Nova York - Estados Unidos. Esse é o meu novo lar, é aqui a minha vida agora, depois do casamento. Moro em uma casa grande, confortável, com vários funcionários transitando por aqui e ali. Não é tão diferente da minha antiga casa, pelo menos, na parte que envolve conforto e luxo, mas aqui tudo é muito frio, não tem calor humano, não tem nada aqui que pode ser considerado um lar de verdade.
— Entre! — Digo, após ouvir batidas na porta.
— Você não vai descer para jantar? — A voz fria, que me arrepia até a alma, preenche o quarto.
— Estou sem fome, eu já disse isso para a Jenny — respondi sem olhá-lo.
Ouço um suspiro irritado e passos. Ele pára bem na minha frente e me encara com aquela cara de poucos amigos que ele usa o tempo todo. Eu não posso negar que a presença dele me deixa estranha, ainda mais com esse corpo enorme que praticamente nos obriga a olhá-lo. E esse perfume amadeirado que ele usa, é cheiro de homem que tem uma pegada bruta, segundo a minha amiga Annabeth.
O homem parado na minha frente, que é o temido Jason Bishop, o meu marido, é muito bonito, isso é um fato. Têm exatos dois metros de altura, cabelos pretos e lisos, que às vezes insistem em cair nos olhos quando estão precisando de corte, seus olhos escuros e profundos emanam perigo e crueldade, a boca, apesar de ser usada só para mandar e falar palavrão é muito bonita também.
Uma pena que toda essa beleza não faz dele uma boa pessoa, o que ele tem de bonito, tem de grosso, r**m, frio, c***l, mandão, arrogante… o homem é um poço de defeitos.
— Olha só, garota! Eu não tenho paciência para lidar com birra de criança mimada, se você quer fazer uma cena, eu garanto que não vai terminar bem! — Diz com os dentes cerrados.
Eu o encaro de volta e me levanto, numa tentativa frustrada de equiparar nossa altura.
— Olha aqui, SENHOR! — dou ênfase à última palavra, para irritá-lo — eu não sou uma criança, sou uma mulher e, não estou sendo mimada, estou sem fome e não vou enfiar um grão de comida goela abaixo só porque você quer.
— Não me desafie, Paola! — Diz friamente.
— Isso não é um desafio, é a minha vontade. Quando for um desafio eu vou te dizer que é e, vou fazer questão de ganhá-lo! — digo, exibindo meu melhor sorriso, mas é só para esconder o meu nervosismo, sua presença me intimida. E muito, muito mesmo.
Ele me encara e seu maxilar trincado mostra o quanto ele está furioso. Seus olhos descem pelo meu corpo fazendo uma avaliação minuciosa em cada pedacinho até parar novamente em meu rosto.
— É, você tem razão, você é uma mulher! — Diz, fazendo-me arrepiar novamente, mas não é de frio, já que agora parece que o quarto esquentou de repente…
°°°
A vida é uma caixinha de surpresas, não é mesmo? Em uma dia, eu, Paola Martinelli, sou apenas uma jovem cheia de sonhos fazendo planos para o futuro, com muitos amigos, um namorado perfeito, uma carreira começando, e no outro, eu sou só a esposa de alguém que eu nunca vi na vida, um homem frio, sem emoção e que provavelmente tem qualquer coisa batendo naquele peito musculoso, menos um coração.
"Para sobreviver na selva que é a vida, seja uma metamorfose diária, mude, aprenda, se reinvente todas as vezes que for necessário. Só assim, você sobrevive ao caos e aprecia o final do show."
Esse foi o conselho que a minha avó me deu quando eu estava fazendo as malas para seguir para a minha nova vida, a vida de casada. Ah, se eu tivesse entendido desde o início o que ela queria dizer, teria evitado tanta confusão… Ou talvez não, a vida é uma viagem com muitas rotas diferentes e destinos desconhecidos, mesmo que nós ja tenhamos um plano para seguir, um destino escolhido, um futuro detalhadamente planejado, tudo pode mudar no meio do caminho.
O início
–Quinze anos antes–
— Lembre-se, Marco Martinelli, você tem uma dívida comigo e eu voltarei para te cobrar. — Ele diz limpando a arma que acabou de usar para matar cinco pessoas.
— Eu agradeço por salvar a minha vida, Jason, eu realmente agradeço.
— Eu não fiz isso porque sou bonzinho, eu fiz isso porque você é o anfitrião aqui e eu sei que na hora certa, você vai retribuir esse favor, estou certo?
Não foi bem uma pergunta, mas sim uma afirmação. Jason Bishop é um homem de negócios, ele nunca faz nada de graça, todas as suas ações tem um preço e todos deveriam estar cientes disso.
— Eu espero que quando eu voltar para cobrar esse favor, você não me desaponte, Marco. Eu não gosto de gente que me trai.
— Eu vou cumprir com minha palavra, Jason, não vou voltar atrás no nosso acordo. Quando você precisar eu vou ajudar você, pode contar com isso! — garante.
— Estamos combinados. — Diz com um meio sorriso vitorioso — nos vemos. — Selam o acordo com um aperto de mãos.
–Hoje –
— Você está querendo que eu entregue a minha filha para você?! — Perguntou incrédulo, olhando para o homem que quinze anos atrás salvou sua vida.
— É só um casamento, uma cerimônia e documentos assinados, nada mais do que isso. — Ele diz calmamente.
— Só um casamento!? Estamos falando da minha filha! Da vida dela! A Paola tem só vinte anos, ela está começando a vida agora, como vai se casar com um homem que ela nunca viu e ainda mais um… — pára de falar quando vê a cara de desgosto do homem.
— Vamos! Complete a frase, Marco! — Olha-o com olhos assassinos — ainda mais com um bandido? Um maldito criminoso? Um assassin0? É disso que você ia chamar-me?
O ar na sala fica tenso e gelado no mesmo instante.
— Jason, eu sou o Primeiro-ministro, eu posso facilitar a sua vida aqui, dou-lhe total liberdade em território italiano, não precisa casar com ninguém. — Diz, após se recompor.
— Marco, você me deu a sua palavra. Você tem uma dívida comigo e eu não vou voltar para casa sem cobrá-la. Eu preciso de uma esposa e preciso concluir os meus negócios aqui, a minha decisão é uma só.
— Eu arrumo uma esposa para você, qualquer uma, alta, baixa, magra, gordinha, nova, mais velha… escolha a característica que quer e eu vou trazer-lhe uma do jeito que desejar!
— Eu quero a sua filha e, até o momento, o meu único objetivo é só assinar os papéis, ter uma esposa de aparências, mas se você continuar me irritando, vou cobrar as obrigações da mulher neste casamento. — Diz com os dentes cerrados. Sem outra alternativa, o homem que até o momento se achava inatingível, é obrigado a aceitar o acordo. Jason Bishop não aceita um não como resposta, se ele quer algo, ele pega, simples assim. Todos deveriam saber que aquela ajuda de anos atrás não sairia barata.
E foi aqui, foi neste diálogo que o meu destino foi traçado. Eu poderia dizer que estou triste, que estou desesperada, mas do que isso ia adiantar? Não existe nada que eu, ou qualquer pessoa que me ama possa fazer.