Acordo assustada olhando por todos os lados do quarto e percebendo que aquilo tudo realmente aconteceu . Ouço um barulho na porta e olho vendo a bandeja da comida de ontem sendo retirada por um buraco na porta . Não demora muito , outra é posta no lugar .
Me levanto e olho um pouco na bandeja meio curiosa . Estou com fome , ontem não comi nada o dia inteiro .
Olho vendo um pão com queijo derretido e um copo de suco .
Me ajoelho rápido e pego o pão começando a comer com rapidez . Estou com muita fome . Tomo o suco rápido assim que termino de comer e volto pro colchão rápido me sentando no canto . Sinto uma coisa incomoda e saio do lugar procurando o que pode ser , levanto o velho travesseiro e vejo um livro velho .
Jogo ele longe percebendo que aquilo não tem serventia nenhuma pra mim ali . Eu queria algo pra escapar dali , alguma coisa que pudesse me libertar desse inferno .
Olho devagar pelo quarto e meu olhar para novamente no livro . Quem seria a dona dele ? Quem poderia estar aqui antes de mim ? Quantas já estiveram no meu lugar antes de mim e o que aconteceu com elas ?
Vejo um barulho na porta e olho a bandeja sendo retirada . Uma mão " velha " aparece colocando um papel e um comprimido rápido e sai . Olho por alguns segundos e vou até lá devagar pegando o papel .
Por favor , beba
Pego o comprimido sem saber o que é e observo por um tempo .
_ " Tem alguém aí ? " _ pergunto baixo mas ninguém responde .
Pego o comprimido e coloco na boca . Vou até o banheiro e bebo um pouco da água do chuveiro mesmo , já que não tenho escolha .
Jogo o papel no vaso e dou descarga , me sentando novamente no colchão assim que termino .
Respiro fundo querendo chorar e logo a porta é destrancada . Olho vendo Dom entrar e rapidamente choro novamente .
_ " Abra as pernas ! " .
_ " Não ! " _ digo decidida com os olhos cheios de lágrimas , afinal , o que eu poderia fazer contra ele ? ?
Ele puxa meus cabelos e me faz olhar em seus olhos . Começo a chorar de uma vez .
_ " Sua v***a ! " .
_ " Por favor ! Não ! Por favor . . . ! " _ peço entre lágrimas .
Ele novamente entra entre minhas pernas com muita dificuldade e me sente novamente , enquanto choro e penso na vida que tenho agora .
. . .
TALIBÃ NARRANDO
Tempo atual
Eu realmente não sabia muito o que fazer . Ainda estava tomado pela surpresa . A Natália tava viva , viva . . .
As crianças me olhavam preocupadas , eu estava parado como estátua a vários minutos , sequer conseguia piscar os olhos . Foi uma baque pra mim saber que por todos esses anos , eu chorei por uma mentira . . .
_ " Pai ? " _ o Rafa pergunta me tirando do transe e eu olho para os dois pela primeira vez .
_ " Ok . . . " _ respiro fundo . _ " Vocês dois . . . Vão toma banho ! " _ digo devagar a primeira coisa que me vem na cabeça . Eu não estava conseguindo pensar direito .
_ " Mas e a mamãe ? " _ Rebecca pergunta preocupada .
_ " Esse assunto é pros adultos ! " .
_ " Mas ela é minha mãe ! " .
_ " Eu vou achar ela ! Mas agora vocês tem que me obedecer ! " _ A Rebecca me olha por um tempo enquanto o Rafael observa ela o tempo todo preocupado. Logo os dois correm pra dentro de casa sem mais perguntas e eu saio do buraco onde estava o caixão vazio .
Todo esse tempo , bem debaixo do meu nariz . . . Ela nunca esteve aqui , nunca esteve morta .
Passo a mão no cabelo . Já tinha um tempo que eu não cortava , estava no ombro , liso como sempre , eu só não deixava ele crescer .
Olho pro lado vendo uma das vizinhas me olhar estranho . Ele meche no telefone meio desconfiada e eu respiro fundo . Tenho que me levantar e colocar a terra de volta . É crime cavar um túmulo e é óbvio que eu não saberia como explicar um túmulo vazio pra alguém .
Me levanto colocando a terra devolta o mais rápido que posso . Impressionante como existe fofoqueira em todo lugar , até ilhada . Se ela soubesse quem eu sou , não ia ficar com essa p*****a , mas aqui ninguém sabe .
Assim que termino de colocar a terra e deixar tudo como estava antes . Sinto dois pares de olhos me observando da janela . Respiro fundo e quando olho , as crianças se assustam e correm da janela .
Sorrio um pouco . Crianças .
Me sento do lado do caixão e pego meu telefone pra ligar pro meu pai . Ele deve me ajudar em como agir nesse momento , preciso de conselhos . . . eu . . . preciso voltar .