CAPÍTULO 1 (ROMANO)

895 Words
Enzo Rafaelli me olhava impassível depois da reunião que tivemos sobre o balanço financeiro da famiglia. Ele deu um gole do uísque doze anos que mantinha no bar do meu escritório. Meu chefe não era um homem de enrolação, por isso sabia que sua permanência tinha um motivo. O problema era se eu iria gostar desse motivo. — Você precisa se casar novamente. — Apoiou seu copo na mesa. — Já saiu do período aceitável do luto e ultrapassou. É o único Carlucci e precisa de herdeiros, ou outra pessoa irá decidir tomar o seu lugar. Dei um meio sorriso. — Eles podem tentar. Enzo riu. — Você comanda esse lugar porque eu permito, portanto, precisa de um casamento e herdeiros. Homens da sua posição precisam de uma família ou atraem muita atenção. — Inclinou a cabeça para o lado. — Alguém em mente? — Lutei contra a vontade de puxar meu colarinho, me sentindo sufocado com aquele assunto. Casamento, p***a. — Damon está analisando. Será um acordo benéfico. — Ficou de pé e fechou os botões do seu terno. — Nos vemos na festa de ação de graças em Nova Iorque. Não era um convite. Era uma ordem. Ele sabia que eu odiava esses eventos e fugia toda vez. Socializar não era uma arte que dominava. Como subchefe da Filadélfia, sem uma esposa, quase não oferecia eventos do jeito que a famiglia gostava. Normalmente, meus eventos eram apenas de entretenimento adulto para os meus homens. Parei em frente às grandes janelas de vidro da minha sala no topo do maior arranha-céu e lembrei da minha esposa. Fernanda. p***a. Meu casamento foi um inferno desde o primeiro segundo. Nós fomos prometidos ao outro ainda pequenos e sequer tivemos uma palavra sobre nossos desejos. Fernanda não me amou por muitos motivos. O primeiro deles é que eu nunca abri mão do nosso noivado, mesmo quando ela confessou que estava apaixonada por um mero soldado. Na época, cogitei liberá-la, mas eu sabia que seria uma completa desonra para o nome que eu carregava com muito orgulho. Além do fato que seus pais jamais permitiriam uma união com um homem de baixo escalão. Ela odiava a mim por ter orgulho da nossa vida. Odiava o amor da sua vida por não ter lutado por ela como nos contos de fadas que fazia questão de acreditar e por fim, odiava seus pais por terem a obrigado à um casamento. Eu não me importava com seus sentimentos. Na nossa vida, sentir coisas que pessoas normais precisavam para pensar que eram humanas, não fazia sentido. Nosso casamento aconteceu no dia seguinte ao seu aniversário de dezoito anos. Eu tinha vinte. A partir do sim no altar, ela decidiu que a nossa vida seria meramente uma fachada política. Eu não liguei. Era uma preocupação a menos. Vivemos na mesma casa, mas não juntos. Tentamos uma aproximação, mas quando as coisas começaram a engatar, minha vida virou do avesso. Minha esposa não soube lidar com o homem que me tornei. Aquele dia mudou tudo, me transformou e me fez renascer ainda pior do que era. Meses depois, ela foi diagnosticada com leucemia. A batalha contra sua doença levou alguns meses… ela faleceu em uma manhã fria de inverno. Viúvo aos vinte e quatro anos. Após perder meu tio e meu primo, que eram a minha única família, perder Fernanda foi o golpe final. Eu não a amava. Amor era uma emoção desconhecida e nada bem-vinda entre os homens da famiglia. Me tornei o subchefe de uma das maiores cidades sob o domínio da família Rafaelli. Cresci em obediência e honra ao homem que era próximo do meu tio e tinha grandes planos quando meu primo finalmente assumisse o lugar. Minha vida girava em torno dos negócios, em manter absolutamente tudo em ordem e garantir que meu território continuasse muito lucrativo. E agora, mais um casamento. Eu não fazia ideia de quais famílias tinham filhas solteiras para um acordo. Pelo menos, a maioria dos meus homens tinham filhas jovens demais ou já casadas. Em Nova Iorque havia um punhado de moças solteiras, talvez o interesse do chefe com minha presença no jantar de ação de graças, fosse para conhecer e me interessar. Como se eu estivesse com cabeça para escolher uma esposa. Me servi com uísque e virei tudo de uma vez só. Enchi mais uma dose e engoli rapidamente antes de sair da sala. Minha assistente, Penny, estava conversando com seu marido, meu soldado de confiança. Carlo me deu um aceno e se despediu da mulher, me acompanhando no elevador em silêncio. Apesar de ter ficado disperso com o assunto casamento, ainda havia muito que fazer. Entrei em casa e meu cachorro me recebeu. Aquela coisa, na verdade, era da Fernanda. Um labrador que tinha energia de sobra. Nunca tive coragem de me desfazer. No final do dia, ele estava sempre me aguardando na sala. — Sr. Romano. — Marina apareceu na sala. Minha governanta era uma senhora viúva que passava o dia cuidando da minha casa, do cachorro e preparando a refeição. — Deixei o jantar pronto. Ele passeou hoje e fomos ao veterinário. — Tudo bem. Pode ir. Assentindo, saiu pelos fundos. Fui direto para o bar, me servindo com uma dose generosa de uísque. O sol estava se pondo. Carlo entrou pela cozinha, saindo da sala de segurança.
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