Capitulo 4

3659 Words
Começamos a falar do Marcelo e do quanto a morte dele foi dolorosa para nós, e o Otto não se perdoava em ter faltado no velório do amigo, pois o voo foi cancelado e ele só chegou no dia seguinte. O Marcelo foi o único que não conseguiu pular do barco, pois estava no quarto. E pensar nele dentro da lancha, durante a explosão, era algo que nos machucava muito e eu entendia muito a dor da Beatriz, porque ela não teve a chance e o tempo de tirá-lo de lá, no momento que saiu do quarto para falar com a gente foi quando viu a fumaça e, ao ver o Daniel pulando na água, praticamente foi arremessada na explosão para fora do barco. Foi um milagre ela ter sofrido apenas poucas queimaduras nas pernas e conseguir sobreviver sem sequelas no corpo, porque as sequelas na alma eram inúmeras. Ele me contou que a Hannah estava ficando viciada em redes sociais e que ele já não concordava com aquela exposição excessiva no canal do Youtube, pois tinha a sensação de ser um fantoche. Ele estava preocupado com a Hannah, que estava perdendo a infância a custo de seguidores e isso era o que mais deixava o mar verde dos olhos dele inundados pela dor. Ele também contou que inúmeras vezes viu a filha cansada de repetir os vídeos para pegar o melhor ângulo de filmagem. Para minha surpresa, ele e a Noemy não eram um casal, ou pelo menos, um casal comum. Eles moravam na mesma casa, mas praticamente não se viam, pois a Noemy viajava muito a trabalho. E para não ter o custo de duas casas e facilitar ter a Hannah por perto o tempo inteiro, eles apenas moravam juntos quando ela estava na cidade, que, segundo ele, era por poucos dias. Quando perguntei se rolava sexo, ele respondeu sorrindo que nunca foi algo que os uniu, mas se estivessem com vontade, não era algo que os afastava. Ou seja, eles viviam um relacionamento aberto e isso era confuso para eu entender. Ele me contou que assim que viajou para morar no exterior, vendeu a parte na empresa que tinha com a Beatriz e o Marcelo para montar Food truck com comidas brasileiras e o restante do dinheiro usou para conseguir o Green Card. Com o canal da Hannah aumentando, ele viu a necessidade de viver para administrar a vida digital da filha e vendeu o Food truck. Aquela vida que ele tinha escolhido, envolvia vídeos pagos, frases já determinadas e cozinhar de forma nada prazerosa em um espaço, toda quarta-feira, da cozinha do “Daddy e Hannah”, no qual eles cozinhavam algo já pré-determinado com um roteiro cheio de encenações. Ele contou que perdeu o entusiasmo na cozinha à medida que as filmagens exigiam que ele encenasse ou usasse alguns ingredientes como propaganda. Para ele, cozinhar era colocar amor em uma refeição e ele precisava de liberdade para criar e encantar com suas misturas e receitas únicas com um toque de mistério. Assim como eu, ele havia decidido jogar tudo para o ar e estava estudando a melhor forma de recomeçar, de reconstOtávior um lar, uma carreira, uma vida. Eu sabia que existia mais algum motivo dele estar ali, mas percebi que ele não se sentiu à vontade para falar e eu o respeitei. Eu falei que meus filhos estavam se afastando de mim e ouvir “eu te odeio” era algo que fazia parte da minha rotina, diversas vezes por dia. Falei das minhas novas conquistas no trabalho e de clientes que eu estava prestes a fechar a assessoria. Falei da minha casa nova e a falta de privacidade por morar com meus pais, mas ele concordou que lá era o melhor lugar para estar e conseguir trabalhar tranquila, deixando meus filhos longe de mim, lá era a extensão do meu coração e como ele fez questão de me lembrar: era tudo o que eu queria para meus filhos. Falei do meu investimento no hotel e de como estava sendo difícil provar na justiça que eu tinha direitos sobre a empresa, além dos direitos de esposa com união estável. Falei da dificuldade financeira, até que precisei falar da minha separação. Ele ficou muito irritado quando eu disse que após ser chamada de louca inúmeras vezes pelo Rafael, eu o peguei transando na minha mesa do escritório