CAPÍTULO 4 (ANASTÁCIA)

1089 Words
Nosso primo morava em uma linda residência não muito longe da nossa casa de praia. Morávamos em Palermo, na Sicília, mas passávamos a maior parte do verão na Sardenha. Quando papai conseguia tirar dias seguidos de folga, velejávamos pela costa. — Sejam bem-vindos! — Anna nos recebeu na porta com sua usual alegria. Ela era uma das mulheres mais simpáticas que conheci na vida. Desde a primeira vez. Nunca se importou com a paixonite adolescente que eu tive do Lucca, acho que até ria quando eu passava. Era inevitável não corar quando o via, hoje em dia, adulta, ele me tratava com respeito e eu criei certo laço de amizade com sua esposa. — Obrigada pelo convite. — Mamãe a abraçou. Uma festa em uma família italiana tinha: muito falatório, bebida, música, gritaria, comida para dar e vender e eu disse… falatório? Como minhas tias e primas falavam pelos cotovelos! Já estava acostumada e até sentia falta. A família do meu pai era muito mais fria e de longe permitia tanto afeto. — Gostaria de uma bebida? — Angelo me entregou uma taça. — Relaxa, titia. É suco de uva. — Ele se apressou com o olhar da minha mãe. Maria e eu seguramos o beicinho, mas disfarçamos ao provar e perceber que era vinho. Mamãe era cheia de regras e uma delas: nada de bebida alcoólica antes do casamento. Não entendia como ela podia pensar que a vida de uma mulher só poderia começar depois de ter um marido. Esperava encontrar um homem que não se importasse com meus gostos e todas as conversas que tivemos sobre sexo não me animou muito. Eu queria um romance ardente como nos filmes eróticos que via, nos livros de romance que me tiravam o sono… mocinhos que me faziam rolar na cama e me tocar. Era virgem, mas já tinha beijado algumas bocas escondido e sentido o quão bom era ter um corpo quente contra o meu. Maria nunca beijou. Ela acreditava em se guardar para o marido. Só não perdi minha virgindade porque tinha medo e porque todos os casamentos da família eram organizados por acordo, eu não tinha coragem de submeter meus pais a vergonha do exame médico dando negativo para minha pureza. Em dado momento da festa, estava sentada no chão brincando com meus priminhos. Letizia, uma das minhas primas mais velhas, teve gêmeos com seu novo marido. Anna reuniu a família para anunciar que ela e Lucca estavam esperando mais um bebê. Maria Catarina estava completando quatro anos e era uma princesa. Mesmo com a comoção da notícia, mamãe se aproximou agitada. Pensei que fosse brigar comigo por estar no chão com os gêmeos. — Romano Carlucci está procurando uma nova esposa! — Comemorou. — E quem seria esse? — Maria entregou um brinquedo ao bebê. — Ele é o subchefe da Filadélfia e, basicamente, um homem importante como seu pai é, só que nos Estados Unidos! — Suspirou. — Ele já foi casado, é jovem e viúvo, sem filhos. Ninguém vai se importar com seu primeiro casamento. — Isso foi uma coisa terrível de dizer — comentei e ela fez uma careta. — Lucca disse a seu pai que o Sr. Galattore contou que Romano vai conhecer jovens solteiras no dia de Ação de Graças. Fomos convidados e eu farei de tudo para que estejamos lá… Nova Iorque tem muitas moças solteiras. — Eu me sinto em um péssimo romance de época. — Cochichei para Maria. — Deixa ela. — Minha irmã sorriu e passamos a ignorar as divagações da mamãe. Romano Carlucci era um nome que nunca ouvi falar antes da festa da minha priminha, mas a partir daquele dia, se tornou algo comum na minha casa. Mamãe estava certa de que ele seria seu genro no próximo ano. Como todo mundo sabia que era minha irmã a pessoa romântica querendo se casar, eu já estava sofrendo por ficar sozinha e ser separada dela mesmo sendo algo completamente hipotético, afinal, ele poderia escolher outra garota. — Nós não poderemos ir ao jantar de ação de graças. — Papai anunciou uma semana antes do evento. Mamãe estava emburrada. — Tenho muito trabalho a fazer para correr atrás de um possível casamento. Se ele quiser, que venha até aqui e conheça minhas filhas sob minha supervisão. — Não entendo por que a senhora está tão desesperada para nos casar. — Furei minha batata com o garfo e brinquei com ela no prato. — Por que não podemos conhecer alguém e simplesmente nos apaixonar? — Tem muito mais mulheres do que bons homens em excelentes posições. Romano tem apenas vinte e oito e é um poderoso subchefe. — Mamãe rebateu. — E daí? Onde está o direito de sair e me apaixonar por alguém? — Meu doce. — Papai segurou minha mão. — Sabe a vida que levamos e o que fazemos parte. Não permitimos pessoas de fora. A não ser que se apaixone por um homem da famiglia, seria impossível ter um relacionamento nos seus termos… — Então é isso? Se resignar a um casamento arranjado com o melhor partido? Mamãe tinha razão. Meu diploma não serve de nada se no fim, vou morrer como uma esposa troféu. — Empurrei meu prato. — Peço licença. — Pode ir, meu doce. — Papai suspirou. Me joguei na cama e ali fiquei, fingindo que estava dormindo quando minha irmã deitou ao meu lado e me abraçou. Ela queria ser esposa de alguém, mas sonhava com um amor tanto quanto eu. Mais cedo ou mais tarde, meus pais escolheriam um marido. Já estava com mais de vinte anos, me formando e acabando as minhas desculpas para não ter um pretendente. Iria acatar por amor e respeito, porém, não iria me entregar de corpo e alma até que o escolhido provasse ser digno de ser meu. Podiam tirar minha escolha de casar, mas não tirariam o meu desejo de amar e ser correspondida. No dia seguinte, estava muito curiosa sobre quem era o homem que estava deixando muitas mães agitadas. Esperei que minha irmã descesse para tomar café para abrir meu notebook e procurar por alguma foto. Não havia nada. Poucas menções à família Carlucci, todas relacionadas a investigações sobre lavagem de dinheiro e corrupção, nada novo no céu da máfia italiana. Não havia fotos, qualquer coisa que pudesse me dar uma dica sobre como ele era. Não importava a sua beleza, mães como a minha estavam totalmente interessadas no seu bolso e posição. Qualquer coisa além disso era desnecessário.
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