Caterina Gallo
Saí daquele escritório com a respiração pesada, como se tivesse acabado de correr uma maratona. Meu coração batia tão forte que eu podia senti-lo no pescoço, pulsando junto com a raiva que fervilhava em minhas veias.
Rocco DeLuca.
Até o nome dele fazia meu sangue ferver. Como alguém podia ser tão insuportavelmente arrogante? Cada palavra que ele dizia parecia projetada para me humilhar, para me lembrar de que eu era apenas uma peça que ele comprou. Ou melhor, que devia a ele.
Eu apertei o passo, tentando me afastar dele o mais rápido possível, mas os corredores daquela mansão pareciam intermináveis.
Meus dedos tremiam enquanto eu subia as escadas, e não era apenas de raiva. Havia algo mais que me incomodava profundamente. A maneira como ele me olhava, como se estivesse me desnudando por dentro, vasculhando minhas inseguranças e medos, como se pudesse ver algo em mim que nem eu mesma compreendia.
Isso me deixava louca. Eu odiava me sentir assim, tão exposta, tão vulnerável. Eu sempre me mantive gentil e agradável com todos então porque agora eu me sentia daquele maldito jeito?
Mas, pior que a raiva, era aquela maldita curiosidade que não me deixava em paz. O que ele via em mim?
Por que parecia tão divertido em me provocar, em me testar?
E então, aquela pergunta ridícula sobre minha virgindade... O jeito como ele a formulou, como se fosse uma simples questão de negócios, um número a ser somado ou subtraído da dívida.
A frieza com que ele me tratou... Mas o que mais me irritava era o fato de ele ter percebido a minha reação, o rubor subindo pelo meu pescoço, a forma como minhas palavras gaguejaram em resposta. Ele viu tudo isso, e pareceu se divertir ainda mais com isso..
Eu odiava o fato de ele ter esse poder sobre mim.
Parei em frente a uma das enormes janelas da mansão, tentando recuperar o fôlego, tentando me acalmar. Os jardins se estendiam sob a luz do sol, belos e bem cuidados, eu os encarei e suspirei pesadamente.
Eu estava ali, tentando acalmar minha respiração e colocar meus pensamentos em ordem, quando ouvi passos suaves atrás de mim. Virei-me e encontrei Isabella, a governanta de Rocco, parada na entrada do corredor. Ela era uma mulher de meia-idade, com olhos astutos e gentis.
— Signorina Gallo, está tudo bem? — ela perguntou em um tom preocupado — Você está pálida. Precisa de alguma coisa?
Eu balancei a cabeça, tentando afastar a sensação de desconforto que as palavras de Rocco me provocavam. Não queria que ninguém percebesse o que estava acontecendo comigo, muito menos Isabella. Ela podia ser a governanta, mas ainda trabalhava para ele. E isso era o suficiente para me manter em alerta.
— Estou bem, só... — Eu me forcei a dar um sorriso. — Só preciso de um pouco de ar. Essa casa é... — procurei pelas palavras certas, — ...maior do que eu estou acostumada.
Ela me observou com atenção, como se tentasse ver além do que eu estava dizendo, exatamente como Rocco. Será que todos naquela casa tinham essa habilidade de enxergar através de mim?
Mas ao contrário dele, Isabella não parecia interessada em me manipular ou provocar. Ainda assim, eu não sabia quanto podia confiar nela.
— Você tomou café da manhã? — ela perguntou, mudando de assunto com uma suavidade que me fez sentir um pouco menos acuada. — Posso pedir para prepararem algo, se a signorina quiser.
Minha primeira reação foi recusar. Não queria parecer dependente de ninguém ali. Embora eu estivesse totalmente em suas mãos. Já era r**m o suficiente estar naquela casa, sob o controle de Rocco, mas depender dos favores dos funcionários dele... isso era demais. Mas ao mesmo tempo, meu estômago estava vazio. Eu comi um pão antes do senhor DeLuca aparecer, mas isso não me sustentaria pelo dia inteiro.
— Eu... — comecei, hesitante, não querendo parecer rude, — Ainda não, mas não quero incomodar.
