O menino estava tremendo de medo, estava todo sujo, seu cabelo desgrenhado, mas lágrimas escorreram de seus olhos no momento em que viu Ávelyn viva, porém sua gratidão não duraria muito. Os pesquisadores deitaram Ávelyn na maca e prenderam seus braços e pernas, eles conversavam entre si algo sobre ativar o processo de regeneração acelerada, a garota não compreendia. - Escute. - Disse um deles. - Nos vamos expor você a determinada quantidade de dor e você deverá ficar quietinha, toda vez que você fizer sequer uma careta seu amiguinho perderá uma parte do corpo dele. - Falou. - Eu sugiro que você aprenda a se controlar rápido, temos mais treze além dele de qualquer forma. - Por favor não, eu vou ficar quietinha. - Disse se desesperando. - Deixa eles irem, vocês já tem o que querem. O homem gesticulou para o mercenário que segurou firme Pirenan, o menino tentava desesperadamente se soltar, as duas crianças gritavam até que o homem apoiou uma das mãos do menino e em um movimento cortou fora todos os dedos, após isso apenas o menino continuou a gritar, Ávelyn olhava para a cena atônita. Em seu íntimo ela se forçou a parar de chorar, ela dizia a se mesma "para dentro e ao fundo" com esse pensamento ela internalizava seus sentimentos, continuava a repetir isso como um mantra. O menino continuou a gritar desesperado, o perquisador se aproximou e espetou uma agulha no corpo de Ávelyn até que ela sumisse de vista. Ela não conteve o gemido e contraiu o corpo por causa da dor, mais uma vez seu amigo perdeu um m****o e assim se seguiu a ordem das coisas, uma agulha era introduzida na carne da garota e a cada resistência seu amigo pagava. No final da sessão Pirenan estava morto e Ávelyn ferida e traumatizada, ela não dormiu, no dia seguinte seu corpo estava completamente curado, mas para seu horror havia outra criança na sala. Outra vítima que não durou até o fim da seção. As crianças na cela se perguntavam onde tinha ido seus amigos que deixaram a cela e nunca mais retornaram. Aos poucos Ávelyn ia se acostumando com a tortura, se acostumou ao ponto de seu terceiro amigo não perder mais que dois dedos no primeiro dia, no segundo dia a mesma criança foi levada e no dia seguinte ela foi trazida novamente visto que sobreviveu ao anterior, A pequena Sanny sobreviveu por duas semanas até que finalmente morreu. Seth viveu por mais de um mês e meio antes de morrer, Ávelyn deu tudo de si para aguentar e a cada morte ela era consumida pela culpa. Mais de dois meses desde o começo do cárcere a garota encontrou a quinta criança na sala, seu coração estremeceu quando viu Máine sentada na cadeira da morte. Ávelyn não se atreveu a demonstrar o grau de importância que aquela pessoa tinha para ela, Máine era sua irmã e falhar em resistir não era uma opção. Máine percebeu que a menina estava ignorando ela e que se ela estava fazendo isso devia ter um boa razão. Quando a seção começou Máine fez menção de se mover para ajudá-la, mas com apenas um olhar que Ávelyn lhe direcionou, a garota compreendeu que não devia fazer nada, tudo que ela podia fazer era chorar diante do horror a sua frente. Ao fim da seção ela foi levada para junto das outras crianças e por várias horas se manteve em silêncio, como dizer para os outros que seus amigos tinham morrido? Guren era irmão gêmeo de Pirenan, ela seria capaz de contar para ele que seu irmão estava morto? Como ela seria capaz de dizer aos outros sob que condições Ávelyn estava sendo troturada? As treze crianças eram inteligentes, acompanhavam Ávelyn em seus jogos, leituras e atividades, absorviam tudo que a garota ensinava e por isso se mantiveram ao lado dela, outras crianças tentaram se aproximar, mas achavam o estilo de vida deles adulto demais. A garota tinha muita consideração por eles e vê-los morrendo um a um foi uma p*****a forte demais para suportar, aos poucos seu lado humano desaparecia e ela dava mais um passo para a beira do abismo. Após três meses de tortura a menina chegou ao seu limite. - Parece que ela desistiu de resistir, amanhã vamos transporta-la até nosso rei. - Comentou um deles. A garota estava deitada na maca, não estava presa como sempre, a seção tinha acabado, ela estava mole apesar de sua regeneração acelerada ter curado seus ferimentos. Ela ouvia a conversa. - Até que ela foi forte, tivemos que m***r apenas quatro deles, ainda restam nove. - falou o outro. - Será mais fácil move-la, eles ainda estão procurando pelas crianças, mas nós os fizemos ir para outro lugar usando algumas iscas. Encontraram os corpos dos que matamos em locais estratégicos, devem estar perdido. - Não pensei que o rei iria se envolver, acha que ele sabe o que ela é? - Não sei. - Reapondeu. Ainda estavam procurando, ouvir isso fez a garota pensar que ainda tinham alguma chance se aguentassem um pouco mais, mas quando ouviu que aquelas pessoas estavam manipulando o grupo de buscas essa possibilidade foi embora. - O que vamos fazer com as crianças que sobraram? Vamos levar conosco? - Olhe para ela, está completamente sob controle. Não precisamos mais das crianças. - Disse . - Levá-las só dificultaria nossa retirada. - O