com a recepcionista. Nunca mais vou esquecer aqueles cabelos cacheados volumosos jogados para trás e os olhos fechados dela, gemendo de prazer, enquanto ele a comia em cima da minha mesa. Eles tinham tanta conexão que mesmo quando eu entrei na sala, fiquei despercebida. Aquilo era tão sofrido para mim, porque além de uma traição, aquilo era ver o desejo explícito, era ver a felicidade, a plenitude que eu não tinha há anos e que era taxada como louca. Eu era tão chamada de louca, que comecei a ter certeza de que vivia mesmo uma loucura, culpando meus filhos por viver gritando, por viver exausta. A loucura era causada por aquele ser desprezível que se movia rapidamente dando prazer àquela mulher. Ele era responsável pela minha exaustão, pelos meus gritos excessivos... ele me fez viver uma vida sem amor, sem conversa, sem compreensão, sem amizade, sem... sem nada, me fazendo acreditar que eu era louca. A loucura havia sido colocada na minha vida de um jeito que eu realmente acreditava estar louca, então fiquei feito uma louca observando aquela cena e ouvindo aqueles gritos que pouco se importavam se outras pessoas estavam ouvindo, fiquei ali parada para ter a certeza de que estava lúcida, porque loucura verdadeira era imaginar que ele seria tão desprezível daquela forma. Não foi um sexo rápido, acho até que bem mais demorado de quando era comigo. Pela desenvoltura, não era primeira vez e para meu ódio, o toque que eu achei que era especial e feito apenas no meu corpo, era igual ao que ele fazia nela, como se fosse encenado e sincronizado em um roteiro idealizado por ele para satisfazer qualquer mulher. Era sexo, para ter sexo, com ela e para minha decepção também comigo. Eu estava lúcida! Era verdade, sempre foi verdade. Até que ele falou: sua gostosa, passando as mãos pelo corpo dela, que estava exposto com uma obra artística na frente dele. E com um movimento rápido, finalizou o que ela gritava e suplicava em tom de vitória: Goza, Goza. Não chorei, não gritei, me mantive lúcida observando os dois dividirem aquele momento de prazer. Quando voltaram a si, ela percebeu que eu estava ali, sim, ELA, porque como de costume, ele não me notava há muito tempo. Ela falou: — Me desculpe, meu Deus! Então ele percebeu minha presença, não por mim, mas pela reação dela. E tentando se ajeitar, foi na minha direção, sujo no corpo, sujo na alma. Não acreditei que ele iria tocar em mim, mas como sempre desrespeitoso, ele me tocou e aquilo sim era uma loucura. Comecei a gritar, chorar, perdi a lucidez e quebrei tudo no escritório, aquilo sim era uma loucura, não tudo o que eu tinha vivido, conversado, explicado e suplicado a ele. Eu o machuquei e ele usava aquele ataque de loucura que envolveu agressão como ameaça de me tirar as crianças em uma batalha pela guarda. Eu não consegui compartilhar tudo aquilo com minhas amigas, eu não conseguia, porque eu não conseguia voltar àquele momento sem me sentir despedaçada. Já o Otto me passava uma segurança diferente, como se fosse 100% seguro jogar todos aqueles sentimentos no mar dos olhos dele que me protegiam da dor em lembrar, reviver. A calmaria nos olhos dele me mantinha segura de qualquer m*l que aquelas lembranças poderiam me causar. Compartilhar com o Otto aquilo não era necessário, mas ainda assim eu fiz, porque eu precisava, porque naquele mar esverdeado eu sentia uma segurança que não sentia em nenhum lugar, porque naquele verde-escuro eu sentia a lucidez, e era extraordinário. Ser bom naquele momento não bastava e ele sabia. Nós nos perdemos nas conversas, tínhamos uma defasagem de anos para colocar em dia e, quando menos esperamos, estava amanhecendo e ao olhar ao redor, percebemos que a festa já tinha acabado e as pessoas que estavam em suas casas, descansando, começaram a sair para aproveitar o domingo de manhã. Algumas crianças saíram de uma casa, correndo para o balanço que estava à nossa frente, e escutei uma mulher gritando atrás: — Primeiro, tem que tomar café da manhã. De imediato, eu me lembrei dos meus filhos e da minha