Capítulo Um-1

2049 Words
Capítulo Um Caitlin Paine sempre temeu seu primeiro dia em uma nova escola. Haviam as coisas grandes, como conhecer novos amigos, novos professores, memorizar novos corredores. E haviam as coisas pequenas, como ter um armário novo, o cheiro de um lugar novo, os sons que ele fazia. Mais do que qualquer coisa, ela temia os olhares. Ela sentia que todos em um lugar novo sempre a encaravam. Tudo o que ela queria era o anonimato. Mas ele não parecia estar no seu destino. Caitlin não conseguia entender por que ela era tão notável. Medindo 1,67 m, ela não era especialmente alta, e com seus cabelos e olhos castanhos (e peso normal), ela se sentia comum. Certamente não se sentia bonita, como as outras meninas. Aos 18 anos, ela era um pouco mais velha, mas não o suficiente para fazê-la se destacar. Existia alguma outra coisa. Ela tinha algo que fazia as pessoas olharem duas vezes. Ela sabia, lá no fundo, que era diferente. Mas não sabia exatamente como. Se havia algo pior do que um primeiro dia, era começar no meio do ano, depois que todos os outros já haviam tido tempo para se conhecer. Hoje, este primeiro dia, no meio de março, seria um dos piores. Ela conseguia sentir isso. No entanto, na sua imaginação, ela nunca pensou que seria tão r**m assim. Nada do que ela tinha visto—e ela tinha visto muito—a havia preparado para isso. Caitlin parou na frente da sua nova escola, uma ampla escola pública de Nova York, naquela manhã gelada de março, e se perguntou, por que eu? Ela vestia pouquíssimas roupas, apenas um suéter e leggings, e não estava nem remotamente preparada para o caos barulhento que a saudou. Centenas de jovens estavam lá, chamando, gritando e empurrando uns aos outros. Parecia o pátio de uma prisão. Era tudo alto demais. Estes jovens riam alto demais, xingavam demais, empurravam uns aos outros com força demais. Ela teria pensado que aquilo era uma grande briga se não conseguisse encontrar alguns sorrisos e risadas de escárnio. Eles apenas tinham energia demais, e ela, exausta, com frio, sem dormir, não podia entender de onde essa energia vinha. Ela fechou os olhos e desejou que tudo sumisse. Ela colocou as mãos nos bolsos e sentiu algo: seu ipod. Sim. Colocou seus fones de ouvido e ligou o aparelho. Ela precisava abafar tudo aquilo. Mas nada aconteceu. Ela olhou para baixo e viu que a bateria havia acabado. Ótimo. Ela checou seu telefone, esperando por alguma distração, qualquer coisa. Nenhuma nova mensagem. Ela olhou para cima. Olhando para aquele mar de novos rostos, ela se sentiu sozinha. Não por ser a única garota branca—na verdade, ela preferia isso. Alguns dos seus melhores amigos em outras escolas eram negros, hispânicos, asiáticos, indianos—e alguns dos seus piores inimigos haviam sido brancos. Não, não era isso. Ela se sentia sozinha porque o ambiente era urbano. Ela estava pisando em concreto. Um sino alto soou para permitir a entrada dela nesta “área recreativa,” e ela teve que atravessar grandes portões de metal. Agora, ela estava presa—enjaulada por enormes portões de metal com arame farpado no topo. Ela se sentiu como se tivesse ido para a prisão. Olhar para a enorme escola, as barras e grades em todas as janelas, não a fez se sentir melhor. Ela sempre havia se adaptado à novas escolas facilmente, grandes ou pequenas—mas todas elas se localizavam nos subúrbios. Aqui, não havia nada além de cidade. Ela sentiu que não conseguia respirar. Aquilo a apavorava. Outro sino alto soou e ela foi, com centenas de jovens, arrastando os pés na direção da entrada. Ela foi empurrada com força por uma garota grande, e deixou seu diário cair. Ela o juntou (bagunçando seu cabelo), e olhou para cima para ver se a garota iria se desculpar. Mas ela já havia sumido, tendo seguido em frente com a multidão. Ela ouviu risos, mas não pôde dizer se eles estavam direcionados à ela. Ela segurou seu diário, a única