Lar doce lar

464 Words
Há alguns anos que ocupo este espaço, confinada em uma caixa sombria denominada hospício, ou mais apropriadamente, manicômio. Tento reprimir as lágrimas, mas elas parecem ter adquirido vida própria dentro de mim, pulsando com v*****e indomável. Fui trazida para cá aos sete anos, um enigma sem resposta, pois quando homens de branco apareceram em minha casa, meus pais não demonstraram surpresa, segundo os médicos. Aliás, quem são meus pais? Implorava por respostas, merecia saber. Embora eu não seja perita em interpretar diagnósticos médicos, percebo que estou mergulhada em uma melancolia profunda. Tenho depressão há anos. O silêncio tornou-se meu único interlocutor, exceto quando me permito falar comigo mesma. Algumas enfermeiras visitam-me, fazem perguntas, e eu permaneço em silêncio. Não tenho o que dizer. A única resposta que ouço ecoar é: "Vamos, Isabel, não seja a louca que querem que seja." Mas eu sou, não é? Não sei nem mesmo como se parece a minha voz. Uma peculiaridade que adquiri desde minha chegada aqui é a mania de morder os lábios, uma forma de automutilação que parece aliviar a raiva acumulada em meu peito. Minha boca muitas vezes exibia vestígios, chegando a sangrar em ocasiões extremas. Sentada em uma cadeira de metal ao lado da cama com um travesseiro, coberta por um lençol desgastado que me acompanha há mais de cinco anos, sinto-me em um lugar que se assemelha a uma prisão, se é que não estou em uma de fato. Inesperadamente, um médico adentra meu quarto, interrompendo meus pensamentos. Era novato, jovem, estagiário talvez. É isso que chamam aqueles que não chegaram a se formar, certo? Eu me escondo, pois o rapaz era bonito e intimidador, e meu cabelo estava desgrenhado. Ele se apresenta: – Isabel? Ele esperou alguns segundos antes de continuar. – Olá! Sou o Christian, um médico substituto. Sua médica tirou uma licença na maternidade, então serei responsável por seus remédios diários. Permaneço imóvel. Então ele era realmente médico? Mas parecia um pouco novo demais para isso. – Qual é a sua história? – pergunta ele, enquanto observo minhas mãos marcadas pela dor que tento calar. Uma pontada na cabeça ecoa e eu escuto um ruído estalando o tímpano, minhas unhas estão roídas e minha garganta estava seca. – Acho que isso não vai funcionar! Você nem abre a boca para falar comigo... Quer dizer, as enfermeiras me avisaram que você faria isso e que não era nada pessoal, mas talvez eu deva chamar outro médico. – diz o doutor, ameaçando sair da sala afobado. — Água — murmuro com uma voz fanha, irreconhecível até para mim. Estou rouca, Minha garganta se aperta. Não lembrava a última vez que eu havia pronunciado a última palavra. – O que disse? – Eu quero água. – E minha voz falha, mais uma vez.
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