Nada de casamento

1048 Words
Caterina Gallo Dia do casamento, 9:00 hrs da manhã — É só respirar fundo e fingir que está tudo bem. — eu repeti isso como um mantra na minha cabeça por pelo menos duas horas seguidas. Minha mãe me acordou cedo para avisar que os cabeleireiros e maquiadores que meu “Noivo” havia enviado para mim. Olhei para o espelho reparando nos detalhes do vestido branco de renda e detalhes bordados que pesavam sobre meus ombros como correntes invisíveis. As joias delicadas adornando o meu pescoço e os brincos de pérolas nas minhas orelhas dando um ar delicado. Nada do que eu sonhei. Não como todas as garotas sonham. Eu sempre sonhei com a minha liberdade e ganharia uma prisão em que Enzo havia me colocado. Eu nunca quis isso. Fui forçada pelo meu padrasto. Ele machucaria Gianna e minha mãe mais uma vez. Continuei para em frente ao espelho, enquanto ajustava o véu sobre meus cabelos cuidadosamente arrumados, tentei convencer a mim mesma de que havia uma saída. De que algo bom iria acontecer depois dali e que o mafioso asqueroso que me comprou como o pagamento de uma dívida não era tão pior que minha vida. Que havia uma outra realidade para mim. Mas não havia. — Você já está pronta, querida? — minha mãe perguntou com um tom suave, abrindo a porta e esgueirando a cabeça para dentro. — Sim, Mamma. — eu respondi olhando para ela por cima do ombro. Ela notou o tom triste em minha voz e se aproximou colocando as mãos sobre os meus ombros. Mamãe usava um vestido cor de Esmeralda que se ajustava ao tom de pele dela. Ela estava bonita e elegante. — Eu sinto muito, meu amor. — ela disse com um tom choroso, — Mi dispiace amore mio, non volevo essere così debole. (Me desculpa meu amor, eu não queria ser tão fraca.) — minha mãe enfiou a cabeça no meu ombro e começou a chorar. — Me desculpe por ser tão submissa a Enzo e não ter conseguido fazer nada antes. Eu engoli meu próprio choro. E afaguei os cabelos dela. — Está tudo bem, Mamma. — eu sorri amargamente e então olhei para ela tentando tranquiliza-la. — Vamos, já está na hora. O senhor Luigi Cavaglieri, estava no altar, bem vestido em um terno caro e branco, acho que é um Armani. Ele estava parado lá, irradiando uma confiança que me enojou . Ele era um homem repulsivo, com uma arrogância e falta de escrúpulos que parecia fazer jus a tudo que eu ouvi sobre ele. Ele sorriu assim que pousou os olhos em mim e seu sorriso me causou náuseas, e eu m*l conseguia suportar o pensamento de estar ao seu lado pelo resto da minha vida. Cada vez que ele se aproximava de mim, eu sentia meu estômago revirar… mas se esse casamento fosse até o fim, eu teria que entregar a ele meu corpo e viver sob o controle dele. A cerimônia estava prestes a começar. Eu estava de pé no altar, as mãos trêmulas e o coração disparado. Rezei silenciosamente, implorando por um milagre, por qualquer coisa que me salvasse desse destino. As palavras saíam como um sussurro: "Por favor, alguém me tire daqui.” A igreja estava cheia de convidados que m*l conhecia, todos cúmplices silenciosos dessa farsa. Meu coração batia descompassado, cada batida ecoando como um grito de desespero dentro de mim. Olhei para os bancos, tentando encontrar conforto nos rostos familiares, mas tudo o que vi foram olhares indiferentes ou calculistas. Apenas minha mãe e Gianna estavam na fileira da frente. Eu continuei caminhando até chegar ao altar sentindo um arrepio na minha coluna. "Pai nosso que estais no céu..." comecei a rezar silenciosamente, buscando conforto na oração. "Me livre deste m*l, eu imploro." Fechei os olhos, tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair. Então, começou a cerimônia. A voz do padre era um zumbido distante, as palavras religiosas se misturando com minhas orações silenciosas por um milagre. "Por favor, alguém me salve," implorava em silêncio, sentindo lágrimas queimarem meus olhos. — Luigi Giacomo Cavaglieri, você aceita Caterina Gallo como sua legítima esposa, para amá-la e respeitá-la na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença até que a morte os separe? — o padre perguntou e então meu noivo sorriu de canto. — Aceito. — ele respondeu. Foi então que ele sorriu e sua boca se abriu em ‘o’ e então o sangue espirrou em meu rosto e vestido. Também preenchendo uma mancha enorme no terno dele. De repente, o som de tiros preencheu a igreja. O tempo pareceu parar por um momento, e então, Luigi foi o primeiro a cair de joelhos. Senti o gosto amargo do pânico se instalar na minha língua, enquanto um grito escapava dos meus lábios. — Mamma! Gianna! — eu gritei, procurando desesperadamente minha mãe e minha irmã enquanto me encolhi no chão. Deus! Não deixe que elas sejam atacadas! Gritei em pânico, minha voz se misturando com os gritos dos outros convidados. — Mãe! Gianna! — Eu gritei, desesperada. Mas tudo o que consegui ver foi o vulto delas fugindo junto com Enzo. Certo, elas estavam bem. O som dos tiros era ensurdecedor, se misturando com os gritos e o choro dos presentes. Em meio ao tumulto, eu me escondi em um canto da igreja, tentando me tornar invisível. Foi então que o reconheci. No meio da confusão, entre os homens que invadiram a igreja, estava ele. Meu cliente de sempre, o homem que parecia estar em todos os lugares, me observando com aqueles olhos intensos. Ele veio me salvar? Ele havia feito aquilo com Luigi? Ele se movia com uma precisão letal, seus movimentos eram rápidos e decididos. — Por favor, não me deixe aqui, — sussurrei. Mesmo sabendo que ele não poderia me ouvir. Ele olhou na minha direção, e por um instante, nossos olhos se encontraram. Minhas mãos estavam em minha cabeça protegendo meus ouvidos. Continuei escondida, tentando controlar o medo que ameaçava me consumir. O barulho de tiros continuou por mais um tempo até que então o silêncio absoluto tomou conta. Eu abri os olhos devagar e então ele estava lá parado em minha frente com uma mão estendida em minha direção.
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