"A cada suspiro seu
A cada movimento que você fizer
A cada elo que você quebrar
A cada passo que você der
Eu estarei te observando."
(The Police - Every Breath you take)
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Joshua
Finalmente Linda acordou.
Finalmente podia respirar aliviado.
E agora, mais do que nunca, precisaria dar um jeito de me esforçar para esquecê-la.
Deixei a casa de Christopher após o almoço de boas vindas com o coração leve, saber que ela estava bem, era tudo que importava, e era bom compartilhar desses momentos com minha família.
Porque os Hale eram minha família.
Principalmente depois que minha mãe tirou a própria vida.
A família Price unida e que transbordava amor por onde passava era apenas uma fachada. Por trás das fotos de revistas e da mídia, meu pai era um puto que não podia ver mulher.
Provavelmente continua sendo.
Ele traía minha mãe constantemente. Traía a mulher que deixou seu emprego por ele, deixou seu país para trás, sua vida inteira, acompanhando-o para outro lugar onde foi enviado a trabalho.
Mamãe teve que começar do zero em um ambiente totalmente desconhecido, mas não voltou a trabalhar como pintora.
Porque ele não gostava, ainda que ela ganhasse mais dinheiro que ele.
Ele não queria a esposa em contato com outros homens.
Ele a queria cuidando do lar e do filho.
E ao ter suas traições descobertas, conseguiu jogar a culpa nela, dizendo que buscava na rua o que não tinha em casa.
Mamãe perdoou as traições. Contudo, um tempo depois quando ele foi viver com uma das amantes com quem teve uma filha - a mesma mulher que frequentava nossa casa, a chamava de amiga e trazia a filha, quem eu deveria considerar como meio irmã para nosso convívio - ela não aguentou.
Definhou dia após dia, até que viver se tornou um peso para ela.
Fui eu quem a encontrei com a corda enrolada no pescoço, pendurada na árvore dos fundos da mansão em que morávamos.
Porra, eu só tinha dez anos.
Fui cuidado por uma tia, até ter idade suficiente para voltar pro país e para minha cidade e começar meus estudos na universidade.
Foi da minha mãe que herdei todo o dinheiro que tenho hoje, dos seus quadros vendidos. Dianna Price era uma artista conhecida e consagrada.
E é por ela, depois do dia que a encontrei morta, que decidi que o amor é um sentimento traiçoeiro que não queria na minha vida.
Não queria...
Até conhecer Linda.
Me apaixonei e não sou correspondido.
O que prova que definitivamente o amor não foi feito para mim...
Divaguei por todo caminho até o prédio de Gracie, enquanto ela parecia ter os pensamentos tão consumidos quanto eu.
Será que estava... desconfortável?
Devia puxar assunto?
Mas sobre o que poderia falar com ela?
Trabalho?
Não, pelo amor de Deus.
A garota já trabalha a semana toda, duvido muito que queira falar sobre trabalho num domingo ensolarado.
Também não posso perguntar sobre sua vida pessoal, seria muito invasivo da minha parte.
Por isso achei melhor apenas me manter atento a direção e não tive pressa para chegar ao meu destino.
Estranhamente, o silêncio da garota ao meu lado junto com a música tocando baixinho, se mostrou reconfortante de uma forma inesperada.
Talvez Gracie estivesse prestando atenção na letra da música.
Talvez não se sentiu segura para puxar qualquer assunto comigo.
Era difícil decifrar o semblante indiferente em seu rosto.
Entrei na rua do seu prédio meia hora depois. Desde que me formei eram raras as vezes que havia passado pelas ruas próximas da universidade. É bom poder recordar os velhos tempos, fora o fato de me divertir vendo os universitários babando no meu carro novo.
O único que não pareceu tão impressionado foi o loiro encostado do outro lado da rua que parei para deixar Gracie.
Seus olhos imediatamente me fulminando de raiva.
Só esperava não causar problemas para minha secretária, já tinha escutado de Linda que os dois viviam brigando mais que tudo.
Depois de acompanhar de perto o quanto sofreu com a situação da melhor amiga nos últimos dias, chegando até perder peso, esperava não ser motivo para mais um desentendimento entre eles.
Aguardei que se aproximasse do namorado, apenas curioso para saber como reagiria, imaginando que começariam a discutir ali mesmo, e caso necessário, mesmo não sendo da minha conta, eu teria que intervir.
Mas ao invés disso, o garoto enlaçou a cintura dela e a puxou para um beijo ardente.
Liguei o carro pronto para sair, olhando mais uma vez na direção do casal, vendo Gracie se entregar ao beijo apaixonado enquanto os olhos do namorado permaneciam fixos em mim.
Balancei a cabeça sorrindo de lado para a atitude insegura do garoto.
Não sou uma ameaça, amigo.
Poderia dizer.
Pensei em gritar pelo vidro aberto.
E isso seria muito infantil da minha parte.
Contudo, como o bom filho da p**a que sou, apenas arqueei uma sobrancelha direcionada a ele, com o maior sorriso canalha que abri nas últimas três semanas, coloquei meus óculos escuros e dei partida fazendo o motor roncar alto.
Muito infantil também, eu sei. Mas só pela forma como agiu pude perceber o tipo de i****a ele era.
Na semana seguinte, descobrir que o garoto estava com ciúmes de mim foi a piada do século.
- Sabe quem é o namorado da Gracie? - Perguntei assim que deixamos as garotas na área da piscina e entramos no escritório do primeiro andar da casa de Christopher.
- Por que quer saber? - Franziu a testa ao responder com uma pergunta.
- Curiosidade. - Agora ele arqueava uma sobrancelha cruzando os braços. Claro que não aceitaria meias verdades. - Tá. É que... ouvi Linda dizendo que o garoto está com ciúmes de mim.
- Cameron Davis. - Respondeu direto.
- Filho do banqueiro Davis? - Me surpreendi.
- O próprio. Mas por que estaria com ciúmes de você? - Chris me encarou com o semblance fechado.
- Não sei, dei carona a Gracie até o campus semana passada, ele tava na porta esperando e pelo que soube, é super possessivo.
- Pois ela deveria ficar com o pé atrás, na maioria das vezes, quando o cara age assim é pra encobrir as merdas que faz, passando uma ideia errada de que quem ama cuida. Meu ovo.
Fiquei pensativo sobre o que Chris disse.
Seria possível ele trair uma garota doce como Gracie?
Não faço ideia.
Merda.
Por que estou pensando nisso?
Não é da minha conta.
- O que quer que esteja pensando... é melhor deixar Gracie de fora. - Chris me repreendeu de braços cruzados.
- Não estou pensando nada. - Dei de ombros. - Ela é minha secretária e ainda que não fosse, ela namora. - Acrescentei quando continuou me encarando.
- Namoros terminam, Josh. - Arqueei uma sobrancelha pra ele.
- Não viaja. - Revirei os olhos. - Sabe que não me envolvo com funcionárias. E outra, ela não faz o meu tipo.
Definitivamente ela não faz o meu tipo.