No final da tarde, Marcelo, meu guarda que me acompanharia na viagem, bateu na porta solicitando as malas.
Ele estava acompanhado do papai, que ocupado, falava no telefone em inglês.
— Está falando com Romano? — Me aproximei.
— Sim. Estou orientando-o. — Papai piscou e saiu de perto para que deixasse de ouvir a conversa. Interessante.
O andar de baixo já estava vazio quando desci usando uma calça confortável de linho, tênis, uma camiseta azul escura e minha mochila.
Mamãe estava chorosa, secando o rosto e me deu um abraço tão apertado que minhas costelas doeram. Não reclamei. Pelo contrário. Aproveitei cada segundo ali, no meu porto seguro, memorizando seu cheiro.
Antes de sair, pedi que Marcelo tirasse uma foto minha com minha família para poder revelar e carregar comigo.
— Nos vemos em algumas semanas. — Mamãe apertou meu nariz. — Eu te amo muito, filha. Seja feliz, se cuide, seja esperta e tenha cuidado com suas atitudes impensadas.
— Tomarei cuidado, mamãe. Prometo.
Me despedi de Maria e meu pai pegou minha mochila.
Ele iria me levar até o aeroporto privado onde o jatinho enviado pelo meu futuro marido já estava me aguardando para a viagem.
Durante todo o trajeto que Marcelo conduzia, segurei a mão do meu pai, começando a sentir ansiedade por estar saindo de casa. Lembrava de quando ele foi me buscar para viver com eles após a morte do meu pai.
— Sabe que te amo muito, não sabe? — Segurei-o apertado antes de embarcar. — Você é o melhor pai do mundo e eu sou muito sortuda por isso.
— Querida, minha bambina. — Papai acariciou meu rosto. — Você e sua irmã são os meus maiores presentes de vida. Sempre foram a minha alegria. Eu amo você, Ana.
Marcelo sinalizou que precisava embarcar. Apertei meu pai mais um pouco e me afastei, segurando minha mochila e contendo as lágrimas.
Subi a escadinha do avião e fui orientada por uma comissária a sentar onde me sentisse confortável, ela falou sobre o cinto e logo os procedimentos de voo começaram.
Apertei a poltrona com a decolagem e logo que pudemos circular na cabine, tomei meu calmante e me embolei no lugar.
Voar me deixava nervosa e me preparei antecipadamente para dormir o voo inteiro, assim diminuiria as chances de ter um ataque histérico no voo.
— Srta. Bracci? — A comissária me tocou.
— Nós iremos pousar.
Caramba. Sequei meu rosto babado e sorri sem graça, pedindo licença para ir ao banheiro.
Lavei minha boca, escovei os dentes e usei o sanitário. Voltei para meu lugar, colocando o cinto e tentei não olhar para o avião descendo cada vez mais e as luzes da cidade se aproximando. Assim que parou, soltei a respiração.
Esperei que todos os procedimentos terminassem para sair do meu lugar, peguei minha mochila e agradeci a comissária.
Marcelo desceu na frente. A primeira pessoa que vi foi Carlo, guarda-costas de Romano, então, olhei um pouco para o lado e meu futuro marido estava encostado em um carro de luxo de braços cruzados.
— Seja bem-vinda, linda. — Ele se aproximou e me abraçou, dando um beijo suave nos meus lábios. — Está com um rostinho de quem dormiu bastante. Com sono?
— Tomei um calmante.
— Então foi uma boa viagem? Com fome?
— Sim para as duas coisas. Eu não sabia que você estaria aqui. — Sorri e por algum motivo muito bobo, fiquei feliz. — Vai me levar para comer em algum lugar?
— O que quer comer?
— O famoso cachorro-quente americano, hambúrguer com fritas e um copo enorme de refrigerante!
Romano mostrou surpreso e riu. Se ele estava esperando algo refinado, estava muito enganado.
Primeiro que dormir o voo inteiro me impediu de comer, segundo que eu não queria nada muito chique na minha primeira noite na cidade que era louca para conhecer.
