Judy
Hoje eu tive um dia péssimo. Amanheceu chovendo, eu quase cheguei atrasada no trabalho, me molhei toda na volta e o carro quase quebrou. E como se tudo isso não fosse o suficiente, Ramon estava me mandando mensagens, dessa vez perguntando como eu estava e se já vi meu pai. Não o vi ainda, talvez eu irei ainda hoje vê-lo, se não for tão tarde. Ignorei suas mensagens e fui até o banheiro, eu estava precisando disso, foi um dia terrível e eu estava super cansada.
— Boa noite minha flor, trouxe pizza e algumas coisas pra jantar. Sei que está cansada, então… — Ulisses estava com sua mochila nas costas e um monte de besteiras super gostosas. Eu pedi pra ele vir dormir comigo e ele veio, eu não poderia ter um amigo melhor na vida.
— Eu te amo, sabia? — O encarei e ele ficou sem graça, jogando um travesseiro em mim.
— Trouxe um vinho pra gente também, a vida anda bem tensa. Merecemos ser felizes também. Mas, vai me contar qual é a sua com o coroa gato? — Como eu estava pensando, ele já desconfiava. Ulisses não era i****a, era espero até demais.
— Ah, vai começar com isso de novo? Eu já disse, ele é amigo do meu pai e tenho certeza que ele nunca pensou em mim. — Entreguei uma taça a ele que nos serviu.
— Judy, eu não sou i****a meu bem. O cara só falta te comer com os olhos quando te ver, e não sou só eu que acho isso. — É, o pessoal por aqui está bem fofoqueiro e tudo que viam ficavam tentando saber de tudo, umas pestes.
— Tudo bem, ele é um gato, porém, eu jamais pensei em ter nada com Ramon. A gente m*l se falava, você mesmo via. — Tirei a blusa ficando apenas de sutiã, e estava indo até a cozinha quando o Interfone tocou, adivinha só quem era?
— Agora você não é mais criança, Judy. Já tem seus bons anos de vida, e depois, que m*l tem nisso? Ah, atende o Interfone que eu vou arrumar as coisas pra gente assistir.
— Ulisses…eu… — Ele não me deu ouvidos e saiu cantarolando, enquanto eu fui atender, mesmo sabendo que já poderia ser.
Interfone Ativo
— Oi Ramon. — Falei de forma que soasse normal, mas eu estava nervosa e nem sei o porquê.
— Eu… quero pedir desculpas por aquele dia, queria que tivéssemos outra oportunidade de jantar novamente.
Minhas pernas estavam bambas. Eu nunca havia sentido essa estranha sensação, mas agora, sempre que ouço sua voz me sinto fraca. Sinto uma fisgada dentre as minhas pernas, como se eu desejasse alguma coisa dele. Eu hein.
— Ah, claro. Nós podemos marcar qualquer dia desses. Mas, você é um homem tão ocupado, não quero atrapalhar você. — Disse quase me perdendo mas poucas palavras ditas.
— Se caso mude de ideia, pode me avisar. Se quiser fazer isso hoje, estarei aqui. — Por que ele tinha que falar tão sexy?
— Eu tô um pouco ocupada, será que posso te ligar depois?
— Fique à vontade!
Interfone Inativo
Ulisses ria enquanto me olhava com um talher na mão e um pano em seu ombro.
— O que foi? Parece até que viu um fantasma. — Sorri sem graça, sentando desnorteada na cadeira que ficava em frente a bancada.
— Por que as coisas são tão difíceis? Acredita que ele me chamou para jantar novamente?
— Por que não aceita? É até bom que você se distraia um pouco. Quem sabe ele não quer falar sobre o seu pai.
— Por favor, Ulisses. Estou nervosa, poxa. — Suspirei cansada, deixando a vontade de vê-lo me vencer. — Eu acho que vou tomar um banho, a água vai me ajudar a pensar. — Bebi o restante do vinho e fui correndo para o banheiro.
A água que me molhava meu corpo, fazia um efeito como se estivesse apagando minhas chamas. Era surreal como sem nada fazer ele está me deixando confusa. E se eu aceitasse sair hoje? Será que iria valer a pena?
