Carlo dirigiu pelas estradas escuras que levavam diretamente à propriedade privada de um dos meus chefes, Damon Galattore. Ele estava me aguardando para formalizar alguns pedidos, reunir sobre os recentes problemas com os albaneses no meu território e falar sobre uma família interessada em um acordo de casamento.
Damon escolheu não me dizer o sobrenome em questão e isso já me deixava muito preocupado.
Provavelmente, fiz algo errado que irritou ambos os chefes, porque estar sendo enviado a milhares de eventos e ainda por cima ter que aturar uma socialização baseada em acordos de casamento, era uma punição das mais cruéis. Preferiria que ambos me enfiassem a porrada até que perdesse a consciência do que ser obrigado a isso.
Parando o carro em frente aos portões, puxei meu colarinho, olhando os guardas revistarem o carro e liberando a entrada. Damon estava parado junto ao subchefe de Chicago, Enrico di Fabrizzi. Assim que saí, ambos me cumprimentaram com educação. Beijei o anel do meu chefe, prova da minha fidelidade e comprometimento com a famiglia.
— Romano! — Giovanna, esposa de Damon, se aproximou. — Seja bem-vindo!
— Minha senhora. — Dei um aceno contido.
Luna, esposa de Enrico, estava arrumando a mesa. Sua prima, Mia Biancchi, esposa do futuro subchefe de D.C estava ao seu lado. Ambas me cumprimentaram. Segui Damon até o escritório da propriedade, ele serviu uma dose de uísque e me entregou.
— Sem enrolação. O que está acontecendo? — Sentou-se em sua mesa e me encarou, sério. — Quero entender a p***a da carnificina. Está difícil limpar essa merda.
— Eles roubaram minha carga. — Dei de ombros. — A não ser que a famiglia tenha um acordo com os albaneses que eu desconheço, fiz o que faço sempre: limpei a rua com sangue.
— Seja mais discreto. Não queremos problemas com a mídia. — Damon descruzou os braços. — Agora, vamos falar sobre números. Ainda temos um tempo antes do jantar.
Minha função na famiglia era manter os imóveis limpos e lucrativos, além de tomar conta do meu território, fazendo-o render tanto quanto os
demais. Passamos quase uma hora trabalhando no novo plano de jogo dos investimentos que passariam pelas empresas que eu era o CEO e em seguida, a sineta foi tocada.
O jantar foi tranquilo, com a presença das esposas, foi mais um momento puramente social. Evitei olhar para o lado, onde Mia Biancchi, a princesinha de ouro da famiglia estava sentada. Enrico era um homem que não brincava e não aceitava olhares, meu elogio a ela no jantar de Ação de Graças deixou seu marido irritado o suficiente. Gostava de provocar Dante e ele sabia disso.
Depois da sobremesa, as senhoras saíram, Enrico me ofereceu um charuto e Damon serviu licor nas taças.
— Sinto que isso é para me amansar. — Brinquei com o charuto entre meus dedos.
— Um pouco. — Enrico não adoçou.
— p***a. Quem é?
— Tiago Bracci tem duas filhas na idade do casamento. A mais velha, tem vinte e dois, fez faculdade, fala várias línguas e não é exatamente o que chamo de mulher preparada para um casamento. A mais nova, no entanto, tem dezoito, mas é a que as mães elogiam. — Damon falou e estava quase rindo. Fiz uma careta.
— Não quero ninguém menor de vinte anos, mas as opções estão acabando — falei com cuidado. — Bracci? Ele era próximo do primo?
— Não. Eles são daqui da Sicília, sempre foram do meu território com parentesco com os Bracci do território de Enzo. É um dos nossos principais contadores e um subchefe feroz — explicou. Parei por um momento e acendi o charuto. — Um jantar para conhecê-las e então, você está à própria sorte com Juliana escolhendo a sua esposa.
Era tudo que eu não queria.
Engoli a vontade de ignorar o casamento e aceitei o convite para jantar. f**a-se. O que poderia acontecer?
A casa dos Bracci ficava em uma bela região. Era uma bonita mansão ornamentada e provavelmente, Tiago Bracci dava às suas filhas uma vida de princesa. Enquanto eu não tinha problema nenhum em manter um estilo de vida luxuoso, eu não precisava de outra esposa excessivamente mimada e cheia de caprichos.