coisa que mantinha seus pés no chão. Ele havia estado com ela em todo o lugar. Ele tinha notas e desenhos de todos os lugares em que ela havia estado. Ele era um mapa da sua infância. Ela finalmente chegou à entrada e precisou se espremer para passar por ela. Era como entrar em um trem durante a hora do rush. Ela esperava que a temperatura estivesse mais quente quando entrasse, mas as portas abertas atrás dela mantinham uma brisa severa soprando em suas costas, tornando o frio ainda pior. Dois grandes guardas de segurança estavam parados na entrada, acompanhados de dois policiais da cidade de Nova York, em seus uniformes completos, armas visivelmente ao seu lado. “CONTINUEM ANDANDO!” comandou um deles. Ela não conseguia entender por que dois policiais armados precisavam guardar a entrada de uma escola de ensino médio. A sua sensação de pavor cresceu. A sensação ficou muito pior quando ela olhou para cima e viu que teria que passar por um detector de metais com segurança de aeroporto. Mais quatro policiais armados estavam parados nos dois lados do detector, com mais dois guardas de segurança. “ESVAZIEM SEUS BOLSOS!” gritou um guarda. Caitlin notou os outros jovens enchendo pequenos recipientes de plástico com itens de seus bolsos. Ela rapidamente fez o mesmo, adicionando o seu ipod, carteira, chaves. Ela passou pelo detector, e o alarme chiou. “VOCÊ!” gritou o guarda. “Para o lado!” Claro. Todos os garotos olhavam enquanto ela era obrigada a levantar os braços, e o guarda passava o scanner de mão por todo o seu corpo. “Você está usando alguma joia?” Ela passou a mão no pulso, e então no pescoço, e de repente, se lembrou. Sua cruz. “Tire-a,” gritou o guarda. Era a gargantilha que a sua avó havia dado a ela antes de morrer, uma pequena cruz de prata, gravada com uma descrição em latim que ela nunca havia traduzido. Sua avó contou a ela que a cruz havia sido passada para ela pela sua avó. Caitlin não era religiosa e não entendia realmente o que aquilo significava, mas ela sabia que a cruz tinha centenas de anos e era, de longe, a coisa mais valiosa que ela tinha. “Prefiro não tirar,” ela respondeu. O guarda a encarou, frio como gelo. De repente, uma confusão começou. Pessoas gritaram quando um policial agarrou um garoto alto e magro e o empurrou contra uma parede, retirando uma faca do seu bolso. O guarda foi ajudá-lo e Caitlin aproveitou a oportunidade para sumir com a multidão caminhando pelo corredor. Bem-vinda à escola pública de Nova York, Caitlin pensou. Ótimo. Ela já estava contando os dias para a formatura. * Os corredores eram os mais largos que ela já havia visto. Ela não podia imaginar como eles poderiam ficar cheios, no entanto, eles estavam completamente lotados, com todos os garotos espremidos, ombro contra ombro. Deviam haver milhares de jovens nesses corredores, o mar de rostos se alongando infinitamente. O barulho aqui era ainda pior, batendo nas paredes, condensado. Ela queria cobrir os ouvidos. Mas ela nem sequer tinha espaço suficiente para levantar os braços. Ela se sentiu claustrofóbica. O sino tocou e a energia aumentou. Já atrasada. Ela examinou seu cartão de salas novamente e finalmente encontrou a sala distante. Ela tentou cortar caminho através do mar de corpos, mas não estava chegando a lugar nenhum. Finalmente, depois de várias tentativas, ela percebeu que precisava ficar mais agressiva. Ela também começou a cotovelar e empurrar. Um corpo por vez, ela conseguiu passar por todos os garotos através do corredor largo, e abriu a pesada porta de sua sala de aula. Ela se preparou para todos os olhares, já que ela, a nova garota na escola, havia chegado atrasada. Ela imaginou o professor a repreendendo por interromper uma sala de aula silenciosa. Mas ela ficou chocada em ver que este não era o caso. Esta sala, construída para 30 alunos, mas abrigando 50, estava lotada. Alguns garotos estavam sentados em suas