Ulisses cantarolava alto uma música romântica, enquanto gargalhava bem próximo ao banheiro.
— Ele está ligando novamente, quer que eu o dispense?
— Claro que não, Ulisses. — Respondi rápido e nem mesmo tive tempo de pensar.
Ramon
Vivian estava com problemas na faculdade, Andrew com problemas em seu trabalho e eu só queria encontrar um jeito de ver a Judy todos os dias. Visitei Lúcio mais cedo e de fato ele está melhorando, mas eu não sei como explicar ao meu melhor amigo que eu estou fodidamente apaixonado por sua filha.
Judy era uma mulher intrigante e cheia de mistérios, nunca paramos para conversar e sempre que eu estava em sua casa, ela estava trancada dentro do quarto, supostamente falando com Andrew, ou não!
Acho que cometi um erro ao ligar pra ela, sei que está trabalhando e acho que fui um pouco invasivo demais. Mas, eu não desisti e meu coração estava me pedindo para ir até lá, dependendo da sua resposta eu serei o homem mais feliz do mundo hoje.
Mensagem de texto ativa
— Oi…
— Queria dizer que já estou pronta, desculpa a demora. Pode vim se quiser. — Como sempre Judy me surpreendendo.
— Estou indo…
Mensagem de texto inativa
— Vai sair de novo? — Andrew perguntava encostado na porta, me olhando desconfiado. — O senhor já não se importa mais comigo. A gente já não é como uma família!
— Guarde suas palavras ardilosas para depois. Se eu não estou sentado naquela mesa de jantar, é por motivos que você me deu e sabe disso! Agora, por favor. — Ele bufou e saiu a contragosto.
Eu poderia ir lhe dar mais um sermão, mas ele já não é mais criança e eu tinha um compromisso mais importante que jantar com meu filho, um ser independente e cheio de problemas, cujo qual quer jogar todos sob minha responsabilidade, esquecendo que já atingiu a idade adulta há alguns anos.
Respirei fundo e apertei o interfone, mas antes que alguém pudesse atender, ela já estava saindo.
— Oi… — Ela sorriu disfarçadamente e não estava como eu esperei, bom… Judy estava vestida com um baby Doll, com os cabelos amarrados em um coque e nos pés, pantufas de gatinhos. — Me desculpe, Ulisses não está muito bem e eu não poderia deixá-lo sozinho aqui, mas se quiser se juntar a nós, por mim tudo bem. Não preciso lhe guiar, já conhece muito bem a casa.
— Por mim tudo bem também. Uma pena que não me disse antes, eu poderia trazer alguma.
— Não precisa se preocupar, Ramon. Sua presença já é o suficiente.
Era estranho a forma como eu me comportava diante a ela. Por que isso nunca tinha acontecido enquanto Lúcio estava por perto, ou eu que nunca prestei atenção. O jeito que ela ficava quando me via também me deixava, curioso, eu não sou um i****a ao ponto de não prestar atenção nas reações das pessoas, mas ela… ela era intrigante e por mais que eu pensasse, jamais saberia no que ela está pensando.
Judy
Ulisses não estava muito bem, enquanto tomava banho ele caiu e bateu com a costela no sanitário, ficou roxa e até insistia em ir ao hospital com ele, mas ele não quis e estava tentando mesmo assim levantar.
— Por favor, diz que você não recusou nada por minha causa? — Ele estava mesmo achando que eu iria perder mais uma chance de ver aquele monumento chamado Ramon?
Bem, acho que estou um pouco emocionada demais. Eu nunca fui assim, jamais me atirei pra cima de homem nenhum e que vozes são essas na minha cabeça me mandando dar em cima dele? Eu não sou assim, não posso deixar que só porque ele tem um rostinho bonito, que isso me deixe criar Fanfics na minha cabeça. Que droga!
— Ele está lá na sala. — Ele bateu palminhas e deu um tapa em meu ombro. — Mas, Ulisses… eu não sei o que conversar, caramba. Poderia levantar e vir ficar com a gente.
