Plano B

1076 Words
Cheguei no hospital, contei tudo para Heitor, até mesmo a leve discussão que havia tido com a atendente e alertei sobre a minha preocupação em relação ao tempo de análise. Ele, assim como eu, se sentou ao meu lado preocupado com toda aquela situação. Era como uma avalanche, nos carregando com força. Me sentia não apenas congelada, mas imóvel. Ao mesmo tempo, eu sabia que não iria desistir de transformar aquela situação, nem Heitor e muito menos a Mel. — Será que conseguimos liberação para viajar para lá ou que o médico consiga vir ao Brasil? Acredito que precisamos de um outro plano. Não podemos apenas contar com aquele médico, existe a chance de sermos não apenas rejeitados, como também que seja tarde demais quando ele decidir pegar o caso. Pensei em encontrar uma alternativa com o médico do exterior. Talvez possamos deixar Mel estável o suficiente para viajar ou trazer ele aqui de alguma forma. Entende? — Expliquei para Heitor, que tinha um olhar distante e vazio sentado na cadeira. — Vamos comer. — Heitor segurou minha mão, me levantando da cadeira e me arrastando pelos corredores do hospital. — Isso não é hora para pensar em comida, Heitor. — Falei confusa com a reação dele. Esperava sentar e pensar em um plano, será que criei expectativas demais em relação ao Heitor? — Na verdade, já passou da hora de comer. Não podemos ficar sem comer ou dormir, Mel precisa que estejamos saudáveis e bem para cuidar dela. Entendo que esteja preocupada com a situação, também estou, mas primeiro iremos comer. Depois, com as barriguinhas cheias, podemos encontrar um plano para resolver nosso problema. — Heitor me explicou enquanto chegamos à lanchonete. — Mas... eu não estou com fome. — Concordava com Heitor sobre a necessidade de alimentação, mas não tenho como controlar meu apetite. Não havia vontade nenhuma de comer nada. — Engula. Quando eu não queria comer, a minha mãe mandava engolir a força, mesmo sem fome, só coloque para dentro. Vamos pedir uma salada ou sanduíche. Uma dessas comidas estranhas que você gosta. Não sei. — Heitor olhava para as comidas da lanchonete com desânimo, acredito que assim como eu, ele também não estava com fome alguma. — Que tal algo mais questionável para comer? — Perguntei vendo aquelas comidas pálidas e sem graça da lanchonete. Mesmo se eu tivesse com fome, não teria vontade de comer nada ali. — Questionável? Isso aqui parece tão saudável que o meu corpo talvez rejeite. — Heitor apontou para um sanduíche que o pão era rosa. — Vamos comer um sanduíche de rua. Daqueles bem melequentos. — Sugeri. Heitor me olhou surpreso. Não costumava comer nada desse tipo. — Você? Comendo sanduíche de rua? — Heitor me olhava com o seu eu tivesse enlouquecido. — Não tenho nada contra, até gosto, mas sou o exemplo de Mel, por isso, quanto melhor parecer a minha alimentação para ela, mais chance tem dela imitar ou acha mesmo que gosto de comer brócolis, fígado e suco de beterraba? Claro que não, mas quero que Mel tenha hábitos mais saudáveis. Se me ver comendo besteiras, fica difícil impor algo para ela. — Expliquei segurando a mão de Heitor, levando ele para bem longe daquele lanchonete. Sabia que tinha uma barraquinha na frente do hospital. — Você é a melhor mãe que eu conheço, Carol. Fico feliz que escolhi você para ser mãe da minha filha. Eu vou continuar comendo miojo e chocolate. — Heitor brincou parecia mais relaxado. — Pensei que tinha escolhido sua filha, a mãe veio de bônus. — Entrei na brincadeira. Sentando em algumas cadeiras de plástico que estavam perto do carro que fazia sanduíche. — Tenho que ser sincero, você está certa. Eu tive sorte que o brinde ter sido uma loira gostosa. — Heitor me deu um selinho. Olhei surpresa para ele, na mesma hora, olhei ao redor para ver se alguém havia visto. — Não tem problema se alguém ver. — Claro que tem. — Respondi sem entender o que Heitor queria dizer. — Não, não tem. Não precisamos dar satisfação a ninguém além da nossa filha, Mel. — Heitor disse levantando a mão para fazer o seu pedido. Heitor estava certo, ao mesmo tempo, me deixava bastante ansiosa, pensar no que ele queria realmente dizer com tudo isso. Será que ele perdeu o resto da vergonha na cara? Pensando bem, Heitor não é de me abraçar em público ou segurou minha mão. Hoje ele havia feito isso sem que eu tivesse notado até agora. Ele sempre evitou esse tipo de atitude, para não criar confusão na minha cabeça ou para as pessoas ao redor. Ah! Quem se importa. Não deve ser nada demais. Devo está pensando demais. Fizemos os pedidos, enquanto esperávamos os sanduíches, conversando apenas besteira, nenhum de nós tocou no assunto de Mel ou sobre a atitude de Heitor ter mudado. Quando a comida chegou, logo comemos animados, os sanduíches eram lindos. — Sabe, acredito que a única pessoa que pode nos ajudar sobre a Mel e o lance dos médicos é aquela médica, Anna. Talvez tenha um terceiro médico para indicar. Também podemos criar um plano para estabilizar Mel para viajar ou uma forma de aumentar o tempo da nossa menina no hospital em segurança, para esperar a resposta. Creio que essa seja nossas únicas opções. Em todas elas, precisamos da ajuda daquela médica. Farei contato novamente com o médico de fora, para saber se vem ao Brasil. — Heitor disse assim que terminamos de comer. — Então, acha que a médica pode deixar Mel segura por mais tempo? Quanto mais tempo tivermos, melhor. Podemos conseguir aquele médico que esperando resposta como também, podemos tentar o de volta. Tenho certeza que pagando bem, ele vem aqui. Só não sei como pagaremos por tudo isso. Algo me diz que sairá bem mais caro do que imaginei. — Concordei com Heitor. — Então, façamos assim. Que tal você falar com a médica e eu farei algumas ligações, para ver se consigo furar a fila do médico do Brasil ou se descubro a agenda do médico de fora. Vou usar meus contatos para tentar encontrar um meio de fazer isso funcionar. — Heitor era um fotógrafo famoso, conhecia muitas pessoas importantes. Eu também conhecia, mas fazia parte de uma Caroline que não existia mais. Se alguém fosse me ajudar, seria pelo nome da minha família, mas eu não tenho mais essa família.

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