CAPÍTULO 5 (ANASTÁCIA)

1181 Words
O dia da minha formatura foi um dos mais emocionantes da minha vida. Apesar de parecer bobo, sempre sonhei com a faculdade, em ser uma mulher estudada. Não conseguia admitir as limitações que as mulheres da família eram colocadas, e eu era grata que papai enfrentou o preconceito e permitiu meus estudos. Me formar em nutrição tinha tudo a ver com a minha paixão pelos alimentos saudáveis. De todos os cursos que quis fazer, muitos foram vetados e eu desisti de lutar, escolhendo algo neutro. Nutrição poderia me ajudar a criar cardápios saudáveis para minha família, foi exatamente isso que minha amada mãe passou a dizer para suas amigas. Todo aspecto de uma vida saudável sempre me atraiu. Adorava praticar exercícios físicos, correr ao ar livre e era uma competidora nata. Tirar uma fotografia usando uma bata e um quepe me encheu de orgulho. Eu pensei que meus pais não poderiam me surpreender mais quando cheguei em casa e me deparei com uma festa surpresa que minha mãe organizou. Não fui autorizada a participar da festa de formatura da universidade, muito menos a sair por todo verão, o que me deixou muito irritada e isolada. Não estava animada para o meu aniversário, porque imaginei que seria mais um evento vetado. Ela convidou alguns amigos, primos e claro, todos os membros numerosos da família Bracci e da família Moreno. Mamãe era difícil e o nosso relacionamento era baseado em choques, mas nós duas nos amávamos muito. Ela nunca me fez sentir diferente por não ser sua filha biológica, desde o primeiro segundo, me acolheu em seus braços. Me afastei da multidão para trocar de sapatos. As sandálias de tiras estavam me matando e subi para meu quarto, pensando em mudar para uma sandália plataforma. Virando no corredor, parei em frente ao escritório do papai ao ouvir vozes. — Romano já encontrou uma esposa? — Ouvi papai perguntar e fiquei arrepiada. — Ele não se interessou por nenhuma das moças nas últimas festas da famiglia. Está para vir no começo do ano para conhecer as meninas disponíveis aqui — disse a voz do outro homem. — Está interessado em apresentar alguma das suas filhas? — Não esconderei que estou preocupado. Desde que meu primo Romeo traiu seu subchefe em D.C , sinto que preciso de boas alianças para não cair na mira dos chefes. Eu nunca compactuo com qualquer tipo de traição e me mantive leal ao meu dever, mas… — Seu sobrenome atualmente não ajuda muito. — Não. Eu não quero que minha esposa e filhas fiquem em perigo. Um casamento com um Carlucci, família extremamente estimada do Sr. Rafaelli, pode tirar a mancha n***a que meus primos colocaram em nós. — Papai refletiu. Quando nossos primos traíram a família, nós nos afastamos totalmente das festas, mas mamãe era o tipo de mulher que nunca desistia e logo levantou a nossa vida social e reputação. — Convide Romano Carlucci para um jantar, mesmo que ele não se interesse por nenhuma das suas filhas, estreitar laços com um homem como ele pode ajudar a levantar a moral do seu sobrenome. — O outro homem disse. Me afastei ao perceber que mais homens subiam pela escada, provavelmente para se encontrar com meu pai e seu convidado no escritório. Corri pelo corredor, subindo o último lance de escadas até meu quarto e tirei minhas sandálias. Troquei e logo voltei para minha festa de aniversário, amando estar reunida com meus amigos como uma garota normal completando vinte e dois anos. Minha irmã segurou minha mão quando cantamos parabéns e cortei os pedaços do bolo, entregando para meus pais em primeiro lugar. Mesmo sorrindo para as fotos, estava preocupada com a conversa que ouvi. Se Romano escolhesse Maria, ela não faria ideia que estaria se casando para limpar o nome da nossa família e não por amor, como em seus sonhos. Entendi as razões práticas, essa era a nossa vida, mas não significava que era o que desejava para minha irmãzinha. As festas de fim de ano eram um momento completamente enlouquecedor. Seria normal se minha mãe fosse uma mulher normal, mas ela amava qualquer motivo para festejar. Nossa casa sempre parecia tomada por decorações, participávamos de todos os eventos da igreja e da nossa família. Era exaustivo. — Podemos trocar os presentes logo? — Maria estava rodeando a nossa árvore de natal. — Já crescemos, é totalmente inútil esperar o dia seguinte. — Não chame uma tradição tão importante de inútil. Isso é blasfêmia. — Mamãe ralhou da cozinha. Meu pai desviou o olhar do telefone e riu. — Na religião do tradicionalismo que a mamãe endeusa, sim. No mundo real, é palhaçada —comentei do meu lugar. Mamãe jogou uma bola da árvore em mim. — Quieta, menina. Papai olhou algo em seu telefone, suspirou e se levantou. Cochichou no ouvido de mamãe e ela lhe deu um beijo, pedindo para se cuidar. Ele foi até seu cofre, pegou sua arma e saiu. Nós três ficamos em silêncio. Fechei meus olhos e fiz uma prece para que ele voltasse bem… ou simplesmente voltasse para que pudéssemos cuidar dele. Cada vez era uma aflição diferente. — Tudo bem, meninas. — Mamãe pegou a bola que jogou em mim. — Vamos trocar os presentes com o papai amanhã cedo. Agora, terminem seus chás e vão dormir. Não havia mais clima para nada. Deixei meu chá pela metade, peguei meu livro e subi com minha irmã. Sempre que papai saía para fazer seus serviços da famiglia, nós duas dormíamos juntas, para nos proteger e passar força que ficaria tudo bem. Ficamos abraçadas a noite inteira. Quatro da manhã, saí da cama de fininho, andando na ponta dos pés até o escritório. A luz do abajur estava acesa, o que significava que havia alguém ali dentro. Enfiei a cabeça para olhar e recuei ao ver que era outro homem que estava ali e não o meu pai. — Espiando, Anastácia? — Michelle, o conselheiro do meu pai, falou virando o rosto. — Sinto muito, senhor. Pensei que fosse meu pai aqui dentro — murmurei e voltei correndo para meu quarto, fechando a porta com a chave. Apesar de ele ser um dos nossos, era um homem muito perigoso da famiglia. Além do mais, não era de bom tom ficar sozinha em um lugar com um homem casado durante a madrugada. Maria sequer se moveu com a minha ausência. Me cobri e fiquei me perguntando o que o conselheiro do papai estava fazendo sozinho em seu escritório. Não consegui voltar a dormir e quando mamãe veio nos acordar, ela aparentava estar feliz e sem as rugas de preocupação. Ela disse que poderíamos descer como estávamos, de pijama e que papai estava nos aguardando na sala. Corremos pela casa, nos trombando, implicando pelo corredor sob os gritos de mamãe que iríamos rolar na escada e quebrar o pescoço. — Bom dia, minhas princesas! — Papai nos abraçou. — Hora de abrir os presentes! A felicidade que ele estava bem, e em casa, me deixou muito leve.
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