01 - Vivendo.

2595 Words
01 - Vivendo. Hermione piscou algumas vezes antes de de fato abrir os olhos castanhos, observando a claridade entrar parcialmente por uma de suas janelas de vidro. As íris vagando pelo espaço como se fizesse o reconhecimento da área. Estava em casa. Notou que acordou cedo aquele dia, como todos os outros dias fazia. Sentou-se na cama ainda sonolenta, e levantou ambos os braços acima da cabeça, espreguiçando-se. Um meow a fez virar-se para a direita e observar a gatinha pequena e branca, esfregando-se na perna de sua cama. Hermione sorriu largamente fazendo sinal para que pérola viesse a seu encontro. Desde que perdera Bichento, Hermione não tinha planos de adotar outro animal, havia jurado que não ia amar outro senão o gatinho ruivo e mágico, mas, o caso com pérola foi amor à primeira miada. A felina era a filha da gata da vizinha da frente, e, desde que era só uma coisinha miúda, pérola invadia a casa da castanha para brincar com seu tapete felpudo. Quando Hermione se deu conta, já tinha comprado coleira, caminha e ração para gatos. — Dia Pérola. - saudou a castanha, alisando os pelos felpudos da felina que havia aterrizado em seu colo, ouvindo um ronronar da gatinha em resposta. Os olhos amarelos de pérola miraram Hermione de uma forma que a mesma já conhecia - Café da manhã? - Hermione jurou ver pérola acenar. Agarrou a gata no colo e saiu do quarto, seguindo para a cozinha. Era sua rotina. E, apesar de ter dias em que ela gostaria de ficar deitada o dia todo apenas vendo televisão, mimando sua gata ou lendo, ela amava o que fazia fora das paredes de sua casa. Seu trabalho era algo que a deixava em demasia orgulhosa de si mesma, e de tudo o que conseguiu depois de ter perdido muito. Enquanto se vestia, depois de alimentar pérola, a água esquentava no bule para que ela preparasse seu chá. Não era muito amante de café, preferia a leveza e os gostos diversos dos chás que sempre tomava logo pela manhã. Pronta em suas vestes chiques e saltos, ela rumou para a cozinha super organizada da casa que residia, passando pela sala e vendo sua felina concentrada olhando pela janela talvez desejosa de algum pássaro, e preparou seu chá tranquilamente. Uma xícara média e duas colheres de açúcar. Bebeu o chá na mesma calma que o fez, para que pudesse saborear todos os ingredientes e o gosto que lhe ficava na boca por algum tempo, e depois, apenas pegou sua bolsa, seu cachecol, seu casaco - já era novembro - deu um beijinho na gata e saiu, porta a fora, contemplando mais uma manhã nublada e fria em Londres. Sua casa ficava perto Ministério, por isso ela se permitia ir caminhando até lá. Adorava ver como a cidade era movimentada, as pessoas passando por ela apressadas, atrasadas. Gostava de ver as crianças indo para as escolas, os velhinhos andando lentamente, as folhas desprendendo-se das árvores e voando com a força do vento.. Sendo levadas para onde quer que fossem, apenas para aterrizar no chão em algum momento. Outono era uma estação bonita, apesar de ser conhecida como "época sem cor". Seus passos eram despreocupados, e em poucos minutos ela chegou em seu destino, atravessando as portas giratórias do seu local de trabalho, que por fora parecia muito com um prédio comercial, já internamente era magia desde os memorandos voando até o elevador super veloz. Ela gostava de trabalhar ali. Aquela correria toda fazia sua vida ser mais movimentada, parecia que sempre vivia na adrenalina de salvar o mundo. E eles salvavam! Cada dia uma parte dele. Hermione não poderia ter se sentido mais feliz por isso. — Hey, Hermione! - ouviu seu nome sendo gritado pela inconfundível voz de Harry. Virou-se lentamente para observar seu melhor amigo de todo o mundo