Chegando no morro

2100 Words
Mary narrando Entramos no carro e fui apreciando a vista e que cidade maravilhosa. Quando chegamos no pé do morro onde minha tia mora, logo vi uns caras armados e já fiquei com medo, principalmente pela minha vó, que acha que aqui só tem bandido, minha tia não falou nada com a gente, só falou com os rapazes e eles liberaram nossa entrada, o Uber poderia ter subido e nos deixado na porta de casa, perguntei para minha tia o motivo de ele não nos levar pra casa. Mary: Tia, por que o motorista não nos deixou na porta? - estou com um pouco de medo, não imaginei que teria esse tanto de gente armado à luz do dia, na Bahia não vemos isso. Tia Márcia: Minha menina eles não têm autorização para entrar na comunidade e também eles têm medo de acontecer alguma coisa com eles, - pensei enquanto minha tia falava, claro que nao vao colocar suas vidas em risco com esse tanto de armas que tem aqui - nós tivemos sorte dele ter nos deixado bem na entrada, pois sempre nos deixam uma quadra antes, eles têm muito medo. Mary: Mas já aconteceu alguma coisa para eles terem esse medo? - agora não consigo esconder o medo. Tia Márcia: Não sei ao certo, porém tudo que passa na televisão e o dono do morro também sempre acha que pessoas de fora só querem descobrir alguma coisa e passar para os inimigos dele e também sempre tem os infiltrados da polícia e todos são considerados x9, - meu Deus, realmente tem muita coisa do que vemos na televisão, acho que o dono daqui só preza pela sua segurança - e quando o dono do morro encontra um, esse logo tem um final triste, então aqui é somente não vê as coisas e sai comentando que está tudo bem. - tenho que aprender a ver e fingir que não vi nada, será que consigo? Mary: Entendi, porém é complicado para os moradores, no nosso caso, o motorista só nos deixou aqui pela vozinha e nossas bolsas. Deveriam fazer alguma coisa para melhorar isso, e o dono do morro precisa aprender que nem todos só fazem o m*l. - cada vez mais acho que vou me meter em briga nesse lugar, espero sair viva daqui. Minha tia fica calada, acho que ela não concorda com o que falei, mas é apenas a minha opinião e não vou mudar somente para agradar ele ou ela - minha tia, no caso - Pelo que vi, esse dono do morro não é uma boa pessoa, pois todos tem medo dele e não respeito, ou pode ser respeito também, sei lá, não o conheço e já estou até julgando o cara, tenho que prestar bastante atenção para não falar demais. Fico de boca aberta quando escuto a palavra normal, já não sei o que pensar desse cara, uma hora é louco, na outra faz tudo pelos moradores terem uma oportunidade. a casa dela é muito linda e claro que fora daqui valeria uma pequena fortuna. minha tia trabalha muito para ter suas coisas e estou feliz por ela ter sua casinha, é muito boa essa casa e parece que está bem localizada também. Minha tia tem toda razão, quantas pessoas, mesmo pagando aluguel que vivem aqui, pois até o aluguel se torna mais barato, e muitos acordam cedo e vão trabalhar fora do morro, meu Deus quanta injustiça a maioria dos moradores da comunidade sofre, fiquei até triste por eles. . . Vó Má narrando Assim que descemos do carro, já fiquei com muito medo, mas não disse nada, sei que tanto minha filha como minha neta observaram a minha reação, engoli seco quando vi aqueles homens todos armados e minha filha cumprimentou eles como se fossem pessoas do bem. Não acredito nessa que eles não podem trabalhar de forma honesta, não falei nada com eles e logo puxei assunto com minha filha. Maria Nazaré: Filha está muito longe da sua casa? Essas bolsas estão bem pesadas. - falo assim que saímos da entrada do morro. Márcia: minha mãezinha está um pouco longe, pois moro no meio do morro, mas dá pra ir andando ou podemos ir de moto, o que a senhora acha? - essa minha filha é louca, acha mesmo que vou andar de moto com esses bandidos. Maria Nazaré: minha filha Deus me livre de andar de moto com esses caras que não sei nem quem são, vamos andando mesmo. - falo logo o que estou pensando. Minha filha só pode está doida de achar que vou subi numa moto com esses caras, vai saber o que eles podem fazer comigo, pra onde podem me levar e podem até mesmo me matar, Deus me livre, só ela mesmo pra falar uma asneira desse tamanho. Márcia: Então vamos, pegue a bolsa mais leve que eu e Mary levamos as outras. - agora me trata como uma inválida. Márcia acha que estou velha demais, só pode, não poder levar nem minha bolsa, onde já se viu isso. Maria Nazaré: Minha filha sua mãe ainda está com saúde e força para carregar uma bolsa, não ache que não entendi o que você quis dizer com essa de leve a bolsa mais leve, te digo nadinha. - acho que esse lugar me deixou com a língua mais solta que o normal. Márcia: Não foi isso que quis falar, mas vamos logo que enquanto mais rápido andarmos, mais rápido vamos chegar. - até mudou o assunto da conversa. Depois de um tempo andando chegamos em uma casa bonita e parece que é a casa da minha filha, até que a casa é grande também. Minha filha sempre lutou para ter suas coisas e sempre dá o melhor para si e para nós também. Ela falou que essa casa é dela mesmo, e não pagar aluguel, isso pra mim já é um alívio, pois não tem preocupação de todo mês ter que pagar e no final de tudo não ter um teto que possa chamar de seu. Estou com medo disso tudo, espero que tudo fique bem logo para voltar pra minha casinha, a casa da minha filha é bem grande e bonita para o local, uma casa com três quartos, sendo o maior com banheiro dentro, tem um banheiro e a sala junto com a cozinha, dividido