Capítulo Quatro — Elisa

958 Words
— Filho! Vamos você vai se atrasar para escola e eu para a minha residência, você sabe que a mamãe não pode atrasar para dar entrada no hospital. O Tarcísio é sempre assim, não adianta eu apressar, todas as manhãs é o mesmo sufoco, pelo menos de segunda a sexta, para que nenhum dos dois chegue atrasado. Meu filho tem 11 anos e é o meu orgulho, não tenho motivos para me arrepender de ser mãe, mesmo tendo escolhido não me casar, sofri inúmeras críticas da minha família por ser mãe solteira, enquanto o pai do meu filho deveria estar curtindo com outras garotas na faculdade de direito, porém ninguém entendia que se o Thomás tinha me deixado para trás, era porque ele nunca me amou, ele não merece saber que é pai de um lindo rapazinho maravilhoso como o meu filho é, nem mesmo a família dele eu deixei saber que estava grávida dele. Para todos os efeitos, após o abandono do filho deles, eu passei uma noite com um desconhecido e concebi o meu filho nessa noite. Claro que os pais deles disseram que eu era uma vagabunda, que só esperei o santo do Thomás ir embora para engravidar de qualquer um. Eu me importei? Lógico que não, quem estava dando duro para trabalhar todos os dias e sustentar o meu menino era eu, então não tinha porque me importar com a opinião de ninguém, eles se mudaram logo em seguida, então tudo ficou mas fácil, eu não corro o risco dele vir visitar os pais e descobrir que tivemos um filho, pois por ironia do destino, o Tarcísio é a mesma cara do pai, não possui nenhuma característica minha, somente dele. — Estou lindo não é, mamãe? As meninas vão babar por mim. Sorrio, com a ousadia desse garoto, já cansei de dizer para ele que está numa idade de curtir a vida de acordo com a sua faixa etária, não feito um adulto. — Você não está nessa época ainda não, hein senhor Tarcísio! Aquieta o facho, vai para escola estudar hein rapaz, não quero saber de nora nem tão cedo, deixa para se preocupar com as garotas quando estiver com dezoito anos, rapaz. Digo, enquanto faço cócegas nele, que sai correndo em direção a porta dizendo que vamos nos atrasar, nunca vi garoto tão esperto igual a esse. Sim, eu sou uma mãe extremamente coruja, talvez pelo fato de sempre ter sido somente eu e ele, não deixei que ninguém mais se aproximasse de mim, com a intenção de construir uma relação, me fechei para a questão do amor, o único amor que quero na minha vida é o meu filho. Passei a me dedicar ao meu sonho de ser médica, que adiei por tanto tempo, acredito que nunca é tarde para correr atrás daquilo que almejamos. Quando descobri a gravidez estava me preparando para prestar o tão sonhado vestibular de medicina. Na verdade, o abandono do Thomás de certa forma me deu um estalo para a vida, então depois de uma semana que ele se mudou, eu comecei a me preparar do mesmo jeito que ele fez. Um mês depois veio a surpresa, eu estava grávida, lógico que o filho só poderia ser dele, afinal namorávamos desde a nossa adolescência, até hoje não consigo entender como ele jogou a nossa felicidade no lixo assim, de uma hora para outra. — Coloca o cinto Tarcísio, você sabe que não pode andar sem ele. Todas as manhãs tenho que reclamar a mesma coisa, ele nunca lembra e às vezes lembra, porém ele diz que incomoda. — Ah! Mãe deixa eu ir sem só hoje, por favor? Ele não imagina quantas vidas foram salvas, por estar usando o cinto de segurança corretamente, Deus me livre ter que perder meu filho por uma irresponsabilidade minha, enquanto estiver andando comigo, vai colocar sim o cinto de segurança, gostando ou não. — Não discute filho, coloca o cinto agora, ou você vai de ônibus para a escola, você que escolhe. Ele odeia ir no ônibus, porque segundo ele, chega atrasado na escola, por sair pegando os outros alunos. — Pronto! Já coloquei mãe. Ótimo! Coloco o meu também e seguimos viagem, o deixo no portão da escola, faço questão de descer para entregar ele pessoalmente, também aproveito para cumprimentar o porteiro que é um senhor muito legal, meu filho adora ele. — Bom dia, vim entregar o meu menino. É todo de vocês, por favor seu Pedro, Tarcísio só sai da escola com outra pessoa sem ser a minha mãe, o meu pai ou o meu irmão, caso eu autorize viu? O mesmo assenti, pedindo para eu não me preocupar que o meu menino está seguro. Eu sei que ninguém da família dele está mais na cidade, porém sempre tomo precauções, pois ele é a cara do pai, basta só um deles colocar o olho nele para saber que ele é seu neto, não quero ter surpresas desagradáveis, afinal a cafeteria da família ainda existe na cidade e eu sei que uma vez no mês, pelo menos, sua irmã vem verificar as coisas e fazer o p*******o dos funcionários, cidade pequena dá nisso, todos de certa forma acabam sabendo da vida um do outro. — Pode deixar, eu nunca que vou entregar ele para uma pessoa que não estamos acostumados a vir buscar o menino, pode salvar vidas tranquila, doutora. Aqui todos já me chamam assim, mesmo eu dizendo que ainda não estou formada, estou apenas fazendo minha residência. — Obrigada! Olho a hora, se eu não apressar o passo vou chegar atrasada no hospital, o chefe dos residentes vai comer o meu fígado, se isso acontecer. Ufa! Cheguei faltando cinco minutos para o horário permitido, mas cheguei.
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