Jade
Lembranças, sons, toques, vozes é o que eu estou conseguindo identificar, mas sem conseguir reagir a nada. Minha mente só lembra que o Roger quase me mata e eu lutei para me defender dele e sai daquela casa, e com muito esforço eu conseguir acertar a garrafa de vidro na cabeça dele e me livrar de seu ataque.
A minha mãe estava tão bêbada que não acordou para ver nada, mas isso não é novidade, ela nunca vê ou faz nada. Parece que acha normal o que aquele monstro fazia comigo.
Eu sai de lá que não peguei nada, meus documentos o dinheiro que eu tinha guardado, sai para não morrer ali com ele conseguindo tudo o que queria, a minha opção era morrer na rua de frio a ficar a mercê dele novamente.
Não sei quanto tempo eu consegui andar, sai sem rumo até minhas forças não existirem mais e eu cair na calçada de um prédio. Sei que esse será o meu fim, sozinha, largada em uma calçada, mas pelo menos não vou esta no mesmo ambiente que aquele verme do Roger.
Caio ali é fico sentindo dores e sentindo minha alma se despedindo do meu corpo, não sei o que o destino me reserva, mas se for para morrer aqui, que seja.
Meu corpo inteiro treme e dói cada célula e eu fico ali encolhida entre a parede e a calçada só aguardando o meu fim. Quando penso que a minha hora chegou sinto algo me tocar e uma voz grave falar comigo, com dificuldade eu abri meus olhos e vejo um homem alto, bonito e bem vestido.
Espero que ele não se aproveite do meu estado e faça o mesmo que o Roger. Mas, ele pergunta o meu nome e eu só consigo responder e tudo some de minhas vistas, a escuridão toma conta de mim e eu não vejo mais nada.
Não sei dizer onde estou e nem se estou viva ou morta, mas sei que a mesma voz que eu escutei antes de apagar totalmente sempre está presente, está presente em vários momentos nesse lugar que eu estou.
Bem que eu tenho vontade de responder a essa voz, faço um grande esforço para isso, mas meu corpo não responde. Eu não consigo sair dessa escuridão em que me encontro.
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Mais uma vez a voz está na minha mente, e eu me esforço mais uma vez para abrir meus olhos e poder saber de quem é essa voz. Em todas as vezes que tentei não consegui, quando estava chegado perto para vê-lo algo me puxava e eu caia na escuridão novamente.
Mas, agora eu vou me esforçar mais, eu preciso saber quem é essa voz que está sempre nos meus pensamentos, pelo menos eu sei que não é o Roger, aquela voz dele é inconfundível e eu não esqueceria jamais.
Me esforço mais um pouco e sinto um leve aperto em minha mão e numa tentativa de me libertar de uma vez dessa escuridão eu aperto de volta.
Ouço mais uma vez a voz chamando o meu nome e me pedindo para acordar, que ele deseja ver meus olhos. Não sei quem é essa pessoa, mas sei que ele foi um anjo na minha vida.
Com muita dificuldade e força eu vou abrindo meus olhos devagar, a claridade inicial me incomoda e eu os fecho novamente, mas eu preciso me acostumar e eu preciso voltar, acho que algum anjo cuidou de mim e está me dando uma nova chance para viver.
Enfim consigo abrir e a visão que tenho é de um homem lindo, olhos azuis intensos, barba por fazer, cabelos castanhos meio bagunçado.
__ Jade, olá tudo bem.
__ Oi.
__ Eu vou chamar a enfermeira, tudo bem.
__ Tudo.
Ele sai e eu olho o ambiente que estou e vejo que é um quarto de hospital, as lembranças da noite que estava caída naquela calçada e o momento que ele chegou vem a minha mente.
Não demora muito ele retorna, mas está sozinho.
__ A enfermeira já está vindo. Como se sente?
__ Estou viva isso que importa. Quanto tempo estou aqui?
__ Três semanas.
__ Tudo isso?
__ Sim, você estava muito machucada e ficou em coma todos esses dias.
Eu paro e fico lembrando de tudo que passei, todos os chutes e socos que o Roger me deu, além de me violentar como jamais ele tinha feito. Essas lembranças justificam o estado que eu deveria está quando ele me achou.
