As semanas seguintes foram uma loucura. Como todo começo de ano, nós trabalhamos na igreja local. Nossa avó materna era muito devota e todos os primos ajudavam na paróquia do mesmo segmento que ela costumava frequentar.
Era um sinal de que mesmo tendo partido, ela ainda estava em nossos corações.
Em fevereiro, nossos pais viajaram para o Dia dos Namorados, como faziam todo ano. Ficamos com nossos seguranças e Tia Joanne, que morava mais próximo.
Era um absurdo que mesmo sendo maior de idade, meus pais ainda pensavam que precisávamos de babá. Era um tanto sufocante.
— Qual o menu da noite? — Maria se debruçou no balcão. — Alguma coisa leve?
— Abobrinhas refogadas, com carne assada e arroz colorido. Topa?
— Eu amo ter uma irmã que sabe cozinhar. — Sorriu e foi correndo até a adega, pegando um vinho da coleção do papai. Ele gritaria para buscar outro, mas nós estávamos presas em casa como duas crianças, então, iríamos aprontar.
— Estive no grupo de leitura hoje e a Sra. Vacchiano mostrou fotos do novo bebê da Giovanna. — Maria seguiu comentando.
— Ela também disse que Romano Carlucci estará na cidade. Muitas das mulheres perguntaram quem ele é de fato.
— E alguém finalmente desvendou o mistério?
— Sendo da famiglia de Nova Iorque, a Sra. Vacchiano só pôde dizer o que ouviu: há rumores que sua primeira esposa morreu de infelicidade. Dizem que ele é um homem realmente m*l, muito frio, que se mantém completamente inacessível. Não participa dos eventos, não aparece além do necessário e não é nada um príncipe.
— Nenhuma novidade. Ele é um subchefe. Me admira que as mães estejam se debatendo. Eu me sinto em um episódio muito r**m de Donas de Casa Desesperadas. — Voltei a picar as abobrinhas.
— Que tal continuar falando com as taças cheias? — Apontei para o vinho.
— Será que ele vai escolher alguém? — Maria abriu a garrafa com dificuldade.
— As opções estão acabando. É bem possível que busque alguém aqui.
— Somos duas opções.
— Maria... eu não quero me casar. Sei que é o seu sonho, mas se Romano não for o homem que fará seu coração bater, diga não ao papai e a todo resto. — Segurei sua mão. — Diga não a uma vida de infelicidade.
— Romano é um bom partido. — Maria deu de ombros. — Mas eu não vou me casar se não gostar dele. Não importa o que digam.
— Quero que seja feliz no casamento.
Maria bebeu seu vinho e me deu um olhar cuidadoso.
— Por que a Srta. Revoltada não quer se casar? Algumas pessoas dizem que é um momento natural da vida. — Apoiou os cotovelos no balcão e roubou algumas azeitonas do meu refogado.
— Seria, se eu fosse filha de um contador de empresas, não da máfia. — Encolhi os ombros. — Sei que ao ser pedida em casamento não terei outra opção a não ser aceitar, porque entendo a importância de honrar o nome da nossa família. Ainda mais alguém na minha posição, que foi criada com todo amor e carinho. — Soltei a faca.
— Jamais decepcionaria o papai.
— Ele nunca ficaria decepcionado. Papai nos ama.
Eu queria dizer para minha irmã que a vida não era colorida como ela imaginava. Maria vivia no mundo da lua como a mamãe, mas eu sabia que não era bem assim. Eu era inocente mediante a tudo, dirá elas, que conscientemente ignoravam a vida manchada que vivíamos. Tentava
capturar conversas e ouvir atrás da porta sempre que conseguia, para entender os funcionamentos e principalmente, não ser totalmente ignorante.
— Por que estamos falando sobre isso? Coloque a música o mais alto que puder, vamos irritar os nossos guardas.
Voltei a cozinhar ignorando a sensação incômoda, de que talvez a visita de Romano à Sicília mudaria o rumo da minha família. Observando minha irmãzinha, de apenas dezoito anos, dançando na sala com seu esvoaçante vestido romântico, senti uma dor no coração de ela ser a escolhida para fazer parte da vida de um homem com uma fama tenebrosa.
E se fosse verdade que sua primeira esposa morreu de infelicidade? Não duvidava. Minha mãe biológica morreu infeliz. Ela m*l conseguia ficar no mesmo ambiente que o marido porque não o amava e não havia um mísero sentimento bom entre eles.
Não podia culpar Romano por ser quem era. A maioria dos meninos nascidos nessa família não tinha escolha de não ser o que eram. Alguns até gostavam, sentiam orgulho do sangue pecaminoso que carregavam porque foi tudo que lhes ensinaram a ser.
Minha esperança sempre foi ter uma casa como a minha. O mundo externo não sabia dos beijos e abraços que papai nos dava. Ele era temido e muito respeitado, eu sabia que muitos sentiam medo dele, mas jamais precisou impor seu respeito com violência à sua esposa e filhas. Esperava encontrar um marido que pudesse me dar o mesmo. Qualquer coisa além disso, era melhor ficar sozinha para sempre.