Eu não voltei naquela floresta.
Com total sinceridade eu nem sequer sai de casa depois daquele incidente, e os pesadelos se tornaram mais frequentes.
James me encheu de mensagens, chegando a irritar no início, mas depois pareceu que ele estava realmente preocupado.
Queria dizer que deveria ser uma coisa boa, parar de sonhar com algo que sonhava todos os dias até virar um pensamento constante que te tira da sua órbita, mas quando os sonhos são substituídos por pesadelos que fazem você gritar e acordar no pulo no meio da noite não tem como dizer que é algo bom.
As mensagens de James até que tem sido uma boa distração, tanto que depois de muita insistência eu aceitei um convite para sairmos mais uma vez. No fundo agradeci a tentativa dele de me distrair.
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Tudo estava imerso em uma escuridão profunda e tão escura, que eu duvidava que uma lanterna ou lâmpada pudesse deixar mais claro. Ela como se escuridão estivesse impregnada, tornando impossível enxergar um palmo na minha frente, até que um pequeno ponto de luz vermelho começa a brilhar, bem no centro desse lugar que eu estava -onde quer que seja-.
Sem saber o que fazer eu corro em direção ao ponto brilhante e tento agarrar ele, como que tenta pegar um mosquito, e o prendo entre minhas duas mãos, porém quando abro nem tive tempo de reparar que ele não estava em minhas mãos, mas flutuando na minha frente, e era como se me atrai-se. Me senti como um gato deveria se sentir, brincando de forma i****a com uma luzinha de lazer, que os donos apontam de um lado para o outro.
Ela começou a se afastar bem rápido, e eu quase que por instinto a segui pela escuridão.
Eu corria atrás dela sem bem saber o porquê, sentia meus pés grudarem no chão como se estivesse sobre uma lama espessa, sobre meu rosto sentia uma estranha sensação de frio apesar de parecer estar no meio do nada, e boa parte do meu corpo ardia, mas eu continuava correndo.
Até que o ponto parou. Fiquei encarando ele, até que ele se aproximou de mim e novamente o agarrei com as duas mãos, sentindo um pequeno formigamento na pele, como se tivesse sido absorvido para dentro das minhas mãos.
Aos poucos a escuridão começou a se desfazer, e comecei a ouvir um alto barulho de chuva, mais perto do que deveria. Inconscientemente abro os olhos.
Eu estava zonza e demorou um tempo pra eu me adaptar a pouca luz, mas eu estava em pé, em algum lugar no meio da floresta, completamente encharcada de chuva e sem entender como eu havia parado ali.
Era só o que me faltava.
Mentalmente, comecei a condenar o universo por mais aquele feito e desesperadamente perguntando qual problema ele tinha comigo. Jura que entre tantas coisas que poderiam acontecer, logo um caso de sonambulismo??!
Olho para meus pés descalços encharcados de lama, e de repente sinto uma forte tontura, que de forma gradativa foi crescendo até chegar ao ponto de ter que me segurar em uma árvore próxima, e então tudo ficou escuro de novo.
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O universo se recusava a colaborar com Louis em qualquer aspecto, e isso era um fato.
Seja tentar se afastar, seja tentar protegê-la, nada estava dando certo.
Fazia sua ronda matinal pelos arredores da casa de Nael. Embora os esforços de se afastar, não confiaria em mais ninguém para cuidar da segurança, independente de quem fosse. Não poderia vacilar de novo.
Sua cabeça estava cheia a semana toda, e só sabia culpar as bruxas desgraçadas, as culpadas por ele não conseguir dormir a noite. Haviam sido essas malditas que libertaram os vampiros e...alguma coisa a mais que ele não sabia ao certo o que.
Elas abriram uma gruta ao norte lacrada com um feitiço ancestral e agora os lobos tinham que lidar com a ira, não só de bruxas vingativas, mas de vampiros ancestrais que haviam ficado presos por mais de décadas.
Sua alcateia sabia se cuidar, sua preocupação era outra, e se chegasse a acontecer uma guerra não poderia pedir aliança com o clã vizinho, não estavam nada bem em questão de aliança e a morte de um dos lobos deles há uns dias atrás com certeza não havia tornado as coisas melhores.
Seres sobrenaturais são tão difíceis de lidar, além de perderem tempo odiando uns aos outros e tentando se destruir, nem mesmo os da mesma espécie se tratavam como iguais.
Louis foi tirado de seus pensamentos ao ouvir um barulho alto acompanhando de um cheiro estranho de dentro da casa, correu para a entrada sem nem pensar até que viu que a porta estava aberta, parecendo ter sido arrombada.
Correu para dentro o mais rápido que pode sem nem se importar, mas lá dentro não tinha ninguém. Estava vazio.
As coisas da casa estavam claramente reviradas, fora o forte odor de sangue e carne podre clássica de vampiros.
Louis revirou por toda a casa, mas nem sinal de Nael ou de vampiros, apesar de o rastro não deixar dúvidas que estiveram ali.
Saiu da casa correndo o mais rápido que conseguia pela floresta seguindo o doce cheiro que o atraía. Pelo bem de todos era bom que nada tivesse acontecido a ela.
Depois de correr um pouco, no meio entre as árvores avistou um corpo caído e desmaiado. Foi até ela e mais uma vez com o remorso pesando no coração, pegou ela nos braços.