Ainda rindo, mandou que Marcelo levasse minhas coisas para o apartamento e que descansasse, para que pudesse retornar para a Itália logo pela manhã.
Carlo foi para outro carro e Romano conduziu o esportivo com velocidade pela cidade. m*l lhe dei atenção, olhando as ruas e inclinando minha cabeça pelo vidro.
Era inacreditável que finalmente estava em Nova Iorque. Era muito grande, muito cheia e com muitas luzes. Ele diminuiu um pouco ao chegarmos em uma esquina, saiu do carro e parou na barraquinha de cachorro-quente.
Ao retornar, me deu o pacote e não abri. Parou em um drive-thru de uma famosa marca, fazendo muitos pedidos e me perguntei quantas pessoas comeriam conosco.
Segurei tudo no meu colo, tomando cuidado para que nada virasse conforme ele dirigia. Deu a seta e entrou em um prédio escuro, subindo algumas rampas e reconheci o carro que conduziu Marcelo no aeroporto.
— Eu carrego. — Romano pegou os pacotes e caminhei ao seu lado.
— Meu apartamento aqui é na cobertura, mas é um loft espaçoso. Tem uma varanda com uma bela visão da cidade.
— É perfeito, tenho certeza. — Sorri e o elevador abriu a porta no último andar.
Romano colocou sua digital na fechadura e abriu a porta. O lugar estava todo escuro, mas cheirava muito bem, como se tivesse passado por uma limpeza.
Ele acendeu as luzes e analisei, era muito bonito, decorado para um homem solteiro com móveis de luxo bem minimalistas, mas tinha todo o necessário. Funcional e ao mesmo tempo, chique.
O loft era realmente espaçoso, o primeiro andar tinha uma sala de estar ampla, com um sofá de três lugares em preto, retrátil e duas poltronas de cada lado.
Na frente, um tapete cinza escuro, com uma mesinha de centro e uma enorme televisão na parede. Atrás do sofá, estava a mesa de jantar, com seis lugares, redonda, de mármore escuro e cadeiras acolchoadas pretas.
No meu lado esquerdo, oposto da porta, estava a cozinha de layout aberto toda em cinza e branco.
A ilha dividia o ambiente, com fogão, logo abaixo o forno, e atrás, estava a pia com micro-ondas, lava-louças e uma parede de armários fechados totalmente, seis portas do chão ao teto com uma geladeira encaixada entre elas.
Voltei meu olhar para a sala. Depois das portas que deveriam dar na varanda, que eu não tinha certeza por todas as cortinas estarem abaixadas, estava uma escada de vidro vazada para o segundo andar.
Dava para ver a cama, uma grande janela e duas portas. Eu teria que subir para verificar melhor.
— Quer se refrescar antes de comer? Suas malas já devem estar no closet. — Quebrou o silêncio.
— Eu quero. Consegue me esperar sem atacar a comida? — Brinquei para aliviar a tensão de estar sozinha com ele.
— Onde está a senhora que vai morar comigo?
— Ela chegará pela manhã. — Romano me olhou nos olhos. — Eu posso ir embora depois do jantar ou eu posso passar a noite aqui. É sua decisão.
Caramba. Direto ao ponto. A ideia de ele ir embora me deixou alerta, pensando que talvez, me sentisse solitária, mas ele ficar, fez o meu interior agitar de outra maneira: com borboletas no estômago.
— Eu quero que você fique. — Lambi meu lábio e mordi, pensativa.
— Trouxe suas coisas para ficar?
— Qualquer coisa é só ficar nu. — Sorriu torto porque fiquei vermelha. — Estou brincando. Tenho um armário aqui.
— Ah, certo. Eu vou tomar banho e já volto.
Subi a escada com calma para não cair na sua frente e logo me escondi no banheiro. O coração ficou a mil com a mera possibilidade de passar a primeira noite em Nova Iorque sozinha com Romano.