__ Você se lembra do que aconteceu?
Ele fala e eu paro e penso se devo ou não responder, não sei se posso confiar nele, mesmo tendo me ajudado até aqui, eu não o conheço para dividir a minha vida assim. Ele não parece ninguém que o Roger conheça, mas eu não posso confiar nesse momento.
Quando penso no que vou falar a porta se abre e um médico e uma enfermeira entra.
__ Bom dia Jade, eu sou o Dr. James e essa é a enfermeira Hellen que está no seu cuidado hoje.
__ Bom dia Dr. James. Bom dia enfermeira Hellen.
__ Como se sente?
__ Com algumas dores, principalmente na minha cabeça, no ombro e no corpo em geral.
__ Essas dores são esperadas devido aos traumas que você teve, mas estamos mantendo a medicação para dor, em breve você estará boa.
__ Obrigado por cuidar de mim.
__ Agradeça ao Yan que te trouxe no momento certo.
__ Eu vou agradecer. Quanto tempo eu ainda vou ficar aqui?
__ Você despertou hoje do coma Jade, ainda vai precisar repetir alguns exames e tomar toda a medicação, acredito que mais uns cinco ou seis dias eu já vou poder te liberar, claro que se você estiver boa, caso contrário eu vou mante-la por mais um ou dois dias.
__ Eu vou melhorar logo.
Termino de falar e ele já vem fazendo algumas perguntas e a enfermeira já mede minha pressão, ele escuta meus batimentos e faz todo o exame físico, me fala dos cuidados que vou ter que ter para melhorar logo.
Me fala como eu cheguei, sobre os meus ferimentos e sobre a questão do estupro que sofri e as medidas que eu devo tomar para denunciar o agressor.
Mas, eu digo que não vi o rosto dele, não sei identificar quem é, não posso colocar o Roger na minha vida de novo. Se fiquei aqui por essas três semanas e só esse homem lindo que esteve aqui falando comigo, é um bom sinal.
Isso indica que nem a minha mãe é nem o Roger estava a minha procura, assim eu vou poder recomeçar a minha vida longe daquele inferno que eu vivia.
Assim que ele termina de falar me da algumas orientações e sai junto com a enfermeira e o homem lindo que agora eu sei que se chama Yan se aproxima.
__ Deixa eu me apresentar, eu sou Yan Venturini, eu te resgatei naquela noite.
__ Eu me chamo Jade Smith e lhe agradeço por me salvar naquela noite, eu já estava ciente que não ia resistir.
__ Mas, resistiu e está aqui. Sei que eu sou um total desconhecido mas eu quero que saiba que eu estou aqui para te ajudar.
__ Eu agradeço muito por tudo o que fez por mim até aqui, eu nem sei como posso lhe retribuir.
__ Fique boa já é o suficiente. Sei que você disse que não se lembra de quem fez isso com você, mas caso você lembrar de alguma coisa pode falar que vamos atrás de quem fez isso com você, quero que saiba que eu estou aqui para te ajudar.
__ Se eu lembrar de alguma coisa eu falo.
__ Você não estava com documentos?
__ Eu só queria sair daquele inferno e não lembrei de pegar a minha bolsa com meus documentos.
__ Assim que você sair daqui eu posso te ajudar a retirar seus documentos de novo.
__ Eu agradeço.
__ Eu vou providenciar algumas coisas para você, itens de higiene pessoal e algumas roupas.
__ Não precisa se preocupar, eu não vou ter como te ressarcir tudo isso.
__ Não se preocupe com isso, veja como um presente apenas.
Assim que ele termina de falar a enfermeira entra e avisa que eu vou ser levada para realizar alguns exames, ele se despede e antes de sair fala que retorna a noite para trazer os itens que preciso.
Eu só afirmo com a cabeça, não sei o que ele viu em mim para me ajudar dessa forma, mas nesse momento eu só tenho a agradecer porque se não fosse ele eu poderia está morta ou sofrendo mais abusos na rua.
Nem sei como vou conseguir pagar a ele tudo o que esta fazendo por mim, mas eu sei que assim que ficar boa eu vou recomeçar a minha vida, procurar um emprego e esquecer todo o meu passado e procurar viver essa segunda chance que a vida está me dando, longe da casa de minha mãe e daquele verme do Roger.