Noite Agradável

2358 Words
Ao invés de ir direto para a casa, decidi passar no mercado para fazer a minha compra, se deixasse isso para depois não o faria tão cedo. - Chaz é um cara incrível. – Jen disse pela milésima. Ela estava toda abobada, não a via assim a muito tempo. - Sim, ele é! - Você sempre fala isso. – sua indignação era com o fato de eu ter respondido a mesma coisa em todas as vezes que ela disse que ele era incrível. - E você também disse que ele é incrível diversas vezes. – falei enquanto encarava o preço nas prateleiras. Em que momento um biscoito ficou tão caro? Faz muito tempo que não venho a um mercado, estou mesmo sem referências. - O que foi aquilo com o Justin? – ela perguntou do nada, me pegando até um pouco de surpresa, seu foco estava no Chaz. Não esperava que ela fosse mudar o assunto assim, do nada. Peguei uma embalagem analisando bem o produto a minha frente, nunca o tinha visto antes. Parecia ser bom. Será que levo? - Defina, aquilo. – pedi. Já que para responder uma questão tão complexa eu precisaria de uma referência. Dei de ombros para mim mesma, decidindo colocar na cesta o produto, se fosse r**m pelo menos eu teria provado. Melhor do que se arrepender de não ter levado. - Vocês pareciam íntimos durante o almoço, e depois que saímos tiveram aquele diálogo estranho. - Bom, nós somos estranhos. E nos identificamos por conta disso. – disse o óbvio, pelo menos era pra mim. - E todo aquele papo de manter distância dele? Ela me seguia enquanto eu olhava atentamente para todas as prateleiras em que passava. Tínhamos que ter essa conversa mesmo agora? Estava entretida fazendo as minhas compras e queria muito focar apenas nisso. - Nada mudou, Jen. Só que fica difícil manter distância quando você não colabora comigo. Ela me olhou perplexa, e parou em minha frente. Tampando totalmente a visão que eu tinha de uma das prateleiras. - Como assim? O que tenho haver com isso? - Eu disse pra ele que nós tínhamos um compromisso, para fugir do almoço, lembra o que você disse? – a fitei. - Eu estava com fome. – ela tentou se justificar. - Poderíamos ter comido em algum lugar – pausa. – sozinhas. – completei. - Você gostou de ter almoçado com eles, que eu sei. Coloquei a mão em seu ombro e a afastei um pouco para o lado. Vendo perfeitamente a prateleira lotada de diversas barras de chocolates, de tudo quanto era tipo. Peguei algumas, e joguei em minha cesta. Precisava ter doce em casa para viver, eu vivia tendo as minhas vontades de comer um doce e odiava profundamente não encontrar nada em casa e precisar sair para comprar. - Eu não disse que não gostei, só podia ter evitado. Você sabe que vai ser melhor pra mim que eu mantenha distância dele. - Você não acha que está um pouco tarde demais pra isso? Fui para outro corredor sendo acompanhada pela Jen. Peguei mais algumas coisas, não dava para pegar tudo que eu queria por estar a pé, era muita coisa pra levar na mão. Teria que voltar aqui depois, só que de carro. - Óbvio que acho. A situação fugiu completamente do meu controle. – suspirei ao confessar isso em voz alta. - Eu gosto de como você fica perto dele. – ela comentou enquanto encostava em uma parede, olhando pro nada, parecia se lembrar de alguma coisa. - Eu também. – olhei para ela e sorri. – Ele me faz bem. E o odeio por isso! - Odeia nada. – ela soltou uma risada. - É, eu não odeio! Voltei os meus olhos para as coisas que estavam em minha cesta, estava analisando para ver se era muita coisa. - Você ainda tem a chance de não fazer o que a sua chefe quer. – ela disse, atraindo um olhar confuso vindo de mim. - Não é assim que as coisas funcionam, Jen. – meu tom de voz chegava a ser enjoado. - Sim, é assim. - Não, não é. Esse é o meu serviço, estou sendo paga para fazê-lo. Emily quer fotos do Justin, então não tenho muitas escolhas. – dei de ombros. Apesar de parecer não me importar mais com o nível em que a situação se encontrava, eu me importava muito. Eu sabia que não podia voltar atrás, não agora. Precisava desse emprego apesar de tudo, e sair dele estava fora de cogitação. - Você tem escolhas sim. - Sim. E uma delas é me afastar do Justin. - Lucy. – ela chamou de forma baixa. Era uma forma de me dizer que não