CAPÍTULO 01

1375 Words
Os corpos bonitos nunca serão bonitos para sempre. Já as almas bonitas sim. ? Fernanda Meu estômago ronca e mais uma vez não tenho nada pra comer, a única coisa que tem na geladeira é gelo, o qual estou agora mesmo usando pra vê se desincha meu olho. Ontem apanhei de um cliente e depois do meu tio, só por que fui tentar me defende do homem titio Cláudio veio tirar satisfação e mais uma vez sai perdendo na briga. O cara é assim sempre que se droga, não muito diferente do meu tio. Se é que posso chamar o Cláudio de tio, o homem que abusa de mim desde que eu tinha sete anos, até hoje tenho pesadelos com aquela noite. Aquela maldita noite. Eu havia perdido meus pais pela manhã, não tinha nem me despedido deles, estavamos no nicroterio, esperando o corpo do meu pai e da minha mãe pra me despedir. Não estava entendendo o que estava de fato acontecendo, eu era muito criança, não entendia nem da vida que dirá da morte. Nasci em Brasília mas meus pais logo vieram pro Rio em busca de oportunidades melhores. E aqui minha única família é Cláudio, então foi com ele que fiquei após a morte dos meus pais. Minha avó materna já havia morrido e a paterna não queria cuidar de mim. Então fiquei com ele já que minha vida toda estava aqui no Rio, na inocência de criança pensei que tudo continuasse normal. Quanta ingenuidade! Lembro bem quando disse ao Cláudio que queria usar o banheiro, ele me pegou pela mão e me levou até um corredor que dava acesso aos banheiros dali. Eu disse que eu iria sozinha já sabia muito bem, mamãe havia ensinado a me virar, mas ele não me deu ouvidos e entrou junto ele disse que iria cuidar de mim. Naquele momento eu vi ele me olhar com malícia, fiquei com medo mas como uma criança ingênua eu confiei. Afinal de contas ele é meu tio não é? seria certo eu confiar nele e ele cuidar de mim. Uma certa hora da madrugada nos fomos embora, eu não tinha ninguém não conhecia o Cláudio direito, tinha visto ele poucas vezes na rua quando ele e meu pai paravam pra conversar e poucas vezes lá em casa. Ele sempre foi gentil e parecia uma pessoa do bem. Apesar de que sempre achei ele estranho, mas naquele maldito dia só o que havia me restado era confiar naquele homem. Assim que chegamos em casa, na casa dele o Cláudio disse que eu deveria tomar banho, e que ele ia me ajudar e foi naquele momento que tudo começou, ele abusou de mim sem dó nem piedade sem se importar com minha dor meus pedidos de socorro. E com o tempo foi só piorando, o Cláudio tem um cabaré um lugar fedido que é frequentado pelas piores pessoas do Rio de Janeiro, lá só tem bêbado e drogado. Meu tio também é usuário de drogas, e coloca todo o dinheiro fora por isso as meninas não querem mais trabalhar com ele, são poucas as que ficam lá, só as drogadas mesmo que transam e já ganham um pino. Aí sobra pra mim satisfazer os clientes do meu tio, além de ser abusada por ele ainda sou abusada e espancada por seus clientes nojentos e fedidos. Levanto do colchão velho em que durmo no chão e caminho de um lado pro outro pensando no que fazer, quero tanto que esse sofrimento acabe. Eu queria ser feliz, queria ter uma vida de verdade alguém pra amar e ser amada, queria ter uma casa e filhos, porém sei que tem pessoas que nascem pra ser feliz, já outras nascem pra sofrer, e eu com certeza não nasci pra ser feliz não. Meu estômago dói, a última vez que comi foi ontem por volta das três da tarde, agora já são oito da noite mais de vinte e quatro horas sem comer nada. Não sei como ainda consigo ser gorda viu, gorda e humilhada as tres meninas que trabalham pro meu tio me chama de Peppa