Sentada à mesa com sua família, Gisella começava a se incomodar com o elfo que não deixava de encará-la obsessivamente.
— Já acabei, então eu vou indo, mãe. — Gisella levantou-se nervosa.
— Espere seus irmãos, querida? — Disse Evin.
Ela era uma elfa branca, com olhos azuis, e cabelos loiros, à altura dos ombros.
Gisella olhou para os outros três elfos sentados a mesa: O pequeno Eldar, com suas bochechas coradas sujas de mingau de aveia, olhos grandes e azuis, e cabelos louros. Irwan com cabelos curtos e olhos azuis. E Hendrik, com cabelos louros e longos, e olhos azuis que sempre refletiam um brilho malicioso.
— Não, eu posso ir sozinha, mãe. É chato forçar os meus irmãos a cuidarem de mim o tempo todo. Eu não sou tão ingênua quanto pareço. — Gisella pegou sua mochila, voltou e deu um beijo na testa de Eldar que sorriu, meigo. Deu outro no rosto de Irwan e um no rosto de Evin, então recuou pronta a ir.
— E eu? Não ganho nenhum beijo? — Perguntou Hendrik sorrindo, malicioso.
Gisella se voltou a ele e riu, balançando a cabeça. Então, o ignorou e saiu, apressada. Hendrik ficou sério e se levantou ligeiro. Pegou sua mochila e saiu, indo atrás de Gisella. Irwan se levantou também e foi atrás de Hendrik antes que ele fizesse uma besteira.
Gisella sabia que Hendrik viria atrás dela, por isso, apressou os passos.
— Gisella! — Chamou Hendrik ao alcançá-la no portão.
— Me deixa em paz! — Gisella não se virou e correu.
Hendrik se irritou e foi atrás dela.
Gisella sabia que seria inútil correr dele, pois ele era tão veloz quanto o vento, mas, ainda assim, correu porque não queria se entregar sem uma boa luta. Como previsto, Hendrik logo a alcançou e a agarrou, virando-a para seu lado, forçando-a a encará-lo.
— Quando você vai parar de fugir de mim como se eu fosse um monstro? — Ele perguntou com raiva.
— É porque você é um. — Ela disse tentando se soltar.
— É, talvez eu seja mesmo. — Ele a beijou.
— Para com isso! — Gisella recuou e lhe deu um t**a.
— Por que se você gosta? Sei que gosta. — Falou Hendrik deslizando suas mãos por debaixo da saia dela.
— Não. Para. Por favor? Socorro? — Gritou Gisella.
— Solta ela! — Disse Irwan ao chegar na hora certa e agarrou Hendrik pelos ombros e o afastou de Gisella.
— Fica longe de mim! — Gisella recuou sem tirar os olhos de Hendrik.
— Deixa ela em paz! Você não vai conseguir nada desse jeito, só com que ela fique com medo de você. — Falou Irwan ao irmão.
— Já é alguma coisa… — Hendrik sorriu e avançou na direção de Gisella.
— Não. Hendrik? Por favor? — Pediu Irwan entrando na frente dele.
Hendrik encarou Irwan e depois Gisella, notando que ela estava visivelmente insegura. Hendrik gostou de vê-la daquele jeito, embora, no fundo, quisesse que ela sentisse qualquer coisa por ele, menos medo porque ele a amava, ainda que tivesse certeza de que nunca a perdoaria pelo que ela lhe fizera.
— Eu acompanho ela. Vai atrás da Mabel? — Disse Irwan ao irmão.
— Cuida dela, tá? — Hendrik pediu em um sussurro a Irwan.
Irwan assentiu com a cabeça e Hendrik se foi.
Irwan se aproximou de Gisella e tocou o ombro dela.
— Tudo bem, Gisella.
Gisella o abraçou forte. Os dois ficaram assim abraçados por um tempo até Gisella recuar de cabeça baixa e ambos seguirem para o colégio.
O colégio era um prédio antigo de três andares. O jardim era todo gramado, com fileiras adjacentes de arbustos. O uniforme feminino era composto por uma saia xadrez verde, à altura dos joelhos, meias brancas e longas, sapatilhas pretas, e uma blusa branca de mangas longas, com o brasão do colégio, e uma gravata preta. Gisella adorava seu uniforme, mesmo, detestando o colégio.
Os alunos a consideravam uma aberração só por ela não ser uma elfa e costumavam ser desagradáveis com ela.
Gisella seguiu apressada para a biblioteca, o seu lugar favorito no colégio, e correu para procurar livros sobre fadas. Já fazia algum tempo que estava encantada por estes seres alados e desejava atraí-los para, que, como nas lendas, eles a raptassem e, assim, a livrassem dos elfos de vez.
— Que tal esse? Um Guia Rápido Para Atrair As Fadas? — Disse uma bela elfa, com aparência angelical, olhos azuis e longos cabelos loiros. — Sei que o título é enorme, mas o livro parece interessante.
— Gaion? Obrigada. — Gisella sorriu ao ver sua melhor amiga.
Gaion era a única razão pela qual ela ainda amava os elfos. Em meio a tanta escuridão, Gaion era como um raio de sol que a iluminava, que lhe enchia de esperança.
Gisella e Gaion se sentaram em um canto, afastadas dos demais e Gisella folheou o livro, encantada com os desenhos que tinham em suas páginas. Havia descrições de vários tipos de fadas e também a forma como contatá-las.
— Elas estão muito longe? — Gisella perguntou a Gaion.
— Sim, muito. Conheço algumas passagens, mas são perigosas. Seria mais fácil chamar a atenção delas, dessa forma, elas viriam até você e tudo seria mais fácil. — Falou Gaion.
— Eu não sei se posso aguentar por muito mais tempo. — Disse Gisella.
