O incrível novo mundo

1409 Words
Ficar sentada na cadeira de metal em meu quarto parecia ser minha única opção, embora estivesse cansada daquela visão constante de uma grade que me fazia sentir completamente enjaulada. Preferia qualquer coisa a voltar àquele jardim. Christian aproximou-se, colocando seu rosto entre as grades do meu quarto. Estava suado e visivelmente cansado, despertando por um instante minha compaixão. — Preciso que me responda... O que eu disse para você sair correndo daquele jeito? — perguntou ele, No entanto, minha atenção estava focada na sua respiração ofegante, na pele perturbada que contradizia sua expressão habitual. — Você parecia feliz num instante e no outro... — Você não fez nada. — respondi calmamente. — Então, por que você saiu? Uma vez na vida você sai desse lugar terrível, e em dois minutos quer ir embora? Permaneci calada. — Me fala! Eu imploro! — ele continuava do lado de fora. — Você não sabe nada sobre mim, Christian! Nada! Entendeu?! Não sabe quem eu sou ou de onde vim, então, por favor, não me julgue. Não ache que me conhece, tudo bem? — lágrimas rolaram em minhas bochechas pálidas. — E QUEM VOCÊ É? — indagou ele. Quem sou eu? Eu juro que não sei. — Vá embora! Agora! — gritei. Um segurança percebeu minha agitação e tirou Christian dali à força, embora fosse claro que ele não queria ir embora e implorava por respostas. Não podia culpá-lo, mas como dar respostas sobre algo que levei dezesseis anos para descobrir? E que mesmo assim, ainda não sei. Levantei-me rapidamente da cadeira e comecei a jogar minha cabeça contra a parede, várias e várias vezes. Eu estava praticamente imune à dor, mas queria senti-la, desejava pagar por fazer tantas pessoas sofrerem. Continuei a bater mais rápido, até cair no chão. Ao abrir os olhos, fui envolvida por uma luminosidade suave que contrastava com o ambiente austero do meu quarto de metal. Uma confusão inicial tomou conta de mim quando percebi que não estava mais entre as grades familiares, mas sim deitada em uma cama ampla e confortável, rodeada por cortinas que dançavam gentilmente com a brisa. O quarto era espaçoso, com móveis de design elegante e paredes decoradas com uma mistura de obras de arte e tapeçarias refinadas. A transição abrupta do meu mundo monocromático para esse ambiente repleto de cores e texturas requintadas era avassaladora. Os sons eram diferentes também. Não havia os ruídos metálicos característicos do meu antigo quarto, mas sim o leve murmúrio do vento, a risada distante de uma fonte no jardim e a sensação reconfortante de um edredom felpudo sob meus pés descalços. Ao olhar ao redor, percebi uma foto do Senador Lowtner ao lado da cama em um quadro, observando-me com uma expressão de poder. Eu o conhecia, pois ele já havia me visitado, em uma de suas campanhas. O contraste entre sua presença e o ambiente luxuoso que me cercava gerava uma estranha sensação de desconexão. Perguntas giravam em minha mente, mas minha voz parecia hesitar em romper o silêncio. — O que estou fazendo aqui? — perguntei com confusão a uma criada que entrara há alguns minutos e observava-me com curiosidade. Seus olhos expressavam uma mistura de surpresa e incerteza, como se minha presença naquela luxuosa residência fosse algo inesperado para ela também. Ela vestia um uniforme, com detalhes que revelavam a sofisticação do ambiente ao meu redor. Chloe, como descobri ser o seu nome, hesitou por um momento antes de responder. Seus cabelos ruivos caíam suavemente sobre os ombros enquanto ela tentava formular uma explicação. — O Senador não já lhe disse? Você desmaiou... — começou ela, mas percebi que sua voz carregava um tom de desconforto, como se estivesse ciente de que havia algo mais por trás dessa mudança inesperada. — Não, não... Isso eu já sei, mas por que eu estou aqui? Como ele me trouxe aqui? — questionei, buscando respostas que nem mesmo Chloe parecia possuir. Ela desviou o olhar por um instante, como se estivesse ponderando sobre como abordar a situação delicada. Seus olhos verdes encontraram os meus novamente, e ela balançou levemente a cabeça. — Não faço a mínima ideia, senhora. — respondeu ela com sinceridade, revelando sua falta de conhecimento sobre os intricados motivos por trás da minha repentina