pig, eu fico com tanto ódio vontade de socar a cara delas, mas ao invés disso eu choro e me sinto pior, como se não fosse nada além de um corpo gordo. Tenho vontade de socar a cara daquelas vadias, as noiadas se acham o máximo por que tem um belo corpo, magro e cheio de curvas. Poisé né, isso não posso negar elas são lindas pra c****e, sei que nunca vou chegar nem aos pés da mais feinha delas. Quando mais nova eu sonhava em algum dia ser livre, sonhava que o Cláudio um dia me deixaria ir, mas esse sonho já não existe mais. De repente o silêncio do quarto escuro em que vivo é quebrado pelo barulho da fechadura da porta sendo mexida. Cláudio tá aí, eu vivo aqui trancada ele vem uma vez por dia me trazer algo pra comer e deu, depois fico sozinha e trancada novamente. Cláudio: Nandinha - diz sorridente - Zé vem te vê amor Fernanda: Não vou Cláudio! Olha meu rosto! Não vou apanha de novo - digo baixo já com o choro embargando a voz Cláudio: Ridícula! Peppa, come esse pastel aí e desce tomar um banho e lavar essa b****a gorda e larga, que tem cliente! E não vou fala de novo. Buceta gorda e larga, eu odeio esse homem a cada dia ele se supera na humilhação. Tenho vontade de responder mas não consigo, as palavras não saem, a vontade de chorar é grande mas não me permito isso, me concentro o máximo e não deixo uma lágrima se quer cair. Cláudio: Você tem 15 minutos! Ele solta a sacola em cima da mesinha e sai trancando a porta, mais uma vez serei humilhada e abusada, até quando tudo isso!? até quando eu vou viver assim!? Não dá mais, me jogo no colchão e choro, minha vontade é de cortar os pulsos e acabar com tudo isso, e por inúmeras vezes ja me cortei, braços, pernas mas sempre que fazia um corte mais fundo eu já entrava em desespero, não consigo acabar com a minha vida. O porque eu nao entendo. Depois de um tempo chorando criei coragem e levantei, tenho que comer algo e preparar meu psicológico pra mais uma noite de tortura, como meu pastel e fico esperando o Cláudio abrir a porta pra poder tomar um banho pelo menos, já que aqui não tenho água nem luz. Hoje é sexta e pensar que meninas da minha idade estão se arrumando pra ir pra baladas, e barzinhos com as amigas e eu estou aqui, esperando pra f********o com homens fedidos e drogados. Totalmente a contragosto. Nunca fui em uma balada, ou barzinho também nunca bebi nada, o Cláudio é um bosta mas nunca deixou que eu bebesse ou que usasse algum tipo de drogas e eu agradeço por isso por que já teve muito homem que queria que usasse drogas, até já apanhei por isso e agradeço muito por ele ter defendido e dizer que eu não deveria usar nada. Morro de medo de me viciar e ficar como Cláudio e eles. Caminho até a janela e fico olhando na rua o movimento, todos felizes e se divertindo, como eu queria isso como eu queria ser feliz, eu não precisava nem sair pra festas e tal, não queria luxo também. O meu feliz é só ter o que comer e ter água, luz e um lugarzinho pra viver, ter paz e as coisas principais da vida. Eu moro no terceiro andar do prédio, o primeiro é cabaré do Cláudio o segundo é o apartamento dele, um lugar bem arrumado e o terceiro é o meu, o lixão. Aqui nós moravamos antigamente, depois dele reformar o segundo andar ele foi pra lá, e pensei que tudo se resolveria com a mudança dele, pensei que os abusos iriam acabar. Tinha 17 anos quando ele mudou-se, mas ele não parou não, ele continuou e foi se afundando cada vez mais nas drogas o que fez com que as meninas deixassem ele. Aí ele teve que correr pra sobrinha pra não perder os clientes, seus queridos clientes.
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