TALIBÃ Narrando
Olho a foto da Nat que pedi pra revelar junto com algumas outras e sorrio um pouco enquanto sinto saudade . Uma saudade que nunca passa. Nessa foto ela esta sorrindo sentada no meu colo . Foi em um churrasco que a gente foi . Eu sorrio também enquanto abraço ela com um braço e seguro uma latinha de cerveja com a outra mão .
Becca - Pai ? ! ! - Ouço ela me chamar me assustando um pouco e logo ouço os pequenos correndo pra perto .
Guardo rápido a foto na gaveta do balcão da cozinha e olho pra eles que logo aparecem sorrindo .
Talibã - Bom dia seus sapecas ! - digo sorrindo e me abaixo abrindo os braços .
Eles me abraçam ainda meio sonolentos .
Rafa - Eu quero panqueca ! - ele diz esfomeado como sempre .
Talibã - Já tô terminando de fazer ! - sorrio pra ele
Becca - Posso tomar sorvete no café ?
Talibã - Deixa eu pensar sobre isso , Hamm . . . Que tal mais tarde ?
Becca - De morango ?
Talibã - Acho que acabou ! - ela faz um bico de tristeza e eu sorrio - Tô brincando ! - digo e ela sorri .
Rafa - Pai , tá queimando ! - ele diz e eu me lembro da panqueca .
Me levanto rápido e vejo a panqueca meio queimada . Desligo o fogo rápido .
Droga .
Becca - A mamãe não deixaria queimar ! - ela diz e eu olho pra ela vendo ela com uma carinha xoxa .
Talibã - Isso é verdade ! - Digo tentando não chorar . Respiro fundo . - Vou fazer outra ! - sorrio tentando me controlar e olho pra eles .
Vejo o Rafa comendo uma banana e a Becca brincando com os dedos das mãos .
Rafa - Na verdade pai . . . - ele diz mastigando a banana - Acho que você pode fazer só uma omelete com cebola e tomate !
Becca - Eu topo ! - ela diz ainda olhando para os dedos
Dou graças a Deus por isso porque acho bem mais fácil e rápido de fazer .
Talibã - Ok !
Faço a omelete rápido , colocando três ovos e os outros ingredientes , assim que termino de fazer divido em três e coloco uma parte em cada prato .
Me sento na cadeira da mesa rápido assim como eles estão sentados e começo a comer assim como eles .
Rafa - Onde tá a Vitória ?
Talibã - Hoje é folga dela ! Ela deve tá em casa com a família !
Eu contratei a Vitória pra cuidar da casa mas hoje é folga dela . Eu sempre fico perdido quando ela não tá aqui . Tenho que cuidar das crianças sozinho e ainda tenho que cozinhar o que é um desafio enorme .
Assim que eles terminam levo eles no banheiro pra escovarem os dentes .
Becca - Pai eu não quero escovar os dentes sozinha mais ! - ela diz no corredor .
Talibã - Porque ?
Becca - Eu não consigo limpar tudo ! Eu ainda sinto que tá sujo !
Talibã - E se você escovar duas vezes ?
Becca - Eu já tentei fazer isso !
Assim que chegamos no banheiro eu coloco a pasta na escova de dentes do Rafa e entrego pra ele . Ele pega sorrindo e começa a escovar .
Coloco pasta na escova da Becca e coloco ela em cima da tampa do vazo .
Talibã - Ok sua tampinha ! Mostra os dentes ! - peço e ela da um daqueles sorrisos pra eu escovar .
Começo a escovar e assim que termino ela enxagua a boca .
Vejo o Rafa enxaguando a boca dele e logo ele sai correndo pra sala e ouço a tv ligando .
Talibã - Rafael você escovou os dentes direitinho ? - falo alto pra ele ouvir porque estou no banheiro .
Becca - Obrigada pai ! - Ela sorri e abraça meu quadril .
Me abaixo aproveitando seu abraço ao máximo .
Talibã - De nada minha linda ! - falo baixo pra ela .
Ela corre pro quarto dela e eu vou até meu quarto .
Eu tentei cuidar deles sozinhos no começo , mas então percebi que eu não ia conseguir fazer isso sozinho . Eu precisava de tempo pra me recuperar da perda e bom , eu tentei dar banho na Becca mas eu desisti todas as vezes . Chamei a Vitória que na época era vizinha e ela me ajudou com os banhos até que percebi que eu precisava de alguém e ela se ofereceu , disse que precisava de um emprego . Isso já tem 3 anos e meio .
Olho pela janela vendo o túmulo da Nat .
Três anos e meio . . .
Ouço um barulho alto vindo da cozinha .
Talibã - Rafael ? ! - meio que grito ele já imaginando o que ele tá fazendo .
Assim que chego na cozinha vejo ele com o pode de bolacha na mão .
Talibã - Você acabou de comer !
Rafa - Mas eu ainda tô com fome ! - ele se explica .
Eu não consigo entender porque ele ainda é magro .
Olho a cozinha procurando de onde veio o barulho e não acho nada . Ele deve ter batido a porta do armário de novo . Será que tudo isso é preguiça ? Agora entendo porque minha mãe brigava tanto quando eu fazia a mesma coisa . É irritante .
Ele sai da cozinha rápido e se senta no sofá da sala assistindo Bob esponja .
Becca - Paaii ? - ouço ela me chamando do quarto dela .
Vou até lá encontrando ela pendurada na janela . Corro tirando ela de lá rápido e colocando ela no chão .