mudança de cenário. Assenti com a cabeça, aceitando a limitação de informações que Chloe podia oferecer. Parecia que, mesmo entre os funcionários, a minha presença ali ainda era um enigma. O mistério aumentava, e eu me sentia como uma peça fora do lugar nesse quebra-cabeça. Enquanto eu processava a resposta de Chloe, o senador entrou no quarto com um sorriso acolhedor. — Muito bem, você acordou! Graças a Deus, querida Isabel! Cocei a garganta, por acaso, isso seria uma miragem? — Como vai? — Vou bem, obrigada, mas estou um pouco confusa. O que eu faço aqui? — estava deitada em uma cama de casal enorme, desejando lembrar-me de algo. — Você sabia que este piso é de mármore? — continuou ele. — Bom, eu... — Acho que não, né? Mas tudo bem! — interrompeu-me novamente. — Dá pra dizer logo o que estou fazendo aqui? — implorei. — Ah, claro! Por que não disse antes? — deu uma risadinha após dizer isso — você desmaiou, lembra? Eu estava dando uma passada por lá, para verificar a segurança, como faço todos os anos, e então alguém me avisou que tinha desmaiado, fiz questão de te trazer aqui pra que você recebesse o cuidado que necessita. Eu não acreditei em uma sequer palavra que ele disse. — Obrigada, eu acho — falei, assustada — mas pode me levar de volta agora. — Foi então que fiz sua transferência, aquele lugar não merece você. — O que?! E as enfermeiras? Onde eu ficaria? O que fizeram com o Christian? Eu não sou uma mercadoria! — Espera aí, você me transferiu pra onde? — Pra cá, ora! — falou ele, cinicamente. A troca de olhares entre Chloe e o senador era sutil, mas percebi que havia uma comunicação silenciosa entre eles. Minha permanência naquela casa estava envolta em mistérios que, por enquanto, pareciam inatingíveis. A rapidez com que o tempo parecia passar deixou-me momentaneamente atônita. Em um piscar de olhos, o entardecer deu lugar à noite, e eu ainda tentava assimilar a transição abrupta entre dois mundos tão distintos. Foi quando a porta do quarto se abriu silenciosamente, revelando uma bandeja elegantemente preparada que era cuidadosamente transportada por Chloe, a criada ruiva. O aroma sedutor da refeição invadiu o quarto, enchendo o ambiente com uma mistura de sabores que contrastava com a monotonia do meu cotidiano anterior. Chloe colocou a bandeja sobre a mesa ao lado da cama, suas mãos movendo-se com a destreza de quem está acostumado a servir refeições em ambientes requintados. Seu olhar encontrou o meu por um breve instante, e pude perceber uma expressão de curiosidade em seus olhos, como se estivesse ansiosa para ver minha reação diante do banquete improvisado. — Gostou do jantar? — perguntou ela, buscando a aprovação enquanto seus olhos fixavam-se nos pratos cuidadosamente dispostos. Eu sorri, não apenas pela cortesia, mas também pela delicadeza de Chloe em tentar criar algum conforto naquele cenário que ainda parecia surreal para mim. No entanto, por mais que tentasse expressar gratidão, palavras pareciam falhar diante da enxurrada de pensamentos que ocupavam minha mente. — O qual não comi? Ah, sim, estava ótimo. — respondi, tentando disfarçar a confusão que permeava meus pensamentos. Chloe sorriu, um sorriso gentil que transmitia compreensão e paciência. Deixou-me a sós novamente, fechando a porta suavemente atrás de si. A suntuosidade do quarto e o banquete cuidadosamente preparado pareciam contraditórios à atmosfera de reclusão que eu conhecia tão bem. Enquanto finalemnte saboreava o jantar, as perguntas sobre meu paradeiro e as razões por trás dessa mudança inesperada continuavam a ecoar em minha mente, criando uma sensação de desconforto misturada à apreciação pelos gestos cuidadosos que me eram oferecidos. Depois foi a vez do senador aparecer. Seus olhos escuros pareciam guardar segredos, e eu senti a necessidade de abordar a questão que martelava em minha mente desde que acordei naquele lugar desconhecido. — Posso te pedir uma coisa, se não for muito? — perguntei, decidindo ir direto ao ponto, sem rodeios. — Até duas, querida. — respondeu ele, convidando-me a prosseguir. — Diga-me, o que você quer? — O Christian. — pronunciei o nome com uma urgência contida, buscando alguma resposta em seus olhos.
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