— Eu adoraria, mas eu estou mais fodido do que você possa imaginar. Além disso, eu vou estar aqui dentro, caso precise de mim. — Mordisquei os lábios buscando coragem para voltar lá.
— Se sentir muita dor vamos ao hospital. — Fechei a porta, fechei os olhos e antes de voltar para fazer companhia ao amigão do Lucin, Suspirei forte e então, eu estava pronta.
Tínhamos muitos assuntos em comum. Ele era pai de duas pessoas que um dia já foram meus melhores amigos, mas escolherem estragar isso da pior forma possível. Tem meu pai também, que aí a coisa já vai esquentando e eu nem gosto de pensar na possibilidade dele ficar sabendo disso. Imagina só o que ele iria pensar sobre mim? Que eu sou uma atirada ou que até mesmo vi oportunidade depois do acidente para me aproximar dele. — Esquece isso, Judy. Foque e viva o presente. — Concordei com voz que demore me guiava em minha mente e fui…
— Então, o que seu filho anda fazendo? Soube que recentemente ele estava noivo de uma atriz de filmes adultos. — Essa foi a pior forma de iniciar uma conversa que eu encontrei e agora estava morrendo de vergonha.
— Você gosta dele? — Eu não esperava esse tipo de pergunta. O que está tentando fazer? Me juntar com o filho dele, mas que porcaria é essa agora?
— Como amigo já gostei um dia. Assim como da Vivian também, por que? O que quer saber?
— Não precisa ficar nervosa, apenas não permito que ele tire sua paz com conversas sem sentido. — Por que ele sempre olhava nos meus olhos quando falava? Isso me deixava como se tivesse em um transe onde eu não conseguia sair, e não era r**m!
— Não estou nervosa, apenas estranhando como as coisas estão mudando tão de repente…
— Eu sei, Judy. Peço desculpas por isso também.
— Não tem do que se desculpar, Ramon. Você está me ajudando muito com meu pai, nem sei como te agradecer por isso.
A mesa já estava posta, Ulisses fez algumas panquecas, trouxe pizza e vinho. Estávamos procurando um filme para assistir quando senti sua mão ficando a minha, Ramon é quente e como eu estava com frio, senti os pepinos se arrepiarem de forma instantânea.
— Eu não estou fazendo isso para lhe ajudar, Judy. Lúcio é meu amigo e isso é o mínimo que eu poderia fazer por ele, depois de tanto que ele já fez por mim. Mas, quero que saiba que também pode contar comigo.
— É… aceita um vinho? Eu acho que isso vai esquentar nossa alma. — Tentei fugir do assunto, porque eu sempre ficava nervosa e nunca tinha sobre o que falar com ele.
Nos servi e fui ver Ulisses, ele estava rindo horrores enquanto conversava com alguém. Eu precisava da sua ajuda ou passaria a noite inteira sem saber o que dizer.
— Preciso de cantadas para coroas. — Me joguei no colo de Ulisses que ignorou e me abraçou.
— É sério isso? Não foi você que disse que não tinha o menor interesse no coroa charmoso que você está embebedando na sala? — Seu tom sarcástico veio junto aos risos.
— Por favor, Ulisses. Eu não sei o que conversar com ele. O primeiro assunto é meu pai, depois vem os filhos dele que já não são mais os mesmos e por fim, acho que eu tenho uma quedinha nele! — Mordisquei o lábio tentando não deixar visível minha vontade de beijar aquele homem.
— Olha, o seu caso é bem mais complicado que o meu. Mas, porque não deixa a conversa fluir? Eu mesmo quando quero alguma coisa, deixo a conversa fluir e no final, se for pra ser, será.
— Você me deu uma luz e tanta agora. — Eu não era a melhor pessoa pra cantadas, muito menos para deixar uma conversa fluir, ainda mais com o Ramon que eu não tenho a menor i********e.
— Respira e volta lá. Vão jogar alguma coisa, estão bebendo, daqui a pouco vocês dois acabam se pegando ali no sofá mesmo.
Antes de voltar fui ao banheiro, encarei meu belo rosto no espelho e fui com a cara e a coragem.
Me senti comida pelos seus olhos tão belos quanto o mar, ele não poderia ser mais feio não?