O filho do presidente

1167 Words
Na hora do almoço, antecipei-me e cheguei à sala de jantar. Logo em seguida, Christian e o senador, acompanhado de Philip, sentaram-se à mesa. — Acho sinceramente que devo me desculpar. — falei ao senador, referindo-me à noite passada. — Não se dê ao trabalho, querida. — disse ele. — Me dou sim, afinal, eu errei ao invadir o seu espaço. — Não. O Philip errou. Naquele instante, olhei discretamente para Philip, que pareceu não se incomodar com a acusação, mas isso não me deixou tranquila. Por que eu sempre me safo dos problemas colocando as pessoas no meio? Retirei-me da sala assim que terminei de comer, dando a desculpa de estar com dor de cabeça. Ao chegar ao quarto, Chloe estava lá, sentada ao pé da cama, pensativa. — Há algo errado? — perguntei. — Não, senhorita. — disse ela, assustada, levantando-se. — Desculpe por entrar assim, sem avisar — sentei —, eu só queria me deitar e chorar um pouco. — Oh, então me desculpe. Já estou de saída. Queria impedi-la, mas não deu. Eu estava tão imunda, precisava limpar minha alma com as lágrimas do meu ser. Assim foi naquela tarde, chorei como um bebê. Bateram em minha porta por volta das seis horas da noite: era Philip. Meu coração congelou; pensei logo que ele ia me dar uma bronca ou pedir algo em troca daquela mentira. — Você por aqui? — É a minha casa. — disse ele, sorrindo. — Eu sei, quis dizer, você pelo meu quarto? — Você saiu de repente na hora do almoço, e não apareceu mais. O que houve? —Nada. — Tudo. — Eu só estava me culpando por fazer as pessoas sofrerem tanto. Quem sabe eu não sou daquelas loucas. — Ei — disse, levantando minha cabeça — não foi sua culpa, e você não é louca. — Não é isso que os médicos dizem. — Bom, só se "louca" quiser dizer: inteligente, engraçada e bonita. Fiquei sem graça e senti como se estivesse vermelha da cor da minha blusa. Então, sorri. — E também tem o sorriso mais bonito. — continuou. — Por que você fez aquilo ontem? — mudei o rumo da conversa. — Porque você é especial. E eu não estava preparado para ver você sair daqui. — Acha que ele iria nos expulsar? — estava na cara. — Eu não sei, mas não quis arriscar. — Entendo. Acho que nem eu estava preparada para ir embora dali. Já tinha se passado uma semana, e eu já tinha um carinho especial por todos. O senador, por mais que o sentimento não fosse recíproco, era como um pai que eu nunca tive. Philip era um amigo. E Christian, não tinha rótulos para o que ele significava para mim. — Você quer sair? — perguntou Philip, fazendo-me voltar ao mundo real. — Ah, não. Eu estou bem aqui. Da última vez que saí, acredite, não foi tão bom. — ainda estávamos um de frente para o outro, encostados na porta. — Vamos lá! Tem uma sorveteria aqui perto. Sorveteria? Há quanto tempo não ouço esse nome? — Você gosta de sorvete? — Não sei, nunca provei. — dei os ombros. Ele claramente se assustou com a grande revelação que tivera feito. Philip estava visivelmente empolgado com a ideia, como se quisesse compartilhar um momento especial em um lugar que apreciava. Acabei aceitando. — Aonde vocês vão? — Christian perguntou, sentado no sofá. — Christian... oi! — sorri falando. — o Philip vai me levar a uma sorveteria aqui perto, quer ir? — Não, obrigado. Mas divirtam-se. — Obrigada. A sorveteria era um oásis colorido e fresco, um refúgio do calor do lado de fora. Os ares-condicionados zumbiam suavemente, proporcionando um ambiente agradável e acolhedor. A decoração era encantadora, com detalhes que denotavam capricho e cuidado, como alguns bonecos de gelo feitos de isopor espalhados pelo local. Ao nos sentarmos, Philip, com um sorriso, perguntou: — Vai querer de que sabor? Respondi com um toque de descontração: — Sei lá, me surpreenda. Philip escolheu para mim um sorvete de baunilha, o mesmo que ele havia pedido. A textura cremosa e o sabor suave da baunilha se misturaram de forma deliciosa, revelando uma escolha acertada. — E aí? Gostou? — indagou, observando minha reação. — Não, amei! É tão... bom! — respondi, saboreando cada colherada. Ele sorriu, satisfeito. E eu também. Lá no manicômio, após o almoço, costumava ser um momento quebrado pela rotina monótona. As enfermeiras, no entanto, proporcionavam um pequeno alívio ao trazerem algumas sobremesas. Gelatina sem sabor, uma fatia de melancia ou maçã eram os típicos agrados que se tornavam pequenos tesouros em meio à instituição. Essas delicadezas eram como raios de sol em dias nublados, uma lufada de normalidade em um ambiente frequentemente desafiador. Algumas vezes, até mesmo doces especiais eram secretamente entregues, proporcionando uma sensação adicional de importância e cuidado. Cada mimo recebido tornava aqueles momentos especiais e me fazia sentir, mesmo que por instantes, que eu não era apenas mais uma paciente, mas alguém digna de atenção e gentileza. – Algo errado? – Não. Só me lembrei de algo que acontecia lá no manicômio. – r**m? – Não, era bom, ótimo. Sobre as enfermeiras. – Você tem uma grande simpatia com funcionários, né? Vejo sua r*****o com a Chloe. Ela gosta de você. – Eles que são boas pessoas. – E o Christian? Você gosta dele? – Sim. – sorri. – Dá pra perceber. – Dá? – Seus olhos... Eles brilham quando você fala nele. Cocei a garganta. – Mas o Christian não é um funcionário. É meu amigo... – Entendi. – Falou, respeitoso. Conversamos mais um pouco antes de voltar para casa, até tomamos mais um sorvete, acabou que foi superdivertido estar ao lado dele. Até me fez esquecer que sou considerada louca e que meus pais nem se importam se eu ainda existo. – Por que faz isso? – Isso o quê? – A gente está conversando normal, e então você voa para outro mundo, de repente. – Ah, desculpa. É coisa de gente louca. – brinquei. Ele sorriu. Seus dentes eram brilhantemente brancos. De volta à porta do meu quarto, ele pareceu arrumar um jeito de se despedir, mas não sabia como, então resolvi dizer algo. – Tchau, foi muito bom hoje, obrigada. – Eu que devo agradecer. Sorri e o abracei forte. – Foi realmente um prazer. – Digo o mesmo. Entrei no quarto e avistei Christian dormindo, feito um anjo. Queria muito acordá-lo e contar sobre o meu belíssimo dia, mas não o faria. Ele deve ter tido um dia longo, e eu também. Peguei um livro que ficava em cima da prateleira e comecei a ler, mas não absorvia bem as palavras, pois meus pensamentos estavam longe demais do planeta Terra. Eu tinha um amigo! Claro que também tinha Christian e o Senador Lowtner, mas ter Philip como amigo, um garoto que não é meu médico nem o homem que me sequestrou, era incrível.
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