À flor da pele

886 Words
Havia um tempo em que nem sequer sonhava em ter alguém com quem conversar, alguém em quem pudesse confiar. Christian tornou-se essa pessoa, alguém em quem eu confiava cegamente. Entretanto, após alguns dias, notei que Christian começou a se sentir perplexo diante de toda essa trama. Ele questionava a si mesmo sobre a razão pela qual o senador estava sendo tão generoso comigo. Será possível que ele não me considerava merecedora de tal bondade? — Pare de andar de um lado para o outro! Está me deixando tonta. — pedi, enquanto estávamos no quarto, e Christian estava genuinamente intrigado. — Não consigo entender... — ele murmurava. — Ele n******e ter sido apenas gentil? — Ah, Isabel! Como você é ingênua, pessoas importantes como ele não se importam com os outros. Me levantei, surpresa pelo que disse. — Ele é diferente, aceite isso — falei me sentando novamente —, além disso, eu estou feliz aqui. — Tá, eu também, mas não seria legal saber um pouco mais? A gente poderia descobrir de onde você veio, e daí saberíamos como foi parar num manicômio com seu estado lúcido, e então descobriríamos o motivo de você estar aqui em primeiro lugar — A cada palavra que saía de sua boca, o entusiasmo aumentava. — Saber quem são meus pais? Isso seria ótimo, Christian, mas não acho que seja possível. Por mais que não soubesse quem eram eles, eles me largaram, me deixaram para trás. Era meio-dia, e eu pedi a Christian que me deixasse em meu quarto para descansar. Não tenho certeza para onde todos foram, mas confesso que apreciei a pausa e o tempo a sós. Embora eu tenha afirmado diversas vezes que gostaria de estar sempre rodeada de pessoas ao imaginar minha vida fora do manicômio, às vezes, a solidão oferece uma serenidade única. O silêncio deste quarto tornou-se um refúgio, permitindo-me explorar meus próprios pensamentos sem interferências. Eles chegaram, algumas horas depois. — Isabel, venha conhecer meu filho. — O senador grita da sala. Filho? Saí do quarto meio cansada e segui em direção à sala, onde eles estavam. — Olá. — disse o tal garoto. Assenti com a cabeça. — Ela não é linda, Philip? — indagou o senador, Christian coçou a garganta logo em seguida. Linda, eu? — Sim, pai! Bem mais do que tinha me falado... Estava incrédula demais para agradecer, então só sorri. — Vamos, nós ainda temos muito o que negociar. — falou o senador, e Philip sorriu, logo os dois saíram. — Você está bem? — aproximou-se Christian. — Estou, obrigada. — agradeci — o que ele veio fazer aqui? — Parece que ele tem coisas para resolver com o pai, sabe. São ricos, e o senador Lowtner é... senador. Sorri. Era engraçado o jeito sem graça do Christian ao falar comigo. Logo fomos dormir. Estava exausta, e o senador deixou que eu ficasse no quarto durante o jantar. — O que te perturba tanto? — O que você me falou, Chris. Acha que é possível? — Sobre o que? — Sobre descobrir sobre meu passado. — Muito. Eu quero saber o que tinha naquelas fichas que ninguém me mostrou. — Poderíamos tentar, talvez. — Vai precisar ser corajosa, afinal, estará mexendo com o seu passado — desafiou-me. — Sei disso, mas isso não é o que me deixa perturbada. Estou mais preocupada mesmo é com o caos que isso pode causar, sabe? Finalmente, posso descobrir quem são meus pais, e isso só depende de mim, mas por outro lado, tenho muito medo de quem eles sejam — pausei — só que não quero morrer sem tentar, Christian, não suportaria isso, nem imagina tamanha confusão que está na minha cabeça. Ele baixou a cabeça por uns instantes. — Minha mãe me disse isso uma vez: "Eu vou tentar, e se eu não conseguir vou tentar novamente, tudo o que preciso é de 20 minutos de coragem insana." — Ela dizia isso toda vez antes de fazer alguma besteira da qual temia dar errado. Parece que a sinto dizer nos meus ouvidos. Ela iria gostar de você. — Eu sinto muito. — Tudo bem. Não dói mais como antes. Supirei. — É como ela sempre diz: 20 minutos de coragem insana. — cochichou Christian em meus ouvidos. — Amanhã começamos? Respondi com um sorriso. — Não vejo a hora. Ele se afastou um pouco, permitindo que nossos olhos se encontrassem. Os olhos azuis de Christian eram hipnotizantes. — Qual é o seu sobrenome? — perguntei, curiosa. — Soult. — Sobrenome bonito, mas nunca ouvi falar. Queria poder dizer qual é o meu, mas você sabe, não me lembro. — Deveria se lembrar de alguma coisa. Você tinha 6 anos quando chegou no manicômio, não é? —Sim, mas não me lembro de nada. Não sei como era minha vida antes de chegar lá. — Acho que foi por causa de tantos remédios. As substâncias podem ter afetado a sua memória. — Que pena. — bufei frustrada. — Relaxa, logo logo saberemos muito mais que o seu sobrenome. Eu prometo. Christian olhou nos meus olhos, talvez percebendo a intensidade daquele momento. Não precisávamos de palavras naquele instante; Criamos uma ponte entre o passado solitário e um presente que, apesar de incerto, parecia mais habitável com a presença um do outro.
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