Ela estava muito quente, o que só fazia aumentar sua preocupação, e então a levou floresta adentro em direção a sua cabana na floresta.
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Depois de mais uma longa noite repleta de mais uma vez sonhos estranhos e pesadelos bem temperados, eu acordo em um lugar completamente estranho -Já que toda desgraça pra serviçal é pouco, como diria a frase popular-
A luz vinda da janela me ofuscava os olhos e eu sentia cada m****o do meu corpo extremamente dolorido.
Eu me sento na cama tentando me acostumar com a claridade, e a primeira coisa que percebo é...
Essas não são minhas roupas.
Eu tenho certeza absoluta que não tenho nenhuma camisa masculina inclusa no meu guarda roupa.
Ai meu deus, o que aconteceu ontem?
Eu olho em volta.
Esse não é o meu quarto!
Tento ficar calma e controlar a minha respiração.
Nesse momento mil Hipóteses e teorias se formavam na minha mente, as minhas favoritas eram as de
Possessão demoníaca, que pode fazer outra coisa tomar meu corpo e sair passeando por aí com ele por semanas (talvez meses) enquanto pra mim pareceu ser só por uma noite.
Abdução alienígena, mas não tinha muita ideia do que tinha haver com minha atual situação, apenas parecia ser algo legal
Eu acidentalmente ter causado algum colapso nos universos me fazendo trocar de lugar com alguma versão minha de outra galáxia.
Viagem no tempo.
Todas elas eram apenas uma tentativa nem um pouco lógica do meu cérebro me explicar de uma forma nem um pouco lógica essa situação que não é nem um pouco lógica.
Pelo menos meus pensamentos acelerados acabam me ajudando a me manter calma, pois se tinha uma coisa que eu estava era apavorada, e fico mais assustada ainda quando ouço vozes vindas de um andar embaixo.
Caminho sobre as pontas dos pés até a fresta da porta pra dar de cara com uma escada, não dava pra ver o andar de baixo mas era clara a discussão das duas vozes.
-E o que vai fazer com ela? -Dizia uma voz que parecia estar recuando em r*****o a voz que veio a seguir.
-Eu não sei, não sei o que foi aquilo ontem a noite... Mas não posso deixá-la sozinha... De uma forma ou de outra.
-Mas escute só, você não está pensando direito, a situação já é complicada o suficiente...
-Está me contrariando? Jura? -Senti um tom forte de sarcasmo.
- Não...eu não quis dizer...
-Escute aqui, você não sabe o que eu tenho passado nas últimas semanas então não me venha com essa historinha de que "a situação já é complicada o suficiente". Você viu como estava a casa dela e agora isso??- Soava estranho ouvir essa voz, sentia que já tinha escutado ela antes. Era assustadora, mas ao mesmo tempo me trazia um certo conforto-De uma forma ou de outra você não está aqui para fazer objeções, está aqui pra me conseguir respostas!-Me assusto com o barulho de uma forte pancada em algo de madeira-Maldição!
-Eu posso tentar falar com as bruxas para o senhor, mas não sei se elas vão querer colaborar...Já estamos sobrecarregados e ainda tem mais isso?
-Não quero saber! Apenas de um jeito e me consiga respostas! -A voz parecia muito impaciente. ouço passos e a voz foi se afastando conforme falava, e o eco tinha aumentado, como se estivesse falando de algum outro cômodo
Decido não mais ficar ouvindo, eu estava assustada demais para apenas ficar ouvindo conversa da soleira da porta.
Olho em volta e vejo um vaso de vidro em um pequeno criado mudo ao lado da cama. Com certeza vai me servir melhor que os travesseiros.
Armada daquele vaso eu desço as escadas na ponta dos pés, tentando não fazer ruídos ,o que era bem difícil em uma escada de madeira antiga, e pra piorar a situação, meus membros tremiam, não sei se de frio ou de medo.
Continuo andando até o pé da escada e assim que chego no fim vejo um homem parado ao lado da escada me olhando espantado.
Eu apontei o vaso pra ele tentando tirar toda a bravura que guardava dentro de algum lugar secreto dentro de mim, o problema era que o lugar era tão secreto que nem eu sabia ao certo onde ficava.
-Q-quem é você?- Eu pergunto tentando não soar apavorada.
Ele não disse nada, continuou me olhando com os olhos arregalados, como se fosse perder a língua se falasse alguma coisa.
-é s***o?? Eu perguntei quem é você -Isso eu aprendi em filmes, o deboche e o sarcasmo faz parecer que você sabe o que está fazendo, porém minhas mãos em que eu segurava o vaso tremiam.
-calma, fique calma... Largue esse vaso antes que sobre pra mim.- ele finalmente disse alguma coisa, e logo depois deu uns passos em minha direção. Instintivamente fui recuando para trás.
-por que me trouxe pra...- não consegui terminar a frase, pois meus pés bateram em algo no chão enquanto recuava me fazendo perder o equilíbrio.
Ótima demonstração de coragem... Eu ia cair se não fosse impedida pelo o que parecia um muro ambulante, que me segurou antes que eu pudesse cair.
-Não foi ele que te trouxe. - Ouço aquela voz novamente, a que me parecia tão familiar e me causava tantos arrepios com tão poucas palavras, e agora com o rosto a centímetros do meu-fui eu.
Me vi de cara com olhos que eu reconheceria em qualquer lugar.