que faremos então? - Diga a um dos mercenários que mate todas elas e espalhe os corpos em locais diferentes, isso deixará o grupo de busca ainda mais confuso. - É uma ótima idéia. Os homens continuaram a conversar sobre onde colocariam os corpos das crianças, Ávelyn não os escutava mais, ela não ouviria ninguém, o abismo tinha olhado de volta para ela e a consumiu uma vez mais, mas desta vez ela manteve parte de sua consciência. A garota estendeu a mão e apanhou da mesa próxima a sua maca uma das lâminas usadas nas autópsias realizadas em seu corpo. O primeiro homem não viu o que o atingiu, o segundo viu, mas não foi capaz de reagir antes que sua garganta fosse cortada. Sangue esguichou pelo ar e molhou a menina, mas ela não se importava. Gritos ecoavam pelos corredores, corpos caiam ao chão um atrás do outro, sangue se espalhava pelo chão e sempre que a criança surgia das sombras outra pessoa deixava o mundo dos vivos. Pesquisadores, guerreiros do reino adversário ou mercenário, a morte não fez distinção entre eles naquele momento. As crianças tremiam em sua cela, estavam desnutridas e desidratadas, Máine fazia o melhor para acalmar a todos, os mais velhos cuidavam dos mais novos. Ávelyn surgiu das sombras e parou diante das grades de ferro que a separava de seus aliados, para ela só havia uma missão que era salvar os sobrevivente, tirá-los dalí não seria tarefa fácil a maioria m*l conseguia ficar em pé. A garota tinha em mãos a chave da cela e ninguém questinou onde ela havia conseguido, estava coberta de sangue e todos rezavam silenciosamente para que não fosse dela e não era. Ávelyn destrancou o portão da cela e entregou para Máine nove tiras de pano que trazia em suas mãos, sem uma única palavra a menina sabia o que devia ser feito. - Vou vendá-los, Ávelyn irá nos tirar daqui. - Máine disse para as outras crianças. - Alguém tem alguma objeção? As crianças negaram como podiam, todos se ergueram e permitiram que Máine os vendasse, todos exceto Likin. O menino não levantou do lugar onde estava, ele não se mexeu desde que Ávelyn chegou, Máine foi até ele e quando o tocou seu olhar se abateu e ela se voltou para sua amiga. - Ele está queimando de febre e não vai durar muito. - Disse. - Ele tinha nos dito antes que deviamos partir sem ele quando você viesse nos buscar, de todos nós ele foi o único que não vacilou nem por um momento, acreditou que você viria até o fim. O que você quer fazer? Ninguém questionará a sua decisão. Ávelyn entrou na cela e se agachou perto de Likin, colocou a faca em sua mão no chão, pegou a venda dele na mão de Máine e a colocou sobre os olhos dele, ergueu o menino do chão como se não fosse nada e o colocou em suas costas. A menina deixou a cela carregando o pequeno Likin, Máine colocou sua venda e segurou a mão de Iêran, que era a crianaça mais próxima, as oito crianças seguraram uma nas mãos das outras fazendo uma corrente, Máine seguia o som dos passos de Ávelyn que ia na frente, as vezes aparecia alguém e eles tinham que parar, a garota colocava Likin no chão e avançava sobre o desafiante, voltava e pegava o menino de volta. E assim fizeram até alcançarem a saída, quase não apareceu ninguém para desafiar Ávelyn no caminho até a saída. Não havia mais ninguém alí para confrontá-la Quando finalmente deixaram o complexo subterrâneo, a menina permitiu que todos tirassem a venda, Canute pegou Likin das costas da garota e o colocou em suas próprias costas, ninguém disse uma única palavra. Seguiram Ávelyn mata a dentro e quando chegaram proximo a um rio se lavaram e beberam água, ninguém os pertubou, ninguém os perseguiu, ninguém veio atrás deles. Os mais fortes procuraram frutas comestíveis e o Devir acendeu uma fogueira, Ávelyn vigiou o tempo todo mesmo sabendo que ninguém viria ataca-los. Todos sabiam o que tinha acontecido com os sequestradores, mas ninguém se atrevia a falar. Alguns foram vencidos pelo cançasso e dormiram, outros cochilavam e revezavam nos cuidados com Likin. A garota não dormiu, ela não dormiria por muito tempo, naquele momento ela sentia que não conseguiria dormir nunca mais. Duzentas e dezessete pessoas foram brutalmente assassinadas naquele dia e seu assassino contemplava a lua na beira de uma fogueira. Ávelyn e as nove crianças não foram embora no dia seguinte, Likina estava fraco demais para ser movido, ela dividiu as tarefas do grupo e saiu voltando mais tarde com algumas roupas que roubou de alguém. Não podiam confiar em pessoas nos arredores então não mantiveram contato com ninguém, quando Likin recobrou a consciência eles voltaram para a casa do barão como se nada tivesse acontecido. O rei tentou levar a garota para o Palácio, dizendo que ela ficaria mais segura lá, mas a menina rejeitou a oferta preferindo continuar na casa de Nathan e Isely até se tornar adulta e decidir o que fazer com o amado ducado de seu falecido pai. Nem o barão nem o rei souberam o que realmente aconteceu naquele lugar, as crianças envolvidas não contaram, elas se tornaram ainda mais unidas e continuaram a viver sob a liderança de Ávelyn.
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