carteiras, e outros caminhavam entre as fileiras, gritando e berrando uns com os outros. Era o caos. O sino havia tocado cinco minutos atrás, no entanto, o professor, desgrenhado, usando um terno amassado, não havia sequer começado a aula. Ele sentou com os pés em cima da mesa, lendo o jornal, ignorando a todos. Caitlin caminhou até ele e colocou seu novo cartão de identificação na mesa. Ela ficou parada lá e esperou que ele olhasse para cima, mas ele nunca o fez. Ela finalmente limpou a garganta. “Com licença.” Ele baixou o jornal relutantemente. “Meu nome é Caitlin Paine. Eu sou nova. Acho que tenho que lhe dar isso.” “Eu sou apenas um substituto,” ele respondeu, e levantou o jornal, bloqueando-a. Ela ficou parada ali, confusa. “Então,” ela perguntou, “…você não faz a chamada?” “O seu professor vai voltar na segunda,” ele retrucou. “Ele vai cuidar disso.” Percebendo que a conversa havia acabado, Caitlin pegou seu cartão de identificação de volta. Ela se virou e olhou para a sala. O caos ainda não havia acabado. Se houvesse alguma esperança, pelo menos ela não era óbvia. Ninguém ali parecia se importar com ela, ou até mesmo notá-la. Por outro lado, observar a sala lotada era preocupante: não parecia haver nenhum lugar para sentar. Ela se preparou e, agarrando seu diário, caminhou hesitante pelas fileiras de carteiras, vacilando algumas vezes enquanto caminhava entre garotos brigões gritando uns com o outros. Quando ela chegou ao fundo, finalmente conseguiu ver a sala inteira. Nenhuma cadeira vazia. Ela ficou parada lá, se sentindo como uma i****a, e sentiu que os outros garotos começavam a notá-la. Ela não sabia o que fazer. Com certeza ela não iria ficar ali parada pelo período inteiro, e o professor substituto não parecia se importar com o que acontecesse. Ela se virou e olhou novamente, procurando, indefesa. Ela ouviu risos vindos de algumas fileiras distantes, e tinha certeza de que eles estavam direcionados a ela. Ela não se vestia como estes jovens, e não se parecia com eles. As suas bochechas coraram e ela começou a se sentir totalmente visível. Quando ela estava se aprontando para sair da sala de aula, e talvez até desta escola, ela ouviu uma voz. “Aqui.” Ela se virou. Na última fila, ao lado da janela, um garoto alto estava em pé ao lado de sua carteira. “Sente-se,” ele disse. “Por favor.” A sala se silenciou um pouco enquanto os outros esperavam para ver como ela iria reagir. Ela caminhou até ele. Ela tentou não olhar em seus olhos—grandes, verdes e brilhantes—mas não conseguiu evitar. Ele era lindo. Tinha a pele macia, levemente bronzeada—ela não sabia dizer se ele era n***o, hispânico, branco, ou alguma combinação—mas ela nunca havia visto pele tão macia e suave, complementando o maxilar delineado. O cabelo dele era curto e castanho, e ele era magro. Havia algo nele, algo fora do lugar ali. Ele parecia frágil. Um artista, talvez. Não era comum para ela ficar encantada com um rapaz. Ela havia visto as suas amigas terem suas paixões, mas ela nunca havia realmente entendido aquilo. Até agora. “Onde você vai sentar?” ela perguntou. Ela tentou controlar a voz, mas não soou muito convincente. Ela esperou que ele não ouvisse o quão nervosa ela estava. Ele deu um sorriso largo, revelando dentes perfeitos. “Aqui mesmo,” ele disse, e foi em direção do grande peitoril da janela, a apenas alguns centímetros de distância. Ela olhou para ele, e ele retornou o seu olhar, seus olhos se encontrando totalmente. Ela disse a si mesma para deixar de olhar, mas não conseguiu. “Obrigado,” ela disse, e ficou instantaneamente furiosa consigo mesma. Obrigado? É só isso que você conseguiu dizer? Obrigado!? “É isso aí, Barack!” uma voz berrou. “Dê a sua cadeira para a boa moça branca!” Os risos seguiram, e o barulho na sala de repente começou de novo, enquanto todos os ignoravam novamente.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD