Perdi meu chefe!

860 Words
Num salto alto preto, uma saia lápis até a metade da perna cor grafite e uma blusa social de manga longa com um caimento impecável na cor vermelha, chegou Verônica na empresa Garcia. A empresa Garcia trata de financiamentos de todos os tipos e Verônica, há mais de 5 anos, é a secretária do poderoso chefe desta empresa. O Dr. Garcia, ou como gosta de ser chamado: Seu Garcia. Antes de pegar o elevador, ela passou na cafeteria do prédio e pegou um café para o chefe, como de costume. Ela sempre anda de bom humor, pois o seu trabalho é considerado o melhor de todos. Seu chefe é um senhor muito agradável, que lhe paga 5 salários por mês e ainda lhe dá passes para tudo o que ela precisa. Nunca a tratou m*l e ele a chama de "minha joia rara". Assim como ele, a esposa de seu chefe também é muito gentil com Verônica e ela sempre lhe dá joias e lhe inclui em eventos familiares, sem trabalho extra. "O que mais eu poderia querer? Esse emprego é maravilhoso!" — pensou ela, assim que chegou ao andar onde trabalha e viu aquele clima animado. Na verdade, neste dia as coisas estavam bastante agitadas. Todos andando de um lado para o outro e um deles quase se bateu com Verônica nessa travessia. — Cuidado, moço. — ela aconselhou gentilmente e ele pediu perdão e prosseguiu seu caminho. A porta da sala do chefe estava fechada e ela estranhou a primeiro momento. Geralmente, a porta fica aberta, pois seu Garcia gosta de ficar vendo os funcionários trabalhando. Não que ele seja mão de vaca ou um cretino ditador, mas ele se sente orgulhoso de tudo o que construiu. Ela então entrou e Seu Garcia não estava sentado na sua poltrona, como de costume. Havia outro homem. Ele era alto, tinha costas largas, um terno aparentemente caro, cabelos bem penteados e pretos com o brilho de uma jabuticaba. Ele estava de costas para a porta de entrada e de frente para a grande janela de vidro que percorre grande parte daquela sala. "Que diabos está acontecendo aqui?" — pensou ela, encarando aquele homem a qual ela não se recordava. "Cadê o Seu Garcia?" — Ah! Minha joia rara chegou! — Seu Garcia passou pela porta, usando short jeans, uma camisa florida, que estava apertada na barriga e uma chinela de borracha. "O velho endoidou" — pensou Verônica, de olhos arregalados para ele. — Chegou? — o homem da janela se virou para ela. Ele estava com as mãos nos bolsos da calça social e ergueu uma das sobrancelhas ao olhar para Verônica. Ele reconhecia que ela era mesmo tudo o que o velho havia falado, mas mesmo assim, ele duvida de sua capacidade de ser bonita e ao mesmo tempo tão eficiente quanto Seu Garcia diz. — Sim. — Verônica respondeu, encarando o rosto dele e logo pensou: "Parece que saiu de uma revista de finanças..." — Essa é Verônica. — Seu Garcia segurou o braço dela e gentilmente a levou até o rapaz. — Verônica, este será seu novo chefe, Ricardo. "CHEFE?!" — exclamou ela internamente, mas seus olhos passavam o seu espanto. — Dr. Ricardo. — ele corrigiu. "DR. RICARDO?!" — ela gritou novamente e seus olhos se arregalaram mais um pouco. — O que está acontecendo, Seu Garcia? — questionou ela, totalmente confusa. Seu Garcia se afastou dela e saiu pela sala todo animado. — Estou me aposentando. — Aposentando? Mas faltam 537 dias para a sua aposentadoria! Sim, ela contava tristemente a chegada desse infeliz dia. — Eu resolvi adiantar. Minha esposa comprou um pacote de 365 dias pelo mundo. São muitas aventuras e então eu vou deixar meu sobrinho, Ricardo, no meu lugar. Ele é qualificado e sei que vocês vão se dar muito bem. Verônica olhou de lado para o seu novo chefe. Ele estava encarando seu reflexo em outra janela de vidro que havia na parede do lado. "Estou fodida" — pensou ela. — Não está feliz? — Ricardo perguntou a ela, com um sorriso confiante. — Você irá trabalhar com o jovem mais promissor do Brasil. Fui capa da revista de finanças do mês passado. — ele passou a mão ao lado da cabeça, alisando seus cabelos cheios de laquê. — Aham. — ela balançou a cabeça se sentindo desgraçada. — Que legal… "p**a merda. Eu era feliz demais. Agora estou fodida nas mãos desse narcisista". — Deu minha hora. — Seu Garcia olhou no relógio e se dirigiu a Verônica. — Minha melhor secretária e a melhor e mais competente de todo esse prédio. Foi uma honra trabalhar ao seu lado. — ele segurou a mão dela e beijou. — Você tem um futuro brilhante e lembre-se: Toda mudança traz um novo aprendizado. Ela queria chorar, mas engoliu. — O senhor foi e é o melhor chefe do mundo. Nunca haverá um chefe melhor que o senhor. — ela o abraçou e Ricardo riu debochado. — Ricardo será. Eu tenho certeza que sim. — Eu também tenho essa certeza. — Ricardo falou, confiante. "Será que ele é assim o tempo todo?"
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