Minha Ruína

Capítulo 4

Gracie

Duas semanas.

Duas semanas que minha melhor amiga está em coma.

Minha rotina passou a incluir uma dose dupla de super preocupação, além dos exames de semestre na universidade.

Não consigo me concentrar.

Não consigo absorver as matérias.

Não consigo relaxar.

Não consigo sorrir.

Nem mesmo para o loiro bonito e perfumado do banho recente pós treino, parado em frente a porta do meu dormitório.

- Esteve chorando de novo? - Perguntou beijando minha bochecha ao entrar.

- Não consigo não me preocupar. - Respondi deprimida.

- Vem cá. - Cam me puxou para seu colo no sofá. - Sua amiga está no hospital, não há nada que possa fazer, gatinha. - Abraçou minha cintura.

- Eu sei, mas seu estado ainda é muito grave. - Falei olhando fixamente para um ponto em sua camisa branca, meus olhos marejando em segundos.

- Que tal esquecer um pouco esse assunto e se concentrar no seu namorado que está carente há dias? - Pediu beijando novamente minha bochecha.

- Desculpe a falta de atenção, fiquei atolada de matéria pra estudar e na empresa tá uma loucura com a situação de Linda... - Comecei explicar.

- Eu disse... - Cam me calou com um selinho. - esquecer o assunto. - Me beijou entreabrindo a boca, pedindo passagem.

Retribui sentindo o gosto de hortelã em sua língua.

Suas mãos vieram para minha b***a me puxando para mais perto. Então as senti frias no minuto que as passou por baixo da minha blusa, lentamente deslizando-as por minhas costas indo até o fecho do meu sutiã, enquanto o beijo se aprofundava cada vez mais.

- Cam... - Segurei suas mãos.

- Vamos, estou com saudades. - Falou beijando meu pescoço até que segurei em seu rosto para que me encarasse.

- Sinto muito mas não estou no clima. - Disse me desculpando.

- Faz duas semanas que você não está no clima, Gracie. - Seu tom de voz saiu chateado ao me tirar do seu colo.

- Eu sei... me desculpa, mas já te falei... - Engoli o choro tentando fazê-lo ver a situação em que me encontrava.

- Já, já. Já falou não sei quantas vezes, e é só sobre sua amiga e esse trabalho que tem falado nos últimos dias. - Levantou visivelmente aborrecido. - Melhor eu ir.

- Cam, por favor, me entenda. - Pedi vendo seu semblante chateado.

- Entendo, por isso to indo pra casa. - Foi tudo que disse antes de bater à porta.

Se estava com dificuldade pra dormir antes, depois do nosso pequeno desentendimento foi ainda pior.

Não precisava de uma briga com Cameron nesse momento, tudo que queria era que me abraçasse apertado para afugentar o meu medo, me fizesse carinho no cabelo e dissesse que tudo ia ficar bem.

Acordei na manhã seguinte com mais olheiras que no dia anterior.

Mandei uma mensagem me desculpando mais uma vez, porém, sabia que só veria mais tarde, já que não tinha o hábito de acordar cedo a não ser que fosse para treinar.

Trabalhei a parte da manhã morrendo de sono, m*l dormira nas últimas noites.

Então recebi a mensagem de Gianne, a italiana prima de Christopher de quem havia me aproximado por causa de Linda.

Gi: Bom dia flor do dia! Nossa bela adormecida despertou!!!??‍??‍♀️

Imediatamente enviei uma mensagem para meu chefe informando e pedindo autorização para ir ao hospital. Graças a Deus não precisei pedir duas vezes.

Depois que Linda acordou, respirei aliviada.

Tudo foi se encaminhando, voltando ao normal.

Pude me manter mais tranquila para fazer meus trabalhos e exames, e ainda que não tivesse tirado notas muito satisfatórias, nesse momento, eu só precisava não perder média. Podia me contentar com um ou outro B ou C. Tinha certeza que em pouco tempo recuperaria minhas boas notas.

Cam e eu eventualmente fizemos as pazes, e o compensei por minha falta nas últimas semanas me encontrando com ele todos os dias. O que era além do nosso normal cotidiano com seus treinos e meus estudos. Sem contar que, sendo bolsista, não podia me dar ao luxo de não me esforçar mais que os outros, era o motivo de estar sempre extremamente focada.

Na empresa pude deixar tudo o mais organizado possível e cumprir minhas tarefas solicitadas por Joshua.

