Portas

1079 Words
Era aproximadamente onze horas da manhã quando Chloe entrou para me dar meus remédios. Assim que tomei, saí do quarto para tomar um ar e deixei Christian, que dizia estar escrevendo uma carta para seu pai. Dirigi-me ao jardim, que por sinal era encantador, e fiquei por lá. Alguns minutos depois, encontrei Philip vindo em minha direção. —Oi, espero não estar incomodando. — disse ele, com um sorriso largo. —Está tudo bem... — respondi. Ele sentou ao meu lado, e eu dei mais um pouco de espaço para que ele se sentisse à v*****e em sua própria casa. —Seu pai é um homem maravilhoso. — afirmei, olhando para um pequeno pé de laranja à nossa frente. —Sim, ele é. Só pega um pouco no meu pé. — ele fixou seus olhos em mim. —Tenho certeza de que ele só quer o seu bem. — disse, virando os olhos para ele. Eu não sabia ao certo se Philip era um daqueles garotos incertos com a vida ou um garoto rebelde e rude, mas ele me parecia inofensivo. Levantei-me rapidamente ao lembrar do compromisso marcado com Christian, mas Philip pareceu confuso. —Espere! — disse ele, e eu olhei para ele. — O que foi? —Nada, eu tenho um compromisso. —Mas eu achei que estivesse livre o dia todo. —Desculpa. — disse e sai correndo do jardim. Uma parte de mim estava morrendo de medo. Eu não sabia quem ele era, e tinha medo da resposta. Cheguei no quarto quase sem fôlego e parei em frente a Christian. —Estou atrasada? —Só alguns minutos, mas não tenho pressa. —Eu tenho. Christian era inteligente o bastante para ter em mente tudo que íamos fazer. Ele era calculista e isso aliviava o peso das minhas costas. Ele explicou que teríamos que ir até o escritório do Senador Lowtner, mas que não faríamos nada demais. —Só temos que achar alg qualquer coisa oque diga respeito a você. — ele continuou. Eu não estava muito ansiosa. Nada costumava dar certo na primeira vez. O Senador Lowtner viajou de manhã e ainda não tinha voltado. Isso era tempo suficiente para nós. —Isso é seguro? — perguntei. Ele apenas assentiu com a cabeça. Às 20h, fomos até o escritório que ficava ao lado do quarto de Philip, mas não demos a mínima, seguimos em frente. Entramos finalmente no escritório do Senador Lowtner. O ambiente era impecavelmente organizado, com papeladas dispostas em fileiras alfabéticas, livros meticulosamente posicionados nas estantes e outros objetos que denotavam um espaço de trabalho refinado. Ao nos aproximarmos da mesa, meu nervosismo aumentou. Tentei pegar alguns documentos que pareciam relevantes, mas minha mão tremia ligeiramente. Em um movimento desajeitado, acabei derrubando alguns livros no chão, criando um som que ecoou pelo escritório. —d***a! Christian tampou minha boca, com intenção de fazer silêncio. —Shh! — falou. — Nada aqui. — disse Christian ao se aproximar dos formulários. —Vamos embora, por hoje já chega. Christian e eu nos dirigimos para a porta do escritório do Senador Lowtner. Ao abri-la, fomos surpreendidos com a presença do próprio Senador, que exibia uma expressão de surpresa e, possivelmente, desconforto diante da situação inusitada. Ficamos ali, parados por um momento, encarando o Senador que, mesmo claramente surpreso, se esforçava para manter a compostura. Era visível que ele se segurava para não nos repreender, especialmente considerando que éramos recém-chegados e já estávamos explorando áreas restritas da sua vida pessoal e profissional. A situação gerou em mim um misto de desconforto e constrangimento. Afinal, havíamos invadido o espaço privado de uma figura pública respeitável, e eu não conseguia evitar a sensação de ter ultrapassado certos limites. —O que vocês estão fazendo aqui? — perguntou, bravo. Eu não conseguia falar uma palavra sequer, mas Christian quebrou o silêncio entre nós. —Desculpe, senhor. Enquanto Christian se desculpava, eu mantinha meus olhos baixos —Nós só queríamos... — tentei dizer algo, ainda cabisbaixa. — Falar comigo. Eu pedi. — disse Philip, entrando na conversa. Ele vinha do corredor e aparentemente, entendeu o que estava acontecendo. —Isso! O Philip pediu que nos encontrássemos. — acrescentei, sentindo-me desconfortável pela mentira que urdíamos. O Senador, com uma expressão entre o ceticismo e a resignação, permitiu que a desculpa se estabelecesse. — Ah, então está bem. Mas aqui não é lugar de encontros. — advertiu ele, demonstrando certa tolerância. — Mas que isso não se repita. — Não se repetirá, senhor. — Christian disse, aliviado. Eu paralisei na frente do escritório e o Senador aguardou que Christian e Philip se distanciassem o suficiente antes de se aproximar de mim. Sua voz, embora firme, continha uma sugestão de serenidade ao pronunciar as palavras: — Às vezes, a curiosidade nos leva a lugares inesperados. No entanto, é importante lembrar que nem todas as portas podem ou devem ser abertas. — Ele proferiu essa sentença com um olhar perspicaz, como se houvesse um questionamento subjacente sobre a veracidade da história que Philip contara. Em seguida, retirou-se, deixando-me com uma sensação de perplexidade Quando finalmente entrei no quarto onde Christian já me esperava, um alívio temporário se estabeleceu, mas percebi que algo incomodava o Chris. — O que foi? — perguntei, notando a hesitação em sua expressão. — Nada, é só... — ele pausou, como se buscasse as palavras certas. — Me desculpa, Isabel. Eu fui um t**o. — Tá tudo bem. Eu gostei da nossa experiência. — Menti — É só tomarmos cuidado da próxima vez, e tudo ficará bem. — Tentei transmitir tranquilidade, enquanto acariciava seus cabelos. Christian pareceu surpreso com minha resposta, e eu sorri para tranquilizá-lo. — Então haverá uma próxima vez? — Eu não vou desistir agora, Chris. Não posso. — Sussurrei. Ele riu, e eu o abracei, sentindo-me grata por ter alguém como ele ao meu lado. Enquanto tentava dormir, percebi que a agitação persistia. Contar estrelas mentalmente não ajudou, mas uma lembrança surgiu em minha mente, algo que as enfermeiras costumavam fazer nos meus dias mais difíceis no manicômio. — Christian. — sussurrei. — Oi? — Canta pra mim? Um sorriso meigo e envergonhado apareceu no rosto dele. — Eu não sei cantar. — Vamos, eu te ajudo. Assim, começamos a cantar uma canção de ninar. Não sei ao certo a hora em que peguei no sono, mas o calor reconfortante da melodia nos envolveu até que o cansaço e a paz se fundiram em um sono tranquilo.
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