PRÓLOGO
Cecília
— Ah! — Gemi de dor enquanto levava a mão no peito de forma desesperada tentando amenizar a dor que se fazia cada vez mais forte.
Tentei conter o pânico que me invadira, por não ter ninguém para me acudir naquele momento.
— Por favor... algum médico? Enfermeiro? — gritei implorando que viessem a meu encontro. Estava a cada minuto mais difícil de suportar.
E assim como das outras vezes em que eu chamara, ninguém apareceu.
A vida parecia estar totalmente contra mim, era isso. Não conseguia pensar em outra explicação para o que vinha acontecendo com a minha vida nos últimos anos.
Agora... eu me pergunto, que m*l eu fiz para merecer tudo isso?
Eu não fazia ideia.
E mesmo sem merecer esse castigo, tenho passado um tempo considerável nesta ala do hospital. Meu tormento maior começou quando eu descobri um problema cardíaco o qual de repente fora desenvolvido no último ano, desde então tenho lutado pela minha vida.
O barulho da porta se abrindo chamou a minha atenção, olhei em direção a porta constatando que era Thomas, meu namorado.
— Ah, graças a Deus! — Falei com um pouco de dificuldade, mas aliviada por ter alguém para me socorrer nesse momento tão agoniante.
Mas o alivio se transformou em preocupação conforme Thomas se aproximava de mim.
O olhar dele estava diferente. Aquilo fez meu coração entrar em descompasso. Thomas nunca havia me olhado de forma tão estranha e a sensação que aquele olhar me causou, me deixou inquieta.
— O que aconteceu? — Me forcei a perguntar quando ele parou ao meu lado. Foi quando a dor se fez ainda mais forte fazendo com que um gemido escapasse de meus lábios. — Eu... eu preciso de um médico urgente... por favor... — Supliquei a ele, que estranhamente permanecia com o olhar frio sobre mim, como se minha dor não significasse nada para ele.
— Todas as suas ações foram transferidas para o meu nome, Cecília. — Ele falou friamente. Naquele momento eu levei a minha mão no braço dele em desespero, implorando para que ele prestasse atenção em mim, eu precisava urgentemente de ajuda.
— Thomas, por favor eu preciso... — Minha voz falhou no instante em que a sua frieza repentina, juntamente com o que acabara de falar se conectou em minha mente.
Naquele momento meu coração despencou. Eu não podia acreditar naquilo que estava diante dos meus olhos. Eu poderia mesmo estar entendendo certo?
Meus olhos se encheram de lágrimas, enquanto eu assimilava aquela informação.
Thomas... o homem que eu confiei... que esteve comigo por todo esse tempo... Ele realmente estava fazendo isso comigo?
— Por quê? — perguntei com a voz embargada. Ele levou a mão sobre a minha e a retirou de seu braço com o olhar duro sobre mim, apenas me confirmando a minha suspeita. Uma lágrima solitária desceu em meu rosto, enquanto eu me recusava a acreditar naquilo. — Por quê?
— Olá, Cecília! — Uma voz familiar e carregada de deboche pairou pelo ambiente. Olhei em direção a porta confirmando que se tratava de minha prima Lucy. — Você não percebeu que o Thomas está do nosso lado? — Lucy perguntou caminhando em minha direção enquanto um sorriso se formava nos lábios dela.
— D-do que você está falando? — Perguntei com dificuldade.
Naquele momento, um nó se formou em minha garganta, senti que estava cada vez mais difícil de falar. Mas ainda assim, eu precisava saber do que ela estava falando.
Levei a mão sobre o meu peito com mais força, na tentativa de fazer com que aquela dor cruciante amenizasse. Senti minha garganta começar a se fechar de forma agoniante enquanto aqueles que eu julgava ser pessoas que me amavam, apenas assistiam com diversão.
— Deixe-me contar a você. — Lucy falou parando ao lado do Thomas. — Tudo isso não passou de um plano do meu pai, seu amado tio Ian. — Então ela se sentou na cama ao meu lado. — Thomas fez um ótimo trabalho quando conquistou o seu coração... você estava tão apaixonada... — Ela zombou. — Sinto te dizer que tudo foi apenas para que você transferisse as suas ações para o nome dele.
A decepção caiu em cheio com aquela confirmação e mesmo sem forças, eu me forcei a olhar para Thomas que continuava com aquele mesmo olhar estranho sobre mim.