responsabilidade como mãe e falei: — Preciso voltar para a fazenda. Meus filhos já devem estar acordados. Ele se levantou do banco, estendeu a mão para mim e falou: — Vamos, eu te levo lá. Quando entrei no carro dele, percebi bolsas muito maiores do que uma pessoa que iria passar poucos dias traria para passar férias. Então, perguntei: — Quanto tempo você vai ficar aqui? Ele me olhou de lado, antes de ligar o carro e respondeu: — Eu voltei para ficar. *** — O que a p***a do carro do Rafael está fazendo aqui? — eu falei, surpresa e o Otto me olhou, sem entender a situação. Ele tentou explicar o inexplicável: — Talvez tenha sentido falta das crianças e veio vê-los. Quando descemos do carro juntos, o Rafael estava na varanda, brincando com as crianças de futebol. Ele não percebeu que eu havia chegado, não havia novidades. Mas ele notou que o Otto que estava ao meu lado e, de imediato, o reconheceu. Ele tinha um ciúme doentio do Otto e até ouvir o nome dele era motivo de briga. Pronto, rever aquele homem o ativou de uma forma que ele se armou todo, se preparando para uma luta corporal. O Rafael gritou, sem se importar com a presença das crianças: — Que p***a é essa? Eu respondi, com o tom de voz enfurecida: — Você enlouqueceu? O Otto saiu em minha defesa: — Fala direito com ela, rapaz. Respeite! Eu só ouvia a Joana gritando: — Mãeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee! Ah, não, tudo de novo, não! A Milena apareceu vestindo ainda pijamas e conseguiu recolher as crianças em tempo recorde, ainda bem, pois nossos filhos não mereciam presenciar mais brigas. O Rafael apontou para o Otto com o rosto tomado pela raiva e continuou: — Por isso que o João me ligou essa noite, foi por isso! Eu respondi, com a voz enfurecida: — Eu não sei o motivo dele ligar para você, mas esse final de semana é meu e você deveria ter me ligado, para que eu resolvesse. Com tom sarcástico, ele respondeu: — Você estava bem ocupada. Sua v***a! O Otto se inflou e ficou o dobro do tamanho do Rafael, e eu não consegui mais contê-lo atrás de mim. Quando eles iam entrar em um confronto corporal, o Vicente apareceu se metendo no meio nos dois e gritou: — Que p***a é essa? Rafael, sai da minha casa, agora. O Rafael era forte, mas não era dois e ele sabia que se começasse uma briga corporal, iria perder feio. Então ele se desinflou e falou, com a voz mais controlada, ajustando a gola da camisa polo: — Meu filho me ligou pedindo para vir buscá-lo, porque a mãe havia saído e abandonado eles em uma casa estranha. E agora eu percebo que é verdade. Eu puxei o Rafael pelo braço com voracidade para longe de todos e falei com a voz severa: — Você está louco? Como você pôde fazer isso? Eu o empurrei com raiva para longe de mim. Ele respondeu com a voz ainda enfurecida: — Liz, eu aceito qualquer um, mas aquele cabeça de fogo, não. Ele não! Eu o empurrei de novo, com raiva, e respondi: — Você não tem que aceitar ninguém. Ele, com o dedo indicador apontado para mim, respondeu com o mesmo tom de voz: — Eu já disse que não vou facilitar. É melhor você fazer o que eu estou mandando. Cadê aquele japonês? Pronto, ele eu aceito. Oi? — Primeiro, ele não é japonês, é coreano. — Tudo de olho puxado. Ai que vontade de socar o rosto desse i*****l. Quando foi mesmo que eu consegui me apaixonar por ele? Eu coloquei as mãos na cabeça, respirei fundo e continuei: — Segundo, a vida é minha e eu faço o que quiser. Ele gritou: — VOCÊ É MÃEEEE! Eu gritei com o mesmo tom: — E VOCÊ É UM PUTO DE UM PAI, QUE COMEU A SECRETÁRIA NA MINHA MESA. Ficamos os dois respirando fundo um de frente para o outro, tentando acalmar os nervos. Ele deu um passo na minha direção e continuou, com a voz mais baixa: — Eu já disse que foi só uma vez e que não vai se repetir. É só você voltar para mim, que tudo voltará ao normal. Tudo vai ser como antes! Você pode até ficar saindo com o coreano, que eu não vou ligar. Meus olhos se encheram de lágrimas ao me lembrar de tudo o que presenciei durante o sexo dele com a Marinalva. Eu coloquei a minha mão sobre o