Nicoletti
Como pode ser humanamente possível um ser humano tão maléfico e desprezível bailar como um anjo... No meio da valsa, da nossa apresentação de dança, o único casal que juntos mostrava os passos de valsa, chamava a atenção de toda a monarquia. Durante essa sinfonia não desgrudamos o nosso olhar, nada mais importava, somente esse momento bastava.
Mas...
Havia nele um misto de encanto masculino e charmosidade diabólica.
Severin, aquele ser... por fora um lorde acostumado com coisas finas, luxo e extravagância excessiva. Sem contar a lista imensa de beldades excêntricas ao seu currículo pênial.
Sua aparência limpa, roupas caras, terno de linho em um tom de cor escura, corte perfeito com belo caimento e gravata cinza impecável.
Sapatos bem lustrado e brilhoso. Um lorde com posses, usava abotoadura de ouro nos pulsos, vislumbrei o brilho do ouro.
Havia uma época que isto não me enchia os olhos, mas hoje sou movida pela necessidade.
Seu rosto impassível, feições angelicas, mas gelido, do tipo que não sente nada, impenetrável, insolúvel em sua pura essência.
Frio, calculista e de natureza dominante. Vazio e sem coração.
Sua bela aparência, cabelos loiros, com cachos nas pontas, um bigode aparado e pequeno que até combinava com ele.
Seus olhos eram verdes escarnecedores e sedutores, mas eu não via beleza neles pois, transmitiam soberba, petulância e poder.
Tinha uma postura impecável, porém era difícil realmente desvenda-lo.
Um sorriso que nunca chegava aos seus olhos verdes.
Por um instante vi algo neles uma emoção peculiar, semelhante a desejo.
Seus olhos cruelmente passaram por toda a extensão do meu corpo detendo-se no meu rosto. Não esbocei nada... minto. Demonstrei desprezo, asco e repugnância ao ser maligno, o d***o loiro. Isso não o deteve, pelo ao contrário o instigou a roubar um beijo meu.
Assim que seus lábios tocaram aos meus, por um breve segundo, fiquei emocionada, pelo fato de ser o meu primeiro beijo. O contato mais íntimo que tive até agora com um homem, todavia, logo voltei a realidade, a música acabou e me afastei de supetão, procurando distanciamento, me afastando completamente dele, do seu toque, da sua boca.
— Não gostou?! — Perguntou Severin com certa raiva na voz.
— Não! Definitivamente já recebi beijos melhores. Milorde.
Vê-lo ficar mais possesso foi melhor do que evidenciar minha virtude. Levando em consideração que não acreditava na minha inocência.
— Foi só para te dar um gostinho do quê há por vim.
Avisou-me num tom de soberba.
Severin
Que audácia desdenhar assim do meu beijo, ahhh... não sabe com quem mexeu....
Saímos do meio da pista de dança e fomos para um outro canto do salão.
— Aceito suas ofertas benevolentes. — Relatou num tom irônico.
Finalmente concordou sem mais delongas ou meninice.
— Com uma condição.
— Só uma?
— Sim. Terá acesso a todo o meu corpo menos... a boca. Não vou beijar um homem que não amo e nem irei amar! — Despejou.
Ao ouvir isso sem querer fiquei um pouco decepcionado.
— Um beijo não pode ser roubado. Milorde. Vamos esquecer que um dia aconteceu. Um verdadeiro beijo tem que vim de dentro para fora e se manifestar em um encontro de lábios.
Pensei um momento, chegando numa conclusão lógica a respeito do seu porém.
— Fará como uma prostituta?
Soltei seriamente.
— Sim! Exatamente isso.
Respondeu altiva, de nariz em pé. Segura dos seus atos.
— Elas não beijam nas bocas dos seu clientes, o ato para elas devem ser feito por amor, é a única coisa que são delas realmente. — Relatou Nicoletti tranquilamente.
— Está bem. Aceito sua condição.
Meus olhos fitam minha proibição, sua boca tentadora.
— Esse tipo de carinho nunca me fez falta, não é agora que fará diferença.
— Concordo.
Ela agia com normalidade.
— Para um homem cercado de mulheres dispostas a lhe darem tudo, vai se contentar com uma que nunca será uma delas. Você não me atraí em nada. Olhou-me de cima a baixo e quando seus olhos azuis encontraram os meus, parecia outra mulher, muito mais confiante.
— Espero imensamente que seja como os clientes das prostitutas... rápidos e sem graça.
Deu um sorrisinho sínico. Enquanto um garçom oferecia uma taça de champanhe.
Gosta de provocar, Nicoletti... pois bem, eu me garanto, sou implacável e ótimo de cama.
Essa conversa esquentou meu sangue em níveis alarmantes.
— Irei seduzi-la, sacia-la plenamente. Vai gemer aos meus comandos.
Era estrando, mas não reconhecia a minha própria voz, tamanho era a vontade de possui-la ferozmente. Cheguei mais perto dela, e inclinei para falar no seu ouvido.
— Sua bichana ruiva se tornará uma esponja molhada pelos meus dedos. Garanto prazer além dos seus limites, nenhum homem terá saciado os seus prazeres íntimos.
Voltei a ficar ereto, pondo os braços para trás, em uma postura austera e perfeita. Satisfeito por ter despertado um efeito nela. Sua respiração ficou diferente só de ouvir minha voz no seu ouvido.
— Fala como se me conhecesse, sabe Milorde... — Tocou o dedo delicado no queixo, pondo o rosto um pouco de lado. — Em breve se surpreenderá, e vai ser obrigado a engolir toda sua arrogância, essa petulância irritante. E não podemos esquecer dessa sua maledicência.
— Esse dia nunca chegará.
Disse confiante.
— Nunca diga nunca. Lembre-se disso.
— Sim, claro. É a prova de que você está aqui.
Falei com toda a certeza absoluta desse mundo, eu me conheço.
— Posso ser uma prova viva disso... e depois chegará sua vez, mas para você será tarde de mais. Diferente de mim que terá outras oportunidades.
Não sei trela para o que dizia, já era vitorioso e pronto.
***
Quando o baile encerrou voltamos para o hotel.