Carlo parou o carro para ser revistado e logo fomos liberados. Ele ficou fora, me deixando entrar sozinho no covil de mais uma mãe animada para casar sua filha solteira. A porta foi aberta bruscamente e uma senhora de cabelos presos e um sorriso enorme apareceu.
— Seja bem-vindo! — Arrulhou e cheguei a olhar para trás. Ela, definitivamente, não podia estar falando comigo. — É com você mesmo, Romano Carlucci.
— Muito obrigado, minha senhora. — Dei um aceno polido.
— Venha, entre! Tiago está terminando uma ligação e logo descerá — explicou. Descendo as escadas, estava uma jovem de cabelos pretos. Ela usava um comportado vestido rosa escuro, um sorriso contido e uma aparência perfeita. — Conheça minha filha caçula, Maria.
Ela era linda, de beleza exemplar, mas parecia uma boneca.
— É um prazer conhecê-la, Srta. Bracci. — Continuei parado no lugar e ela sorriu, simpática, andando rapidamente para perto de sua mãe.
Antes que a mulher pudesse explodir serpentinas pelo ouvido, Tiago Bracci desceu a escada. Ele era um homem extremamente alto e robusto, com o rosto marcado por cicatrizes, consequências da vida que fazíamos parte. Ele me deu um olhar austero e esticou a mão, taciturno. Me analisando na pose de pai que tinha um homem invadindo seu espaço, querendo roubar um pintinho precioso do seu ninho.
Não como se fosse ao contrário.
— É um prazer revê-lo, Sr. Bracci.
— Seja bem-vindo. Está gostando da sua estadia aqui na Sicília? — Tiago puxou assunto. As mulheres saíram em direção à cozinha.
— É bom estar em casa. O senhor tem uma bela residência, lembra minha infância.
Ouvimos um barulho na escada e ergui meu olhar. Outra garota descia, ela parecia mais velha, mais séria, um ar de selvageria com seus cabelos bagunçados mostrando alguns cachos. Ela era o oposto da irmã, não em beleza, porque era de tirar o fôlego, mas na aparência um tanto desleixada. Usava short jeans, uma camiseta do KISS e tênis.
Não havia nada no lugar, seus quadris tinham o gingado que a maioria das meninas reprimiam publicamente e suas coxas eram torneadas como alguém que praticava exercícios físicos. Ela me deu um olhar desinteressado e abriu um sorriso para seu pai.
Esqueci todos os meus pensamentos, o que iria dizer ou que deveria fazer. Aquilo era inédito. Tiago estendeu o braço para filha e me olhou com diversão.
— Creio que ainda não conheceu minha filha mais velha. — Ele segurou a mão da garota que me encarava sem receio. — Anastácia.
— É um prazer conhecê-la, Srta. Bracci. — Dei um aceno. Anastácia olhou em meus olhos e por alguns segundos, eu vi o brilho do desafio.
— Olá, Sr. Carlucci. — Inclinou a cabeça para o lado. — Estarei com a mamãe na cozinha. — Saiu rapidamente e não consegui desviar o olhar rápido o suficiente.
Tiago me conduziu para a sala de estar. Sua esposa serviu aperitivos que eu não estava interessado e manteve as filhas na cozinha durante a tensa conversa sobre minhas intenções como marido, que o pai delas exigia ter mesmo antes que eu tivesse decidido algo.
— Não vou mentir. Não escolhi o casamento. Minha posição exige uma esposa, uma vida pública saudável e claro, a pretensão de herdeiros no futuro. — Recostei na poltrona.
— Minha primeira esposa me odiava. Como homem, o senhor vai entender, que nem sempre fazemos coisas como as mulheres fazem. Para nós, o casamento é uma honra, para elas, um romance. Eu não era o seu alvo de afeição e com isso, nutriu bastante rancor.
— Vocês não se tornaram nem amigos?
— Não. Eu não vou dizer que tentei muito.
— E o que você espera do seu segundo casamento? — Ele não desviava o olhar do meu. Tiago era o tipo de homem que olhava a vida
saindo do corpo sem nenhuma emoção.