peito dele, mantendo-o afastado de mim e respondi, com a voz enjoada: — Nem se você fosse o último homem do universo. — E gritei: — EU TE ODEIOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO. Meu filho apareceu correndo no meu campo de visão, me surpreendendo. Ele parou ao nosso lado e repetiu o que eu havia gritado: — Eu te odeio, mãeeeeeeeeeeee! A Joana se aproximou de nós, começa a chorar desesperadamente e o Rafael falou: — Eles só querem ficar comigo, me deixe levá-los e tudo vai passar. Minha amiga chegou atrás de mim, respirando ofegante, pois tinha acabado de chegar da corrida atrás do João e da Joana. O João, que já estava chorando desesperadamente, pediu: — Por favor, mãe. Por favor! A Milena falou baixinho no meu ouvido: — Não! Você não vai ceder! Você não precisa ceder! Eu fiquei olhando aquela cena dos meus filhos chorando, abraçados ao pai e eu não queria e nem podia ser mais odiada naquele dia. Então, eu disse, com a voz falha de decepção: — Sim. Meus filhos, como em um passe de mágica, pararam de chorar, me abraçaram, agradecendo por ceder. Aos poucos, as pessoas foram se afastando de nós até que nossos filhos entraram no carro do Rafael. O Rafael me olhou fixo e falou, imperativo: — Eu não mudei minha opinião. Ele não! — Vai embora, Rafael, vai se f***r! Ele se encurvou como se quisesse se despedir de mim com um beijo. Eu desviei, dando um tchau para meus filhos e falei para ele: — Nunca mais ouse isso! — Eu nunca vou desistir de você! Eu sei fazer você feliz. Você já esqueceu esse cabelo de fogo uma vez, não será difícil esquecer de novo. Ele se virou e foi em direção ao carro, me deixando sozinha, observando meus filhos que pouco a pouco se afastavam de mim, não apenas se tratando do carro que seguia o destino de Praia de Itamaracá, mas também de seus corações que estavam a cada dia reduzindo o espaço que eu ocupava. A cada dia estava mais difícil de mantê-los comigo, de ter o amor deles, de não ser odiada, a cada dia estava mais difícil viver com as consequências da minha escolha. Minha amiga me abraçou com surpresa pelas costas e falou: — Vem, você precisa descansar! Meus olhos se encheram de lágrimas e eu falei ainda abraçada naquele abrigo que confortava minha dor: — Você entende que eu precisava não ser odiada só uma vez na vida por eles? Você entende que eu estou cansada de nadar, nadar e não chegar a nenhum lugar? — Eu entendo amiga. Fique tranquila com sua escolha! Você só precisa descansar para acalmar sua mente e seu coração! *** Deitei-me, mas não descansei, apenas consegui cochilar e vez ou outra acordava assustada, olhando o celular, esperando a ligação dos meus filhos dizendo que haviam chegado à Praia de Itamaracá. Finalmente a ligação do João chegou e ele me disse entusiasmado que havia chegado à casa do pai. A Joana também falou comigo e agradeceu mais uma vez por eu os ter liberado para passarem o feriado com o pai. Estavam todos sentados à mesa almoçando e me juntei para comer algo. Todos conversavam entusiasmados e o papo era que a Milena e o Vicente ainda não tinham filhos e era uma cobrança enorme por parte da família do Vicente. Minha amiga estava nitidamente incomodada com a conversa e estava acuada, sem ter como justificar muito a demora da gravidez, e o Vicente estava bem irritado com aquela conversa, no mínimo, constrangedora. Até tentei falar algo na defesa deles, mas a Milena fez um sinal discreto, pedindo para me conter. Depois do ocorrido com o Rafael, eu não havia falado com o Otto ainda. Eu precisava agradecer por ele ter saído em minha defesa, então tentei durante o almoço buscar o olhar dele para sinalizar algo, mas ele a todo instante desviava e corria contra o meu olhar. Se eu ainda o conhecesse, arriscaria dizer que ele estava chateado, mas por quê? Ajudamos a organizar as louças na cozinha e fomos nós quatro para o terraço ficar deitados nas redes que estavam espalhadas à nossa espera. Conversávamos sobre a quanto tempo não fazíamos aquilo, falamos da falta que o Marcelo fazia, do quanto a Beatriz ainda