por uma meia parede, que eles chamam de cozinha americana. Gostei muito de sua casa e é bem aconchegante. . . Márcia narrando Assim que descemos do carro, o menino que fica no portão, já fica me olhando, acho que ele não tá entendendo nada, pois nunca trouxe ninguém aqui, e agora chego com minha mãe e minha sobrinha, aqui todos que me conhece, acham que tenho uma filha, pois sempre falo de Mary como sendo minha filha e não sobrinha, e é assim mesmo que a tenho, pois meu irmão não está mais aqui, sinto muito falta dele e de Cláudia, sou a única que a chamava assim. Logo que me aproximo da entrada Fael pergunta: Fael: Márcia quem são? - que pergunta é essa? Ele sabe que estava esperando minha família. Márcia: Oi Fael, minha mãe e minha filha. Elas vão ficar aqui comigo, JJ já está sabendo, já passei a ficha das duas, elas não vão dar problema, só um aviso, tira o olho da minha menina, ela não é como essas daqui do morro não. - será que ele não tem respeito por ninguém não? Fael: Blz, JJ já avisou que estava liberado a entrada, só preciso confirmar, já temos as fotos para saber, não se preocupa, só chego se ela quiser, pois tu sabe que a lei aqui é para todos, não aceitamos abusos, - ele já vem com esse papo, porém sei que é verdade, uma coisa que aqui não é aceita é abuso, isso vale para qualquer pessoa - logo não podemos fazer isso também e nunca precisei obrigar uma mulher a nada, elas fazem porque querem o "papai aqui". Sou cachorro sem coleira e tem Fael para todas. - Risos. Márcia: Só não fiquem atrás dela e por mim tudo bem. E é bom deixar a vida de cachorro sem coleira e arrumar uma mina firmeza. - Gosto do Fael, ele é um menino bom, só que envolvido nessa vida aí. Fael é o responsável no momento pela liberação dos novos moradores, ele conhece muito das pessoas só em observar, mesmo que ele não tenha dito muita coisa sobre minha mãe e minha sobrinha, sei que eles já sabem que ela não é minha filha, mas não vou focar nisso não, ele todo tempo ficou só analisando minha mãe e minha sobrinha de longe e já confirmou tudo o que precisava, tenho certeza e sei que logo JJ já sabe de tudo. Mesmo conversando com Fael, fico observando minha mãe e minha sobrinha. Mamãe logo que vê que já estou me afastando de Fael, já quer saber se estamos perto de casa e claro vou provocar um pouco minha mãe. Vejo os meninos que são os mototaxis daqui e falo que dá pra ir de moto, a resposta dela é a melhor, que não vai e tem medo de morrer. Minha mãe não perde tempo, já falando que os caras podem fazer m*l para ela, não sabendo ela, que aqui estamos mais protegidas que no asfalto, pois dentro da favela tem leis e as mesma são cumprida por todos, principalmente pelos que são envolvidos. ela não gosta do comentário e vem com as pérolas dela. Minha filha sua mãe ainda está com saúde e força para carregar uma bolsa, não ache que não entendi o que você quis dizer com essa de leve a bolsa mais leve, te digo nadinha. ela não fala mais nada e vamos pra minha casa. Minha sobrinha por outro lado parece estar com medo, porém tem alguma coisa que chama sua atenção, mas a preocupação maior é o motivo do motorista não entrar no morro. agora vou ter que começar a explicar como as coisas funcionam aqui. ela faz uma cara de medo, acho que nao estou conseguindo deixá-la mais tranquila. Jesus, agora vamos para mais explicações. Não sei ao certo,mas como passa muita coisa sobre os morros na televisão e o dono do morro também sempre acha que pessoas de fora só querem descobrir alguma coisa e passar informações para os inimigos dele e também sempre tem os infiltrados da polícia e todos são considerados x9, e quando o dono do morro encontra um, esse logo tem um final triste, então aqui é somente não vê as coisas e sai comentando que está tudo bem. não sei se melhorou, porém ela parece ter entendido melhor o motivo dos motorista não subirem o morro. Ela diz que entendeu, porém não aceita fácil não, minha menina sempre querendo confusão por causa de outras pessoas, aqui todos já estão acostumados com isso. Apesar de tudo ela tem razão, mas como já expliquei pra ela, o dono do morro não confia nas pessoas, ele só confia nos dele, como ele fala nos de verdade. Tia Márcia: Realmente é difícil, porém logo você se acostuma e fica tudo normal, aqui o bom é que muitas coisas que passa na televisão é mentira, pois o pessoal do tráfico correm pelo certo na comunidade, temos escolas e hospital mantido pelo traficante, pois os governantes não enxergam nossos direitos e para eles todos que moram aqui são bandidos e não merecemos nada. - já fico esperando os argumentos dela, pois ela não concorda com isso. Mary: Mas tia isso também tá errado, pois tem gente que só mora aqui por não ter outro lugar para morar, a senhora por exemplo, teria como comprar uma casa desse tamanho em outro lugar do Rio? - ela bem sabe que nao, minha casa é ótima e o valor que paguei aqui, se fosse noutro lugar não teria comprado nem a sala e a cozinha. Tia Márcia: Claro que não minha filha, e aqui é meu, comprado como meu suor, não foi pelo tráfico, só que os governantes não entendem isso. - aqui para os governantes só mora bandido e drogado ou prostituta, pois isso é o que mais se passa na televisão. Acho que agora elas vão ficar mais tranquilas já que chegamos na minha casa, e mais uma vez vejo elas surpresas, pois imagino que elas acham que na favela só tem barraco, porém quem é dono e pagou mais barato, tem como melhorar a sua casa, e não pagamos tantos impostos como no asfalto.
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