Talibã - O que tá fazendo ? Podia ter se machucado !
Becca - Eu queria abrir a janela ! Então eu subo na cadeira e depois na janela , aí eu abri , mas fiquei com medo de descer tava muito alta ! - ela diz analisando a altura . - É bem mais alta olhando de cima ! Você acredita em mim ?
Talibã - Acredito ! Agora , não é pra subir mais ! Da próxima vez me chama ou chama a Vitória que a gente abre pra vocês !
Becca - Tudo bem ! - ela diz pegando uma boneca .
Vou pro meu quarto me deitar um pouco . Fico alguns minutos descansando até que ouço um barulho vindo do criado mudo . Abro a gaveta vendo que é meu radinho . O radinho daquela noite horrível . Não sei porque guardei . Esse radinho é diferente dos outros eu paguei caro nele , é como se fosse um telefone , pega de muito , muito longe . Países diferentes , mas é só um par e deixou de funcionar depois que perdi o da Nat naquele dia .
Ele começa a fazer uns barulhos esquisitos como se estivesse pifando e logo e mecho nele de curiosidade . Vou mudando de frequência rápido .
Xxx - Tali . . . - ouço uma voz muito parecida com a da Nat e solto o radinho no chão rápido um pouco assustado . - Tali . . . - diz mais uma vez mas a ligação tá cortando muito . Pego o radinho rápido .
Não pode ser ela . - penso um pouco .
De repente o barulho para . . . Acho que desligaram o radinho .
Me levanto rápido olhando o túmulo da Nat . Não pode ser ela . Olho de novo pro radinho e guardo ele na gaveta . Tomara que eu não esteja ficando doido de novo . Eu parei de imaginar ela tem um ano e meio .
Me deito na cama de novo e tento dormir mas o sono não vem de jeito nenhum .
Flashback on
Olho pro caixão da Nat . Eu decidi que seria caixão fechado, eu não queria ver ela assim , morta . Não queria que as crianças vissem ela assim . Eu não aguentaria ver ela assim .
Coloco a mão na boca tentando me controlar . Ela tá lá dentro . Morta .
Alguns lágrimas caem rápido . Deito minha cabeça no caixão enquanto choro .
Talibã- Porque você fez isso ? - digo chorando . - Porque você me deixou ? Achei que você nunca me deixaria ! - falo pra ela enquanto ainda choro .
Tá de noite . E só tem eu aqui , as crianças estão dormindo.
Ouço um barulho e vejo o Tubarão chegando perto . Limpo meu rosto rápido tentando esconder o choro e olho pra ele me retirando de perto do caixão .
Tubarão - Eles já estão aqui ! - ele diz e eu vejo dois caras chegando .
Nós já fizemos o funeral , mas eu não tive coragem de enterrar ela na hora .
Ando pra perto da varanda da casa e olho pra eles .
Talibã - Qualquer coisa , vou estar lá dentro !
Entro pra dentro da casa fechando a porta e encosto minhas costas na porta esperando o barulho .
Não demora muito e eu ouço a terra sendo jogada em cima do caixão dela .
Me abaixo devagar escorregando pela porta e me sendo no chão ouvindo o barulho . Minhas mãos tremem bastante e o choro volta novamente sem controle .
Várias memórias nossas na minha cabeça , indo e voltando . Imagens dela sorrindo , da gente fazendo amor , imagens da gente tomando sorvete e várias outras coisas .
Flashback off
Abro os olhos e respiro fundo tentando me controlar. Eu não posso me permitir chorar . Não depois de tanto tempo, não depois de tudo pelo que passei .
Foi caixão fechado . - penso novamente .
Me levanto devagar e olho pela janela pro túmulo dela pensativo .
Que deus me perdoe pelo que eu vou fazer agora .
Saio rápido indo pra garagem .
Becca - Pai ? - ela me chama quando vê eu passando rápido pelo quarto dela .
Vejo as crianças vindo atrás de mim .
Rafa - Onde você vai pai ?
Pego uma pá rápido e vou até o túmulo da Nat .
Becca - Pai ? - diz sem entender nada .
Rafa - O que tá fazendo ? Tá ficando maluco ? - ele diz assustado .
Becca - Pai ? ! - ela começa a chorar enquanto cavo o túmulo .
O Rafael abraça ela tentando acalmar a irmã enquanto ela chora porque estou cavando o túmulo da mãe dela .
Rafa - Para com isso ! Você tá assustando ela ! - grita pra mim falando sobre a Becca - Você enlouqueceu ! -diz nervoso -A mãe dela tá aí ! !
Vejo o caixão e paro de cavar olhando pra ele . Ele tá aqui, o caixão tá aqui . Penso bastante e começo a cavar novamente . Tiro toda a terra de cima e abro rápido antes que eu perca a coragem .
O caixão tá vazio . Tá . . . Vazio .
Ela não tá aqui . Não tá aqui .
Me sento no chão sorrindo ,um pouco cansado mas sorrindo .
De repente as crianças aparecem olhando pro buraco .
A Becca olha assustada parando de chorar e o Rafael também enquanto abraça ela .
Becca - Cadê minha mãe ? - ela diz baixinho .
Fica um silêncio até que o Rafael decide falar .
Rafa - Ela não tá aí . . . - ele diz sem acreditar e pensativo .
Ele sorri e olha pra Becca .
Rafa - Ela não tá aqui Rebecca ! ! - ele sorri largo feliz - Sua mãe não tá aqui !
. . .
Dúvidas sobre o livro 34 992365401 w******p