indo a seu encontro, com aquele seu sorriso reconfortante nos lábios. - — Harry! - ela saudou animada, abraçando-o rapidamente e sorrindo em seguida. O tempo poderia passar, mas ela sempre se sentia uma garota de dezesseis quando estava com o Potter. - Algo importante hoje? - ela perguntou enquanto ambos seguiam para o elevador. — Só aquela investigação sobre o uso indevido de artefatos trouxas.. - ele contou ajeitando o óculos sobre o nariz - Esse sujeito está deixando chaves de portais largadas em locais trouxas, possibilitando os sem magias de entrarem em contado com nosso mundo.. Isso tem deixado boa parte do departamento exasperado.. - ele comunicou suspirando. - — Você já investigou o mundo Muggle? - ela perguntou olhando para o amigo - — Porque acha que deveria fazer isso? - o moreno perguntou, intrigado. - — Bem, já que as chaves estão em mundo trouxa seria mais eficaz interrogá-los. Obviamente você não vai chegar e perguntar se eles viram algo de estranho. Mas como eles não tem magia vocês podem usar Legilimênce nos trouxas por perto de onde as chaves foram deixadas. - ela disse por fim, dando de ombros - Enfim Harry, aposto que você vai dar um jeito nisso! - deu um beijo na bochecha do amigo e saiu, quando o elevador parou. - Harry que ainda estava pensando no que sua amiga disse, de repente, como num piscar de olhos sorriu e antes que ela sumisse de sua vista, gritou: — Você é realmente brilhante, Hermione! Ela sorriu largo com a constatação do amigo e seguiu para sua sala, dando um "olá" animado para Brienne, sua secretária. — Srta. Granger, o Ministro quer vê-la em sua sala em trinta minutos. - Brienne avisou, entregando à castanha uma pilha de papéis. - — Você sabe sobre o que pode ser? - Hermione perguntou interessada, seus olhos grandes e curiosos cintilando para a moça também morena - — Quem sabe algo sobre aquela sua causa da libertação dos Elfos domésticos.. - a moça instigou, largando uma piscadela cúmplice para sua chefe. - — Oh Morgana! - Hermione exclamou sorrindo largamente, sentindo o peito inflar de uma boa energia, quase saltitando de tanta alegria. Desde seu quarto ano que ela tentava fazer algo por aquelas criaturas, depois de muitos anos de lutas árduas e argumentos pesados, finalmente parecia que sua causa estava perto de se fazer válida, isso a inundava de orgulho, algo mais para dar-lhe felicidade. Rumou para sua sala, com seus vários papéis e os depositou em sua mesa, juntamente da bolsa. Tirou o cachecol e o casaco, os pendurando no cabide próximo à sua mesa, exibindo um vestido decotado na cor ameixa, que tinha um caimento perfeito em seu corpo curvilíneo e pequeno. Havia se tornado uma mulher atraente, isso ninguém podia dizer que não. Sentou-se. Nos poucos minutos que tinha antes de ir ver Kingsley, ela aproveitou para checar os relatórios sobre casos que haviam sido resolvidos na semana anterior. Tendo o mínimo cuidado para avaliar se não tinha deixado faltar nada. Olhou para o lado e se deparou com o habitual lírio do campo que ficava ali, num jarro pequeno de cristal trabalhado. Desde que começou a trabalhar no Ministério, recebia um lírio por dia. junto com ele apenas um cartão com uma letra "B". No início, ela ficou louca atrás de saber quem mandou. Ainda na época da sua desilusão com Ron, ela pensou que havia sido o ruivo quem mandara como um pedido de desculpas, mas depois de confrontá-lo sobre a atitude descobriu que não era ele. Tinha muitos pretendentes devido ao seu desempenho na guerra naquela época, então foi impossível descobrir de quem era. E, ela julgava que elas parariam de chegar depois de algum tempo. Agora, quatro anos e três meses depois, olhar para o lado e ver a flor era algo reconfortante. Quase