Emily
Numa saída com minhas amigas eu o conheci. A música alta e agitada que tocava. O cheiro de álcool do hálito de Carol, uma amiga que bebe mais do que deve. E eu fui na onda dela e nesse dia bebi muito também. Letícia, estava conosco. Ela que iria dirigir nesse dia, então não me importei em ficar alta.
Aquela garota toda certinha estava na fossa, triste e extremamente desanimada. Pela primeira vez, se sentindo solitária. O namoro de dois anos tinha acabado de forma trágica com a traição dele com uma das minhas melhores amiga.
Então, ele entra....
Logo me endireito no banco quando o avisto. O homem alto, vestindo um terno elegante e visivelmente caro, destoa completamente do ambiente. Sua figura domina o espaço, como se cada passo seu marcasse o compasso do ambiente. Não apenas eu, mas todos os presentes voltam a cabeça para observá-lo cruzar a pista de dança, iluminada por um brilho ameno que confere à cena um ar quase cinematográfico. Sua postura, o modo como avalia o lugar com olhos atentos, deixa claro que ele está procurando por alguém.
— Dá uma olhada naquele cara que acabou de entrar. — Letícia sussurra no meu ouvido, a voz carregada de curiosidade.
Sim, eu já o tinha notado. Carol também, a julgar pelo olhar descarado que lança em sua direção, rindo como quem sabe que foi pega no flagra.
— Meu Deus! Ele parece gringo. — Ela comenta, apoiando-se em mim ao tropeçar com seus saltos prateados.
Meus olhos captam os fios prateados que emolduram as laterais de seu cabelo. Esses reflexos discretos, mas marcantes, ampliam o mistério ao seu redor e intensificam meu interesse. Meu olhar permanece fixo nele, explorando os detalhes de seu rosto com traços fortes e ligeiramente marcados. Sugere uma maturidade à qual eu não estou acostumada. Trinta e cinco anos, talvez? Cada linha parece contar uma história, cada movimento parece deliberado.
Mulheres sorriem e cochicham enquanto passam por ele. Ele, porém, as ignora, afastando-se com delicadeza e mantendo o foco na sua busca. Eu, completamente fascinada, esqueço de prestar atenção a qualquer outra coisa, meus olhos sempre voltando para os dele, como que atraídos por algum magnetismo inexplicável. Talvez seja efeito da bebida, mas estou mais ousada do que de costume.
Ele me intriga.
O que um homem como ele estaria fazendo numa festa de aniversário recheada de jovens tão alheios à sofisticação que ele claramente exala?
— Meu Deus! Ele está vindo para cá. — Letícia quase grita, virando-se apressada para o balcão como se pudesse esconder o nervosismo.
Carol, que estava jogada sobre o mesmo balcão, ergue a cabeça com um sorriso travesso.
— Gente, vou mijar e já volto. — Declara, sem cerimônia.
— Deus! Que falta de classe! — Eu murmuro, reprovando a expressão dela.
Nessa hora, o homem finalmente se aproxima. Letícia fica visivelmente vermelha quando seus olhos passam por nós duas, mas então ele fixa o olhar em mim, e tudo ao nosso redor parece desaparecer. Seu olhar prende o meu, e há uma confiança quase palpável na sua postura, no jeito como cada gesto parece calculado, mas natural.
— Oi.
— Oi. — Respondo, um leve sorriso se formando nos meus lábios. — Está perdido?
Ele sorri, o olhar descendo brevemente para minha boca. O gesto provoca um arrepio que corre pela minha espinha como um aviso silencioso, deixando minha pele mais sensível.
— Pareço perdido? — Ele devolve a pergunta, um sorriso misterioso dançando em seus lábios.
Há algo no seu sotaque que me desconcerta. É delicioso, intrigante, carregado de uma melodia que eu não consigo identificar.
— É que...
Ele inclina levemente o corpo, aproximando-se um pouco mais de mim, e sinto o calor de sua presença aumentar.
— Não combino com o lugar? — Ele sugere, com um tom brincalhão que contradiz a intensidade de seu olhar.
Minha mente quer perguntar de onde ele é, mas minha atenção é capturada pelos detalhes: o terno cinza-chumbo que veste com perfeição, a camisa branca com os dois primeiros botões abertos, revelando um vislumbre de um peito bronzeado e tonificado. A gravata, pendurada displicentemente no bolso do paletó, sugere que ele veio diretamente do trabalho. Cada detalhe contribui para sua aura irresistível.
O homem é um colosso. Um colosso maduro. Tudo que eu gosto. Nunca tive a chance de conhecer alguém assim, e agora ele está parado na minha frente, como um presente embrulhado para mim.
— Não! — Minha voz sai como um sussurro, carregada de algo que nem eu consigo disfarçar.
Ele sorri novamente e, quando o celular vibra em sua mão, lança um olhar rápido para a tela antes de guardá-lo no bolso. Algo no seu semblante relaxa, e quando ele volta a olhar para mim, há algo novo em seu olhar. Um interesse inconfundível, quente, que me faz sentir arrepiada.
— Quantos anos você tem? — Ele pergunta, seus olhos deslizando para o copo vazio na minha mão.
Eu bebo o resto da vodca de um só gole e o encaro com desafio, um sorriso travesso nos meus lábios.
— Vinte e dois. — Minto sem hesitar.
— Parece mais jovem.
Eu sorrio, sentindo-me inexplicavelmente lisonjeada, como se ele tivesse acabado de abrir um portal para uma versão mais confiante de mim.
— Vou encarar isso como um elogio.
— Tem carinha de anjo.
Minha pele aquece sob o peso das palavras dele, um elogio que me faz sentir poderosa, como se ele tivesse acabado de desvendar algo em mim que nem eu sabia que existia.
— Estava procurando alguém? — Pergunto, tentando desviar o foco de mim mesma.
— Você é bem observadora. — Ele comenta, um sorriso brincando em seus lábios, mas com olhos que sugerem muito mais.
— Achou? — Insisto, meu rosto aquecendo ainda mais.
— Sim, acabei de receber uma mensagem dizendo que a pessoa chegou em casa.
O barman se aproxima e pergunta o que ele vai tomar. Ele pede um Scotch, com um tom tão natural que me faz admirá-lo ainda mais.
Ele é refinado. Seus gestos, sua maneira de se expressar, tudo nele exala elegância e segurança. Eu não consigo parar de olhar. Então, ele se volta para mim, e eu decido que preciso de mais uma bebida para lidar com aquilo.
— Acho que vou pedir outra bebida.
— Ao invés de beber, que tal sairmos daqui? Podemos ir para um lugar mais tranquilo. — Ele sugere, e sua proposta paira no ar como um convite irrecusável.