Caminhos Perdidos 2 (M)

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Lyandra

Fiquei nervosa com tudo que estava acontecendo e não quis assistir à cobrança do médico. Eu sei que aquele desgraçado merecia o fim que teve, mas mesmo assim, eu não sou c***l a esse ponto. Eu me defendo se for preciso, mas matar? Não, isso não é para mim. É por isso que eu sempre me esquivo dos homens da boca, evito ao máximo arrumar confusão e fico muda sempre que posso, só para não vir parar aqui, porque eu sei muito bem como as coisas funcionam. Hoje eu consegui sair inteira, mas amanhã ninguém garante, até porque o chefe daqui não é exatamente um amor de pessoa. Ele é justo, mas é c***l.

Lyandra: Já que o médico já foi cobrado, eu acho que posso ir embora, né? Eu não tenho mais nada para fazer aqui.

- O chefe pediu para você aguardar.

Lyandra: Eu tenho que voltar para o hospital. Eu preciso ver como meu filho está.

- Tu é surda, mano? O chefe mandou você aguardar aqui, e é isso que você vai fazer. Cara.lho, tá pensando que essa porr.aaqui é a casa da mãe Joana, que tu entra e sai a hora que tu quer? Tu vai esperar aí e acabou. Parece maluca, se faz de surda nessa porr.a.

Minha vontade era avançar nesse vapor, mas isso me traria muita confusão, mais do que já teve hoje, e eu não estou nem um pouco afim de ficar careca. Então, eu engoli o desaforo dele por hora.

Portuga: E aí, mina, vamos trocar uma ideia?

Lyandra: Se eu já estou até agora te esperando, o que é uma ideia, né? Vamos lá.

Portuga: O médico já foi cobrado e está morto, não só pelo que ele fez com você, mas pelo que ele fez com outras mulheres aqui do morro também. Pelo visto, aquele filho da p**a fez mais estrago do que eu pensei.

Lyandra: Isso é para você ver como a sua segurança funciona.

Portuga: Qual foi? Você está questionando a forma como eu trabalho?

Lyandra: Eu? Imagina! Eu não posso questionar o chefe, isso traria consequências terríveis para mim. Eu gosto muito do meu cabelo - eu falei, debochada, e ele ficou irritado.

Portuga: Bom, seu filho é pequenininho e você sabe que não vai fazer bem para ele ficar no abrigo. E você também sabe que precisa do dinheiro para fazer essa operação o mais rápido possível, porque vai demorar alguns meses para ele conseguir pelo SUS. Eu fui verificar com a médica antes de vir para cá, e ela disse que seu filho não tem muito tempo se ele não fizer essa operação. Mas ela também disse que 80% das crianças ficam boas depois que realizam esse tipo de cirurgia. Não sei se você chegou a fazer essa pesquisa, mas o fato é que seu filho realmente precisa desse dinheiro. Dinheiro esse que você não tem, dinheiro esse que não vai cair do céu no seu colo. Poderia ter caído se você tivesse saído com aquele médico, mas pelo visto você não é esse tipo de mina, e eu gosto disso.

Me sentei e fiquei com vontade de chorar. Eu pensei que aquele desgraçado estava mentindo para me levar para a cama, mas é verdade: meu filho não tem muito tempo e eu não tenho esse dinheiro. Eu não tenho o que fazer, eu vou perder a única pessoa que restou da minha família.

Lyandra: Eu não posso perder meu filho, ele é a única pessoa que me restou - falei e comecei a chorar.

- Se eu soubesse que isso ia acontecer, eu teria aceitado t*****r com aquele velho desgraçado. Pelo menos meu filho ficaria vivo.

Portuga: Está disposta a ir tão longe por causa do seu filho? Você é uma mulher muito bonita e com certeza vão chover homens te fazendo esse tipo de proposta. Oportunidade é o que não vai faltar.

Lyandra: Eu não quero fazer esse tipo de coisa, mas se eu não tiver escolha, eu vou ter que aceitar. É meu filho. Eu não sou garota de programa e nunca me relacionei com ninguém por causa de dinheiro, mas para salvar a vida do meu filho, eu estou disposta, porque eu não tenho escolha e nem tempo, e nem tenho como arrumar um emprego, porque ele é pequeno e está no hospital.

Portuga: Eu quero você.

Lyandra: O quê?

Portuga: Eu estou disposto a te dar esse dinheiro se você aceitar ser só minha. Você tem que vir até mim quando eu te chamar, na hora que eu quiser. Se você aceitar, eu te garanto que seu filho vai operar amanhã mesmo e que ele vai sair bem, porque eu vou pagar o melhor hospital infantil que existe no Rio de Janeiro. E você só precisa ficar comigo quando ele melhorar. O que você acha?

Lyandra: Mas...

Portuga: Pensa pelo lado positivo. É melhor você ficar com um homem só do que com vários. Você não vai conseguir fazer isso, você não é put.a. Se fosse, já estaria cheia de grana. As coisas hoje estão muito confusas, mas eu vou te dar até amanhã para pensar. Agora eu vou mandar um dos meus vapores te levar no abrigo ou no hospital. Pensa na sua resposta com cuidado. Isso não tem a ver só com a vida do seu filho, tem a ver com a sua vida também. E eu vou entender se você não quiser, e ninguém aqui vai te agarrar como aquele desgraçado fez. É uma escolha sua, e eu vou aguardar sua resposta.

Eu saí da sala dele em choque. Eu não estava acreditando que isso estava acontecendo de novo. Por que esses homens acham que podem me comprar? Por que eles acham que eu estou à venda? Eles estão se aproveitando da doença do meu filho para poder fazer isso comigo.

Fui para o postinho e perguntei para a médica. Ela disse que realmente conversou com o dono do morro e confirmou tudo o que ele me disse. O Eduardo não tem muito tempo e eu tenho menos ainda. Eu tenho que pensar no que eu vou fazer para salvar a vida do meu filho. Fui até o andar que ele está, e a médica disse que eu poderia dormir aqui, porque eles iriam tirar o medicamento forte e a febre dele já tinha passado. Ela disse que, se ele sentisse algum tipo de dor, eles dariam um remédio para ir passando, mas que o ideal era ele operar o mais rápido possível. Ela disse que estava fazendo pressão no SUS, mas que eles ainda não tinham dado a resposta, porque ele teria que operar em um hospital que tem aqui perto, e esse hospital está lotado de crianças doentes.