como um firmamento, algo estável depois de tanta inconstância. E, por mais que sua curiosidade gritasse para saber de quem se tratava, ela apenas aceitava vê-la ali. Passado o tempo de espera, ela pegou suas pastas e saiu para se encontrar com o Ministro. Desceu alguns andares até o departamento dele e quando chegou ao mesmo foi recebida por um enorme sorriso e um abraço caloroso. Tinha uma boa convivência com ele. Não apenas formalidades de trabalho, mas sim uma amizade. Afinal, ambos lutaram na guerra, e saíram vivos para contar a história. Além dele, trabalhavam ali Harry, Ron e Arthur, este último estando de férias finalmente. — Está cada vez mais bonita, Hermione! - ele elogiou, pegando o braço dela o pondo-o no seu, fazendo-a o acompanhar até sua sala.. - Se eu não fosse tão velho lhe convidaria para um jantar. — Oh, como diz uma música brasileira e trouxa: panela velha é que faz comida boa. - um sorriso divertido foi lançado para o homem - — Pare de me dar esperanças, senão outras flores começarão a fazer companhia para o seu lírio solitário. - ele respondeu divertido - — Ainda acho que é você quem me manda.. - ela murmurou estreitando os olhos para ele como se finalmente fosse conseguir a verdade que por tempos procurou - — Isso você nunca terá certeza! - uma piscadela e soltou-a para que ela passasse pela porta de sua sala - Balançando a cabeça em negação e sorrindo, ela adentrou a sala do chefe e sentou-se. — Então, o que quer comigo, seu conquistador barato? - quis saber cruzando as pernas e juntando as mãos em cima da mesa - — Estamos numa operação muito delicada sobre tráfico de tronquilhos.. - ele começou sentando-se à frente dela e a olhando cuidadosamente - — Pensei que fôssemos falar do meu pedido sobre a lei de libertação dos Elfos.. - ela murmurou, decepcionada demais para esconder suas expressões. - — Olhe, eu sei o quão importante é essa conquista para você, Hermione.. Mas devo dizer que por hora a mais séria é essa denúncia que recebemos.. - comunicou Kingsley cuidadosamente - Ela suspirou resignada. Obviamente qualquer outro caso para eles era mais importante do que libertar os Elfos, ou ao menos pagar salários aos mesmos. Rendida, ela murchou os ombros e levantou os olhos para o Ministro. — Conte-me mais sobre isso.. - ela pediu rendendo-se ao que o homem queria. Não sem soltar um pequeno bufo, deixando claro sua insatisfação naquela conversa. - — Como ia dizendo, eles estão traficando tronquilhos só que para alguns trouxas que têm conhecimento do mundo mágico. Estes estão usando as criaturas para atos ilegais, como assaltos a joalherias, bancos e casas de ricos. - contou - — Mas como essas pessoas sabem da nossa existência? - Hermione quis saber, agora curiosa - Quer dizer, eles não deveriam ser obliviados depois de entrarem em contato conosco? - questionou - — Aí é que está! - o homem disse - Eles deveriam, mas não foram e isso não é bom! Precisamos descobrir isso antes que coisas realmente ruins possam acontecer. - prontificou-se Kingsley - Precisamos de sua ajuda.. — Mas esse não é meu departamento. Isso é caso para os Aurores.. Não está ao meu alcance.. - disse a morena franzindo as sobrancelhas para o n***o - — Pois foi o chefe deles que pediu sua ajuda no caso. - confidenciou Shacklebolt. - "Harry!" Pensou Hermione tendo grande vontade de revirar os olhos âmbar. Não era que não queria ajudar, mas já tinha problemas suficientes no seu departamento. E, essa coisa de ficar indo atrás de vilões ela havia deixado no passado, não sabia se queria retornar até ele. — Ministro, eu realmente gostaria de ajudar, mas eu já tenho casos suficientes por muito tempo, não posso me deslocar para ajudar nessa investigação, sinto muito! - desculpou-se