Confusão em familia

1252 Words
— Não estava tão longe e por sorte, quando cheguei no aeroporto estava saindo um avião para cá. Vou ter que vender a minha alma para pagar a passagem depois, mas isso não importa agora. Tem novidades sobre a minha avó? — Heitor apoiou a cabeça no meu ombro, parecia cansado. Talvez não tenha sequer consigo cochilar durante a viagem, nervoso, pensando no que podia acontecer enquanto não chegava. — Na verdade, não muita. Apenas me disseram que só podemos fazer a transferência em 24 horas, acredito que ela precisa se estabilizar. Só mais tarde vão falar sobre especialista, o médico que falou comigo deve trazer uma lista quando vier fazer a visita. Ele disse que viria pela manhã. — respondi entregando o cartão que estava no meu bolso para Heitor. — Ele me deu seu cartão. Se precisar ligar para ele. Não contei nada a Letícia ainda, ela tomou algum remédio calmante e para dor, apagou completamente. Tenho que levar Mel para aula e tomar os remédios. Que bom que chegou a tempo. Assim que deixar ela na escola venho para cá. Tá certo? Farei tudo rapidinho. — Sempre que você está com medo você fala sem parar, mesmo quando está fazendo de tudo para parecer despreocupada e confiante. Não se preocupe, a vovó é forte. Vai lutar para sobreviver ao máximo. Ela disse que só morre quando a gente se casar. Não há motivos para preocupação. — Heitor brincou. Marieta havia começado com essa conversa dois anos atrás. Acredito que desde de que Mel começou a chamar Heitor de papai. — Não devo me preocupar mesmo. Nesse ritmo ela viverá para sempre. — Brinquei. Me afastando dos seus braços, indo em direção ao leito de Letícia para pegar Mel. — Que mulher fria. Deveria estar me consolando, não me rejeitando. — Heitor tinha um tom de brincadeira, mas convivemos o suficiente para eu saber que não era uma brincadeira. Ele estava falando a verdade, mas eu não podia deixar Mel por mais tempo ali. — Eu volto assim que deixar Mel na escola. Não vou deixar vocês sozinhos. Espero estar aqui antes do médico passar, quero ouvir o que ele vai dizer. — Expliquei colocando Mel nos meus braços, ela estava com tanto sono, que nem notou que havia mudado de lugar. — Entendi. Aliás, alguém me mandou uma mensagem perguntando por seu contato. Um assessor de comunicação. Depois te mostro, não sei o que ele quer, mas achei estranho. Tenha cuidado. Parecia tentar buscar informações específicas sobre você. Como tivesse tentando localizar. — Heitor alertou antes de beijar a cabeça da Mel. — Quando voltar você me mostra. Não deve ser nada demais. Tenho certeza que é mais um jornalista buscando uma entrevista exclusiva ou descobrir a minha identidade. Como sempre apareço nas fotos de máscara e peruca, ninguém descobriu ainda quem sou. Espero continuar assim. Por enquanto, vamos deixar assim, tenho que ir ou acabarei atrasada. Quero voltar logo para cá. — Expliquei tirando a chave do carro da bolsa. — Você está há cerca de três ou dois anos na lista top no Onlyfans. Todos querem saber quem está por trás da máscara. Sempre tentando te encontrar por mim, isso é cansativo. Vou parar de colocar a minha logo nas fotos que tiramos. Assim não terá forma de te localizar. — Heitor me explicou se sentando na poltrona que eu havia acabado de tirar Mel. — Te conheço. Você gosta que os outros caras fiquem com ciúmes porque apenas você sabe me localizar e a minha identidade. Pensa que eu não sei? Não reclamo. Você lida muito bem com todos eles. Dessa vez não será diferente. Tente dormir um pouco. Você está parecendo apenas o bagaço. Quando vier, trarei algo para você comer. — Beijei o rosto de Heitor, me afastei um pouco. Ele segurou a minha mão. — O que foi? Você não é do tipo manhoso. — Não é nada. Apenas estou com saudade da minha filha. Faz tempo que eu apenas estou vendo ela por uma telinha. Posso sair para dar uma volta depois do almoço? — Heitor pediu com aquele sorriso. Ele fez de propósito, tenho certeza. — Não vale usar o sorriso contra mim. E acho que hoje deixarei ela o dia inteiro na escola. Prefiro não deixar ela no hospital e não tem quem fique em casa. Que tal jantar? Você pode pegar ela na escola. Ela vai amar a surpresa. Deixarei avisado que você vai. — Sugeri. Tinha muita coisa para resolver sobre Marieta hoje. O hospital definitivamente não era lugar para crianças, ainda mais aquelas com problemas respiratórios. — Combinado. Não conte a ela que eu cheguei. — Heitor concordou. Às vezes, realmente parecia que ele era o pai de Mel e dividimos a sua guarda. Acenei me afastando dele, pude ver ele se ajeitando na poltrona, olhando para sua irmã adormecida. Deve estar pensando como contar para ela a situação toda. Espero que fique tudo bem. Mel não acordou até chegar em casa, na verdade, eu tive que acordar ela para tomar café e se arrumar para escolar. Para variar, não estava com muito apetite, talvez não tenha dormido direito. Não insisti muito. Havia descoberto depois de muita dor de cabeça, que as crianças nem sempre têm o mesmo apetite e surtar com isso é perda de tempo. Deixei ela na escola atrasada. Expliquei que Heitor viria buscar mais tarde no meu lugar e também que ficaria na creche na parte da tarde. Passei na padaria depois da escola, comprei uns salgados e suco para Heitor, com toda a certeza ele vai reclamar porque não trouxe café, mas irritar ele é divertido. Quando estava entrando no hospital, escutei um bate-boca exaltado vindo na enfermaria. — A culpa é sua. Porque você tem que viver viajando? Você é um egoísta. Tudo de r**m que acontece na nossa família é culpa sua. Você sempre. Sempre. Só pensa em você mesmo. Agora a nossa avó está morrendo por sua causa. — Letícia gritava, havia tanta gente ao redor que foi difícil de passar. — Já deu. Cansei. Vai guardar esse rancor por quanto tempo? Eu fui embora mesmo daquela casa infernal. Se eu não fizesse isso, acabaria preso por assassinato. Pode ter certeza, que se eu tivesse lá, tudo seria bem pior. Agora me culpar por nossa avó, me poupe. — Heitor parecia irritado com as insinuações de sua irmã. Letícia tinha o péssimo hábito de jogar a culpa nas pessoas. Sempre procurar um culpado, mas nem sempre há um. — Vocês sabem que estão em um hospital, não é? Pegue. Aqui está seu café da manhã. Vá comer. Eu fico com Letícia. Você precisa esfriar a cabeça e ela também. Estão todos olhando para a gente. E ainda estou incomodando os outros pacientes. — Sim, acabei com a brincadeira deles. Já tinha ouvido essa mesma briga tantas vezes, pelos mais diversos motivos, a diferença é que agora Letícia está acusando Heitor de assassinato, mesmo que ele nem no Brasil estivesse na hora. — Não, o médico chegou. Deve passar por aqui ou chamar a gente já já. Não quero perder a visita. — Heitor explicou segurando o saco de papel, vendo o que tinha dentro. Fazendo careta ao notar que o copo estava com suco. — Não tiveram notícias ainda de Marieta? — Sendo sincera, a falta de notícia me parecia uma notícia boa naquele momento. Ao menos, foi foi nisso que decidi me agarrar. Não queria pensar o pior.
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