estava concordando com o que estava sendo dito por mim. - Jen, eu preciso desse emprego você sabe muito bem disso! Lembra que foi você que me deu a maior força para aceitá-lo, mesmo depois de saber do que se tratava? - Eu lembro. Mas agora estou aqui te dizendo que isso é errado. – soltei uma risada seca. - Sempre foi errado! (...) Já tinha chego em casa fazia um tempo. Guardei todas as minhas compras enquanto a Jen foi tomar seu banho. Assim que acabei, fui para o sofá me jogando nele. Senti meu celular vibrando no meu bolso o peguei vendo que era um SMS. Abri encontrando a seguinte mensagem: “Gostei muito das fotos que me enviou. Fez um excelente trabalho. Mas ainda quero fotos do Justin.” Travei o celular o jogando longe, Emily era insistente. Eu precisava distrai-la por um tempo, ainda não me sentia pronta para prejudicar o Justin. E não acho que um dia eu sentiria, mas gostava de acreditar que sim. Jen surgiu ali se jogando ao meu lado. Enquanto digitava algo em seu celular, um sorriso bobo dominava o seu rosto. O que me fez entender como em um estalo de dedos o porquê dela estar tão animada, estava falando com o Chaz. - A conversa está boa em. – comentei. - Ótima! – seu sorriso não saía do rosto. Era a primeira vez em anos que a via animada assim por causa de um cara. A última vez tinha sido anos atrás, mas precisamente em nosso ensino médio, Jen tinha um namoradinho, que era o cara mais popular e gato da escola. Ela o via como um príncipe encantado. Mas dar tanta credibilidade para um cara em plena época em que seus hormônios estão aflorando, nunca funciona. Uma pena que Jen só percebeu isso quando viu o namorado “perfeito” se agarrar com uma de suas colegas de classe em uma sala de aula vazia. Quando falo agarrar é um modo gentil de dizer, eles estavam transando mesmo. A decepção dela foi enorme, ainda mais por ter dito tanto para os outros que o cara era incrível demais para a fazer m*l, que a relação de ambos não era bobeira, e que eles ainda se casariam. Ela acreditava mesmo nisso, e por muito tempo até eu acreditei. Mas ao contrário do que qualquer pessoa em seu lugar faria, ela não fez um barraco, lhe cobrando satisfações. E muito menos caiu em lágrimas pela escola enquanto o xingava de todos os palavrões existentes. Ela saiu do local permitindo que eles continuassem com a sua transa, sem eles sequer notar sua presença ali. Jen fingiu demência e agiu como se não soubesse de nada a manhã toda, e logo depois pegou o melhor amigo dele no meio do intervalo, na frente de toda a escola, não satisfeita ela saiu andando o ignorando completamente quando o mesmo lhe cobrou satisfações. Naquele dia eu a admirei ainda mais, Jen sempre soube de seu valor, e nunca aceitou menos do que merecia. E assim acabou o “namoro perfeito” dela e a idealização de príncipes encantados. Jen nunca mais confiou em um homem, e nunca mais entregou o seu coração para um. Jurou para si mesma que só usaria todos os homens que passassem pela sua vida, porque é isso que eles fazem com a mulheres. Um discurso que soa até meio amargurado pra quem ouve, mas que pra ela fazia sentido. - Não brinque com ele, Jen. Chaz é um cara bacana, jogue limpo com ele. – disse do nada, atraindo um olhar confuso da mesma. - Você fala como se eu fosse uma espécie de destruidora de corações. – Jen estava perplexa. Arqueei uma de minhas sobrancelhas para ela, deixando claro que aquilo não colaria comigo. – Ok, talvez eu seja tipo isso. – ela confessou e bufou. – Mas a culpa não é cem por cento minha, os caras que colocam sentimento onde não devia. – sua justificativa soava ridícula pra mim. Ela tinha se tornado exatamente o que odiava. Contraditório, não? Digo isso porque ela odiava esses caras cafajestes que fingiam gostar da menina apenas para conseguir algo em troca. Mas ela fazia o mesmo com alguns, não na mesma ordem. Ela transava com o cara, “fingia” que queria repetir a dose, que queria algo a mais, sendo que não queria. Resumindo, o cara ficava indo atrás dela achando que ainda tinha algo. E pior, alguns chegavam a gostar dela de verdade. - Jen, você sabe que peca em algumas ocasiões. – a olhava séria. – Só estou pedindo para jogar limpo com ele. É só sexo? Ok. Deixe isso