Capítulo 1

1093 Words
Joshua Price Quem me vê sempre sorridente e de bem com a vida, nunca poderia imaginar que já estive no fundo do poço. Bem... Pode ser que eu esteja voltando para lá. Beberia todo o uísque da minha casa, da cidade... da p***a do país, e ainda assim, não conseguiria esquecer a mulher que não sai da minha cabeça desde o dia em que a conheci. Minha mente, inutilmente, repassa cada minuto em que estive e que estou na sua presença. Me lembro da primeira vez que se queimou com café na porta da Hale Company e encarei seus olhos verdes. Lembro da primeira vez que meu apelido deixou sua boca ou que sorriu para mim, bem como, do dia em que a vi naquele maldito vestido de noiva desejando ser eu no lugar do meu melhor amigo. Então preciso respirar fundo e lembrar. Preciso sempre me lembrar que não posso tê-la. Não depois de começar a entender que se apaixonou pelo marido de mentira, e que esta é a razão para estar dormindo nesse exato momento no quarto de hóspedes do primeiro andar do meu apartamento, depois de chorar no meu ombro e em seguida nos braços da melhor amiga. Sendo um bom observador, poderia apostar minha fortuna que Christopher Hale, meu melhor amigo, está se apaixonando aos poucos pela esposa. Ainda que tenha ouvido da sua própria boca, no dia que estabelecemos os termos do contrato, que não iria se apaixonar. Doeu descobrir como ela se sente, como ele se sente. Doeu mais ainda vê-la chorar ao pegar o marido em sua sala com outra, que por sua descrição só poderia ser Zoe, algumas horas atrás. É por isso que Gracie, sua melhor amiga, está agora na minha casa. Para conversar e consolar. A garota dois anos mais nova que Linda, e que deveria começar a trabalhar para mim como secretária esta manhã, chegou ao meu apartamento com um semblante preocupado. Pensei que se juntaria ao choro, mas apenas abraçou a amiga enquanto alisava seus cabelos e falava baixinho em seu ouvido. Fiquei na porta acompanhando, observando a interação das duas. Não tinha tanto conhecimento sobre a relação delas, Chris apenas me pediu a vaga que há muito já queria abrir, baseado no fato de ter uma funcionária que mais me deixava na mão do que tudo. De longe, pude notar o conforto que estar na presença da amiga trouxe à Linda, e talvez, ter gritado alto demais com Chris ao telefone quando sai para o corredor, assim que o i****a me ligou, possa ter sido a causa de sua nova agitação. Mas p***a, ver Linda naquele estado me fazia querer dirigir de volta até a empresa e socar sua cara. Fiquei puto. Traição é um assunto extremamente delicado para mim. Virei meu terceiro copo do líquido âmbar, sem saber quanto tempo havia se passado, abaixando a cabeça lentamente ao sentir um par de olhos verdes sobre mim. Verdes. Não como os de Linda. Dois ou três tons mais claros. É como se o universo risse da minha cara enviando pessoas que, por qualquer mínimo detalhe, me fariam pensar nela. Nunca tinha visto tantas pessoas com olhos verdes. Bem, talvez fosse eu quem tivesse passado a observar e enxergar mais características físicas ao meu redor. Fui analisado na mesma medida que analisei. Seus cabelos castanhos beirando ao preto de tão escuros é um contraste e tanto com sua pele desprovida de melanina. Tinha certeza que se chegasse um pouco mais perto, poderia visualizar os contornos de suas veias em seu corpo. Não podia dizer sobre sua personalidade, não a conhecia. E os olhos verdes da garota do outro lado da sala, à minha frente? Bem, não posso traduzir, não dá para imaginar o que pensa ou como se sente, e olha que sou muito bom em ler as pessoas. - Desculpe. E-eu... - Gaguejou nervosa. Ela aparentava estar nitidamente nervosa em minha presença. Às vezes esqueço de relaxar essa minha postura intimidante, de tirar a máscara usada em alguns momentos, desenvolvida por causa do meu trabalho. Sempre fui risonho e brincalhão, porém no ambiente corporativo, se faz necessário manter uma postura totalmente diferente. É isso, ou ser comido vivo no ninho de cobras do meio empresarial. Apontei para o sofá. - Como ela está? - Deixei o copo de lado colocando as mãos nos bolsos da calça encarando-a. - Dormiu agora a pouco. - Gracie sentou ereta, tensa, com as mãos no colo segurando o celular, o olhar fixo na pulseira em seu braço, como se estivesse desconfortável. - Desculpe. - Pediu. - Por faltar no meu primeiro dia. - Você não faltou. Está aqui porque te liguei. - Tentei tranquilizá-la, mas minha voz soou mais rude do que gostaria, resultado da minha raiva, fazendo-a ficar mais receosa do que já estava. - Vou compensar o dia de hoje. - Informou. Provavelmente pensando que eu me importaria que perdesse um dia de trabalho, bem, eu mesmo tinha deixado tudo de lado apenas para estar ali, com ela. - Não precisa. - Fui até a garrafa para encher mais um copo de whisky. - Agradeço por ter vindo cuidar de Linda. Pode ficar com ela essa noite? - Pedi enquanto derramava o líquido devagar. - Não tem que me agradecer por cuidar da minha amiga. - Falou calma, porém, com o cenho franzido. Foi nesse momento que olhei em seus olhos e vi, a pequena chama queimando dentro dela, escondido bem embaixo das camadas espessas da quietude e calmaria que transmitia em uma primeira impressão. Quase sorri. Quase. - Posso ficar, - Afirmou depois de respirar fundo. - preciso apenas avisar meu namorado. - Completou desbloqueando o aparelho segundos depois. Isso foi um esclarecimento? Ou um recado para não dar em cima dela? Não precisa se preocupar, baby. Em minha mente e meu coração só existe uma mulher. Infelizmente. Observei mais uma vez seu perfil enquanto digitava no celular. As roupas juvenis, a boca levemente rosada, os acessórios enfeitando seu pescoço, as unhas pintadas com um esmalte claro. Tudo nela gritava virgem inocente. Porém essa ideia se perdeu em minha mente, já que sabia que namorava, o que me fazia duvidar desse meu primeiro pensamento. A notificação de resposta chegou em menos de um minuto. Gracie ficou tensa encarando o aparelho em suas mãos, como se o conteúdo da mensagem não tivesse sido o que esperava. Prestei atenção nela por mais alguns instantes, antes de pedir licença e ir remoer minhas mágoas no meu quarto.
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