Fora de casa

1057 Words
Caterina Gallo Já faz uma semana desde que meu raptor me trouxe a sua linda mansão e sumiu pelos ares. Aquele silêncio na mansão era ao mesmo tempo um alívio e uma maldição. Eu queria saber como minha mãe e minha irmã estavam. Com Rocco ausente eu não estava tendo muitas informações. Não que ele tivesse dito qualquer coisa antes, mas meus dias haviam se tornado mais suportáveis, quase... agradáveis, se eu ousasse admitir sem ele lá. Claro, que ter uma dívida gigante para pagar a ele e não ter nenhuma noção de onde eu iria tirar esse dinheiro estava se aninhado em algum canto escuro da minha mente, mas sem a presença sufocante dele, parecia mais fácil respirar, mais fácil pensar. Rocco DeLuca me via como uma transação, uma dívida ambulante e eu deveria constantemente me lembrar disso, mesmo com a estranha sensação de normalidade que agora dominava meus dias. Ele era tão lindo e educado e mesmo quando eu o desrespeitei, ele agiu normalmente, até orgulhoso da minha língua afiada. Sim, eu sei que o desrespeitei e ele não me mandou dar uma surra ou nada do tipo. A biblioteca era meu refúgio. Um lugar onde eu podia fingir por algumas horas que não estava presa naquela mansão, que não estava constantemente sendo vigiada. As estantes pareciam infinitas, uma coleção imensa de volumes empoeirados, clássicos e títulos mais obscuros, como se cada livro contivesse um pedaço da alma de Rocco. Eu passava os dedos pelas lombadas dos livros, procurando algo — qualquer coisa — que pudesse me dar uma vantagem, uma pista sobre como escapar. Uma rota, uma falha na segurança, talvez alguma carta escondida entre páginas que revelasse um segredo que eu pudesse usar contra ele. Mas, com cada dia que passava, uma parte de mim questionava se eu realmente queria ir. Era irracional, eu sabia. Estar naquela mansão sem Rocco tornava tudo tão... confortável. Os seguranças que inicialmente me olhavam com desconfiança agora acenavam educadamente quando eu passava. Eles não falavam comigo ou me deixavam chegar muito perto dos portões, é claro, mas eram educados. O jardineiro até me deu um buquê de flores recém-colhidas, como se eu fosse uma hóspede, e não uma prisioneira. — Aqui, Flores bonitas para uma chica bonita, — ele disse estendendo o buquê na minha direção. Ele parecia gentil e alegre. — Obrigado. — Eu agradeci, — Sou caterina Gallo. Eu estendi a mão para ele e ele hesitou antes de pegá-la. — Sou Javier. — Ele respondeu com um aperto rápido. Eu me sentei perto dele admirando o jardim e nós conversamos um pouco sobre como ele havia vindo trabalhar aqui. Aparentemente, Rocco o salvou de morrer para o pai dele e ele agora trabalha feliz para a familia DeLuca. Talvez meu raptor não fosse tão r**m. Mas um dia depois disso, Javier simplesmente não apareceu mais. A senhora Isabella, no entanto, nunca deixava de me vigiar. Sempre discreta, mas sempre presente. Eu a via nos corredores, a ponta de seu lenço espreitando pelas portas entreabertas, ou sua silhueta observando de longe enquanto eu explorava os jardins ou me perdia entre os livros. Isso dificultava minha única chance de sair daqui discretamente. Seus olhos pareciam conhecer meus planos bem até demais, como se ela estivesse esperando por algo — talvez por um erro meu. Eu precisava despistá-la para achar as plantas e fazer meu plano de fuga. Peguei um livro qualquer da prateleira, mais por reflexo do que por interesse real, e o abri no meio, mas minha mente estava em outro lugar. Eu precisava saber como minha mãe estava, como minha irmã estava. Se meu padrasto não tinha tentado vendê-la também. Aquele homem era um louco! Deixei o livro de lado, jogando-o na poltrona que ocupava o centro da sala. Me levantei, começando a andar pela biblioteca, tentando desfazer o nó de confusão que se formava dentro de mim. Não podia me acomodar, não podia baixar a guarda. Aquela gentileza, aquele conforto... tudo era temporário, ilusório.A qualquer momento ele poderia dizer que aceitou meu plano louco de entregar minha virgindade a ele. Onde eu estava com a cabeça quando ofereci isso a ele? Obviamente ele já esteve com mulheres mil vezes mais experientes que eu. Ele não trocaria milhoes por apenas uma noite de sexo comigo. Eu senti minhas bochechas esquentarem com o pensamento de me entregar assim para ele. As imagens se infiltrando na minha mente me fazendo corar. Mas se isso fosse necessário eu faria. De repente, um som suave ecoou pela sala — passos. Eu sabia quem era antes mesmo de me virar. A senhora Isabella entrou, seu rosto inexpressivo, os olhos frios e gentis. Ela parou à porta, me observando como sempre fazia, seu lenço perfeitamente dobrado nas mãos. — Posso ajudá-la com algo, signorina Caterina?— Sua voz era tranquila, mas havia algo de subjacente ali, como se ela soubesse o que eu estava procurando. — Estou só explorando a biblioteca. — eu menti, com um sorriso forçado. — A biblioteca tem uma ótima seleção de clássicos. Ela não respondeu, apenas me observou por um longo segundo antes de acenar com a cabeça. — O jantar estará pronto em vinte minutos. Eu vim apenas avisá-la. — Ela respondeu, — Se precisar de algo... estou sempre por perto. Eu queria perguntar se ela sabia, se ela entendia o que eu estava fazendo, se ela era cúmplice ou simplesmente uma espectadora na minha luta. Mas não adiantaria. A senhora Isabella não me daria respostas fáceis ou muitas revelações. Em vez disso, eu senti que ela queria algo de mim — ou talvez de Rocco. Não. Eu não tinha nada para oferecer. Com certeza ela estava apenas me vigiando. Quando ela saiu me sentei de volta na poltrona, o corpo tenso, a mente inquieta. Eu precisava encontrar uma maneira de sair dali. Suspirei, apoiando a cabeça nas mãos. Não havia como negar: Rocco não era o único perigo ali. Aquela mansão inteira, com seus seguranças solícitos e sua atmosfera estranhamente acolhedora, estava aos poucos me capturando de outra maneira, me envolvendo em um tipo de prisão mais sutil, mais psicológica. E a senhora Isabella? Eu não sabia se ela era uma ameaça ou uma aliada silenciosa, mas uma coisa era clara — nada escapava dos seus olhos. E isso era um problema.

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