sofria, sempre que estávamos juntos precisávamos desabafar para libertar um pouco daquela dor que nos sufocava. O Otto ainda desviava o olhar de mim e como se entendesse que eu precisava de privacidade com ele, a Milena convidou o Vicente para caminhar pela fazenda e eu fiquei sozinha com o Otto no terraço. Eu falei, interrompendo o silêncio que estava sobre nós: — Uma pena que você não pôde conhecer os meus filhos hoje. Ele rebateu de forma truculenta: — Ele não pode fazer isso, não é correto! Eu perguntei, sem entender o que ele estava falando: — Ele quem? — Você precisa tirar ele da sua vida de forma definitiva, senão vai viver esse inferno para sempre. — O Rafael? Se for dele que você está se referindo, eu já tirei. Ele, com a voz mais dura, respondeu: — Não tirou! Oi? — Otto, você não sabe o que está falando. Ele se levantou da rede e, impaciente, passou as mãos pelos cabelos e o balanço rápido de perna demonstrava seu nervosismo. Ele falou: — Olha, eu não estou dizendo que você o ama. Quer dizer, eu nem sei se você o ama. Mas você ainda tem um pé nesse relacionamento que, conforme me descreveu ontem, é bem abusivo. Ele não te respeita e como se não pudesse ser pior, ele faz com que seus filhos não te respeitem, como você pode se manter nisso? Como você não se incomoda e muda o rumo dessa história? Eu me levantei com um pulo da rede com indignação e ficamos de frente um para outro como confronto, eu falei: — Você não sabe o que estou vivendo. Você passou todos esses anos longe, vivendo uma vida de conto de fadas, enquanto eu passei todos esses anos um inferno! Você não venha falar o que não sabe! E eu não posso tirar da minha vida o pai dos meus filhos, teremos para sempre uma ligação. — Eu não estou dizendo para tirar o pai da vida dos seus filhos, eu estou dizendo que ele precisa sair da sua vida, liberar o seu caminho. Você, mais do que qualquer pessoa, sabe disso. Você é a melhor advogada que aquela cidade inteira já viu. Você sabe como ninguém desvendar e interpretar leis. Eu sou leigo para saber, mas você não! Então não venha com essa história vitimista. Isso não combina com você! Eu me armei como se fosse o maior combate da história e encarei com meus olhos pronta para falar, argumentar..., mas não consegui, não consegui falar nada, argumentar, usar leis, normas, incisos... nada saía da minha boca e o pior, nada aparecia na minha mente para argumentar com ele. Ele continuou seguro com a sua lição de moral: — Você sabe muito mais do que eu, que pode, é só querer, ok? E não venha me jogar na cara que eu passei anos longe. Eu disse que iria atrás da felicidade, eu disse que iria reconstOtávior minha vida, nunca escondi isso de você. Eu tentei interromper e ele continuou: — A decisão foi sua, foi unilateral e eu respeitei. Eu sempre te respeitei. Então, por favor, se respeite também. Acredito, sim, que você foi uma vítima, mas não aceito que você use esse argumento para se esconder, se anular e aceitar como um castigo imutável. — Ele respirou fundo e continuou: — Eu não achei que fosse te encontrar assim, até porque achei que eu iria encontrar em você a saída. Reaja e, por favor, se respeite, para que isso possa refletir nos seus filhos. Se não for por você, que seja por eles. Ele me deu as costas e saiu furioso do terraço. As palavras dele me machucaram. Era como se em cada frase que ele falasse, ele enfiasse uma faca no meu coração e eu conseguia sentir a dor na minha alma. Ele não me entendia, ele não viveu o que vivi, ele jamais poderia me julgar. Ah, Otto, vai embora! Volta para sua vida feliz de pai de youtuber e marido de uma modelo desejada, amada e muito simpática. As leis e normas não previam o sofrimento dos meus filhos em uma batalha judicial. Eu já estava lutando, mas a passos de tartaruga, porque a forma de não gerar traumas nos meus filhos era a melhor alternativa. Eu não podia ser só advogada quando se tratava do meu divórcio, a prioridade era ser mãe e apenas pensar no bem-estar dos meus filhos.
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