ela - — Sinto muito digo eu Hermione, mas isso não é um pedido.. Ela sentiu como se uma bofetada tivesse sido diferida em sua cara. Era uma ordem! E a pedido de Harry! Ela ia ter uma conversa bem baixinha com seu melhor amigo, oh se ia! — E quem vai ficar responsável pelo meu departamento? - ela perguntou levemente irritada, seu tom de voz elevando um pouco - Não podemos deixá-lo parado! — Já arrumamos um substituto... - Kingsley respondeu simplesmente - Amanhã mesmo você deve se deslocar para o departamento dos Aurores, Harry já providenciou uma sala para você. Ela sentiu a raiva subindo pelo corpo. Ao que parecia tudo já estava esquematizado... Mordeu o próprio lábio em tensão e se levantou frustrada. — Bom, vou para minha sala arrumar minhas coisas então.. - disse desgostosa sem nem esperar resposta do mesmo ou se despedir - Saiu e tinha vontade de chutar tudo o que via pela frente, não era agrassiva, mas naquele momento sentiu seu sangue ferver. Não gostava de se sentir pressionada à fazer algo, ainda depois de pensar que a reunião era sobre sua causa, algo que tinha um significado especial para ela. Bufou revirando os olhos finalmente. "É assim que se começa uma semana ruim." pensou. ..... — E então, como foi a reunião? - Brienne quis saber empolgada quando ela voltou à sua sala - — Nada de Elfos domésticos ainda... - comentou cabisbaixa - Entrou na sua sala mas parou de rompante. Com certeza Brienne havia esquecido de informar-lhe sobre isso. Havia um homem sentado de costas para a porta com uma postura impecável. Ele trajava ternos negros e tinha cabelos loiríssimos. Hermione jamais seria capaz de confundir aquele ser. Sentiu a estrutura do seu corpo balançar de uma forma inexplicável. Ela engoliu em seco, olhando para o teto. "Cristo, que não seja Malfoy para me atazanar!" pediu sabendo que era algo totalmente inútil. Voltou a andar batendo a porta com uma força exagerada para que a mesma fizesse barulho e o ser se virasse. Plano bem sucedido, o homem virou e seus olhares se cruzaram... Sentiu uma pontada no peito e outra na cabeça. No tempo em que sustentou o olhar com o homem, sua visão foi inundada rapidamente por um flash de luz repentino, quase como se algo passasse por eles. Como se algo faltasse neles. — Granger... - a voz rouca, aquele timbre inconfundível. Ainda quase tão cheia de asco quanto antes. Era ele mesmo; Malfoy. Draco Black Malfoy. O que ele poderia querer ali? — O que faz aqui? - ela questionou seca, passando por ele e indo se sentar tentando soar o mais indiferente possível com sua presença e ignorando as reações de seu próprio corpo. Sentou-se e cruzou as pernas, não deixando passar o fato do loiro ter direcionado os olhos para seu movimento. Soltou um pigarro para chamar-lhe a atenção e elevou a sobrancelha para o mesmo quando teve os olhos dele nos seus. - O que você quer aqui na minha sala? - tornou a perguntar secamente - Ela não odiava ele. Mas nunca haviam se dado bem, de modo que a única coisa que trocavam eram insultos e farpas. Não sabia direito como se portar com ele, sua presença sempre foi algo que a incomodou. E ela não sabia nada dele. Sabia apenas que ele era um novo homem, redimido, inocentado, noivo de uma modelo famosa. Apenas o que aparecia nos jornais. Mas isso era pouco demais e irrelevante para que eles conseguissem ser mais gentis um com o outro. E não explicava o fato dele estar ali, acampado em sua sala a mirando daquela forma avaliativa, como se tentasse ver se algo estava em seu lugar. — Eu sou o seu substituto. - ele disse simplesmente segundos depois, como se lesse seus pensamentos. - Ela engasgou com a própria saliva. Não podia ser!
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