claro. Vai ser só uma vez? Deixe claro! – pausa. - Não quero que faça o Chaz de i****a. - Ei, você sabe que nas vezes que joguei sujo o cara merecia. – ela apontou o dedo indicador pra mim. Saber eu não sabia, isso era o que ela dizia. Mas sinceramente, acho quase impossível ser verdade, isso era só uma justificativa que ela arrumava para não ter que assumir que foi uma tremenda filha da p**a. Quando o cara não valia nada ela nem perdia muito o seu tempo com ele, eu sei que ela fazia isso com os caras mais legais. Mas eu sabia que não era de propósito, longe disso! Ela apenas tinha uma esperança de se interessar por ele, e levar o relacionamento a outro patamar, mas isso nunca acontecia. Ela não conseguia. Por isso a minha preocupação com o Chaz, ele estava longe de ser do tipo cafajeste, posso estar enganada, mas isso nem combina com ele. Portanto, isso o torna uma vítima perfeita para a minha amiga. Não que ela seja uma pessoa r**m, ela só se decepcionou muito e tem medo. No fundo, é só medo. Ela tem medo de se entregar, de se apaixonar novamente. Porque por mais que ela tenha sido forte quando se deparou com uma traição, isso trouxe danos irreversíveis para a sua vida. É como se na sua cabeça todos os caras fossem fazer o mesmo que o seu ex fez. - Não estou entendendo essa sua preocupação toda com o Chaz. – ela comentou, após o meu longo período em silêncio. - Ele é gente boa, e apesar de o conhecer a pouco tempo já sei que ele não merece passar por uma desilusão amorosa. - Ok. Prometo que não vou machucar ele. – ela soltou uma risada. – Você deveria se preocupar comigo, eu que sou sua melhor amiga, não tem medo dele me magoar? - Sério? – franzi a testa. – Meu amor, ninguém nesse mundo é capaz de te machucar sem ser morto antes. Disparamos a rir. Era uma verdade. - Realmente. – ela concordou. – Sua preocupação com o Chaz é válida! Claro que é. Conheço bem essa peça. - Eu sei que é. Mas estou torcendo pra ele conseguir conquistar essa pedra que você tem no peito e chama de coração. - Sem chances. Ele pode ser incrível, mas é só isso. – seus olhos fitavam o aparelho celular, enquanto digitava algo. - Toma cuidado com o que diz, Jen. – soltei uma risada nasalada. – As coisas podem fugir do seu controle. - Em anos nunca fugiu, não é agora que vai fugir. – ela deu de ombros. Algo me diz que ela estava bem enganada sobre isso. Estava com a sensação que Jen cairia nessa armadilha e não demoraria para se apaixonar pelo rapaz que estava tirando sorrisos bobos dela apenas com algumas mensagens. Ele quebrou algumas barreiras, e Jen nem se deu conta disso, isso é perigoso! Porque quando ela se der conta, vai ser tarde demais para querer voltar atrás. (...) Tinha acordado fazia alguns minutos. Emily me mandou um e-mail dizendo que a matéria sobre a Taylor, com a fotos que eu tirei, estava no ar. Não tinha interesse algum em ler, sabia que estava cheia de mentiras, e suposições falsas. Com muito custo me levantei, fiz toda a minha higiene matinal e me troquei para correr um pouco. Saindo do meu quarto, encontrei uma Jen tomando seu café tranquilamente. - Bom dia. – ela disse animada.   - Bom dia. – disse enquanto pegava uma maçã. – Vou sair para correr, vai querer ir? – a fitei enquanto mordia um pedaço da minha maçã. - Vou passar essa. Minhas pernas ainda doem por conta da corrida de ontem. - Nova Iorque te faz m*l. – disse só para implicar. - Seu sonho de consumo é ir morar lá também, que eu sei. Não, não era. A agitação daquela cidade me deixaria perdida, sem contar em todo aquele trânsito. Prefiro ficar aqui em Los Angeles tranquila. - Você sabe que não. Ficaria perdida naquele lugar. - É, ficaria mesmo. – ela concordou e abriu um sorriso divertido. - Bom, vou indo. Nos vemos mais tarde! – acenei e sai andando. Ouvi ela gritar um tchau, e fechei a porta. Fiz todo o caminho até a rua, coloquei meus fones e comecei a minha corrida. Eu morava em uma parte mais tranquila em Los Angeles, pouquíssimas pessoas andavam pelas calçadas pela manhã. Corri por pelo menos uns 5 km, eu sempre batia o mesmo tanto, estava na hora de correr um pouco mais. Mas não seria hoje, já estava me sentindo exausta.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD