Esther Mantovanne
Eu voltei para a delegacia cheia de ódio. Aquele maldito conseguiu mais uma vez, ele venceu mais uma batalha, mas a guerra está apenas começando.
— Desgraçado! — Dou um soco na mesa.
— Está tudo bem, Esther? — A Munik perguntou, ela está com um olhar de preocupação.
— Eu estou bem. Só estou com raiva, muita raiva. Você viu o deboche daqueles dois? Eles ficaram rindo da nossa cara, foi como se nós não fossemos nada, NADA! — Bati na mesa mais uma vez.
Só de lembrar como aqueles dois agiram conosco me dá muito ódio, a minha vontade é acabar com ele ali mesmo, aliás com os dois, o Yuri e aquele advogado arrogante de merda. Eu respiro fundo tentando me acalmar e a Munik pergunta novamente se estou bem, ela está realmente preocupada.
— Esther, eu sei o quanto você quer pegar aquele homem, mas você precisa agir com calma, ou vai colocar tudo a perder.
— Eu sei disso, Munik. Mas é muito difícil manter a calma quando aqueles dois ficam agindo como se fossem superiores a tudo. Você viu como aquele advogado desgraçado me ameaçou? Eles se acham os donos do mundo, mas eu vou conseguir pagar eles, todos eles.
— Vai sim, Esther. Você só precisa fazer como eles, tem que ter um plano b, assim você pode pegá-los desprevenidos.
— Você tem razão. Munik, você ainda está coletando informações daquele funcionário da contabilidade das empresas Hiuga? Aquele Péricles que eu pedi pra você investigar.
— Estou sim, tenho todos os passos dele anotados, aliás, ele parece ser amigo íntimo do secretário de segurança do Estado, interessante, não? — Ela fala sugestivamente.
É realmente muito interessante, o Yuri e sua turma tem muito bons contatos, são amiguinhos de todos os figurões do governo, essa gente sabe como jogar e eu preciso usar a cabeça também.
— Então, nós vamos bater um papo com o senhor Péricles.
Durante a semana foi uma correria para conseguir uma ordem assinada pelo juiz para trazer aquele homem para prestar depoimento, depois da minha visita ao Boss ele está colocando pressão no judiciário, mas eu também tenho meus contatos. Eu fiz questão de esperar o homem na saída do trabalho, ele assim como os outros tem o nariz em pé, se acha superior. Eu não entendo, todos que trabalham pra esse homem agem como se fosse acima da lei.
— Eu não estou entendendo, senhora delegada, onde a senhora pretende chegar com esse abuso? — O homem perguntou com um certo deboche.
— Eu, com abuso? Senhor Péricles, eu só estou fazendo meu trabalho. O senhor presta serviços para um homem que está sendo processado, quero apenas tomar seu depoimento, isso é um abuso? — Respondi com o mesmo tom debochado, o maldito riu.
— Meu chefe é um bom homem de negócios, ele inclusive é muito respeitado — ele me encara — a senhora delegada não tem nada contra ele, não é mesmo?
— Engano seu. Eu tenho provas sim, só que o seu chefe é um filho da p**a com muito dinheiro e influência. Infelizmente senhor, Péricles, nesse país a justiça não chega fácil em quem pode pagar, mas eu não desisto fácil e vou conseguir colocar seu chefe na cadeia, é melhor o senhor falar o que sabe ou vai sobrar para o senhor.
— Eu não sei nada além do que meu trabalho me exige. Sou apenas um funcionário comum e que faz um serviço honesto.
Eu dou uma gargalhada quando ele fala as palavras comum e honesto na mesma frase. Esse homem acha mesmo que esse papo vai funcionar comigo? Não mesmo.
— O chefe do escritório de contabilidade do grupo Hiuga é apenas um funcionário comum? Por favor senhor, Péricles, não me faça rir. Eu andei investigando o senhor e encontrei coisas muito interessantes, como por exemplo: o senhor tem uma amizade, digamos íntima com o secretário de segurança do Estado, também tem uma casa muito boa no condomínio com o metro quadrado mais caro de Seattle. Comum é uma coisa que o senhor não é. Vamos começar outra vez, o que exatamente é o serviço?
O homem me encara com uma expressão irritada, finalmente parece que eu consegui cavar alguma coisa.
— Deixa eu ver se entendi, a senhora delegada andou me investigando e o que foi exatamente que procurou, o que eu fiz? Eu acho que isso é um abuso de autoridade.
Ele cruza as mãos sobre a mesa e me encara, ele está irritado, mas não mostra um mísero vacilo ou medo.
— Senhor Péricles, eu estou fazendo meu trabalho aqui. Se o senhor não tem nada a dever, porque está tão irritado? — Ele estreita os olhos. Eu dou risada.
— Eu não estou irritado por dever algo. Eu estou irritado por não ter minha privacidade preservada. Eu tenho direito de viver minha i********e com meu parceiro e isso não é nenhum crime. É crime ter um relacionamento homossexual, senhora delegada?
Eu balancei minha cabeça e olhei bem para a cara dele. Esse homem está mesmo querendo me fazer acreditar nessa conversa? Isso é ridículo.
— Senhor Péricles, o senhor acha mesmo que eu sou uma i****a? Que papinho ridículo é esse?
— Eu não estou achando nada. Isso não é uma brincadeira, eu e o senhor secretário de segurança somos noivos e a senhora pode investigar a vontade.
Eu não consigo segurar minha vontade de rir, isso é uma opção que eu nunca considerei. Quando eu estou me preparando para a próxima pergunta a porta da sala de interrogatório é aberta com violência.
— Péricles, não fale mais nada — novamente é aquele advogado arrogante desgraçado — Essa ação é totalmente absurda, essa ação é abusiva, você não tem argumentos legais para obrigar meu cliente a prestar esse depoimento! — Ele me encara com aqueles olhos cheios de raiva e o mesmo desdém da semana anterior.
— Quem permitiu sua entrada na minha sala de depoimento, seu advogado atrevido?
— Atrevido, eu? Não. A única atrevida aqui é você. Eu já havia avisado sua delegada incompetente, mas aparentemente você quer brigar comigo.
— Primeiro eu não tenho medo das suas ameaças, seu advogado arrogante de merda, segundo você não e seus clientes não estão acima da lei. Eu estou fazendo meu trabalho.
— Você está perturbando os meus clientes e por pura perseguição, você não tem provas, não tem denúncia e muito menos motivo cabível para trazer meu cliente contra sua vontade até a delegacia. Isso configura abuso de autoridade, você não pode obrigar uma testemunha a depor, muito menos investigar e oprimir a mesma sem que tenham denúncias e você não tem nada contra o meu cliente. Aguarde o processo que vou mover contra você e aquele juiz de merda.
— Olha aqui seu advogado filho da p**a, você não está no seu escritório muito menos na casa dos seus clientes, então baixa a bola — eu dou alguns passos até está na sua frente e encaro ele — Você está na minha delegacia e aqui quem manda sou eu, você quer ser preso por desacato?
Ele estreita os olhos e dá um meio sorriso, mas não tem nada de divertido nele, é puro desdém. Ele abre a pasta e pega um papel, ele abre e me entrega.
— Nesse documento está escrito que você não pode manter o meu cliente aqui, muito menos poderia tê-lo investigado sem um motivo cabível, você foi quem violou a lei e por esse motivo meu cliente vai abrir um processo contra você. Vamos ver quem vai levar a melhor delegada.
— Você fala demais advogado. Eu não tenho medo das suas ameaças, isso está só começando.
Ele me olha de cima a baixo e novamente dá aquele sorrisinho debochado, minha vontade é socar com força a cara dele. Tenho que respirar fundo para não fazer o que quero.
— Pode acreditar delegada, a minha especialidade é fazer e eu faço tudo muito bem feito — ele fala com uma voz forte e dominante que me faz arrepiar até a espinha — Me aguarde. Vamos Péricles.
Quando o advogado saiu pela porta com o homem sorridente ao seu lado, eu quase enlouqueci de raiva. De novo eu perdi a batalha e mais uma vez foi para aquele advogado desgraçado. Eu tenho que admitir que ele é bom, tão bom que conseguiu a transferência do juiz que estava me ajudando para outro Estado agora eu tenho que começar uma nova busca por provas, porque o novo juiz que assumiu o fórum não está do meu lado. Como o advogado prometeu, ele realmente abriu um processo contra mim, estou numa situação meio complicada agora, eu tenho que responder todas as minhas ações para a corregedoria. Estou com tanta raiva que eu preciso sair, tenho que extravasar toda essa raiva.
Continua...