Isabella balançou a cabeça com um sorriso suave, como se minha relutância fosse algo que ela já esperava. —Dio! Voi ragazzi non vi prendete cura di voi stessi come si deve! — (Deus! Vocês, crianças, não se alimentam direito!)
— Não é incômodo nenhum, Signorina. Você precisa se cuidar, principalmente depois de tudo que passou. Não pode lutar contra o mundo de estômago vazio.
A maneira como ela disse isso, tão simples e direta, fez algo em mim amolecer um pouco. Talvez fosse o cansaço, talvez fosse o fato de que, naquele momento, eu precisava de qualquer tipo de conforto que pudesse encontrar.
Eu queria minha mãe. Queria ver Giana e saber como elas estavam.
Mas, ainda assim, não podia deixar de me perguntar: até onde ia a lealdade de Isabella?
Será que ela era apenas alguém que ele usava para me manter sob controle? Ou ela era genuinamente uma pessoa boa?
Eu não sabia, e isso me incomodava. — Vamos, signorina! Coma somente algo para que você fique em pé e não desmaie. Você está tão pálida. — ela falou se aproximando gesticulando de forma Não é justo que você fique o dia inteiro com fome.
— Talvez eu aceite um chá, então. — Finalmente cedi, tentando não demonstrar a confusão que ainda girava dentro de mim.
Isabella assentiu, seu sorriso se alargando um pouco. — Claro. Vou preparar algo leve para você. Venha, vamos à cozinha. — Ela fez um gesto para que eu a seguisse.
Eu hesitei por um segundo, — Obrigada. — eu murmurei, acompanhando ela pelo corredor, tentando não pensar muito no que Rocco diria ou faria se descobrisse que eu estava, de certa forma, me permitindo ser cuidada.
Isabella começou a preparar o chá, seus movimentos rápidos e eficientes, mas minha mente estava em outro lugar. Eu precisava de um plano, algo que me desse uma chance de sair dali. E precisava descobrir se havia alguma maneira de usar o ambiente a meu favor.
— Isabella, — eu chamei el, tentando manter minha voz casual. — Existe algum trabalho aqui na casa que eu possa fazer? Algo para me manter ocupada... e útil?
Ela se virou para mim, uma sobrancelha levantada em curiosidade, mas sem parar o que estava fazendo. — Trabalho? Não acho que o senhor DeLuca gostaria de ver você trabalhando por aqui, Signorina. Você é nossa convidada. — Isabella enfatizou a palavra "convidada".
Talvez ela não entendesse o que estava acontecendo entre mim e Rocco, ou talvez estivesse apenas seguindo as ordens dele.
— Eu entendo, mas eu não sou o tipo de pessoa que fica parada, sem fazer nada. — Respondi, — E para ser honesta, eu gostaria de me sentir útil de alguma forma. Talvez ajudar na cozinha, ou organizar algo... Qualquer coisa, realmente.
— Bem, sempre há algo para fazer por aqui. Mas você não precisa se preocupar com isso, Signorina. Nosso trabalho é cuidar de você. — Ela respondeu com um sorriso suave. — Mas, se isso a faz se sentir melhor, posso ver o que pode ser arranjado. Talvez algo leve, como ajudar na biblioteca ou no jardim.
Biblioteca? Sério quanto dinheiro esse homem tem?
A biblioteca poderia ter plantas da casa, rotas de saída, talvez até alguma informação sobre os seguranças, sobre Rocco. Trabalhar ali poderia me dar uma vantagem, uma chance de planejar algo concreto.
— A biblioteca... — eu murmurei, como se estivesse considerando a ideia. — Isso seria perfeito. Sempre gostei de ler e organizar coisas. Pode perguntar ao senhor DeLuca?
— Claro, Signorina. Vou perguntar a ele, mas tenho certeza que a resposta será um sim. — Ela respondeu.
Para minha sorte eu espero que ele permita. Que ele me dê liberdade para agir nesta casa. Eu preciso conseguir dinheiro e pagar essa dívida para me ver livre de tudo isso.