— Nós também fomos os responsáveis pela sua doença cardiaca. — Lucy deu uma pequena risada atraindo a minha atenção de volta para ela. — Temos injetado algumas substâncias em você durante o último ano para acabar com a sua saúde. E adivinha? — Ela tocou meu braço, tirando a minha mão do peito. — Nós não precisamos mais de você.
Uma mistura de ódio, dor e decepção caiu sobre mim fortemente, enquanto eu assimilava cada palavra dita por minha prima Lucy. Como eu poderia ter sido tão ingênua esse tempo todo?
Eu simplesmente não podia acreditar que minha própria família foi capaz de fazer algo tão c***l. Queria entender como as pessoas poderiam ser capazes de algo tão baixo. Pessoas que eu confiava, pessoas que eu amava. Como puderam fazer isso?
Descobrir de fato todas essas verdades, me fez querer loucamente viver.
Mas no momento, eu já sabia que seria impossível conseguir sair dessa. Sentia meu corpo cada vez mais frio, o sangue escorrer pelo canto da boca, e o gosto característico dele se fazendo cada vez mais presente.
Aquele, era o meu fim.
— Ah! — Lucy suspirou. — Deixe-me te contar uma última coisa... É um segredo que você deve guardar para você. — Ela deu um sorriso divertido enquanto aproximava-se ainda mais de mim. Então se inclinou em minha direção, e sussurrou em meu ouvido. — O acidente dos seus queridos pais, foi algo minimamente arquitetado por nós.
Lágrimas voltaram a invadir o meu rosto, enquanto Lucy dizia aquelas palavras de forma tão c***l. Me sentia tão fraca naquele momento que só me restava escutar, enquanto ela sussurrava aquelas palavras em meu ouvido.
— E não foi só isso... Lembra daquele dia fatidico, no hotel aonde ia se casar? Quando você foi pega fazendo sexo com outro homem naquela noite um dia antes do seu casamento? — Ela perguntou com os olhos fixos em mim. Sua voz estava carregada de diversão e malícia. — Aquela situação constrangedora também foi algo arquitetado por nós, colocamos uma camera no quarto e... bem... — Senti a mão dela passar suavemente em meus cabelos fazendo a raiva crescer ainda mais dentro de mim. — Não foi difícil drogar a sua bebida e colocá-la naquele quarto, a deixando tão louca, a ponto de não resisitir a t*****r com o primeiro homem que aparecesse. — Ela sorriu. — Não preciso dizer que pagamos o homem para ir até o quarto e t*****r com você, não é?
Inacreditável! Tudo que Lucy acabara de confessar era simplesmente inacreditável. Como eles tiveram coragem? Como puderam armar tudo isso para mim?
— E assim como foi inocente para acreditar em mim, se culpou por ter traído o seu noivo. — Thomas disse fazendo com que eu lentamente me forçasse a olhar para ele.
— Bom Cecília, acho que nesse momento você já se deu conta, não é? — Lucy perguntou ao mesmo tempo que se levantava da cama. — Tudo de r**m que aconteceu com você nos últimos anos, não foi por acaso. — Ela completou com um sorriso. Quanto maior o meu sofrimento ela parecia gostar mais. — E admito que foi delicioso ver o quanto você sofreu a cada momento... e eu poderia dizer que quero que tenha uma morte tranquila..., mas espero que sofra até o último segundo.
Ao dizer aquelas palavras Lucy se afastou, vagamente eu consegui perceber ela se apoiar em Thomas e gargalhar enquanto dizia algo a ele que não consegui discernir.
E como um golpe final... o homem o qual eu acreditei e entreguei o meu coração se juntou a ela com uma risada cheia de deboche.
Naquele momento, eu não conseguia mais falar.
Queria desesperadamente lutar pela minha vida, queria rebater cada fala e dizer a ela o quão sujo eles jogaram.
Por quê? Por dinheiro? As pessoas poderiam realmente ser tão cruéis por causa do maldito dinheiro?
Pensar nisso apenas fazia com que o ódio fosse o sentimento predominante diante de tudo que acabara de descobrir.
Tentei com todas as minhas forças lutar pela minha vida naquele momento. Mas a dor estava insuportável, a voz de Lucy estava cada vez mais distante, e por mais que eu tentasse me manter consciente, isso era algo que já não era mais possível.
Senti o meu corpo desfalecer, enquanto eu apenas desejava do fundo do meu coração uma segunda chance para acabar com todos esses cretinos, que jogaram tão sujo comigo durante todos esses anos.
Não havia nada no mundo que eu gostaria mais, do que a chance de me vingar de cada um daqueles que me fizeram sofrer tanto.
Seria pedir muito? Tudo que eu queria, era outra chance.