— Vou ver o que posso fazer, mas não prometo nada. Enquanto isso, leia o livro? — Disse Gaion apertando a mão de Gisella.
O primeiro sinal soou e as duas se despediram, seguindo cada um para sua classe.
No intervalo entre as aulas, Gisella fez o que pode para se esconder de Hendrik, que a procurava como um doido. A garota foi para o jardim e se sentou atrás de uns arbustos enquanto lia o livro sobre fadas. Alguém se aproximou e a surpreendeu com um beijo no rosto. Gisella recuou, depressa, temendo que fosse Hendrik ou outro p********o, mas para seu alívio era outra pessoa.
— Theo? — Gisella deixou o livro de lado e abraçou e beijou o elfo.
Diferente dos outros elfos, Theodred Normenor não tinha os cabelos longos e loiros, os seus eram castanho-escuros. Seus olhos eram castanho-claros, embora sua pele continuasse sendo branca, mas não pálida.
— Eu senti tanta saudade! — Gisella disse.
Theo e ela namoravam ainda que a “família” dela fosse contra esse relacionamento.
— Eu senti mais. — Disse Theo apanhando e beijando as mãos dela.
— Então, por que você não veio me ver antes? — Perguntou Gisella triste.
— Você sabe que é difícil, que Hendrik está sempre por perto, te vigiando como um maldito cão de guarda. — Falou Theo.
— Por que você não foge comigo? Assim, ninguém nos impediria de sermos felizes juntos. — Falou Gisella.
Theo a beijou suavemente, sendo correspondido. Hendrik veio de repente e flagrou os dois se beijando. Sentiu um misto de dor e ódio.
— Não. Fica longe dela! — Hendrik disse afastando Theodred de Gisella e o acertando com um soco a seguir.
— Hendrik? Não! — Disse Gisella desesperada.
Hendrik a ignorou e continuou batendo em Theodred que revidava com a mesma fúria. Gisella gritou por ajuda e logo vieram alguns alunos e apartaram a briga.
— Fica longe dela ou eu juro que mato você! — Hendrik ameaçou Theodred.
— Você é quem deveria ficar longe dela já que ela não o ama! — Vociferou Theodred.
— E o que você acha que sabe sobre isso? — Hendrik sorriu, malicioso. — Nós moramos juntos. Por que acha que não durmo com ela? Não acredite em tudo o que ela te fala. Estamos sempre brigando, mas ela não resiste a mim.
Hendrik se voltou a Gisella esperando que ela negasse, mas ela não disse nada. Estava com medo de Hendrik. Sabia que quando voltassem pra casa, ele estaria muito furioso com ela.
— Isso é mentira! Gisella me ama e você não suporta que ela tenha te deixado por mim. — Falou Theodred, sorrindo, convencido.
— Seu desgraçado! — Disse Hendrik com ódio e tentou se soltar dos dois elfos que o seguravam, mas não conseguiu.
— Theo? É melhor você ir, agora. Por favor? — Pediu Gisella.
Os alunos soltaram Theo e ele se aproximou de Gisella. Hendrik quis se soltar e impedir que Theo chegasse perto de Gisella, mas não conseguiu.
— Eu juro que volto, minha doce Gisella. — Theodred se despediu de Gisella com um beijo antes de ir.
Só então os outros alunos soltaram Hendrik. Este se aproximou de Gisella e a agarrou com força pelos ombros. Gisella pode ver um misto de dor e ódio no olhar dele – era assim que ela conseguia enxergar a aura dos elementais, através de seus olhos, tudo o que eles sentissem sempre refletiria em seus olhos, só alguns poucos elementais eram capazes de esconder suas auras -.
— Por que você faz isso comigo? Por que me provoca assim? — Ele inquiriu.
— Porque eu não amo você, porque você nunca foi homem o bastante pra mim. Quando vai entender isso? — Disse Gisella se esforçando para demonstrar apenas ódio quando, na realidade, se sentia muito atraída por ele. Era verdade que ela não resistia a ele e por isso era c***l para afastá-lo porque sentia que os dois não deveriam ficar juntos.
— Isso é mentira. Eu sinto que não está sendo sincera, que me deseja como eu a desejo. — Ele disse e a beijou. Os lábios dele eram doces como mel e viciantes, ao menos para Gisella. Uma vez que o beijava, era difícil pensar com clareza. Ela não tinha certeza se aquilo era um tipo de feitiço ou controle mental, só sabia que não queria soltá-lo mais, que ninguém a amaria como ele.
Após um longo beijo, Hendrik recuou e sorriu triunfante. Mais uma vez, mostrara a Gisella que ela pertencia a ele.
Extasiada, Gisella estava a ponto de se aproximar de Hendrik, desejando que o mesmo a beijasse outra vez quando seus olhos encontraram os de Gaion que a encarava desapontada. Sempre que Gaion a olhava assim tão triste, Gisella só tinha vontade de morrer porque quando um ser tão belo que vivia sorrindo, se entristecia, a coisa era séria. Isso foi o bastante para “despertar” Gisella, fazendo-a reagir com raiva.
— Oh, como você é inocente… — Gisella riu, maldosa. Sabia que magoaria ele com aquelas palavras, mas precisava ser forte. Aquilo não era amor, era uma guerra. — Eu apenas uso você porque é divertido ver seu sorriso irônico se desfazer. Você não faz ideia do quanto é delicioso vê-lo sofrer, Hendrik.
Hendrik recuou, chateado, tentando transparecer mais ódio que dor, mas falhando miseravelmente.
— Eu apenas SUPORTO você porque não tenho escolha, caso contrário, nada me faria mais feliz que não olhar para sua maldita cara! Eu te odeio! — Ela disse antes de sair correndo.