Quanto mais eu trabalhava na Hale Company, mais gostava de trabalhar. Meus horários serem flexíveis por causa dos estudos também era um ponto chave.

Meu novo emprego me dava oportunidade de estar em contato com tudo relacionado ao meu curso, e ainda tinha o ambiente, que desde que comecei sempre fora tranquilo, com pessoas altamente qualificadas e sempre dispostas a me ajudar.

Claramente alguns dos fatores que me faziam amar meu dia a dia ali.

Quando Linda saiu do hospital, fizemos um almoço para receber minha amiga em sua casa, e vê-la se recuperando bem, acalmou meu coração há dias apertado.

- Volto pra te visitar assim que puder. - Abracei-a com cuidado por causa do seu braço imobilizado na tipóia.

Pelo menos os hematomas que cobriam seu rosto tinham diminuído um pouco.

- Obrigada amiga, vou esperar por sua visita. - Linda sorriu, contente por estar novamente em casa, seus olhos no marido conversando com os pais do outro lado da sala.

- Fico feliz que tenham se acertado. - Afirmei sorrindo ao ver sua expressão de mulher apaixonada.

- Eu também. Cameron vem te buscar? - Indagou.

- Não. Ele não pôde vir comigo e nem vai poder passar pra me buscar, teve um compromisso fora de hora. - Expliquei.

- Vou pedir Chris para chamar o motorista... - Linda começou a se afastar quando Oliver e Joshua se aproximaram.

- Precisa de uma carona, srta. Gracie? - Oliver ofereceu. - Estou indo para o trabalho, mas posso levá-la.

- Ah, apenas Gracie. Não precisa me chamar de senhorita. - Sorri para o capitão da polícia. - Obrigada, mas não precisa desviar seu caminho, vou chamar um uber. - Disse já desbloqueando a tela do meu celular.

- Não é necessário. Te deixo no campus, é caminho pra mim. - Foi a vez do meu chefe oferecer.

- Não precisa se incomodar...

- Não será incômodo. Vamos. - Me cortou apontando com a cabeça a saída, não me dando oportunidade de recusar uma segunda vez.

Não haveria discussão pelo visto.

E ainda que estivesse sem jeito de aceitar a carona, nos despedimos de todos e acompanhei meu chefe.

Observei o capitão entrar em seu carro até sentir o olhar de Joshua em mim, segurando a porta aberta do seu para eu entrar.

Nunca me senti mais desconfortável.

Fora o dia em que dormi em sua casa, mas naquele dia, Linda pelo menos estava junto conosco.

Não conversamos durante o trajeto, não tinha assunto que não fosse de trabalho, e esse, com certeza não era um tópico que gostaria de conversar em pleno domingo, muito menos com meu chefe que estava visivelmente calado.

Será que está se sentindo tão incomodado quanto eu?

Acho que não, se fosse o caso, nem teria oferecido carona em primeiro lugar.

Guiei Joshua até o prédio do meu dormitório no campus sob os olhares curiosos dos estudantes que passavam encarando o carro esportivo caríssimo do meu chefe. Muito mais caro do que o do próprio Cam. Tinha certeza. Sempre fui versada em estudos e pesquisas, não importa de que tipo, às vezes me pego lendo até bula de remédio.

E por pensar em Cameron, fui pega de surpresa ao vê-lo encostado em seu carro de braços cruzados me esperando.

Ele não tinha dito que estaria ocupado?

Se estava atoa, por que não foi me buscar então?

Quando enfim me viu chegando, no banco da frente, ao lado do homem bonito ao volante, sua carranca me dizia para me preparar para mais uma de nossas discussões.

- Namorado? - Joshua perguntou ao parar desligando o carro, encarando Cam do outro lado da rua.

- Como sabe? - Respondi com uma pergunta.

- Pelo olhar assassino que está me dando. - Meu chefe sorriu de lado, o que me fez devolver balançando a cabeça.

- Obrigada pela carona, senhor Price. - Agradeci sem esperar por resposta.

Sai andando a passos curtos sem um pingo de disposição para brigar.

Não ousei olhar para trás, ciente do olhar que me acompanhava de dentro do carro do qual tinha acabado de sair.

Fixei meu olhar no de Cameron, enquanto o mesmo tinha o seu preso ao homem que havia ficado do outro lado da rua.

Sua presença ainda está queimando às minhas costas.

Por que ele não está indo embora?