Milena
São Paulo - Morumbi// 18:00
Finalmente eu havia chegado em São Paulo, peguei o voo às 14:30 e o Arthur ficou super agitado por ser a primeira viagem de avião dele, até vomitou.
Também foi a minha primeira viagem de avião, mas não me deu enjoo nem nada.
Desço do Uber depois de pagar e entro no hotel, faço o check-in e subo para o quarto com minha mala e o Arthur no colo.
Fecho a porta de chave e coloco meu celular para carregar.
Milena: Cê tá com fome filho? - Ele assente - Calma aí que a mamãe vai te alimentar, espera só um pouco, vou ligar para tua madrinha.
Coloco ele na cama e ligo para Mica.
L I G A Ç Ã O O N
Micaelly: Oi Mi, deu tudo certo?
Milena: Amiga, eu acabei de chegar em Sampa, estou no hotel do Morumbi.
Micaelly: Graças a Deus, já estava preocupada porque ligava para você e dava sem sinal! Para onde você vai primeiro?
Milena: Antes de tudo vou dar comida para o Arthur que está morrendo de fome, a última vez que ele comeu foi quando saímos de casa. Depois eu também vou comer, tomamos um banho e vamos dormir.
Micaelly: Dormir? Cê tá correndo contra o tempo mulher, precisa ir no hospital ainda hoje para adiantar as coisas.
Milena: Ainda hoje? Quando eu vier terminar de fazer tudo isso vai ser oito horas da noite! Capaz de nem aceitarem mais nenhuma doação.
Micaelly: Aceita sim, eu já doei nesse hospital e sei como é. Eles aceitam até dez horas da noite.
Milena: Me manda o endereço do hospital que eu vou me organizar aqui para poder ir lá.
Micaelly: Tá bom, vou mandar. Ah, e quando você for lá, me fala o que deu. Com a Lara também.
Milena: Calma Mica, uma coisa de cada vez, amanhã de manhã eu vou á procura da Lara, e hoje eu vou no hospital, não dá para fazer tudo de uma só vez.
Micaelly: Certo, tchau, beijos e boa sorte.
Milena: Beijos, mais tarde eu digo alguma coisa.
Micaelly: Tá bom.
L I G A Ç Ã O O F F
Milena: Levanta da cama, filho - Falo estendendo minha mão para ele - A gente vai comer, tomar um banhinho e depois vamos resolver uns assuntos da mamãe, tá bom? - Ele assente me abraçando.
Descemos para comer algo aqui no hotel e eu opto pela comida menos gordurosa que temi, vou precisar doar sangue daqui a algumas horas então tenho que pegar leve, mas a vontade é de devorar tudo que tenho vontade, tô pagando caro para isso.
***
Hospital // 21:00
Saio do Uber e suspiro quando vejo as inúmeras viaturas paradas e o hospital rodeado de policiais.
Tô chegando mais atrasada do que eu pensei, espero que a Mica tenha razão quando falou que eles ainda aceitam doação nesse horário.
Ainda bem que ninguém aqui me conhece como irmã dele, mas com certeza vão passar a conhecer. Sigo até a recepção.
Milena: Boa noite.
XXX: Boa noite, em quê posso te ajudar? - Pergunta sem olhar na minha cara enquanto digita fazer algo no computador.
Milena: Eu vim fazer uma doação de sangue.
XXX: Tem tatuagem?
Milena: Sim.
XXX: Fez a quanto tempo?
Milena: Tem mais de um ano.
XXX: Certo - Se levanta - Qual o nome do paciente?
Milena: Fábio Rodrigues dos Santos.
XXX: Só um segundo que eu já volto - Diz me olhando assustada.
Fico igual uma estátua esperando ela, essa mulher foi acionar uma tropa de policias para me prender ou o quê? Que demora!
Ela volta com uma cara fechada e volta a se sentar na cadeira.
XXX: É parente dele?
Milena: Sim, sou irmã dele.
XXX: Me dá teus documentos e preenche essa ficha - Diz jogando o papel e a caneta para mim.
Reparo a ficha enorme que ela me entregou e n**o com a cabeça.
Se duvidar tem até a opção de colocar a cor da calcinha que eu estou usando, várias coisas desnecessárias.
Milena: Eu estou com o meu filho no colo, se você não percebeu. Como que vou preencher uma ficha desse tamanho?
XXX: Garota, larga de ser abusada, sorte tua que o delegado aprovou a doação, caso contrário você sairia daqui escoltada por policiais. Você tem uma mão livre, dá para preencher tranquilamente.
Milena: Vou preencher porque eu vim até aqui pra doar e eu vou doar, mas isso é trabalho seu, e a abusada aqui é você - Falo e começo a preencher a ficha - Mó preguiçosa, eu hein - Resmungo.
Termino de preencher a merda da ficha e entrego meu documento verdadeiro para ela, uma enfermeira veio até mim.
XXX: Boa noite, me chamo Anne, vou te levar até a sala de doação.
Uma com educação, pelo menos.
Milena: Boa noite Anne, ok.
Anne: Você pode deixar ele ali na área de criança, se quiser.
Milena: Não, está bom assim, obrigada.
Anne: Sem problemas então, pode vim comigo.
Vou com ela até a sala de doação, me sento em uma cadeira, e Arthur no meu colo.
Anne começa a fazer alguns procedimentos e depois de tirar meu sangue, eu bebo um pouco de água.
Milena: Em que sala ele está? - Pergunto curiosa.
Anne: É uma sala privada, não posso te dar essa informação por motivos de segurança, desculpa.
Milena: Eu vim de Pernambuco só para fazer essa doação e ver ele, cê acredita?
Anne: Nossa, eu acredito. Irmão é sagrado, né?
Milena: Você também tem irmão?
Anne: Sim, tenho sim.
Milena: Se coloca no meu lugar, faz uns dois anos que eu não vejo ele - Falo com lágrimas nos olhos - Me ajuda a ver ele, por favor.
Anne: É que eu não posso, tem quatro policiais fazendo a segurança de frente do quarto que ele está, sabe? Não dá para te levar lá como visita.
Abro minha bolsa e tiro duas notas de duzentos reais.
Estendo para Anne e ela arregala um pouco os olhos.
Anne: A gente dá um jeito - Diz pegando as notas e colocando no bolso do jaleco - Vou deixar teu filho em uma sala como se ele estivesse doente, depois eu te levo até o vestiário e cê põe uma roupa de enfermeira, só assim você vai conseguir entrar na sala comigo.
Milena: Tudo bem, eu topo tudo! - Falo me levantando.
***
Publicado dia 5 de Setembro de 2021, às 12:50.